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“A CASTA ESTÁ COM MEDO!”

22.10.2023. Jackson Vasconcelos 

Hoje tem eleição para presidente na Argentina. Três candidatos concorrem no primeiro turno, pois a legislação eleitoral de lá é mais inteligente que a nossa. Lá há prévias para que sejam expurgados os candidatos sem tamanho para a disputa. 

Pensa bem, gente, que maravilha será para a Argentina se a “casta política inútil e parasitária” do país estiver mesmo com medo do povo e, pelo medo, bater de vez em retirada, como proclama Javier Milei, candidato favorito à presidência da república. Pode ser que batam em retirada, afinal o presidente Alberto Fernández, a Vice, Cristina Kirchner e o ex-presidente Maurício Macri  desistiram de concorrer.

Pode ser também que a desistência seja uma estratégia que tenha como objetivo permitir que o povo coloque na presidência alguém que Fernández, Cristina e Macri julguem louco o suficiente para entornar o caldo de vez. Se isso acontecer, eles acreditam que o povo os  chamará de volta. A chance de sucesso do “pior” é o “pior ainda mais”. Os cariocas conhecem bem a estratégia, pois com ela Eduardo Paes construiu o retorno à prefeitura do Rio. 

Contudo, é possível que Fernández, Cristina e Macri estejam errados. Afinal, não se pode tomar um louco só pela cabeleira. Tudo indica que Javier Milei encontrou o discurso para vencer: devolver o Estado ao povo, decisão que ele sintetiza no grito de guerra: “Libertad!” O grito deu nome ao partido, “La Libertad Avanza”, que Javier precisou criar, por não contar com os existentes. Fez o que, por aqui, fizeram Brizola, Lula, Fernando Henrique, Marina Silva e outros. 

Javier faz uma campanha que tem estratégia. A campanha para deputado federal criou os instrumentos com os quais Javier e a equipe dele abriram caminho para a presidência. Tudo na campanha partiu do discurso inicial: 

  1. Slogan e grito de guerra, 
  2. A escolha do símbolo (Leão), que aproveita a cabeleira do candidato: “Eu não entrei nisso para pastorear cordeiros. Eu entrei nisso para despertar leões”. 
  3. Posicionamento: “E quando trouxermos os ideais de liberdade, o que o establishment nos dirá? O que os políticos nos dirão? O que os empresários gananciosos dirão? Que isso não é possível. Para o inferno o “não é possível”. 

Certamente, Javier vencerá a eleição. Mas, para despedir de vez os políticos que ele derrotará, Javier Milei terá a necessidade de dialogar com as forças políticas que ele execrou na campanha e contar plenamente com o apoio e pressões dos eleitores que lhe darão o mandato. Ele não poderá desperdiçar um dos apoios sequer, que recebeu para vencer. 

O ex-presidente Jair Bolsonaro declarou apoio a Javier Milei e pode ser-lhe útil, não só pelo que fez, mas pelo que deixou de fazer e pelas lições que recebeu daquilo que fez atabalhoadamente, sem estratégia, com ódio e demonstração de apoio ao fanatismo, exatamente, faz o presidente Lula no momento. 

Na palestra que fez no dia seguinte aos atos terroristas acontecidos em Paris no ano de 2015, o escritor Amós Oz, comentando sobre o fanatismo, afirmou. “Ideias ruins têm de ser superadas por ideais melhores…Afinal não se pode bater numa ferida que sangra para fazê-la parar de sangrar ou para fazê-la deixar de ser uma ferida…”. Lula e Bolsonaro batem nas nossas feridas sem dó nem piedade. E por isso, uma parte de nós odeia um e a outra parte odeia o outro. 

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A CASA NÃO É MAIS DO POVO.  

21.10.2023. 

Sem exagero algum, afirmo a vocês que nunca se viu um Congresso Nacional com tantos fanáticos de uma vez só. Lá,sempre houve gente folclórica, mentes brilhantes e mentes estúpidas – nenhum bobo. Dos fanáticos, não me lembro. Se existiram antes desses tempos áridos, não tinham importância. 

O que é, afinal, um fanático? Vou ao escritor Amós Oz, meu compromisso de leitura desde o dia em que tomei conhecimento da invasão de Israel pelos terroristas do Hamas. Amós ainda é uma falha do The Nobel Prize. Ele merece o prêmio, por ser um magnífico escritor. Os registros dizem que ele queria ter tido a honra. 

Amós Oz faleceu no dia 28 de dezembro de 2018, aos 79 anos, vítima de um câncer. No mesmo dia, Benjamin Netanyahu esteve no Brasil para a posse de Jair Bolsonaro, mas voltou às pressas para Israel antes da cerimônia. Um jornalista israelense comentou: “para o povo brasileiro, melhor seria conhecer Israel pela vida e letras de Amós Oz do que pelo que representa Netanyahu.” Também acho.  

Entre as obras de Amós Oz está “Como curar um fanático”, compêdio de três ensaios concisos: “Em louvor às penínsulas; Entre o certo e o certo e Como curar um fanático”. Separei alguns pontos, com uma vontade danada de compartilhar todos os livros escritos por ele. Ninguém, melhor do que ele, conhece os conflitos no Oriente Médio. Vamos a ele:  

  1. “Certamente não estou sugerindo que todo aquele que eleva a sua voz contra alguma coisa é um fanático. O sinal indicador do fanatismo não é o volume da sua voz, mas a atitude com as vozes dos outros”. 
  1. “Acredito que a síndrome de nossa época é a luta universal entre fanáticos, todos os tipos de fanáticos, e o resto de nós. Entre os que creem que seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida humana é um fim em si mesma”. 
  2. “Permitam-me sugerir que a curiosidade, juntamente com o humor, são dois antídotos de primeira linha ao fanatismo. Fanáticos não têm senso de humor, e raramente são curiosos, porque o humor corrói as bases do fanatismo, e a curiosidade agride o fanatismo ao trazer à baila o risco da aventura, questionando, e às vezes até descobrindo que suas próprias respostas estão erradas”. 
  3. “Muito constantemente, o fanático só sabe contar até um; dois é uma cifra grande demais para ele ou ela(…). Com mais frequência do que o contrário, o fanático é um grande altruísta: está mais interessado em você do que nele mesmo. Muitos fanáticos nem sequer têm self, ou qualquer vida privada, Eles são 100% públicos…”
  4. “O fanatismo muitas vezes origina-se na vontade imperiosa de modificar os outros pelo próprio bem deles”. 

“Oz é um raro sopro de sanidade e inteligência”, disse o “The Guardian”. No Congresso Nacional, me parece, nem sopro dessas características existe mais. Pena! 

É impossível não admitir que a Casa perdeu a essência, algo que fazia com que os embates verbais veementes e, por vezes até cruéis, acontecidos nos plenários se transformassem em apertos de mão, abraços e boas conversas nos corredores e na hora das composições, quando os holofotes e alto falantes estão desligados. 

A imagem que o Congresso Nacional tem oferecido ao mundo é de gente que quer ganhar o debate no grito, atropelando tudo e todos em nome das ideologias e da busca de notoriedade, cliques e flashes. A obrigação de representar quem não pode estar lá, parece-me, deixou de existir.  O Congresso que conheci antes destes tempos áridos era bem melhor, mais produtivo e agradável, até mesmo na ocasião em que os ditadores provocaram dores quase insuportáveis no grupo todo.   

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“Picadeiro de qualidade”

02.10.2023.

De novo? Novamente, o governo federal aparece com um programa para combater as organizações criminosas, o Enfoc, que prevê R$900 milhões em investimentos para atuação em cinco eixos principais: “integração institucional e informacional; eficiência dos órgãos policiais; portos, aeroportos, fronteiras e divisas; eficiência da Justiça Criminal e cooperação entre União, Estados, Municípios e órgãos estrangeiros.”  E há um tempo estabelecido para a apresentação das metas, investimentos e estratégias: 60 dias. Não pode ser algo sério. Por que não entregam o pacote completo? Porque pode ser que em 60 dias, a onda já tenha quebrado na praia e o governo dedique seu tempo a outros temas mais caros a ele, como acontece com a rotina de nomear e exonerar gente para a máquina pública. 

Tomei conhecimento do projeto ao ler ontem, domingo, o Estadão. O editor deu à notícia destaque na primeira página e pelo modo como construiu a manchete, ele também não acredita que o programa tenha algum resultado. Ele escreveu: “Pressionado, governo lança plano para tentar conter facções”. O “tentar” diz tudo sobre a esperança do editor no sucesso da proposta. O “pressionado”, mostra o modo como funciona um governo que não planeja. Ele não está sozinho. O histórico de programas e projetos que visam só tirar a União do tema não autoriza o crédito. 

O Ministro Super-Herói, Flávio, o Dino, para rebater as críticas que tem recebido afirmou que no pouco tempo em que está na equipe do Presidente Lula conseguiu reduzir as armas, desmontar o garimpo ilegal e tem dado apoio às vítimas de violência. Citou também a visita que fez a 21 estados para entregar equipamentos e liberar recursos para os governadores. Não dá para levar isso a sério! 

Bem que Deus avisou que a relação entre os agentes do Estado e a sociedade seria desse modo, mas ninguém quis ouvir. Disse Deus, quando respondeu ao desejo do povo de Israel de ter um rei: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: (…). Ele tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais (…)”. Ao Estado tudo; à sociedade, a conta. 

Thomas Hobbes deu ao Estado a representação correta de um monstro marinho, o Leviatã,  que no livro de Jó está descrito com um alerta: “Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não será o homem derrubado só ao vê-lo? Ninguém é tão atrevido, que a despertá-lo se atreva…”(Jó 41: 9 e 10). Para Hobbes o Estado só tem uma finalidade, uma só: garantir a segurança de quem renunciou a muita coisa para poder dormir em paz. Quando o Estado não garante a Segurança Pública – diz Hobbes – ele rompe o contrato que tem com a sociedade que, então, fica liberada para não cumprir a parte que lhe cabe. Quem dera, pudéssemos agir assim. Por aqui, nem criticar se está mais autorizado. Confrontado, o agente do Estado responde: “Perdeu mané. Não amola!”. 

No Brasil, com relação à segurança vivemos no “Estado de Natureza”, definido por Hobbes, onde o desejo e a força são suficientes para a satisfação de todas as vontades dos indivíduos. Tempo vai, tempo vem, e ninguém na União move uma palha para, de verdade, melhorar a qualidade das polícias, das investigações e desarmar os criminosos. 

O lançamento do programa ENFOC será só mais um dia de espetáculo no picadeiro montado em Brasília, pois a União foge às léguas da obrigação que deveria ter. Flávio, o Dino, deixou claro: “O governo não concorda com teses absurdas que propõem a federalização da segurança pública em todo o país”. Para a União quase todos os crimes são estaduais. Federais são somente aqueles ainda não tipificados pela lei, chamados de atos golpistas e antidemocráticos. 

Flávio, o Dino, encerrou a entrevista na CNN Brasil com uma pérola: “Para melhor aquilatar o que isso significa, sugiro comparar com outros momentos do Ministério da Justiça, onde criminosos lá habitavam ou eram lá protegidos…”. Desnecessário comentar.  

A União abriga malabaristas, engolidores de fogo, palhaços e trapezistas. Por isso, defendo que “O Circo”, uma das belezas compostas por Nara Leão, seja o nosso Hino Nacional. Faz mais sentido, no momento, que o louvor à liberdade composto por Duque Estrada.  

Enfim, sigamos.  

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UM GENERAL PARA CHAMAR DE SEU. 

27 de setembro de 2023. .

Ontem foi dia de ouvir o General Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, quando Jair Bolsonaro foi presidente. Bem antes, no dia 31 de agosto, lá compareceu o General Gonçalves Dias, na intimidade, G.Dias, também ex-ministro-chefe do Gabinete Institucional da Presidência da República, nos governos do Presidente Lula. Heleno deixou o cargo quando Bolsonaro saiu da Presidência. G. Dias foi exonerado por ter sido flagrado estimulando a baderna. 

Divididos nas sessões da CPMI-8, os exércitos de ambos cumpriram o papel que lhes cabia de elogiar o general companheiro e esculhambar o general adversário. Em meio aos elogios e acusações, foram citados outros generais, coronéis e militares de outras patentes.  Alguns deles também chamados para prestar esclarecimentos aos enraivecidos torcedores de um lado e de outro. 

Enquanto assistia o depoimento do General Heleno, ainda tendo na lembrança a apresentação do General G. Dias, recorri a um livro – um bom trabalho – publicado pela editora Mauad em 2007: “O Uso Político das Forças Armadas e outras questões militares”. O livro me foi presenteado pelo autor, João Rodrigues Arruda, professor e promotor da Justiça Militar. O Dr. João foi-me apresentado pelo jornalista Maurício Dias, um grande amigo. 

O Dr. João faleceu poucos anos depois da publicação do livro, que recebi autografado por ele com um alerta: “Dê atenção especial, meu caro, ao capítulo sobre o “Tribunal Penal Internacional (Os réus assinalados)”. Com disciplina atendi. No capítulo, o Dr. João, com mais vigor do que no resto do trabalho, defende a existência da Justiça Militar, naquele tempo, contestada por ministros do STF, um deles, o decano Celso de Mello. O Dr. João não está mais por aqui, tempo em que o Tribunal Penal Internacional voltou a ter existência na mídia local e os ministros do STF…bem, deixa pra lá. 

Brilhante, Dr. João navegou por várias searas e ao fazer isso levantou questões que se ajustam como uma luva de tamanho certo às cenas oferecidas ao público pela CPMI-8, no momento das oitivas dos generais. Cabe lembrar que os dois compareceram como testemunhas, sabe lá exatamente de quê. Mas, certamente, testemunharam o resultado da falta de atenção deles com as recomendações do Dr. João, para que ficassem fora da política. Ele que abre a obra com a “Ciranda das Vivandeiras”, inspirado em Karl von Clausewitz: 

“Certamente Clausewitz, apesar de ter vivido numa época em que as guerras ainda não tinham o caráter nacional, ao escrever “Vom Kriege”, no século XIX e sob o impacto das guerras napoleônicas, interpretou a política nacional como os interesses de um estado em relação a outros estados soberanos(…). “Não imaginava Clausewitz que, nas longínquas terras brasileiras, a gente da guerra seria também utilizada no âmbito interno para atender a interesses políticos partidários e de oligarquias, manipulada pela astúcia das elites”. O Dr. João encerra o primeira página do seguinte modo: 

“Para os políticos nenhuma consequência, mas para os militares, que se deixaram ingenuamente seduzir e foram manipulados por políticos, as consequências foram danosas(…). Com os que os manipulam nada aconteceu”. 

Poderia eu parar o texto por aqui. Contudo, com segunda intenção, cito o capítulo em que o Dr. João descreveu a “Guerra na Rocinha”. Afinal, sou parte do povo de uma cidade que já assistiu vezes sem conta, o desmoronamento da imagem das Forças Armadas, por terem os generais atendido à convocação dos presidentes para resolver um problema que parece insolúvel pela qualidade das políticas aplicadas à Segurança Pública:  o crime nas ruas. 

A “Guerra na Rocinha”, citada pelo Dr. João, aconteceu na Semana Santa de 2004. Naquele ano, Lula estava na Presidência da República, a senhora Rosinha Garotinho estava no governo, Anthony Garotinho, na Secretaria de Segurança e o General Jorge Félix, no gabinete que depois foi ocupado pelos colegas G. Dias e Heleno. Denise Frossard preparava-se para a disputa pelo governo do estado, eleição que Sérgio Cabral venceu com a ajuda do político Eduardo Paes, senhor de todas as próprias conveniências. 

Em fevereiro de 2016, ainda como consequência da decisão dos eleitores na eleição de dez anos antes, o Presidente Michel Temer determinou que as Forças Armadas dessem um jeito na segurança do Rio de Janeiro. Não deram. 

Não direi sobre o livro para não fazer spoiler. Fiquem à vontade para conhecerem, por si mesmos, toda a obra. Mas, deixo como aperitivo o trecho relevante do capítulo “Guerra da Rocinha”: 

“(…) Em carta encaminhada ao Ministro da Justiça, Thomaz Bastos, o Secretário de Segurança, Anthony Garotinho definiu a ajuda que esperava do governo federal. Especificou, inclusive, o efetivo a ser empregado, que incluía duas brigadas estratégicas do Exército…”

Para quem desejar, o livro está à venda na Amazon. 

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Como fazer para ter mulheres na política? 

25.09.2023. 

A resposta parece algo a merecer estudos sociológicos, antropológicos, filosóficos e bem mais. Não é. Basta que os partidos respeitem o que está determinado no artigo 4o da Lei dos Partidos Políticos, promulgada no dia 19 de setembro de 1995 (9.096), portanto, há 28 anos, tempo suficiente para ser entendido com clareza, mesmo pelas pessoas de pouco entendimento. Lá diz: “Os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres”. Mas, a gente sabe que não têm, por uma série de subterfúgios utilizados pelos donos de fato dos partidos, em contraponto aos donos de direito, os filiados. 

Se deixarem as mulheres em pé de igualdade nas convenções partidárias, elas farão o que têm feito em outros campos da atividade humana: ocuparão os espaços sem precisar da caridade dos homens. 

Faz tempo, gente, que não se tem convenções democráticas seja para o que for e menos ainda para escolha dos candidatos que os partidos apresentam aos eleitores. Por isso, os legisladores ficaram livres para instituírem, como se fossem atos de caridade, o que chamam de cotas, uma discriminação velada. 

Pois que, com convenções democráticas, onde todos os filiados, sem discriminação seja pelo que for, teriam o mesmo direito de voltarem e serem votados, o comando dos partidos precisariam reverenciar os filiados para deles obterem o voto. A alternativa seria fecharem a porta de entrada dos partidos para quem desejasse filiação e não lesse na mesma cartilha contudo esse tipo de controle, já se sabe, nada garante quando o poder, seja onde for, esteja em disputa.  

Os partidos políticos são bancados pelo dinheiro dos contribuintes, portanto, nada de mais ou de menos seria exigir deles normas claras e transparentes para filiação, pois que quem paga a conta tem todo o direito de participar das decisões, eis aí uma diferença entre a ideologia reinante e a desejada se queremos ser, de verdade, uma democracia. 

Toda vez que me vejo obrigado a consultar a legislação que norteia os partidos políticos, tendo presente o fato de existir por aqui um tribunal com atribuição específica para cuidar do assunto, questiono a necessidade de cotas e de outras invenções legais que só servem a um propósito: manter o comando dos partidos nas mãos de gente que só usa o número de filiados como estatística. 

Eis uma prática que não precisa ser reformada, mas, simplesmente, cumprida, repito: “Os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres”. 

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PODER MÁSCULO! 

20.09.2023.

Um diálogo imaginado, mas que tem tudo para ser real. 

Homens: Quero que vocês participem das eleições. 

Mulheres: Obrigada! 

Homens: É nossa obrigação como homens.

Mulheres: Sim, sim! 

Homens: Então, cederemos a vocês 30% das vagas na relação de candidatos.

Mulheres: Puxa, que legal! Obrigada, de novo. Mas, perdão, pode ser que os partidos não cumpram.

Homens: Nada disso. Vamos ser duríssimos com os partidos. Se não cumprirem, metemos multas pesadas e outras penalidades. 

Mulheres: Mas, vocês sabem né, campanha se faz com dinheiro.

Homens: Claro! Vocês acham que não pensamos nisso? A Justiça Eleitoral determinou a destinação de 30% do Fundo Eleitoral para vocês e nós não recorremos. E tem mais. Cedemos 5% para vocês terem programas para estimular as mulheres a participarem. 

Mulheres: Puxa, que legal! Vocês têm bom coração! 

Homens: É nossa obrigação. 

O tempo passou, chegou o tempo das campanhas e os partidos não cumpriram o combinado. 

Mulheres: Vocês nos prometeram penas severas para quem não cumprisse a destinação das vagas de candidatos e do dinheiro. Como será agora? 

Homens: Bem, pensando, bem…Vamos dar um jeito. 

O tempo passa e começa a se aproximar o momento da próxima eleição. 

Homens: Ei, mulheres. A gente ia jogar duro com os partidos, mas pensando bem, isso seria penalizar vocês também…

Mulheres: Como assim? 

Homens: O dinheiro das multas seria tirado do Fundo Partidário que é um dinheiro de todos, inclusive de vocês…

Mulheres: Então, ficamos no prejuízo? 

Homens: De jeito nenhum. Vocês acham que a gente iria permitir isso? Temos uma surpresa para vocês.Agora, a gente vai destinar 15% das vagas para vocês.

Mulheres: Mas, a gente já tinha 30%. 

Homens: Vocês não estão entendendo. Os 30% eram de vagas na lista de candidatos. Os 15% dizem respeito às cadeiras, nas Câmaras Municipais, nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional. Olha que maravilha! 

Mulheres: Pensando bem, queremos 53% das vagas. 

Homens: Isso é loucura! 

Mulheres: É não. Afinal, nós, mulheres, somos 53% do colégio eleitoral.

Homens: Sim, mas vamos devagar. Essa coisa de política, minhas caras, é um troço difícil. 

Mulheres: Estamos vendo. 

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“ÁS Favas com os Escrúpulos”.

10.09.2023.

Às Favas! 

“Os ditadores não perguntam por quê. Perguntam, por que não?” Eu tenho essa frase anotada, sem o nome do autor. Ela traduz a relação dos agentes de um Estado com os cidadãos desse mesmo Estado. 

Por que não censurar? Por que não prender? Por que não soltar? Por que não anular o que foi feito? Por que não inquirir? Por que não julgar? Por que não cobrar mais impostos? Por que não favorecer? Por que não dispensar provas? Por que não, se estão à minha disposição os instrumentos do Estado e o braço forte dele, as polícias? Portanto, “Tudo posso, no Estado que me fortalece”. 

O apóstolo Paulo na carta aos Filipenses tranquilizou os fiéis sobre as dificuldades dele para obter o necessário para o próprio sustento. Paulo agradeceu aos fiéis pela preocupação e afirmou: “Tudo posso naquele que me fortalece”, disse ele referindo-se a Jesus Cristo. Substitua-se Cristo pelo Estado e Paulo pelos agentes públicos e é possível aproveitar para o mal, a frase feita para o bem. Afinal, estamos em tempos de ter, para tudo, um bem e um mal, como valores relativos: a depender de quem esteja ao lado do bem, em lado mau ele será transformado. 

Para que assim seja, é preciso que se mande a democracia às favas, como sugeriu o coronel Jarbas Passarinho ao usurpador Marechal Costa e Silva, no momento em que se decidiu a edição do AI-5. Passarinho depois foi Senador da República pelo Pará. Eis o discurso: 

“Quero me referir às vezes que ouvi de Vossa Excelência, Presidente, não só coletivamente como individualmente em despachos, palavras marcadas por absoluta sinceridade; quando V.Exa não estava sendo menos sincero do que agora, neste instante ou quando V.Exa., inclusive, aqui mesmo nesse palácio no dia do seu aniversário, chamou a atenção para o peso da ditadura sobre os ombros dos homens, mesmo que fosse um triunvirato ou fosse um colegiado(…). Eu seria menos cauteloso do que o próprio Ministro das Relações Exteriores, quando disse que não sabe se o que restará caracterizaria a nossa ordem jurídica como não sendo ditatorial. Eu admitiria que ela é ditatorial. Mas, às favas, neste momento, senhor presidente, com todos os escrúpulos de consciência, pois, tudo aquilo que, fundamental é em condições normais, passa a ser secundário em condições anormais”, e etc.  No entanto, os ilustres verdugos estavam com o poder de decidir o que era normal ou anormal, secundário ou principal. Sendo assim, por que não o AI-5? 

Na raiz estava o apelo do deputado federal, eleito pela Guanabara, Márcio Moreira Alves, para o boicote ao desfile do Dia da Independência. Os verdugos pediram autorização à Câmara dos Deputados para processar o parlamentar e isso lhes foi negado. Então, por que não fechar o Congresso, cassar mandatos, torturar, matar, esfolar, prender?

O DIA DA INDEPENDÊNCIA NEM SEMPRE TEM SIDO CALMO.  Há dois anos, em 2021, os palanques balançaram, o Presidente da República desafiou o Presidente do Supremo Tribunal Federal, um ex-presidente apartou a briga. 

Mas, em tudo existe sempre um lado ruim e um lado bom e nós brasileiros temos a magnífica arte de fazer da tragédia alguma comédia. No dia 18 de maio de 2007 – 39 anos após o discurso do Senador Jarbas Passarinho – os geniais Bibi Ferreira, Juca de Oliveira e Jô Soares, colocaram um outro senador no palco do Teatro Raul Cortez, em São Paulo, com a peça, “Às favas com os escrúpulos”.  É a história de uma professora apaixonada pelo marido, um senador, com quem está casada há mais de 50 anos e descobre que é traída há muito tempo por ele. Bibi fez o papel da esposa e traduziu a personagem numa frase: “O meu papel é o do povo, sob todos os pontos de vista, emocionais e políticos. Sou traída em todos os sentidos”. 

Não quero encerrar sem indicar a quem me lê a magnífica entrevista que Bibi Ferreira deu ao Jô Soares sobre a peça. Está no Youtube: Atriz Bibi Ferreira volta aos palcos. É para aplaudir de pé! 

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LULA VOLTOU SEM TER IDO. 

06.09.2023

A revista VEJA da semana tem Lula na capa, curvado pelo peso da estrela do PT. A manchete é: “Carga Pesada”. A ilustração resume o blá,blá,blá da matéria assinada por Daniel Pereira. Ela é o enredo de um filme repetido: o Partido dos Trabalhadores está a correr atrás de carguinhos que paguem bem sem exigência de concurso, mérito e responsabilidade. 

Lula, o presidente de agora é o Lula de outrora, o Partido dos Trabalhadores também, os sindicatos, idem. Em setembro de 2003, quando completou nove meses na primeira passagem dele pela Presidência da República, Lula deu um recado aos sindicatos, num discurso que fez em São Bernardo do Campo. Ele vociferou: “A CUT não está no governo como apêndice. A CUT está no governo como força determinante do que o governo pode fazer. A CUT tem que ter a consciência de que pelo menos um terço do governo é de ex-dirigentes da CUT. A CUT é uma das razões da minha chegada à Presidência.” Em pauta, a fome da CUT e da Força Sindical por cargos no governo. Lula toureou e depois cedeu. 

O trecho do discurso está em uma matéria publicada pela Revista Conjuntura Econômica, em setembro de 2003, que eu guardo nos meus arquivos. Lula está na capa em posição de aplauso encabeçando a manchete: “A República Sindicalista do Brasil”, matéria assinada pelo jornalista Vitor Nuzzi, de quem li “Geraldo Vandré, uma canção interrompida”, uma leitura, sem dúvida, mais agradável do que a matéria feita por ele para a Conjuntura. 

Lula este mês completou nove meses à frente do governo, onde está pela terceira vez. Surge, então, a Revista VEJA com a ganância do PT. Santo Deus! O Pregador tem razão: “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.” (Livro de Eclesiastes – 1:9). 

Como estou a tratar de capas e matérias sobre Lula, eu relembro a de novembro de 2006, da VEJA, momento em que o presidente foi reeleito pela decisão soberana do povo: “A ÚLTIMA CHANCE. O PRIMEIRO MANDATO DE LULA FOI PÍFIO E AGORA ELE TEM MAIS 4 ANOS PARA DEIXAR UM LEGADO DE GRANDEZA”. Deixou Dilma Rousseff, que o povo reelegeu 4 anos depois. 

Não é de se perguntar? Por que diabos colocaram o cara lá, novamente? 

No endereço: www.youtube.aquitudoepolitica.com.br eu estico essa conversa. Ando precisando de inscritos no canal. 

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Crianças Eróticas. 

O “Cavalo Tarado”, analfabeto e no cio, apresentou-se na pele de uma mulher na Escola Municipal Luiz Carlos Prestes, um comunista por aqui homenageado, homem que, em nome e a favor da ideologia e de si mesmo, apertou as mãos e abraçou o peito do carrasco que entregou a esposa dele e a filha ainda no ventre a outro carrasco, Adolfo Hitler.

O “Cavalo Tarado”, analfabeto e no cio, galopou nas costas de um louco, tomou para si a mochila de uma menina e sentou-se do lado dela para assistir uma dança com jeito de sacode feita por homens vestidos de bailarinas  O ato foi mais um convite de adultos à erotização de crianças. Isso tem sido rotina de uns tempos para cá no Brasil. Outros casos apareceram nas redes e na TV. Um deles em São Paulo, quando um homem nú apareceu no palco de um teatro de mãos dadas com meninas que não tinham mais do que dez anos de idade e na ocasião e outro tendo um homem deitado no chão, sem roupa, acariciado por um garoto que aparentava ter quatro ou cinco anos de idade, presentes os pais e platéia. 

A tentativa de levar o erotismo para as crianças revolta uma parte da sociedade e é aplaudida por outra. É complicado acreditar que alguém com a consciência sã concorde com o projeto de erotização de crianças. Mas há quem concorde e não se contente em concordar e levanta-se com furor contra quem discorda e luta para que isso acabe. O importante é saber o motivo da concordância. 

Georges Bataille, escritor francês, autor de Erotismo, afirma na obra que o erotismo diferencia a sexualidade da espécie humana das demais espécies, pois a sexualidade humana não existe só para a reprodução. Por isso, ela está intimamente ligada à liberdade para fantasiar. O prazer e a libido, diz Bataille, têm estreita relação com as fantasias sexuais. Ele diz também, por óbvio, que existem situações eróticas prazerosas para alguns, mas que soam repulsivas para outros e daí eu concluo: esse é um fato que leva as relações sexuais para o campo da liberdade própria limitada pelo respeito à liberdade do outro. 

Como o respeito à liberdade do outro não consta da cartilha de bastante gente, existem pessoas que desejam impor suas fantasias sexuais às crianças para que elas façam-se adultas antes do tempo e sejam discípulas da libertinagem – escravas só de seus próprios desejos imaginado-se livres para agirem do modo como bem entenderem sem preocuparem-se com os outros. É o vale-tudo seja na mesa da sala, seja na cama, sem que tenha importância a opinião do outro. 

As escolas estão a serviço disso? Quem pode dizer? Os prefeitos podem, pois é deles a incumbência legal de cuidar das crianças no momento em que elas ingressam num mundo totalmente novo, onde têm a oportunidade de receber alguns instrumentos para decidir de que modo desejam viver suas vidas e, certamente, as fantasias sexuais não deveriam constar da proposta de ensino. 

Mas, os prefeitos sabem o que ocorre nas escolas pelas quais são responsáveis? O fato ocorrido na Escola Municipal Luiz Carlos Prestes na cidade do Rio de Janeiro nos oferece a resposta. O prefeito apresentou-se ao público para tratar do assunto tendo como companhia as imagens que chegaram ao celular dele no mesmo momento em que chegaram a todos os demais. Ou seja, estou livre para acreditar que se as imagens não tivessem viralizado e criado indignação antes na sociedade do que no prefeito, ele desconheceria o fato. 

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Pesquisa Quaest. Instituições. 

23.08.2023. 

Durante a semana, o Instituto Genial Quaest divulgou o resultado de uma pesquisa sobre a reputação de várias instituições públicas e a imprensa destacou os dados sobre as Forças Armadas, para usar a informação como crítica a Jair Bolsonaro. Foram ouvidas, presencialmente, 2.029 pessoas, entre os dias 10 e 14 de agosto, com margem de erro de 2,2%. 

Antes de avançar na leitura das notícias, fui ao site do Exército Brasileiro e lá encontrei a notícia sobre pesquisas qualitativas e quantitativas realizadas pela Força, com resultados bem diferentes do que os apurados pela Quaest, mas tive dificuldade para saber o exato momento das pesquisas e mesmo ter acesso ao resultado delas. 

A pesquisa Quaest pesa mais contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso e partidos políticos do que contra as Forças Armadas e não encontrei os caminhos que pudessem me levar a concluir, como fez a imprensa, que o desgaste na imagem positiva das Forças Armadas tenha ligação direta com o movimento de 8 de janeiro em Brasília, com o caso das jóias ou com qualquer outro evento vinculado diretamente com a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentei acesso a mais detalhes da pesquisa e fui ao site do Instituto. Nada mais alcancei além do que me foi apresentado pela imprensa. 

Uso aqui como fonte de comentários, o jornal do Canal UOL e a matéria do Estadão. As palavras da âncora Fabíola Cidral do Portal UOL disse:  “Falando sobre a imagem dos militares, saiu uma pesquisa interessante, Genial Quaest…A confiança nas Forças Armadas caiu de forma expressiva. Olha só como caiu. Esse levantamento mostra que caiu de 43% para 23%…33% sobre quem confia muito nas Forças Militares…Esse foi o grande destaque da pesquisa.(…) E aí não está só o caso das jóias. Acho que tem outros episódios. Principalmente, o oito de janeiro…”. O Estadão caminha sobre a mesma estrada e acrescente declarações do comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que promete medidas para melhorar os salários e benefícios para as famílias dos militares, com o objetivo de reduzir o desgaste divulgado pela imprensa. Uma postura bem ao estilo dos sindicatos. 

Os gráficos com os resultados foi exposto pelo canal, enquanto os âncoras e Tales comentavam. Os resultados mostram linhas que informam as imagens positivas (em azul) e negativas ( vermelho) das instituições: Polícia Militar, Igrejas Evangélicas, Igreja Católica, Militares/Forças Armadas, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Partidos Políticos. Diante dos quadros, digo: calma lá, há uma leitura que deveria ter mais importância para a imprensa. Vamos a ela: 

  1. A Polícia Militar, igrejas evangélicas, igreja católica e Forças Armadas têm mais imagem positiva do que negativa. É fato que as Forças Armadas, foco da imprensa, perderam 4 pontos em imagem negativa e ganharam 5 pontos negativos, mas como Instituição mantém-se com a imagem positiva e alguma gordura.
  2. O Supremo apresentou-se com 40% de imagem negativa e apenas 18% de positiva. Ele saiu de 33% de imagem negativa para 40% e perdeu 3 pontos em imagem positiva. 
  3. O Congresso Nacional está com 43% de imagem negativa, mas já teve 49%. A imagem positiva tem apenas 9%, vindo de 11% na pesquisa anterior. 
  4. Os partidos políticos estão com 54% de imagem negativa e apenas 4% de positiva. 

Portanto, o fato que mereceria destaque é: a população despreza o STF, o Congresso Nacional e os Partidos Políticos, tendo preferência pela fé e pela força.