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POR ISSO, GOSTO DE POLÍTICA

A casa branca, Domínio público, via Wikimedia Commons

Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos e isso produziu ódio e ressentimentos na esquerda no Brasil. A direita tripudiou. Mas, Kamala Harris, derrotada por Donald Trump, sem ressentimento, fez um discurso primoroso para reconhecer a vitória do opositor: 

“ Eu sei que vocês estão sentindo e vivenciando uma série de emoções neste momento, mas devemos aceitar os resultados desta eleição. Hoje cedo falei com o presidente eleito, Donald Trump e felicitei-o pessoalmente pela vitória e avisei que vamos ajudá-lo na transição, para uma transferência pacífica de poder, um princípio fundamental da democracia americana. (Mama é vice-presidente de Joe Biden). 

Esse princípio distingue a democracia da tirania. Nenhum de nós deve lealdade a um presidente ou a um partido, mas à Constituição dos Estados Unidos da América. E é assim que devemos proceder”. 

Kamala, com habilidade, sem ressentimentos, sem acusar o sistema ou o processo, marcou a diferença entre as atitudes dela e do  partido democrata e o que fez Donald Trump ao perder a eleição em 2020. 

No Uruguai a esquerda levou e no Brasil tripudiou a direita. Contudo, Alvaro Delgado, candidato derrotado, reuniu seu grupo político e eleitores e discursou. Álvaro abriu o discurso com os agradecimentos de praxe e declarou estar diante do discurso mais difícil da vida dele. O discurso de reconhecimento da derrota, mas avisou: “ Temos que respeitar, sobre todas as coisas, uma eleição soberana….Com toda essa coligação de governo, com todos os atores dessa coligação, dou um forte abraço e saúdo Yamandu Orsi e toda a Frente Ampla que o apoiou…”. Em seguida, Alvaro declarou a disposição dele e de seus aliados em cooperarem com o governo eleito, para o bem da democracia e do Uruguai. Durante todo o discurso, Alvaro segurou a bandeira do país. No fundo do palco reluzia a frase: La Coalizon festeja la democracia”. 

A história da democracia no mundo dá outras centenas de exemplos de comportamento civilizado entre os que perdem e os que vencem eleições, mas, para mim, o caso mais emblemático é a carta  que W. Bush escreveu para Bill Clinton, quando derrotado por ele: 

“Prezado Bill, quando entrei neste escritório (Casa Branca) agora mesmo, senti a mesma sensação, admiração e respeito, que senti há 4 anos. Sei que você também sentirá isso. Desejo que você seja muito feliz aqui. Eu nunca senti a solidão que alguns presidentes descreveram. Haverá momentos muito difíceis, dificultados ainda mais por críticas que talvez você não considere justas. 

Não sou uma pessoa muito boa para dar conselhos, contudo digo a você: não deixe que os críticos  o desencorajam ou desviem você do caminho. Você será nosso presidente, quando ler essa nota. Portanto, desejo o melhor para você e desejo o melhor para a sua família. O seu sucesso agora é o sucesso do nosso país. Estou torcendo muito por você. Boa sorte. GEORGE. 

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O GOLPE

A palavra do momento é golpe, que no dialeto usado pelo Presidente da República chama-se “Gopi”. Para os mal informados ou esquecidos, golpe é algo raro, mas nem tanto para quem observa a história da República no Brasil, que começou  por aqui como produto de um golpe, liderado por um Marechal doente, cansado, curiosamente monarquista e amigo do Imperador. Dizem que uma dor de cotovelo deu ao Marechal o impulso necessário. A verdade, no entanto, é o desgosto da elite brasileira, contrariada com a Princesa Isabel pela ousadia dela de libertar os escravos. 

De lá até a eleição da família Bolsonaro para a Presidência da República, a história da política brasileira veio de golpe em golpe. 

Getúlio Vargas deu um golpe para chegar à presidência. Jânio Quadros renunciou à presidência para dar um golpe e voltar a ela. Contudo,o Congresso Nacional foi mais rápido e deu o golpe que criou o parlamentarismo. O Congresso então deu um novo golpe e tirou o presidente da república que, num contragolpe, derrotou o parlamentarismo.  

Os generais deram um golpe no Congresso Nacional e assumiram a presidência. Ficaram no poder mais de 20 anos, equilibrando-se entre outros dois golpes: um em 1967 e outro, quando negaram ao Vice-Presidente civil a posse na Presidência da República, depois de falecido o presidente. Para sustentarem o golpe, os generais criaram o triunvirato presidencial. 

Depois, o golpe ganhou status legal com o nome de impeachment, para permitir que o Congresso, sem crises institucionais, tirasse os presidentes que o povo elegeu. E hoje andamos aí com um debate sobre se Jair Bolsonaro pretendeu mesmo dar um golpe para manter-se ou não na Presidência da República após ter perdido a eleição. 

Esse é o assunto do momento, um fato que continua a dividir o povo brasileiro, que já vem dividido – raivosamente dividido – desde a selvageria que houve entre o PT e o PSDB, entremeada pelos pilotos da Lava-Jato. 

Essa maldita divisão já poderia ter desaparecido, se os presidentes da república compreendessem que é uma das atribuições deles liderar o povo; a mais relevante de todas as competências  para governar. Um Presidente deve respeitar os contrários e conciliar os diversos segmentos da sociedade.  

Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República com ódio aos adversários e com ódio deles governou. Também estimulou o ódio nos seus seguidores e Lula não tem deixado por menos. Nunca deixou. 

Na falta de desejo dos presidentes, de onde poderia vir a conciliação? Está claro, claríssimo, que andamos a precisar de um líder, alguém que tenha autoridade moral e a autonomia necessária concedida pelo povo, para conduzir a Nação.

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O DEBATE SOBRE DEMOCRACIA E O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES

Recentemente, durante uma reunião do conselho do Instituto Atlântico estive em um debate caloroso e duríssimo com meu colega economista, empresário e presidente do instituto, Rafael Vecchiatti. Para ilustrar detalhes de sua opinião, ele me sugeriu a leitura de um dos seus artigos que expressa uma visão crítica e contundente sobre o atual papel do Supremo Tribunal Federal no Brasil. Ele questiona a independência entre os poderes e faz uma chamada enfática para que outros atores políticos e instituições do país atuem contra o que ele considera uma violação de liberdades e princípios constitucionais.

Compartilho com vocês o artigo do Rafael Vecchiatti, publicada originalmente no site do Instituto Atlântico, e os diálogos que compartilhamos após esta reunião.

GOLPISTAS e HOMENS DE CARÁTER

14/02/2024

Rafael Vecchiatti

“Numa nação livre, os cidadãos decidem os limites de poder que concedem ao Estado e aos seus dirigentes; num país que não o é, os governantes resolvem as liberdades que concedem aos seus cidadãos”.  J. Goldsmith.

Vivemos um momento inusitado da nossa história política. Nos últimos anos, o comportamento do Supremo Tribunal Federal tornou-se absolutamente irracional. A Instituição, que deveria ser o espelho fiel da Constituição, tem se comportado como um tribunal de inquisição medieval e interferido ilegitimamente nas prerrogativas do Legislativo. Na prática, em decisões monocráticas ou coletivas, oprimem, cerceiam e condenam cidadãos, ao arrepio da LEI. E mais, anulam processos legítimos e soltam condenados quando os integrantes fazem parte da atual oligarquia dominante. Isso não é apenas insegurança jurídica: é o caos da ordem legal vigente!

A sanha de arbitrariedades que vêm sendo cometidas pela Suprema Corte do Brasil não deixa dúvidas sobre QUEM são os autores “do golpe” de que tanto falam em suas narrativas. Ou como diz aquele que se acha “o supremo do Supremo”, contra “o estado democrático de direito…”

Seria hilário se não fosse absolutamente trágico para a Nação Brasileira!

À luz da civilidade e dos verdadeiros princípios de justiça, tal comportamento é tão inacreditável e desprezível, quanto fere e sufoca a liberdade individual daqueles que têm caído nas suas vingativas e ditatoriais garras.

verdadeiro “Estado de Direito”, que suas excelências ignoram, mas tanto proclamam em absurdas e cansativas narrativas, significa a adoção de 3 princípios fundamentais que a Civilização Ocidental aprendeu após longa experiência: o primeiro, que todos os órgãos de um Sistema de Governo devem ter perfeitamente definidas e claramente limitadas as suas funções; o segundo requisito é que as leis, para serem verdadeiras, devem possuir os seguintes atributos: serem normas gerais de justa conduta, iguais para todos (inclusive para quem as fez) e aplicáveis a um número indefinido de casos futuros; e o terceiro é o princípio constitucional da autonomia e independência entre os poderes. Para o atual STF, além de não respeitarem essa autonomia e independência, as leis não precisam ser iguais para todos, podem ser discricionárias ante este ou aquele seguimento da sociedade, e até retroativas.

Por outro lado, tem sido encorajador ver a evolução da quantidade de artigos e pronunciamentos sobre este sombrio momento político que estamos vivendo. Entretanto, fico abismado com o excesso de eufemismos em muitas dessas manifestações, que chegam a configurar clara covardia dos seus autores. A cuidadosa manifestação dos cidadãos privados é compreensível diante do receio de que as arbitrariedades os atinjam. Mas, e os membros das outras Instituiçõeseleitos ou escolhidos, justamente para manter o equilíbrio constitucional de um Sistema de Governo?

Onde estão os homens e mulheres de caráter deste País para se contrapor, legalmente, aos abusos da Suprema Corte? Certamente há muitos, mas ONDE ESTÃO?

Como Servidores Públicos, além de honrar as suas dignas funções, deveriam se importar seriamente com o seu comportamento à sombra da Constituição, a fim de evitar a verdadeira PREVARICAÇÃO.

E a prevaricação NÃO É caracterizada por se descumprir ordens emanadas por qualquer indivíduo de órgão superior, só porque o Estado lhes EMPRESTA poder numa hierarquia maior. Como o vernáculo nos ensina, PREVARICAR É: “ABUSAR DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, COMETENDO INJUSTIÇAS OU LESANDO OS INTERESSES QUE DEVIA ACAUTELAR” (dicionário Porto Editora). Sentido ao qual o artigo 319 do Código Penal acrescentou a penalidade omissiva, ao punir aquele que “DEIXA DE” praticar ato de ofício.

Em primeiro lugar, ONDE ESTÃO os magistrados das demais cortes e instâncias do País? Vão permitir que a “Instituição Justiça”, já tão criticada, desmorone? Onde está o CARÁTER e a CONVICÇÃO desses, diante do juramento de se cumprir a LEI? Tão ciosos de suas prerrogativas e vantagens profissionais, mas quietos e SUBJUGADOS por algum algoz desmoralizador da sua própria casa? Será preciso recordá-los que a VERDADEIRA JUSTIÇA é o último bastião da civilidade? E que depois dela só restará a barbárie?

ONDE ESTÃO os políticos de todas as esferas? Principalmente os do Congresso Nacional, que foram eleitos para representar o POVO! E o povo, na sua IMENSA MAIORIA, não quer este atual estado de coisas. Essa violação do processo legal, esse arbítrio ideológico, essa afronta à nossa ainda imperfeita Constituição. Os congressistas não só têm o PODER LEGAL (o Senado em particular), mas a OBRIGAÇÃO de cumprirem a Constituição e AGIREM em nome dos cidadãos que os elegeram! ESSA INAÇÃO, na verdade, demonstra claramente como é frágil e deturpado o nosso SISTEMA de REPRESENTAÇÃO atual, e porque necessitamos de uma NOVA Constituição.

ONDE ESTÃO os governadores E A SUA AUTONOMIA POLÍTICA? Ah! Somos uma república de mentirinha? Não têm autonomia ou moral para se afastarem do governo central? Esperem as PRÓXIMAS ELEIÇÕES (se houverem) para ver como o POVO os julgará pela covardia e OMISSÃO das suas responsabilidades. E esperem também a consolidação desse estado totalitário para ver como vai ser… A começar pela centralização de impostos, aprovada recentemente numa ABSURDA “Reforma Tributária” que os senhores, de fato, desconhecem.

E finalmente, ONDE ESTÃO os militares das 3 ARMAS, que juraram defender a Constituição? Estão esperando mais o quê? Concordam com o atual estado de coisas, onde um condenado comunista voltou ao Poder pelas mãos sujas do STF? E em conluio, estão executando um premeditado projeto de poder ditatorial, emanado do Foro S. Paulo? Nossas Instituições pereceram, e, com elas, a própria política. Se não há mais instituições minimamente confiáveis, aplica-se a famosa fórmula de Von Clausewitz: “a guerra é a continuação da política por outros meios.” Então, onde está o vosso discernimento? ONDE está a vossa HONRA? ONDE ESTÁ O VOSSO JURAMENTO?

São servidores públicos que também PREVARICAM? OU SÃO cidadãos HONRADOS que, por serem o Poder Coercitivo Legal vão defender a Constituição e a Nação desses abusos inomináveis?

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NOSSO DIÁLOGO:

Jackson:

Meu caro presidente, eu já conhecia o texto, mas de qualquer modo, agradeço a deferência. Dele discordo em um ponto – exclusivamente, quando vc chama os generais para uma conversa que não precisa deles, um equívoco que nossa gente já cometeu e eu, certamente também vc, não gostamos do resultado. Sim, há exageros nas decisões do STF, mas isso é coisa para o Congresso resolver. Há defeitos no Congresso, sim, mas isso é assunto para o povo resolver e ele não está impedido nem limitado para encontrar a solução. Por isso, discordo veementemente, com todas as minhas forças, da sua tese e da Katia (pessoa também brilhante), de estarmos sob a égide de uma ditadura. Não estamos. Já estivemos, quando os generais que vc convoca, estiveram na direção. Esse é o ponto. E ao entrar nele, chamo a sua atenção para o papel que entendo seja o nosso como componentes de uma organização de ponta como o é o Atlântico. Cabe-nos a tarefa de levar e defender diante do povo, as nossas idéias com força suficiente para convencê-lo, pois, pode ser que o povo na sua “IMENSA MAIORIA”, citado desse modo em seu texto, não tenha o sentimento que vc acredita que já tenha. É perigoso falar em nome do povo antes que ele se pronuncie. Concordo que precisamos de uma noca Constituição, sim pois a que o povo construiu eem 1988 não existe mais. Vc já me afirmou reconhecer que ela é uma colcha de retalhos. Meu caro presidente, há sim uma democracia vigente no país. Pode não ser a que gostaríamos que fosse, pois a democracia (poder exercido pelo povo) não nos atende, pelo fato do povo não nos compreender, daí a importância do Atlântico, no meu entendimento. Ele é um elemento estratégico para o convencimento daquele a quem cabe, de fato, decidir o destino do país: o povo. Vc cita o general Von Clausewitz, no ponto frágil dos argumentos dele: ” a guerra é a continuação da política por outros meios”. ERRADO. A política é o instrumento que oferece uma solução pacífica para os conflitos humanos. Onde há guerra, desaparece a política, que só retorna quando os povos sentam para o tratado de paz. Mas, já que estamos com “Da Guerra”, de Clausewitz, vou a uma passagem do prefácio oferecido ao livro por Anatole Rapoport: ” não possuímos nem desejamos possuir uma classe militar na qual os assuntos sejam delegados com plenos poderes. As nossas forças armadas, incluindo o corpo de oficiais, são recrutadas numa base democrática. É assim que deve ser, visto existir um único responsável nacional de um Estado democrático: o povo todo”. Desejo-lhe um bom dia.

Rafael Vecchiatti:

Obrigado pelas observações. Como bem notou, as Forças Armadas vem por último porque eles também tem a função (constitucional) de defender a Constituição. E são os que detém o poder coercitivo legal. Apenas por isso são chamados. É a última instância, quando todos os demais responsáveis falham.
O que chama de “exageros” do STF são, de fato, atrocidades à democracia e IMPEDEM o seu funcionamento constitucional. E o Congresso NÃO resolveu, até hoje. Diferentemente do que afirma, o povo está impedido de resolver simplesmente porque NÃO está representado como deveria. Nosso sistema partidário/eleitoral é uma FARSA. SEM voto distrital; recall; coeficiente eleitoral correto; fidelidade partidária e outros quesitos, jamais seremos representados corretamente. É isso por ora, meu caro Jackson. Quiçá tenhamos sempre tempo, disposição e liberdade para dialogar e contribuirmos, sempre melhor, para o nosso país. Um bom dia para tí também.

Jackson:

Meu caro, gosto do bom debate e como percebo que vc tem o mesmo prazer, ouso esticar a nossa conversa com um alerta sobre o papel dos militares, que, ao contrário do que vc expõe aqui não têm o dever constitucional de defender a CF, pelo menos não é o que diz o artigo 142, da CF, usado como argumento dos que pediram o golpe. Eis o artigo: “Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Está bem clara a subordinação suprema ao Presidente da República e garantidores da lei e da ordem só por iniciativa dos poderes constitucionais: Executivo, Legislativo e Judiciário. O povo tem acesso às ações das Forças Armadas quando escolhe o presidente. O sistema eleitoral e político é falho? Cabe ao Congresso refazê-lo. Ah! mas o povo é ludibriado quando escolhe os membros do Congresso? Pode ser, mas em sendo, retorno ao nosso papel como gente esclarecida: esclarecer o povo e criar os instrumentos para isso. Um dia, por aqui, um grupo de indignados fez o certo: criou um partido e disputou eleições. Eu me filiei a esse partido. Em 2018, votei, no primeiro turno, no candidato desse partido – Amoedo. em 2022, no primeiro turno, fiz o mesmo, votei no Luiz Felipe. É assim que entendo o jogo político

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PESQUISA DECIDE ELEIÇÃO? 

Este ano, em Taubaté, decidiu. Duas semanas antes do momento do primeiro turno, o IPEC apontou, duas vezes, um resultado irreal, que desviou os votos que seriam dados ao prefeito, candidato à reeleição, para o candidato do Partido NOVO. 

O IPEC registrou 3% das intenções de votos para José Saud, candidato à reeleição, No entanto, no tracking realizado por nós, Saud pontuava 21%. Para os eleitores, o resultado do IPEC não foi novidade, uma vez que durante a pré-campanha, José Saud transitou entre 9 e 3%, mesmo nas pesquisas contratadas por ele. 

Para nós, operadores da campanha, contudo, a surpresa foi grande, pois a campanha na TV e rádio apresentou resultados excelentes e programas bem avaliados em pesquisas qualitativas. José Saud, por sua vez, venceu todos os debates e teve um bom desempenho nas sabatinas. Fatos que reduziram, significativamente, a rejeição do povo ao prefeito e ao governo dele. O tracking feito por nós e a própria pesquisa IPEC mostraram isso. 

Daí, vem uma questão relevante: por que razão o IPEC publicou a pesquisa que publicou? Houve intenção? impossível dizer. Mas, tenho uma suspeita, que, francamente, cabe. Quando o IPEC pediu o registro da pesquisa, previamente, excluiu a possibilidade de José Saud estar no segundo turno. Como? se a pesquisa ainda não tinha sido realizada? Portanto, outra conclusão é impossível. A pesquisa tinha intenção e direção. 

Com o desejo de concluir melhor, eu preciso estender as minhas considerações sobre o que houve em Taubaté desde a eleição do prefeito José Saud, em 2020. Ortiz Júnior, deixou a prefeitura quebrada, com uma dívida que estrangulava a capacidade de investimento e até a manutenção dos serviços públicos essenciais. E, desejava retornar. Para voltar à prefeitura, Ortiz Junior precisava do insucesso do José Saud. Então, trabalhou para que ele acontecesse, senão na prática, pelo menos no consciente da população. E fez isso bem, a ponto de sensibilizar as pesquisas. 

A campanha do prefeito aconteceu com o objetivo de colocar a  verdade no lugar das mentiras sustentadas pelo antecessor, Ortiz Junior. Todos os demais candidatos adotaram a mesma prática e fizeram do Ortiz Junior o foco de suas campanhas. José Saud, portanto, pautou a campanha em Taubaté, inteiramente. Ele brilhou. Dito isso, fica mais fácil defender o interesse do IPEC de tirar o prefeito do jogo. Não adiantou, pois quando os eleitores do Saud receberam a informação de ele não conseguir chegar ao segundo turno para derrotar Ortiz Junior, transferiram o desejo para o candidato do partido NOVO. Sérgio Victor, que venceu Ortiz com o dobro dos votos. 

As pesquisas estão aqui expostas para o seu julgamento. E Ortiz Junior derrotado.

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APOSTO NA POLÍTICA.

21.05.2024

Google proibiu que campanhas políticas sejam impulsionadas pela ferramenta de anúncios Google Ads, o que implica também a suspensão da distribuição paga de conteúdos postados no Youtube. Essa é a resposta do Google às imposições da Justiça Eleitoral, uma delas, a obrigação das plataformas de manter um banco de dados com os conteúdos impulsionados pelos candidatos e partidos políticos.  As normas demonstram, uma vez mais, o grau de desprezo da Justiça Eleitoral pela política, representado pelas restrições à liberdade para se fazer campanhas eleitorais. 

Em razão desse sentimento dos magistrados e correlatos, tenho recebido sugestões para retirar toda a menção à política dos espaços onde publico conteúdos. Jamais farei isso, pois é preciso insistir na defesa da política, tanto quanto se faz a defesa da democracia, uma vez que a política é o único instrumento à disposição do ser humano capaz de tornar possível a convivência pacífica entre as pessoas. Por abolir a política, a raça humana torna-se cada vez mais um conjunto de bestas-feras, fato comprovado pela radicalização e fanatismo. 

É o caso de se perguntar: “É possível uma democracia sem política?” É, e essa situação está representada no populismo. Portanto, quando se toma a abominação à política por parte de quem diz defender a democracia com unhas e dentes e com todos os argumentos disponíveis, inclusive, o uso da força, fica-se com o sentimento de que, para essas pessoas, o populismo é bem-vindo. Ocorre que os populistas apegam-se ao poder a ponto de impedir o revezamento, a alternância, elemento essencial para definir a democracia. 

Quem por aqui anda a defender a democracia com o mesmo furor com que combate a política deveria ler com especial atenção, numa leitura compassada e anotada, o livro do filósofo basco, Daniel Innerarity, “A Política em tempos de indignação – A Frustração popular e os riscos para a democracia”. Como aperitivo, deixo aqui o registro da parte final do capítulo “A Condição Política”: “ O sucesso e o fracasso não são algo absoluto…O horizonte a partir do qual se avalia o sucesso ou o fracasso é diferente porque aquilo que é politicamente possível em cada momento está em constante mutação. Além disso, o êxito não é determinado pelos resultados imediatos; há muitos exemplos de derrotas que foram vitórias no longo prazo, do mesmo modo que há demissões que são, implicitamente, uma vitória. Claro que faz parte da arte da política intuir um estado de opinião do eleitorado, antecipar-se e corresponder ‘às suas expectativas, mas isso não basta para definir, com suficiência, uma política bem-sucedida, já que nesse caso o seu melhor exemplo seria o populista com menos escrúpulos. O sucesso na política e o sucesso político não são, necessariamente, idênticos. 

Numa sociedade estão sendo feitos, constantemente, juízos políticos no curto prazo (pesquisas, opinião nos meios de comunicação, eleições, etc.), mas cada uma dessas avaliações tem um prazo de validade próprio. As avaliações potencialmente duradouras exigem certo distanciamento. Aquilo que parece um êxito visto de perto pode ser um fracasso contemplado a partir de longe. (…) A agitação midiática, o ciclo eleitoral e o juízo da história são regidos por registros temporais diferentes e é quase impossível jogar bem em todos os terrenos. Aos grandes assuntos políticos, apenas a posteridade é que pode julgá-los com rigor, algo que sem dúvida deixará insatisfeito o político que os cidadão julgaram, pensa ele, com muito rigor…O que mostra bem que a política é uma tarefa tão difícil quanto pouco rigorosa.”

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CADÊ O SIVAM? 

20.05.2024

Está na primeira página do Estadão de ontem: “Amazônia tem onda de saques a embarcações por “piratas de rio”. R$100 milhões é o prejuízo anual causado pelos piratas ao transporte de cargas no Rio Amazonas, diz o Instituto de Combustível Legal”. A matéria cita a atuação de duas facções, uma local e o Comando Vermelho, quando a cocaína entra na pauta. A matéria cita o uso de tecnologias contra o crime, inclusive, uma desenvolvida por Elon Musk, celebridade desses tempos de polarização. O Brasil é mesmo um hospício fiscal: torram fortunas com um projeto de monitoramento da Amazônia, aprovado com fortes polêmicas, e não se tem notícias dele, nem nas queimadas, nem agora na pirataria. O Sivam deve ter a mesma utilidade que têm as câmeras nas cidades: divertimento para os usuários da internet. Os agentes de segurança pública 

ODEIAM investigação, pois dá trabalho e queima a cabeça.

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ELES SÃO UNS INTROMETIDOS. 

18.05.2024 

Os agentes do Estado Brasileiro, eleitos, concursados ou nomeados por apadrinhamento, acreditam saber mais do que as outras pessoas, o que é melhor para elas. Eis mais um exemplo: 

O Ministro Paulo Pimenta, agora Ministro Extraordinário,  informou ao distinto público em entrevista à TV (Record): 

“Senhor e senhora que está lá no abrigo me ouvindo agora: Sua casa está debaixo d’água e a senhora sabe que não vai voltar para lã. Tem gente que quer voltar e reformar a casa. A gente tem que considerar também essa hipótese. Ele vai encontrar o imóvel. Não precisa ser na cidade em que ele está.  Nós vamos comprar esse imóvel pra ele. Segunda situação. Nós vamos comprar todos os imóveis – PRESTA ATENÇÃO, SAMUEL – que estão a leilão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal e que estão desocupados…O Governo Federal vai comprar todos os imóveis que estão em leilão. E vamos colocar eles nesse programa.”  

Vejam que não passa por eles a possibilidade – nem de longe – de devolverem às vítimas o que elas pagaram de impostos ao governo federal ou deverão pagar nos próximos anos, para que elas, por si mesmas, resolvam onde e como morar.

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O BOI DE PIRANHA! 

Jackson.  26 de abril de 2024

Conta o velho costume que o melhor modo para atravessar uma boiada num rio onde há piranhas, é oferecer-lhes, num dos pontos distante do local da travessia, um boi vivo para que elas, ocupadas em devorá-lo, não prestem atenção ao resto da boiada. O compositor Almir Sater comparou o ato ao sacrifício de Cristo, por Ele ter entregue a vida pelos pecados da humanidade. 

Longe de mim, comparar-me com Cristo, pois isso seria uma blasfêmia, uma heresia, mas posso dizer que me sinto como um “boi de piranha”, entregue à voracidade do fisco, que me devora para que os agentes públicos, bois de raça, atravessem a vida sem risco e com conforto. 

Ao mesmo tempo em que me classifico, alerto vocês, minhas caras leitoras, meus pacientes leitores, que, se vocês forem bois de sacrifício como sou, fiquem atentos, pois exatamente agora, no Congresso Nacional, as piranhas afiam os dentes e colocam mais força nas mandíbulas, alimentadas pela regulamentação da reforma tributária. 

Serei devorado. Sei disso. Sei por experiência, pois, ao longo da vida tenho visto que todas as vezes que os agentes do Estado, eleitos ou não eleitos, são chamados a opinar sobre tributos, eles, imediatamente, encontram meios, modos e justificativas, para arrancar mais dinheiro do meu bolso e pedaços maiores do meu corpo. 

Haverá como evitar esse ciclo insano de sacrifícios? Imaginei que sim, quando escolhi pessoas para, por mim, decidirem o que fazer com os impostos, mas não é que, tão logo chegam à margem do Rio, os meus representantes, apressam-se a compor o rebanho de bois de raças, aquele que atravessa os rios sem risco de perder a vida. 

O que fazer? Confesso que não sei mais. 

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“GOSTEI DO SÉCULO”. 

Márcio Moreira Alves, jornalista, deputado federal, foi alguém que pela coragem ou ingenuidade, desafiou o poder militar no tempo em que fazer isso era  considerado loucura. Ele faleceu em 2009 e deixou um legado de crônicas, as melhores publicadas com o título que tomei dele para o presente artigo, “Gostei do Século”. Certamente, Márcio foi mais feliz por ter partido antes de viver o que andamos vivendo no momento, nesse Brasil que só Deus é capaz de compreender e o Diabo de fazer uso. 

Entre as crônicas há “Imprensa e Política”, que os movimentos presentes me estimularam a compartilhar alguns trechos com vocês. A crônica tem o dia 2 de abril de 1996 como data, algo que aconteceu há 28 anos, portanto. Sem mais, vamos ao texto do Márcio: 

“Um projeto de lei de imprensa se arrasta pelas comissões da Câmara há três anos. Prevê pesadas multas para quem divulgar notícias falsas, injúrias ou calúnias. Dormia, posto em sossego, quando surgiram as notícias de barganhas sobre a votação da reforma da Previdência (…). Uns apressadinhos logo propuseram conferir-lhe “urgência urgentíssima”, na tentativa de intimidar os meios de comunicação. 

Não conseguiram nada, mas berraram…

As tentativas de cercear a imprensa são antigas quanto a própria liberdade de imprensa, surgida com a Independência. Algumas vezes foram bem-sucedidas, nos períodos ditatoriais. 

A censura sempre encontrou resistências em jornais e jornalistas corajosos. No período militar, o Estado de São Paulo foi exemplar, publicando receitas de bolos e versos de Camões no lugar das notícias suprimidas. Não esteve sozinho na luta, mas faço o registro em homenagem ao seu diretor, Júlio Mesquita Neto, hoje em estado terminal. Ele pode dizer, como François Mitterrand: “Fiz o que pude”

A nossa imprensa não é perfeita, longe disso. Muitas vezes é preconceituoso, comete erros, acolhe calúnias. No entanto, é hoje a melhor imprensa que jamais tivemos e, juntamente com a da Argentina, a melhor da América do Sul e uma das melhores do mundo(…). 

Na minha opinião, o repórter é pago para informar o que os que estão nos postos de decisão pensam, o que pretendem fazer e, se tiver capacidade de análise e gosto pelo risco, para prever o que acontecerá. Quem é pago para ser a favor ou contra são os políticos e os que ocupam cargo de confiança no Executivo. 

O nosso modelo de imprensa é norte-americano. Logo, as revistas nacionais e os grandes jornais tentam seguir a regra colocada por Adolph Ochs no credo do New York Times: “Publicar as notícias com imparcialidade, sem medo ou favoritismo, sem se deixar influenciar pelos partidos, seitas ou interesses em jogo.” O cabeçalho de seu jornal diz “Todas as notícias que merecem ser impressas.” É verdade que muitas vezes também seguimos o conselho que Frank Simons, dono do News York Tribune, dava aos seus repórteres: “Só há uma maneira de um jornalista olhar um político: de cima para baixo”. 

No reverso da medalha, o presidente Lyndon Johnson disse, certa vez: “O fato de alguém ser repórter de jornal já indica que tem uma falha grave no seu caráter.”

Neste assunto, quem provavelmente tem razão é o Pat Oliphant, o mais célebre caricaturista dos EUA. Uma vez ele confessou que conhecia pouquíssimos políticos. Justificou: “Tenho medo de gostar deles”. 

Prudente atitude. Já imaginaram o Paulo Caruso andando pelos corredores do Congresso? Seria churrasqueado na primeira esquina, ainda que, por falta de combustível, José Sarney tivesse de sacrificar os seus bigodes para acender o fogo. 

A verdade é que a imprensa livre e políticos, gostem ou não uns dos outros, estão casados para sempre. Trabalham com a mesma matéria-prima e um não existe sem o outro. Como dizia Nelson Rockefeller, governador do estado de Nova York: “A política é a vida e o sangue da democracia. Chamar a política de suja é chamar de suja a democracia.”

Os grandes pensadores da Construção dos Estados Unidos, Thomas Jefferson e James Madison, em um comunicado da delegação da Virgínia ao Congresso, escreveram: “Devemos à imprensa, apesar de seus inúmeros abusos, todos os triunfos conseguidos pela razão e pela Humanidade contra o erro e a opressão.”

Dois séculos mais tarde, o presidente Kennedy declarou: “Mesmo que não gostemos; mesmo que desejamos que não fosse publicado; mesmo que desaprovemos, não há dúvidas de que não poderíamos governar em uma sociedade livre sem uma imprensa, muito, muito ativa.”

Como vêem, a herança da imprensa livre é grande demais para ser ameaçada por negociadores de favores políticos”. 

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NO DIA EM QUE DEUS SE ARREPENDEU…

Domingo de Páscoa de 2024. 

“Viu o Senhor  que a maldade do ser humano se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, arrependeu-se o Senhor de ter feio o ser humano na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e os animais…( Gênesis 6:5). Por Noé existir, Deus resolveu, com Moisés começar de novo. 

Um segundo de meditação, de pouca atenção que seja com os fatos criados pela humanidade é suficiente para entender a razão do arrependimento de Deus. 

Alexei Navalni, opositor de Putin, assassinado pelo tirano, declarou diante do tribunal o condenou: “Deus lhes deu a vida e é assim que vocês escolhem vivê-la?”

Não há tiranos sem a ajuda dos covardes que cumprem as suas ordens. 

Na sexta, no sábado e no domingo, falou-se sobre a cruz em que Cristo foi crucificado, ferido e morto, depois de ser esvaziado de todo o sangue e ser exposto aos escárnios da multidão que o condenou. 

Deus, claramente, desistiu de fazer desaparecer a humanidade da face da terra. Ele deixou a tarefa com o próprio ser humano, que tem feito uma obra irretocável a começar pela criação do Estado, lugar onde os tiranos estão abrigados, protegidos pelos covardes.