21.10.2023.
Sem exagero algum, afirmo a vocês que nunca se viu um Congresso Nacional com tantos fanáticos de uma vez só. Lá,sempre houve gente folclórica, mentes brilhantes e mentes estúpidas – nenhum bobo. Dos fanáticos, não me lembro. Se existiram antes desses tempos áridos, não tinham importância.
O que é, afinal, um fanático? Vou ao escritor Amós Oz, meu compromisso de leitura desde o dia em que tomei conhecimento da invasão de Israel pelos terroristas do Hamas. Amós ainda é uma falha do The Nobel Prize. Ele merece o prêmio, por ser um magnífico escritor. Os registros dizem que ele queria ter tido a honra.
Amós Oz faleceu no dia 28 de dezembro de 2018, aos 79 anos, vítima de um câncer. No mesmo dia, Benjamin Netanyahu esteve no Brasil para a posse de Jair Bolsonaro, mas voltou às pressas para Israel antes da cerimônia. Um jornalista israelense comentou: “para o povo brasileiro, melhor seria conhecer Israel pela vida e letras de Amós Oz do que pelo que representa Netanyahu.” Também acho.
Entre as obras de Amós Oz está “Como curar um fanático”, compêdio de três ensaios concisos: “Em louvor às penínsulas; Entre o certo e o certo e Como curar um fanático”. Separei alguns pontos, com uma vontade danada de compartilhar todos os livros escritos por ele. Ninguém, melhor do que ele, conhece os conflitos no Oriente Médio. Vamos a ele:
- “Certamente não estou sugerindo que todo aquele que eleva a sua voz contra alguma coisa é um fanático. O sinal indicador do fanatismo não é o volume da sua voz, mas a atitude com as vozes dos outros”.
- “Acredito que a síndrome de nossa época é a luta universal entre fanáticos, todos os tipos de fanáticos, e o resto de nós. Entre os que creem que seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida humana é um fim em si mesma”.
- “Permitam-me sugerir que a curiosidade, juntamente com o humor, são dois antídotos de primeira linha ao fanatismo. Fanáticos não têm senso de humor, e raramente são curiosos, porque o humor corrói as bases do fanatismo, e a curiosidade agride o fanatismo ao trazer à baila o risco da aventura, questionando, e às vezes até descobrindo que suas próprias respostas estão erradas”.
- “Muito constantemente, o fanático só sabe contar até um; dois é uma cifra grande demais para ele ou ela(…). Com mais frequência do que o contrário, o fanático é um grande altruísta: está mais interessado em você do que nele mesmo. Muitos fanáticos nem sequer têm self, ou qualquer vida privada, Eles são 100% públicos…”
- “O fanatismo muitas vezes origina-se na vontade imperiosa de modificar os outros pelo próprio bem deles”.
“Oz é um raro sopro de sanidade e inteligência”, disse o “The Guardian”. No Congresso Nacional, me parece, nem sopro dessas características existe mais. Pena!
É impossível não admitir que a Casa perdeu a essência, algo que fazia com que os embates verbais veementes e, por vezes até cruéis, acontecidos nos plenários se transformassem em apertos de mão, abraços e boas conversas nos corredores e na hora das composições, quando os holofotes e alto falantes estão desligados.
A imagem que o Congresso Nacional tem oferecido ao mundo é de gente que quer ganhar o debate no grito, atropelando tudo e todos em nome das ideologias e da busca de notoriedade, cliques e flashes. A obrigação de representar quem não pode estar lá, parece-me, deixou de existir. O Congresso que conheci antes destes tempos áridos era bem melhor, mais produtivo e agradável, até mesmo na ocasião em que os ditadores provocaram dores quase insuportáveis no grupo todo.