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MINHAS HISTÓRIAS

O Fundo Partidário distribuiu, em 2024, um bilhão, noventa e nove milhões, oitocentos e vinte mil, trezentos e setenta e seis reais e quarenta e nove centavos, dos impostos entre 19 partidos políticos. O PL foi o mais favorecido, com 170 milhões de reais e uns poucos quebrados. O PV, partido que quase não existe, recebeu 11 milhões e uns bons quebrados. Essa dinheirama toda cria disputa pelo comando dos partidos e, como o valor está vinculado ao número de deputados federais eleitos, faz com que as candidaturas competitivas à Câmara Federal valham mais do que as disputas pelo Senado.  

Mas, houve algo diferente, não muito distante dos tempos atuais. Eu fui membro da Comissão Executiva do PFL, Partido da Frente Liberal no Estado do Rio de 1986 até 1998, tempo em que os deputados federais, estaduais e senadores eram obrigados a sustentar a estrutura administrativa dos partidos. 

Em 1986, chamado pelo Presidente Regional do Partido para, voluntário, orientar a composição das chapas de candidatos e a administração da sede, me deparei com uma ordem de despejo, salários e fornecedores com pagamentos em atraso. 

O deputado federal Hydekel de Freitas era o tesoureiro. Assim que eu o encontrei, ele avisou: “nem vem que não tem”. Rubem Medina tinha sido eleito presidente. Hydekel, então, mandou essa: “se vira com ele, malandro”. 

A Mitra Arquiepiscopal da Igreja Católica era a administradora das salas ocupadas pelo partido. Dela também era a administração do Cristo Redentor. Fui recebido com educação. A reunião foi rápida e resumida com uma frase: “saiam, entreguem as chaves, e nunca mais me aparecem por aqui. Entramos numa fria com esse partido. Nunca mais darei colher de chá para político.” A substituição do tesoureiro por um empresário rico, que sonhava ser candidato a governador do estado foi a solução encontrada pela Comissão Executiva. Depois…sei lá como a coisa andou. Quando César Maia assumiu o comando do PFL no estado, deve ter dado um jeito no problema. 

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“MALANDRO É MALANDRO, MANÉ É MANÉ. PODES CRER QUE É.” BEZERRA DA SILVA 

Presidente Marionete. 

Novembro de 2022. O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, provocado nas ruas de Nova York por eleitores do Bolsonaro, respondeu: “Perdeu Mané, não amola!”. O Mané:  “É um cara azarado. E da vida tem muito que aprender”, definiu Bezerra da Silva numa de suas composições. Luís Roberto Barroso mirou nos eleitores e acertou no candidato. Jair Bolsonaro é mesmo um mané. Ele venceu a eleição para a Presidência da República em 2018. Nisso foi malandro. Cumpriu quatro anos de mandato. Nisso foi mané. 

O momento de Jair Bolsonaro com o povo no dia da posse na presidência teve a linda primeira-dama no parlatório do Palácio do Planalto com uma atuação inédita e de bons ares. Ela discursou em libras com a ajuda de uma tradutora, um gesto nobre de apoio à inclusão de pessoas com deficiência. Antes da apresentação da Primeira-Dama, contudo, o mundo viu na garupa do Rolls-Royce presidencial, uma ave de mau-agouro: Carluxo. 

Novembro de 2018. Acontecia o período de preparação para a troca de governo, quando Carluxo postou no X (antigo twitter). “Marqueteiro digital? Gargalhadas! Tem uma galera que não se cansa de querer aparecer e usando títulos que não refletem em uma linha de verdade! Todo mundo querendo se dar bem de qualquer jeito”. Prato feito para a imprensa. O jornal O Globo noticiou com destaque: “Equipe de transição sofre a primeira baixa”. Estava dado o recado. O Bolsonaro eleito não seria o Bolsonaro que governaria. O conselheiro do Bolsonaro que governaria seria uma triste figura arrogante e destemperada, tido por si mesmo como filósofo, o senhor Olavo de Carvalho. Estava constituído, portanto, o núcleo duro da presidência, sem o presidente. Os cordões do marionete durante o momento que deveria ter sido o melhor de todo o tempo de governo, seriam Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho, esse morreria em janeiro de 2022, quando faltava pouco tempo para o fim da era. 

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JAIR BOLSONARO EM DAVOS

Jair Bolsonaro conversou com a CNN na sede do PL, em Brasília. Uma conversa com 41 minutos de duração. Quase no mesmo momento, Donald Trump discursava em Davos. A CNN transmitiu o discurso com tradução simultânea. A esquerda está cheia de interrogações, tanto sobre as propostas do Presidente dos Estados Unidos, quanto com relação ao futuro de Jair Bolsonaro. Dele obtivemos as seguintes declarações, para mim, relevantes: 

  1. Se a eleição de 2026, para a Presidência da República não contar com ele entre os candidatos, a leitura aproximará o Brasil da Venezuela e da Nicarágua, dois países onde as melhores lideranças da oposição ficaram fora da disputa por imposição dos ditadores governantes. Não há como ler a situação de modo diferente, pois a inelegibilidade de Jair Bolsonaro está sustentada em argumentos legais frágeis. 
  2. Jair Bolsonaro só aceita a esposa e os dois filhos, Flávio e Eduardo Bolsonaro  como candidatos possíveis para substituí-lo. Os demais nomes lembrados pela entrevistadora não agradam Jair Bolsonaro. 
  3. O compromisso dos candidatos às presidências da Câmara e do Senado com Jair Bolsonaro é a aprovação do projeto de lei de anistia. 
  4. Ele será preso? A resposta dele faz sentido: qualquer um pode ser preso num país onde a decisão de prender e soltar deixou de ser uma resolução jurídica para ser política. 
  5. Sobre Trump, Jair Bolsonaro identificou problemas no relacionamento dele com o Brasil, uma vez que o povo americano não olha com bons olhos quem agride os direitos humanos. A observação nasceu da pergunta da entrevistadora sobre a pressão de parlamentares brasileiros para impedir a entrada de Alexandre de Moraes nos Estados Unidos. 

O fato está cada vez mais evidente: Jair Bolsonaro consegue a imagem de vítima, o que dará a ele bastante vantagem na política brasileira. Percebo que a sorte voltou a sorrir para Jair Bolsonaro. Como já comentei aqui, a ausência dele na posse do Trump deu a ele mais vantagens do que desvantagens, a ponto de ter sido melhor para ele e Michelle o fato dele não ter comparecido. Na entrevista à CNN, ele deixou isso bem claro com relação à imagem da Michelle. 

Política se faz com estratégia e parece que Bolsonaro não esqueceu como usá-la. 

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AUSÊNCIA PREMIADA

Michelle e Eduardo Bolsonaro levaram uma enorme vantagem com a ausência de Jair Bolsonaro na posse de Donald Trump. Se Jair fosse, Michelle seria, tão somente, a esposa de um líder político da América do Sul. Sem o marido, ela brilhou. Ponto para a intenção de Jair Bolsonaro de conseguir um mandato de senadora para ela em 2026. 

Por tanto, por tabela, o próprio Bolsonaro levou vantagem não estando na posse com o benefício adicional do não comparecimento do Lula, que, se fosse, levaria a esposa, a festeira Janja. 

Lula se doeu e resolveu criar um fato político que competisse, no Brasil, com a posse do Presidente dos Estados Unidos. Lula convocou uma reunião ministerial, provavelmente, acreditando que dela viriam notícias com forte repercussão. Elas não aconteceram, pois o governo nada tem para acrescentar à pauta da população. A situação ficou pior com a repercussão do desastre da comunicação do governo no caso do PIX. 

Lula, então, partiu para o anúncio da disposição para concorrer a um novo mandato. Isso também furou. Ninguém se importou com o que ele disse. Ao fim, a direita ganhou a parada. Dois dias após o fiasco, a Advocacia Geral da União organizou uma audiência pública sobre a regulação das redes e esperava criar fatos histriônicos com a presença das gigantes da teconolgia: “Apple, Google, Amazon, Microsoft e Meta”. As empresas desconhecem o fato, conscientes de que há, no mundo, um momento totalmente novo e promissor para elas, a partir dos Estados Unidos. 

A disputa pela imagem positiva continua, sempre entre os mesmos: Bolsonaro e Lula.

Foto: Reprodução Instagram @michellebolsonaro

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SINAL TROCADO

Troque-se o sinal da declaração que virá a seguir e, inclua-se parte do poema de Castro Alves, e teremos uma ideia perfeita de como anda o Brasil. 

“Todo mundo que era contra a ditadura era comunista. Todos se tornaram suspeitos, subversivos em potencial. O comunista estava na fronteira, atrás da porta, na sombra, na igreja, na escola, no cinema, no teatro, na música, no Exército, o comunista vendia pipoca, estava disfarçado em balés, óperas, podia ser seu vizinho, podia estar debaixo da sua cama, poluir o reservatório de água, dopar os bebedouros. Os comunistas tomariam o poder. Até os não comunistas eram comunistas disfarçados, foram doutrinados, sofreram lavagem cerebral.” Adiante, o autor comenta o AI-5: “Usa a ameaça à democracia como argumento para endurecer o regime, uma aberração jurídica, incongruência em que todo regime autoritário se baseia (para defender a liberdade, precisamos acabar com ela)”. Esse é um dos depoimentos do Marcelo Rubens Paiva no livro “Ainda estou aqui”. 

No país, atualmente, há gente com o adereço de agente subversivo contra a democracia, golpista, fascista e mentirosa, processada e condenada em nome da defesa da democracia. Neste contexto, vale tomar por empréstimo abusivo uma das passagens do poema Navio Negreiro de Castro Alves, para fazer referência à história do Brasil: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura…se é verdade. Tanto horror perante os céus.”  

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“AINDA ESTOU AQUI”

Nesse tempo em que a covardia contra o deputado federal Rubens Paiva volta a ser assunto, eu decidi transcrever o que declarou o jornalista Sebastião Nery sobre ele. O artigo está no livro “Ninguém me Contou. Eu vi – De Getúlio a Dilma”. Transcrevo para ter a honra de tê-lo nesse meu espaço. Mas, antes de transcrevê-lo, afirmo que a leitura do livro de Marcelo Rubens Paiva, em especial, dos capítulos onde ele conta a prisão do pai, é difícil. Dói. Quando conheço histórias assim, reafirmo a minha convicção de existência do inferno, pois só a morte de torturadores e de seus chefes não é pena suficiente para as dores que eles causam. O céu nem precisa existir. Para mim, basta que o inferno mantenha os cruéis por toda a eternidade. 

Bem, vamos ao texto do jornalista Sebastião Nery. Ele faleceu em setembro do ano passado, com 92 anos de idade. Eu o conheci mais de perto, quando ele foi candidato a Vice-Prefeito do Rio de Janeiro na chapa encabeçada pelo Rubem Medina, em 1985. 

“Era 20 de janeiro de 1971, feriado, dia de São Sebastião, padroeiro do Rio e meu. Antes das 10 da manhã, a caminho da praia, parei o carro em frente à casa do ex-deputado do PTB paulista, cassado, Rubens Paiva, na Avenida Delfim Moreira, Leblon, Rio. Minha filha, colega da filha dele, desceu para pegar a amiga. Mandei um recado: 

  • Diga ao Rubens que não entramos porque estamos todos com roupa de praia. Quando voltarmos, passaremos aqui para dar-lhe um abraço. Ela subiu, demorou um pouco, desceu com a Malu e me perguntou: 
  • Você brigou com o tio Rubens? Ele estava no quarto, calçando o sapato, com três homens de paletó e gravata. Dei o recado e ele disse: “Foi melhor assim”. 

Fiquei calado, para não assustar as meninas. Mas vi quatro suspeitas Kombis brancas em torno da casa, com várias pessoas dentro, olhando estranhamente para nós. Quando chegamos à praia, disse à minha mulher: 

  • Estão prendendo o Rubens. Aquelas Kombis estão sem placas. 
  • Devem ser amigos ou gerentes da fazenda dele em São Paulo. 

Não fiquei tranquilo. Apressamos o banho de mar e na volta já ninguém chegava mais perto da casa cercada, com a avenida fechada. Parei mais adiante e o porteiro de um prédio próximo me contou: 

  • É a aeronáutica prendendo um cara daquela casa. 

Voltei rápido e aflito. Era preciso espalhar urgente a notícia. Mal entramos em casa, ali perto, na Marquês de São Vicente, toca o telefone: 

  • Minha filha está com vocês? 
  • Está sim. O que aconteceu? 
  • Cuidem dela. E desligou. Era Eunice, mulher do Rubens que seria presa a seguir. 

Peguei o carro, fui correndo à casa do José Aparecido, na Aires Saldanha, em Copacabana. Na véspera, havíamos jantado lá com o Rubens. Entre outros, lá estava o Bocaiúva Cunha, também cassado e sócio do Rubens numa empresa de engenharia. Na saída do jantar, o Rubens pegou um cartão (Rubens Paiva, engenheiro civil), escreveu dois números de telefone ( 223-1512 e 227-5362), me entregou (guardo até hoje): 

  • Você anda sumido, acompanho-o pela Tribuna e pelo Politika . Vamos conversar. 
  • Passe lá amanhã para um uísque. É dia de seu padroeiro. 

Eu o conhecia desde 1953. Ele, presidente do Centro Acadêmico Horácio Leme, da Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, em São Paulo, depois vice-presidente da União Estadual dos Estudantes, e eu dirigente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Minas. 

Em 1962, nos elegemos, ele deputado federal por São Paulo, eu estadual pela Bahia. E nos encontrávamos nas lutas do governo Jango. Ele foi diretor do Jornal de Debates e cassado na primeira lista do golpe militar de 1964, por ter feito parte da CPI do IBAD, que denunciou inclusive o farsante Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Em 1965, Rubens assumiu a direção do Última Hora de São Paulo, onde eu vivi um ano clandestino e trabalhei escrevendo anonimamente. 

Foi uma noite desesperadora. Com Aparecido, tomando todos os cuidados, fomos à casa de Bocaiúva, na Delfim Moreira e também na de Waldir Pires, na Ruy Barbosa. Ninguém devia falar ao telefone naqueles sinistros anos do governo Médici. Mas, era preciso avisar aos amigos, sobretudo de São Paulo e Brasília, fazer um cerco antes do pior. 

Não adiantou. No dia 21, soubemos que fora levado para o notório brigadeiro Burnier, da aeronáutica, e de lá entregue ao DOI-CODI do exército, na Barão de Mesquita. 

Já no dia 23 a certeza de que tinha sido assassinado. O jornal O DIA, do Chagas Freitas, em manchete fraudada, com a foto de um carro queimado, dizia que “o carro que o transportava do comando da 3a Zona Aérea da Aeronáutica para o DOI-CODI do exército tinha sido interceptado por desconhecidos, que o teriam sequestrado”. 

Eunice Paiva, presa com uma filha e incomunicável durante quinze dias, quando saiu lutou como uma leoa. Com o líder do MDB na Câmara Oscar Pedroso Horta, denunciou ao Conselho de Defesa da Pessoa Humana, que o arquivou por ordem de seu presidente, o tal Alfredo Buzaid, que disse que Paiva estava foragido. O bravo Pedro Horta, líder do MDB, escalou os deputados Marcos Freire e Francisco Pinto para denunciarem o fato na Câmara. 

A “grande imprensa” não disse nada. Só a Tribuna da Imprensa e o nosso Politika desafiaram a censura e furaram o tumor. Desde então, todo ano, no dia 20 de janeiro, relembro o crime. Em 2012, a Globo News, em um belo trabalho da Miriam Leitão, pôs no assunto pela primeira vez na TV. 

Mas o mais completo documento sobre o assassinato de Rubens Paiva pela aeronáutica e pelo exército é o livro do jornalista Jason Tércio – Segredo de Estado – o desaparecimento de Rubens Paiva (Ed. Objetiva). Está tudo lá. 

Os histéricos apavorados que assinaram manifestos contra a “Comissão da Verdade” sabem que um dia a Hora da Verdade chegará”. 

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BEM MAIS DO QUE DEUS! 

A arrogância é o defeito maior dos agentes do Estado Brasileiro, sejam eles os eleitos, os concursados ou os nomeados pela caneta do padrinho. São incapazes de reconhecer um erro, nem mesmo quando são obrigados a reformar as próprias decisões. É o que assistimos com a “Operação Pix”, um assunto que, por respeito ao tempo dos meus leitores, deixarei de detalhar. O mundo todo assistiu o desenrolar do caso e sabe exatamente o que houve. 

O fato é que, em menos de 24 horas, contadas do momento da posse do novo comandante da comunicação do governo federal até a revogação da determinação presidencial, que criou pânico no mercado que produz e consome, eu ouvi, não poucas vezes, que não compreendo o governo por ignorância sobre a excelência das realizações dele e que, no caso, da “Operação Pix”, eu me deixei levar por mentiras. 

Na travessia do povo de Israel pelo deserto, após deixar o Egito, houve o momento em que Moisés, o condutor, foi ao monte conversar com Deus e por lá demorou. O povo, cansado de esperar por ele, construiu um bezerro de ouro e passou a adorá-lo. Deus, onipresente, sabendo do fato, determinou a Moisés: “Vai, desce, porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido e depressa se tem desviado do caminho que eu lhe tinha ordenado: eles fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e ofereceram-lhe sacrifícios, e disseram: Este é o teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito. Agora, pois, deixe-me, para que o meu furor se acenda contra ele e o consuma, e eu farei de ti uma grande Nação”.  

Moisés não gostou do que ouviu e retrucou com uma advertência: “Ó Senhor, por que se acende o teu furor contra o teu povo (não meu povo), que tiraste (e não eu) da terra do Egito com grande força e forte mão? Se assim for, os egípcios dirão: Para o mal Deus os tirou, para matá-los nos montes, e para destruí-los da face da terra. Torna-te, portanto, Deus,  do furor da tua ira, e arrepende-te deste mal contra o teu povo…

Então, o Senhor arrependeu-se do mal que dissera que haveria de fazer ao povo…Vejam bem: Deus viu o que tinha dito e concluiu que não era bom. Refez o decreto sem transferir a responsabilidade pelo que tinha dito. 

Não preciso dizer mais. 

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“ISTO DE POLÍTICA, MEU CARO…”

Hoje, 08 de janeiro de 2025, completam-se dois anos da ocorrência da invasão das sedes dos Três Poderes da República pela multidão de eleitores de Jair Bolsonaro, estimulada pelas suspeitas de fraudes na eleição; A turma queria uma intervenção do Exército no processo político. 

Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos. Em silêncio, ele aceitava os convites de brasileiros para fotos, que chegavam, imediatamente, nas redes. Para lá ele seguiu ainda como Presidente da República e de lá assistiu a baderna e as consequências dela. Ele não disse uma palavra.

Em 1964, o povo brasileiro foi às ruas impulsionado pelo mesmo desejo: uma intervenção militar no processo político. O Exército atendeu ao chamado e implantou no Brasil uma ditadura, que suspendeu as eleições diretas para Presidente da República, para governadores e prefeitos de várias cidades. Manteve o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal em funcionamento, mas humilhados. Completamente subordinados ao poder da farda. Mandatos foram cassados, Ministros do Supremo aposentados compulsoriamente e o número deles ampliado para permitir que os ditadores tivessem liberdade para agir contra os opositores. 

O povo levou quase uma geração para reconquistar suas prerrogativas, com um trabalho árduo, com dores, “suor e lágrimas”.  No Congresso e na imprensa algumas vozes se levantaram contra a ditadura, mas ficaram pelo caminho. Outras vozes, no entanto, souberam dosar o discurso e as atitudes, para deixar que a ditadura caísse pela força do próprio peso.  Rubem Medina estava nesse grupo. Ele soube suportar as pancadas pela decisão de não radicalizar. Esteve preso na entrada do AI-5 e, naquele momento, entendeu que só com paciência e estratégia a ditadura seria vencida. 

Rubem Medina participou do processo de reconquista da democracia, não como mero expectador, mas como um agente político ativo. Rubem Medina agiu com talento e esse talento está exposto por ele e contado por mim, no livro, “Isso de política, meu caro…”.

Por aqui, neste momento, a democracia está em risco sim e sempre esteve no mundo todo, todo o tempo, porque ela é uma das coisas que, quando se tem, não se valoriza. É algo como a vida que, enquanto saudável e bela, não é percebida com o exato valor que tem. Por aqui, a democracia precisa ser aprimorada até o ponto em que não se corra mais o risco de perdê-la. Ocorre que não criaram sucessores de lideranças com o perfil de Rubem Medina, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Mário Covas.

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MANUAL PARA O BOM ELEITOR! 

Perceba que nem bem saímos da campanha eleitoral de 2024 e já há quem se movimente para as campanhas de 26. Diante disso, indico aos interessados, o livro do professor Carlo Cipolla, um sábio, falecido no ano de 2000. Ele escreveu “As leis fundamentais da estupidez humana”, onde apontou as personalidades possíveis de dois personagens, Tom e Dick. Com base na lista de Cipolla, se tem um manual para eleições. Confiram:

Se Tom empreende uma ação para obter uma vantagem e produz uma vantagem também para Dick, Tom é uma pessoa inteligente. Então, se você quer eleger alguém inteligente, busque um candidato que, ao produzir uma vantagem para ele, estará produzindo outra para você. 

Mas se Tom é um cara que, ao fazer algo que lhe dá vantagem, provocará uma perda para Dick, Tom é um bandido e, portanto, se você precisar de um bandido na política, escolha um candidato semelhante ao Tom que, ao ter a vantagem de vencer a eleição, provoque algumas perdas para você. 

Ora, mas se Tom, ao agir, perde alguma coisa, mas produz ganhos para Dick, Tom é um político vulnerável. Se você acredita que uma pessoa vulnerável pode exercer o mandato em seu nome, fique à vontade. 

Por fim, se Tom age e, ao agir, provoca perdas para Dick e para ele mesmo, aí teremos o Tom estúpido. Neste caso, Tom estará mais para eleitor do que para candidato. 

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DEMOCRACIA SEM PAPO FURADO

Estamos às vésperas do dia 8 de janeiro de 2025 e a sociedade brasileira chegará à data dividida por várias razões. Uma delas é pelo conceito que cada um tem de democracia. No mesmo dia, do ano de 2023, o pau comeu em Brasília com reflexo sobre todo o povo. De um lado, houve quem quebrasse prédios e móveis em nome da democracia e de outro, gente que condenou a quebradeira pelo mesmo motivo. 

No mundo dos debates; no mundo acadêmico, livrarias, conversas de bar; nos grupos de WhatsApp, nas brigas em família, a gente encontra um caminhão de definições para democracia e dissertações de todo tipo. Nas minhas estantes e arquivos, por exemplo, eu  tenho obras com variações sobre o tema. “Ainda estou aqui” faz sucesso nos cinemas e vende bem nas livrarias, pois mostra o preço pago em vidas pela democracia aos “democratas” instalados naquele tempo, no Estado Brasileiro. O povo, com medo, esquivava-se do assunto. Corria, naquele tempo, um alerta cômico: “Política? Não acho nada, pois o último que achou foi achado e nunca mais acharam ele”. 

Meu desejo com o  que escrevo aqui e agora, contudo, não é dissertar sobre as obras e registros que definem a democracia. Abusado como sou, só quero registrar e compartilhar o que eu mesmo penso sobre o tema – se tiver ouvintes e leitores. A dermocracia tem vários sentidos, datas e locais de nascimento. Tem até um guia criado por Robert A. Dhal, com o título “Sobre a Democracia”, livro traduzido para o português, pela tradutora de excelência, Beatriz Sidou. Dahl inicia a obra com uma pergunta que ele mesmo responde: “Precisamos realmente de um guia?”. Sim. “Quando se está interessado em procurar respostas para as perguntas essenciais sobre democracia, um guia pode ajudar”, é a resposta dele. Do mesmo modo que vale ler “Ainda estou aqui”, não se pode perder de vista o livro de Dahl, nem os estudos sobre a democracia ateniense, que nasceu excluindo dela a maior parte do povo. 

Para todos os conceitos e datas, o ambiente onde a democracia consegue existir impõe que todo o poder emane do povo e em nome dele seja exercido. Algo que o medo do legislador brasileiro fez vergar-lhes os ombros e flexionar o conceito para colocá-lo no parágrafo único do primeiro artigo da Constituição Brasileira com a seguinte redação: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. O medo inseriu os representantes e os termos da Constituição no lugar que deveria ser, exclusivamente, do povo. 

Quando chego nesse ponto, uma questão me intriga: “todo poder” sobre quem? Eu só encontro uma resposta: não será do povo sobre o Estado? Nesse caso, os agentes do Estado, eleitos ou não eleitos, representam o povo no exercício do poder dele sobre o mesmo Estado, ressaltando que os não eleitos são nomeados ou prestigiados pelos eleitos. Situação complicada, não?  Não estaria aí, neste ponto, a insatisfação de todos os não eleitos com os que foram e têm sido eleitos para representá-los? A insatisfação não estaria no fato de os eleitos, assim que eleitos e empossados, deixarem seus lugares no meio do povo para abrigarem-se sob o teto e sob as benções do Estado? É importante levantar essa questão, quando há gente nova a assumir posições no Estado Brasileiro, para representar o povo? Eu acredito que sim. 

Tem-se falado bastante que o povo brasileiro está dividido, agindo uns do povo contra outros do povo. Pode ser. Eu, no entanto, vejo uns e outros – muitos até sem saber exatamente que agem desse modo – numa luta sem sucesso, exaustiva e sem o estímulo contra os agentes do Estado. Agentes que, para manterem-se no Estado, jogam uns do povo contra outros do mesmo povo. 

Presentes nos debates sobre democracia estão pessoas na defesa de uma nova Constituição. Eu também acredito que chegou a hora de tê-la, a começar pela construção de um novo parágrafo único para o primeiro artigo, onde fique claro, bem claro, que todo o poder emana do povo e, exclusivamente, em nome dele será exercido pelos agentes do Estado, tenham eles chegado lá pelo caminho que for.