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Jair Bolsonaro é isso tudo

Jair Bolsonaro tem mesmo tanto poder?

Seis horas da manhã de domingo, leio numa das páginas do jornal O Globo, o seguinte título: “Confiança na democracia melhora, mesmo com extrema-direita mais agressiva”. Subentende-se disso uma relação de causa e efeito, onde a democracia melhora para contrariar a extrema-direita agressiva. E o título se confirma no artigo que encabeça, escrito pelo professor e cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais. Literalmente escreveu ele: 

“A pesquisa A Cara da democracia traz, em sua quinta edição, uma boa notícia para o país: aumentou o número de brasileiros que não aceitariam um golpe de Estado. Para 59% dos entrevistados, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo…”. 

Adiante, ele afirma: “No entanto, apesar dos avanços importantes em relação ao apoio à democracia no Brasil, há dados que precisam ser observados com bastante cuidado, pois apontam para uma direção contrária (grifo meu). Entre esses resultados está um enorme crescimento, no Brasil, da extrema-direita, especialmente nos últimos dois anos”. 

Caminhando-se mais no roteiro do artigo, chega-se ao seguinte fechamento: 

“(…), a pesquisa revela algo ainda mais intenso, qual seja, o aumento do número de brasileiros que se declaram de extrema-direita…Essa constatação, obtida a partir do levantamento, aponta na direção de um êxito relativo do bolsonarismo em estimular a formação de uma extrema-direita movimentalista (não sei o que representa o adjetivo, por isso grifo) no Brasil…”. 

Pronto, está, novamente, feita a linha de causa e efeito, Bolsonaro formou uma extrema-direita no Brasil e ela representa o risco de um golpe contra a democracia. Desse modo, o professor Leonardo joga por terra todo o valor que a pesquisa poderia ter para quem esteja interessado, de verdade, em conhecer o pensamento do povo brasileiro. 

Contudo, a pesquisa, com a declaração do professor ou sem ela, já teria falhas de método, porque tenta conhecer os valores dos entrevistados com a mesma metodologia que se usa para captar intenção de votos, onde o entrevistador escolhe um entre todos, com o critério simples de “esse sim”, “esse não” e “aprovo” ou “não aprovo”. 

O que é a democracia para quem respondeu que a defende, ou que tem preferência por ela, diante das três possibilidades de resposta apresentadas na pesquisa?  

  1. “Tanto faz um regime democrático ou não democrático”; 
  2. “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo” e 
  3. “Em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático”. 

Acredito que eu não precise me estender em considerações, porque o questionário da pesquisa e a análise do professor Leonardo falam por si mesmos sobre a intenção da matéria que nasceu com base na pesquisa: vincular dados quantitativos ao pensamento do Presidente Bolsonaro. 

O desejo dos intérpretes chega ao ponto de definir conspirações a partir de bobagens como terra plana, cloroquina, a relação da China com o vírus e a chegada do ser humano na lua, fazendo vínculo de tudo isso com a extrema-direita e da extrema-direta com o “formulador” Jair Bolsonaro.  

Quando se quer conhecer atitudes, motivações e comportamentos, o caminho não pode ser uma pesquisa quantitativa como quer  o jornal O Globo. Para cumprir esse papel, uma pesquisa deve permitir uma análise criteriosa das respostas a perguntas feitas com mais profundidade, algo que Sócrates ensinou o mundo a fazer 400 anos antes do nascimento de Cristo. 

O que é ser extrema-direita? Que circunstâncias alguém acredita que uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático? O que define como democracia quem prefere um regime não democrático?  

Antes da matéria publicada pelo jornal O Globo, a ONG britânica Article divulgou o “Relatório de Expressão Global de 2022”, onde noticia que o Brasil caiu da 31a posição no ranking dos mais livres, conquistada em 2015, para o 89o neste momento. Qual o motivo da queda? A introdução ao relatório esclarece: 

“O Brasil presenciou uma das maiores e chocantes deteriorações na última década sob a influência de um líder democraticamente eleito. O assédio do Presidente Jair Bolsonaro e a estigmatização da mídia andam juntas com persistentes ataques ao judiciário e questionamento à integridade do sistema…”.  O Relatório está disponível na íntegra, em inglês, na rede e a ele se pode ter acesso a partir de um link disponibilizado pelo Boletim da Liberdade, que continua na vanguarda, na garantia da liberdade de expressão. No Boletim todo e qualquer pensamento tem espaço se for relevante para formulações.  

Pois é, gente. Todo o material que me serviu de leitura e análise para o presente artigo me mostra um homem com poderes excepcionais para formar opinião e decidir o destino da Nação que, temporariamente, governa. Ele pode tudo pela lábia e esse é o conceito que querem nos empurrar. 

Ora, na verdade, Jair Bolsonaro é um sujeito que estava parado numa posição qualquer, enquanto a roda da vida se movimentou até encontrá-lo e ele, nela, se encaixou. Houve coincidência de pensamento e essa coincidência levou o eleitor ao voto e o voto colocou Jair Bolsonaro na Presidência. Somente isso. O Presidente tem mais poder para perder posições pelo que fala do que para conseguir adeptos. Isso está claro, claríssimo, na análise que se pode fazer das pesquisas que chegam até nós. 

Acontece que estamos em campanha, ocasião em que a todos e a todas é dada a liberdade de defenderem seus candidatos com qualquer argumento que lhes sirva. É natural. E é ótimo que assim seja. Melhor seria, contudo, se os eleitores brasileiros tivessem um pouquinho mais de discernimento para saber quando há intenção dos agentes políticos de enganá-los ou de esclarecê-los. É aqui que entra a Educação, uma ferramenta fantástica que dá às pessoas a capacidade de decidirem sem serem influenciadas por informações tendenciosas. 

Mas, que pena que o povo que decide as coisas no Brasil não percebe que a garantia para a democracia e o fim da pobreza é a liberdade, uma liberdade que só a Educação entrega. 

Enfim. É o país que temos. 

Boa semana para todos e todas. 

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Vice, serve para quê?

E o Vice? 

“Vice, serve para quê?” Eu ouvi isso de um amigo, alguém de quem respeito muito a inteligência e a capacidade de formular boas estratégias. Ouvi a pergunta, quando comentei com ele a escolha que o governador Cláudio Castro fez para a posição de candidato a vice-governador na chapa de reeleição. 

Não achei que foi a melhor escolha, porque sou defensor de que não se deve escolher um vice só para vencer eleição, mas para dar garantia ao eleitor de que, na ausência daquele ou daquela que escolheram para governar, poderão ser governados por alguém, que atenda às mesmas expectativas. 

Na escolha do vice se sabe se o titular tem a compreensão de um estadista ou de um sujeito que vive a ocasião e ponto final. Não se importa nem com a própria e inevitável morte, porque, uma vez morto, o que virá depois nem é com ele. Só os estadistas enxergam para além do próprio tempo. 

Ora, quem vier a votar no Cláudio Castro, se ele faltar por qualquer motivo, se sentirá de igual modo representado pelo Washington Reis? Eu não me sentiria. Cláudio Castro é o caso de um vice com zero de utilidade eleitoral, mas que, ao substituir o titular, fez cumprir as expectativas dos eleitores dele. E, neste sentido, melhor do que o destrambelhado Witzel faria. 

Os vices no Brasil merecem um capítulo da história só para eles. Nos governos militares, os mineiros serviram como vices. Alckmin, de Castelo Branco, Pedro Aleixo de Costa e Silva, Aureliano Chaves, de Figueiredo. Pedro Aleixo não teve boa sorte, porque quando o titular adoeceu e morreu, os milicos não quiseram saber dele. Deram-lhe o cartão vermelho na maior cara-de-pau. Tancredo tentou vingar Aleixo, mas morreu antes. 

João Goulart, quase não foi presidente. Algum tempo conseguiu ser presidente pela metade e quando decidiu ser por inteiro, mandaram o cara embora. A morte substituiu Tancredo por Sarney, ótimo vice para vencer a eleição no modelo que existia no Brasil, mas incapaz de responder às expectativas que o povo tinha com relação ao titular. 

Collor escolheu Itamar Franco para ser seu vice, por ser um ótimo nome para vencer a eleição, mas nada confiável quando precisou dele. Michel Temer, idem na relação com Dilma. E bem que Dilma sabia e por isso, esperneou para dar a vaga de vice a ele. 

Lula não se ocupou do vice. Fernando Henrique Cardoso também não. E, nos dois casos, se o Brasil precisasse dos vices estaria melhor servido do que com os titulares. Certamente. 

No Rio de Janeiro, os vices também têm história para contar. Benedita passou o diabo nas mãos do Garotinho. César Maia precisou do PSDB para vencer a segunda eleição para a Prefeitura do Rio. Fez de tudo para não precisar, mas, como teve necessidade, aceitou Otávio Leite na Vice-Prefeitura. Como nunca confiou no Otávio, não pode deixar a prefeitura para voltar a ser candidato a governador. Paciência! Ficou soterrado no Rio. 

Eduardo Paes vive situação semelhante com o Vice-Prefeito, que escolheu. Escaldado com a derrota para o governo do estado, Eduardo Paes quis fugir dos riscos, por menores que fossem, de perder uma eleição novamente.  Então, fez um acordo com o PL, para evitar Daciolo, entregou a vice a Nilton Caldeira e agora está agarrado à cadeira até vencer uma nova eleição e ter um vice que seja integralmente, ele, no comando da Prefeitura.

Encerro com uma resposta rápida para o meu amigo: Um vice serve para substituir o titular quando ele menos espera. Por isso, todo cuidado é pouco. 

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ESCRAVO, NEM DE DEUS…

O Estado só faz sentido se for a garantia paga por todos para que todos tenham liberdade, segurança pública e segurança jurídica, que quer dizer leis iguais para todos, indistintamente, todos. 

Ora, ao que se sabe, o Estado Brasileiro falha nos três quesitos. Ele não me garante liberdade, nem segurança pública e já se sabe de sobra, que sequer segurança jurídica. Para que existe ele, então? Explorar e infernizar a vida das pessoas. E cobra caro por isso. 

Quanto à liberdade, nela está a de iniciativa, que a economista Deirdre McCloskey define como o instrumento para vencer a pobreza, como fez no artigo, que publicou durante a semana passada na Folha de São Paulo, “O Cristianismo e o Liberalismo”, reproduzido em parte no Boletim da Liberdade e a mim sugerido para leitura, pelo Gabriel Menegale. 

Os não liberais desacreditam disso. Para eles, só o Estado tem a capacidade de eliminar a pobreza com políticas públicas adequadas. Por isso, defendem um Estado que dê educação, saúde, teatro, ping-pong, petróleo, turismo, casa, comida e tudo o mais que a criatividade e o desejo de um bom emprego dos burocratas consiga alcançar. Em troca, o Estado nada mais pede do que a liberdade do indivíduo. O que é isso, diante de tantos benefícios? 

Deirdre McCloskey, na entrevista ao Paulo Gontijo, do Livres, num hotel em São Paulo, há dois anos, definiu a liberdade, pelo conceito do seu contrário, a escravidão. Disse ela: “Voltando para a origem latina da palavra liberdade, liber significa uma pessoa livre, em oposição às pessoas escravizadas. Então, a crença central do liberalismo é a noção que se tornou popular pela primeira vez nos anos 1700, a de que nós deveríamos ter uma sociedade na qual ninguém é escravo. Nem escravo de um mestre, nem escravo de um marido, nem escravo do Estado”. 

Eu afirmo que, escravo, nem de Deus, porque Ele detesta a escravidão e, por detestá-la, concedeu ao ser humano, o livre-arbítrio. Deirdre cita o livre-arbítrio no artigo “Cristinanismo e Liberalismo”. Diz ela: “o livre-arbítrio, que pela teologia cristã nos é concedido por Deus, combina com a liberdade de escolha na economia”. Combina não! É a própria essência, porque a liberdade de escolha na economia é que livra o indivíduo do pior tipo de escravidão, a pobreza profunda. 

Deus nos fez livres, por ser livre. É na liberdade, no livre-arbítrio, que está o sentido da nossa “imagem e semelhança” com Deus”. Deus precisou ser convincente, paciente e mágico, para fazer com que Moisés conduzisse os judes para fora do Egito. No deserto, alertado por Moisés, Deus arrependeu-se de ter determinado a eliminação dos idólatras e reconsiderou. O livre-arbítrio Deus concedeu e nem Ele pode tirar. Por isso, o mundo vive as mazelas que vive, sem que Deus consiga interferir para evitar. 

Quando o povo encasquetou com a ideia de ter um rei, para ser igual aos seus vizinhos, Deus contestou. Deus reagiu, mas não conseguiu evitar. Cedeu. E olha que Ele usou como argumento a melhor definição que já encontrei para o Estado, algo que faria com que, qualquer indivíduo, com bom senso, desistisse de ter um rei. Mas, o livre-arbítrio anulou o argumento divino. 

Deus avisou: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinquenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. 

E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais , e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará para dar aos seus oficiais e aos seus servos. E também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhes servireis de servos…”(I Samuel 8). 

Nascia o Estado, para quem, todos os demais além de seus agentes, são servos. E como ainda estamos no ambiente do Cristianismo, por sugestão da Deirdre, tragamos João 15:15: “Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor…”. E não sabemos mesmo. Só votamos e deixamos pra lá. 

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Paulo Ganime e a Insegurança Pública.

Não sorria. Você continua sendo enrolado. 

O deputado federal Paulo Ganime produziu, para o Diário do Rio, um texto infeliz do título – “Sorria,você está sendo enrolado”- à última frase: “A melhor política de segurança pública é aquela que salva vidas e pune os verdadeiros culpados”. E…? 

Ninguém está autorizado a dizer que o povo fica feliz ao ser enrolado. Muito menos alguém que tenha como obrigação representar este mesmo povo. A ironia não é boa companheira do discurso político. 

O deputado federal Paulo Ganime, candidato a governador pelo Partido Novo, uma pessoa qualificada, que tem ótimas intenções na política, construiu o artigo com o desejo de comentar a política de segurança pública aplicada no estado que ele pretende governar. 

O deputado critica as UPPs, as câmeras colocadas nas fardas dos policiais militares e a decisão do Ministro Edson Fachin de proibir que a polícia entre nas comunidades e favelas a não ser em casos “absolutamente excepcionais”. 

Bem, a crítica é exercício de liberdade, mas quando ela vem sobre a política de segurança pública na voz de um candidato ao governo do estado, tem peso diferente, porque o governador é a pessoa que de acordo com a Constituição Federal tem, com exclusividade, a obrigação de cuidar da segurança pública nos estados. 

Qual é a proposta do deputado Paulo Ganime para o problema? Diz ele: “O Estado precisa garantir a liberdade e a segurança do cidadão, seja ele de qualquer classe social ou nível educacional”. Ótimo. Como? Ele responde: “Com ações de planejamento, inteligência, modernização das polícias, aprimoramento das investigações e, acima de tudo, com a valorização dos policiais, não apenas com salários compatíveis, mas também com treinamento e planos de carreira”. E, novamente, uma frase de efeito: “A proteção da população vem da qualidade de como o policial é tratado”. Então, se bem tratado o policial, a população estará protegida. Certo? Pode não ser. 

Se eleito governador, Paulo Ganime não poderá ficar, na superfície do tema como fez no artigo, nem na posição de mero crítico, articulista da imprensa ou nas frases de efeito e marketing eleitoral. Ele não deveria entrar na onda que ele mesmo condena: enrolar. Ele precisa ir mais fundo e começar por compreender direitinho o que já se fez e a razão de tudo o que foi feito não ter dado certo. 

Vamos lá. Brizola. Ele defendia que com educação integral, meninos e meninas não seriam bandidos. Fez os CIEPs, prédios com bonito visual, para serem plataforma eleitoral. O crime cresceu. 

Moreira. Ele chegou batendo pesado e, embaixo do braço, com os presídios de segurança máxima para prender todos os líderes do chamado crime organizado. O crime cresceu. Brizola retornou com a mesma política de antes. O crime cresceu. 

Marcello Alencar. Este quis a contribuição faroeste. Achou que a polícia precisava disso para combater o crime. O crime cresceu. 

Garotinho. Chegou bem chegado com a proposta de reformar as polícias, tirar cárceres das delegacias e aprimorar as investigações. Criou até fardamento novo. Fez tudo certinho, mas nada deu certo, porque os bandidos continuam armados. O crime cresceu. 

Podemos pular Benedita, que ficou com o troféu de prender Elias Maluco e usar um dirigível. Podemos passar batidos pela Rosinha para ir direto ao Cabral que, depois de promover uma chacina no Complexo do Alemão e ser aborrecido pela ONU, resolveu ocupar as comunidades no sapatinho. Eram as UPPs. O crime cresceu. 

Veio Witzel e Cláudio está lá. O crime não dá sossego. A polícia chega nas comunidades e é recebida a bala e granadas. 

O que não se fez ainda? Não se desarmou os bandidos. Nunca. Os políticos saem em campanha pelo estado vangloriando-se de entrar nas comunidades e ver garotos e garotas armados. Na campanha para o governo do estado em 2006, Denise Frossard, com sinceridade, disse que não se sentia segura ao subir nas favelas. Eduardo Paes, fanfarrão, foi à Maré trepado numa bicicleta para dizer-se mais corajoso que a Juíza. 

A UPP começou pelo desarmamento e desistiu. Para desarmar é preciso polícia e investigação séria para saber a causa de o Rio de Janeiro ter, nas mãos dos bandidos, verdadeiros arsenais, com os quais eles recebem a polícia à bala. A sociedade precisa ter meios para saber que destino têm as armas apreendidas, para viver com a certeza de a polícia não estar enxugando gelo ou envolvida. 

Ouço, com frequência, a crítica ao Ministro Fachin. A mesma crítica se fez ao Brizola. Para esses, a resposta está com Luiz Eduardo Soares, nos relatos que ele fez do tempo em que foi Secretário de Segurança Pública do Estado, tempo em que quase chegamos à solução do problema. O trecho que reproduzo está no livro “Meu Casaco de General”, que todo candidato a governador do Rio deveria ler: 

“Quem não mora numa favela experimenta a angústia da insegurança e o medo da violência. Quem vive lá sente pavor e desespero. Só quem vive nas comunidades, nos morros, nos bairros populares dominados pelo tráfico e episodicamente invadidos pela polícia, sabe do que é que se está falando quando se diz risco…”. 

Além do que fizeram os governadores, na história da Segurança Pública no Rio de Janeiro há intervenções, a última muito recente, que produziu um consistente relatório que o deputado Paulo Ganime deveria conhecer. 

O deputado fala sobre as milícias e o tráfico, mas não aborda o complexo problema do sistema prisional. Quem sabe num próximo artigo? 

Se eu pudesse dar um conselho ao deputado candidato ao governo diria: prepare as polícias para desarmar quem as enfrenta quando elas aparecem para cumprir as funções que a lei designa. Se não desarmar, o crime terá território livre para agir no estado do Rio de Janeiro. 

O deputado foi relator de um projeto sobre a liberdade de andar armado. Ele disse que o porte de arma não é tema de segurança pública, mas de liberdade. Pois, bem, levanto uma questão. Que garantia se dá ao cidadão que, uma vez roubada a arma que ele, por liberdade, porta, ela não será usada por um bandido qualquer? 

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Romeu Zema e o Globo.

Público do Zema.

 “Subestimei a política”, diz Romeu Zema. 

O sistema Globo tem entrevistado os candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. O governador Romeu Zema foi um deles. Ele, a exemplo de quase todos, deixou a pauta nas mãos do entrevistador.  

De tudo o que disse Zema, o editor criou a chamada, “Subestimei a política. O Novo não pode se isolar”. Tivemos, então, as palavras do governador de Minas Gerais, candidato à reeleição numa entrevista em que ele cuidou, quase exclusivamente, da política e do partido, temas que se sabe, são irrelevantes para os eleitores. 

Os que dizem respeito diretamente aos desejos dos eleitores, Educação, Saúde e as tragédias causadas pelas chuvas, preencheram os espaços das últimas perguntas e nada, nadinha de concreto, ele apresentou para justificar a permanência à frente do governo. 

Sobre o adversário mais competitivo, o Prefeito de Belo Horizonte,  Alexandre Kalil, Romeu Zema nada disse além de provocações. Pautou-se pelo confronto agressivo e acusatório. Não mostrou aos eleitores os motivos pelos quais Kalil não pode substituí-lo. 

Os candidatos à presidência foram também pauta da entrevista. Zema deixou claro que não apoia Lula, mas não fez isso com a mesma clareza com relação ao Jair Bolsonaro e, só de passagem, sem maiores justificativas para o voto, fez comentários sobre o candidato do partido dele, Luiz Felipe D’avila. 

Um candidato não pode, mesmo com a justificativa de evitar os riscos de uma comunicação imperfeita, deixar que a pauta de uma entrevista seja do interesse, exclusivo, do entrevistador. Numa entrevista, o candidato não conversa com quem o entrevista, mas com quem tomará conhecimento da entrevista com o desejo de decidir o voto. 

Em suma, Zema falou para os filiados do Novo, gente que votará nele sem pedir maiores explicações. 

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Segunda leitura da entrevista do Gov. Zema

 “Subestimei a política”, diz Romeu Zema. 

Antes de tecer considerações sobre a entrevista que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, único do partido Novo, candidato à reeleição, concedeu ao jornal O Globo, eu chamo a atenção para um ponto importante na estratégia de comunicação de um candidato: quem deve ter a pauta? O entrevistado.  E como ele faz isso? Ele constrói a pauta, quando dá resposta às perguntas do entrevistador e com habilidade, consegue conduzir a entrevista para o campo do seu objetivo fundamental: falar com o eleitor e não com o entrevistador. 

A entrevista do governador Zema foi morna e equivocada nos objetivos alcançados e isso permitiu que o editor criasse uma chamada que não falou com os interesses reais do eleitor: “Subestimei a política. O Novo não pode se isolar”. Nela estão a política e o partido, dois temas que, com certeza, o povo mineiro não deve estar muito interessado. No destaque, idem. 

Os temas que dizem respeito diretamente aos desejos dos eleitores, Educação, Saúde e as tragédias causadas pelas chuvas preencheram os espaços das últimas perguntas, porque o governador permitiu que assim fosse a elas destinou respostas curtas, resumidas. Nada de concreto apresentou para justificar a permanência dele no governo e não mostrou realizações. 

No enfrentamento com o principal adversário, Alexandre Kalil, Romeu Zema limitou-se a jogar pedras – o que, previamente, na entrevista, indicou que não gosta de fazer. Ele não apontou as fragilidades do adversário para ser o governador do estado. Pautou-se pelo confronto agressivo, acusatório somente. 

Com relação aos candidatos à Presidência da República, o governador Zema aceita a polarização, porque limita suas considerações aos dois candidatos que estão nos pólos. Zema não apoia Lula, conforma-se com Bolsonaro e não acredita que o candidato do seu partido irá até o dia da eleição. Nas poucas linhas que Luiz Felipe D’avila, do Novo, ocupou na entrevista está a declaração do governador: “Se amanhã, o partido decidir, juntamente com ele, retirar a candidatura e apoiar A,B ou C, eu seguirei”.  Mas, claro, seria deselegante! 

Eis aí mais um fato a mostrar que a estratégia é algo fundamental na condução de uma campanha política. 

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Cláudio Casto e “Zé-Ninguém”

O problema é a arma.

Numa campanha para o Poder Executivo há dois lados: a situação e a oposição. Eles podem se dividir. Tanto a situação pode se apresentar com mais de um candidato – caso raro, mas possível – e a oposição também, com muita frequência. Se a situação está representada por um candidato, ideal é que a oposição não se divida, mas se estiver dividida, isso só será positivo em caso de dois turnos.

Contudo, é com o discurso que se marca posição. A seguir, o discurso que eu faria se fosse oposição ao governador do Estado do Rio de Janeiro:

Até quando os governadores do Rio justificarão a incapacidade de seus governos para investigar a origem das armas que estão nas mãos dos bandidos, com as mortes de pessoas que eles sentenciam pelo simples “ouvir dizer”?  

O governador Cláudio Castro segue a trilha de seus antecessores. De todos eles. No Twitter, o governador justificou as vinte mortes na Vila Cruzeiro, com a apreensão de fuzis, pistolas, granadas e drogas que estavam com traficantes. Nas postagens ele fez uma pergunta: “Com essa apreensão, quantos tiros deixarão de ser dados em direção a cidadãos de bem do Rio, contra policiais, contra quem quer levar uma vida em paz?”

É-nos impossível responder, porque não sabemos  o que será feito com todo o armamento apreendido. Também, nada sabemos sobre como tantas armas e granadas chegaram às mãos dos bandidos. Será que o governador tem resposta para essas duas questões? 

Certamente, não, pois nenhum de seus antecessores teve e por isso, ele, agora, em 2022, age como agiram os seus antecessores nas várias chacinas que ocorreram nas favelas do Rio, pelo menos, desde 1994, com registro especial para a patrocinada pelo Sérgio Cabral no Complexo do Alemão em 2007, quando ele cumpria o primeiro ano de governo.

O cristão Cláudio Castro, na série de posts colocados no Twitter, disse também: “Uma moradora está entre as vítimas e sua morte está sendo investigada”. Ponto final! Simples assim. Afinal, que importância tem a vida de Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que tinha nome e contava 41 anos de idade, e estava em casa naquele momento? Os demais mortos, o governador já sentenciou. As notícias chamam todos de “suspeitos”. Um conceito complicado nas favelas e na política, onde os suspeitos reclamam pelo fato de não serem considerados só “suspeitos” até que se tenha o trânsito em julgado. E o governador está entre eles. 

Vamos lá. Em que reside o problema? Na presença das armas nas mãos de quem não estaria autorizado a tê-las. Por que têm? A quem cabe a obrigação de saber? Diz a nossa Constituição, a nossa vilipendiada Constituição, que a obrigação de saber é dos governadores. Essa é a única obrigação deles com exclusividade. 

Portanto, meu caro governador Cláudio Castro, arregace as mangas de sua camisa e inicie o trabalho e fique com a minha sugestão para suas horas de lazer, se você ainda as tiver diante de tanta obrigação. Leia “Escute, Zé-Ninguém! de Wilhelm Reich. O autor abre o livro com a seguinte passagem: 

“Eles o chamam de Zé-Ninguém ou Homem Comum. Dizem que esta é a alvorada do seu tempo, a “Era do Homem Comum”. Não é você quem diz isso, zé-ninguém. São eles, os vice-presidentes de grandes nações, os líderes operários e os filhos arrependidos da burguesia, os estadistas e os filósofos. Eles lhe dão o futuro, mas não fazem perguntas sobre o seu passado.”

Minha homenagem a Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que o governador Cláudio Castro, me parece, sequer sabe o nome. Uma “Zé-Ninguém”. 

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Salim Mattar tem a receita de um bom governo.

A Petrobrás está, novamente, na berlinda. Agora, pelo aumento do preço dos combustíveis. Lula culpa Bolsonaro, que, para se livrar da culpa, substituiu o Ministro das Minas e Energia. O novo ministro, numa atitude de defesa prévia, promete privatizar a empresa. O Presidente sinaliza que topa, quando nunca topou. Ele diz que quer, porque, desse modo, recupera parte do discurso que fez em 2018, com bom resultado. Mas, no Brasil consciente, sabe-se que, tendo mais 4 anos ou não, o Presidente Jair Bolsonaro não realizará a proeza. A menos que…

Para entender o motivo, voltemos no tempo. Visitemos o dia quatro de janeiro de 2021. Vamos ao “Direto ao Ponto” da Jovem Pan News. Naquele dia, cinco jornalistas entrevistaram Salim Mattar e ele, ao esclarecer a razão de ter deixado o governo, mostrou as causas da enorme dificuldade que tem o projeto de privatização para caminhar minimamente no Brasil. 

Sintetizei as palavras do Salim: falta vontade política e convicção, tanto no Poder Executivo, como e, principalmente, no Congresso Nacional. Também na maioria do povo brasileiro, que não identifica uma relação de causa e consequência, entre o Estado grande e os problemas que enfrenta como sociedade. 

Na entrevista, Salim Mattar dividiu o povo brasileiro em duas categorias distintas: “cidadãos de primeira categoria e cidadãos de segunda”. Entre os de primeira categoria ele citou os 12 milhões de servidores públicos. Entre os de segunda, os 30 milhões com carteira assinada e 14 milhões de desempregados. 

Ora, quarenta e quatro milhões não seriam suficientes para conquistar uma mudança? Sem dúvida, mas ocorre que os cidadãos de primeira categoria  vendem bem o peixe que os alimenta: O ESTADO GORDO! Os que estão classificados na segunda categoria ou não têm quem consiga mostrar-lhes a relação de causa e consequência entre o Estado opressor e a sociedade faminta, ou sustentam-se nos privilégios que recebem dos cidadãos de primeira categoria. 

Falta quem lidere o processo de conscientização no meio do povo que soma maioria suficiente para enquadrar os servidores do Estado Brasileiro, sejam eles eleitos, concursados ou beneficiados com o dom da bajulação. 

Nesse sentido, o discurso do Salim Mattar está pronto. Ele questiona o Congresso Nacional, que pode ser quase totalmente trocado em outubro e defende a elaboração de uma nova Constituição, bandeira que, Salim lembra ser também uma proposta do Modesto Carvalhosa. 

Salim Mattar não deixou dúvida: o presidente pode querer privatizar, o ministro querer mais ainda e, enquanto o Congresso Nacional não quiser, nada acontecerá. Ele deveria dizer isso aos quatro ventos, todos os dias e de todas as formas, para que todos os liberais entendam, por definitivo, que é hora de aproveitar a oportunidade da eleição do Congresso Nacional para enquadrar o Estado Brasileiro. 

A entrevistadora Denise Campos de Toledo, de certo modo, sustentou a afirmação de Salim Mattar, ao citar a vontade política do Congresso Nacional no tempo de Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu proezas na privatização da telefonia, da Vale do Rio Doce e da CSN…”Num tempo”, disse ela, “quando ainda não se tinha toda a aversão às empresas estatais criada pela corrupção desenfreada e pela operação Lava-Jato”. Denise  contrapôs o argumento na relação do Presidente Jair Bolsonaro com a privatização, ao citar o caso CEAGESP, que eu comentei quando ocorreu: https://www.aquitudoepolitica.com.br/?s=CEAGESP 

É horá de falar e pregar em todos os lugares e para todas as pessoas, a importância do voto para a composição do Congresso Nacional. Salim Mattar fez uma previsão que se pode antecipar. Disse ele que em 2026, teremos uma bancada de deputados federais e senadores formada com um número suficiente de liberais para mudar o jogo. É possível fazer isso em 22! Eu acredito! 

Boa semana. 

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O eleitor já decidiu nacionalizar a eleição.

Na dúvida. Sempre na dúvida

O eleitor já decidiu nacionalizar. 

O governador Cláudio Castro está em O Globo na arrancada das entrevistas com todos os candidatos a governador do estado, pelo menos aqueles que conseguiram vencer a cláusula pétrea de uma campanha eleitoral: ter um partido político. Isso não é algo fácil, porque os partidos têm dono, o dinheiro dos partidos está nas mãos deles e o tempo de uso da TV e Rádio também. Então, eles e elas decidem quem será candidato. E quem entre os candidatos, será competitivo. 

O editor da entrevista com Cláudio Castro compôs a chamada com uma frase do entrevistado, como manda o figurino. Disse ele: “Não quero nacionalizar a eleição do Rio”, um jeito matreiro de dizer que ele não está plenamente alinhado com o candidato a presidente do partido dele, Jair Bolsonaro. 

O governador está alinhado com todos e com nenhum, uma prática antiga de comunicação política, mas, cada vez menos convincente, porque os eleitores já andam saturados desse comportamento sem personalidade. 

O governador não quer assumir uma posição na relação da campanha dele com os candidatos à presidência, porque quer os eleitores de todos eles e acredita que desse modo poderá alcançá-los. 

Quando questionado sobre os apoios políticos que abraça, com tudo e com todos, Cláudio Castro mostrou onde é que a pancada nele dói mais. Esperneou e bateu duro nos adversários diretos, para dizer que na campanha do Freixo estão os saqueadores da Petrobrás e lembrar que o candidato Rodrigo Neves esteve preso.  

Cláudio Castro foi arrogante ao dizer que Wilson Witzel teria caído antes se ele tivesse assumido a posição de tirá-lo do poder. E, reafirma a personalidade ao destacar que as alianças que fez para governar não serão as alianças que adotará ser reeleito.  Desse modo, ele desqualifica quem veio com ele até aqui e faz isso da pior forma: não nomina e, portanto, generaliza. 

Cláudio Castro não quer, mas é evidente que o eleitor, na hora do voto, levará em conta a opção nacional. Isso está bem claro. Na hora do voto, o eleitor fará opção pelos candidatos vinculados ao candidato dele à presidência da república. 

Em seguida, Cláudio Castro entrou num campo no qual ele não deveria se aventurar. Ele se diz liberal por ter privatizado a CEDAE e se diz de centro-direita, porque distribui café da manhã para os pobres e vai mais longe – corajosamente ou irresponsavelmente – vai mais longe para definir as políticas ambientais como temas associados à esquerda. Uma salada que mistura legumes, frutas, coco, carne linguiça e chiclete. 

O tema principal foi pouco abordado por quem tem, com exclusividade, a obrigação constitucional de cuidar da segurança pública. O entrevistador isolou o tema no episódio do Jacarezinho e Cláudio Castro aceitou a pauta. 

“O meu governo não celebra a morte de ninguém, mas, quanto ao Jacarezinho, só havia um inocente: era o policial que acabou morto, deixando viúva e filho”. Ele julgou e sentenciou, de imediato, sem processos, sem questionar motivos, sem contraditório ou ampla defesa. Igualzinho ao que fazia seu ex-chefe, Wilson Witzel.  

Enfim, tudo dentro do esperado. As palavras ditas com os cuidados adquiridos, certamente, em tensas reuniões de treinamento. 

O diabo é que campanha tem adversários e quando os candidatos não estão atentos para isso, o debate pode desandar. 

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Não há democracia a defender.

Fico irritado, toda vez que ouço os agentes do Estado Brasileiro dizerem que tomam decisões em defesa da democracia. Sejam eles nomeados por concurso ou designados pelo mérito da bajulação, com função por prazo certo ou vitalício. Ora, para defender a democracia é essencial é que ela exista e, se existir, que esteja em risco.

Somos uma democracia? Uma democracia pressupõe que o poder emane do povo. Como todo o povo não consegue se pronunciar diretamente, adaptou-se a democracia para que o povo exerça o poder por intermédio daqueles que ele escolhe por um processo de seleção feito com liberdade. 

No Brasil, quem o povo pode escolher para representá-lo nos parlamentos e governar a favor dos seus interesses, as cidades, os estados e a nação? Os nomes indicados pelos partidos. Mas, digamos que nenhum dos nomes submetidos ao povo seja do seu agrado? Paciência! Durmam, eleitores, com o problema, porque os votos brancos e nulos, expressão da vontade popular, são jogados no lixo e as abstenções desconsideradas e quando não, sujeitas a multas. 

O povo não deveria, então, ter a liberdade de participar da indicação dos candidatos nos partidos? Claro. Mas, não tem. Nos partidos mandam os seus donos. A filiação está autorizada e é, inclusive, estimulada, mas ela não implica em ter o poder de decidir. 

Como contribuintes, os membros do povo pagam as contas dos partidos via fundos partidário e pagam as despesas dos partidos com as campanhas, via fundo eleitoral. Mesmo assim, ninguém do povo, só por ser do povo, tem a liberdade de associar-se aos partidos com poder de decisão. 

Dizem para mim, que no Partido Novo isso funciona diferente, porque lá não se usa o dinheiro do povo; usa-se o dinheiro de quem se filia. Só que nem por isso, quem se filia, decide. Afinal de contas, para quem dirige o Partido Novo, contribuir já é ato de participação voluntária. Seria um exagero de liberdade ir além disso. 

Temos, então, um fato incontestável: quem o povo acredita que o representa, na verdade, representa interesses outros que não os dele. Por isso, ele se afasta cada vez mais da política. 

É hipocrisia dizer que no Brasil há uma democracia a defender, se o povo não tem liberdade para designar aqueles que, nomeados por ele, entre as pessoas que fazem parte do conjunto, estão autorizados a elaborar as leis, decidir quanto de imposto todos pagarão para sustentar um Estado, que seja só instrumento à disposição do povo. 

No Brasil há um grupo de pessoas que acredita, com fé absoluta, ter sido escolhido e iluminado para tomar decisões pelo povo, por acreditar que o povo, definitivamente, não sabe decidir o que é melhor para ele mesmo. Eis os agentes do Estado Brasileiro! 

Eles tudo podem, tudo são capazes de fazer, porque, iluminados, sabem exatamente o que é melhor fazer para que o povo seja feliz. E, se você, minha cara leitora, meu caro leitor, duvidar de mim, pare por um momento e ouça os discursos dos candidatos em campanha. 

Em cada frase, em cada vírgula, ponto e dois pontos, com exclamação e aspas, eles garantem que, no poder, farão o que é melhor para mim e para você, sendo eles escolhidos por eles mesmos. Na lista de pontuações, no discurso deles, só não existe a interrogação, porque eles juram que tudo sabem.  

Por aqui, as eleições funcionam como no Irã, uma teocracia islâmica. Lá há eleições livres, com voto secreto e apuração pública, mas os candidatos que disputam são escolhidos e vetados pelo líder supremo, que tem mandato vitalício e representa um ente divino. 

No Irã como aqui, o povo tem liberdade para votar, desde que seja nos nomes escolhidos por um líder supremo. e estamos conversados. E, por falar em eleições no Irã, sugiro que você assista “118 dias”, um filme que eu assisti no ano passado. Vale a pena. 

Boa semana para todos.