Não sorria. Você continua sendo enrolado.
O deputado federal Paulo Ganime produziu, para o Diário do Rio, um texto infeliz do título – “Sorria,você está sendo enrolado”- à última frase: “A melhor política de segurança pública é aquela que salva vidas e pune os verdadeiros culpados”. E…?
Ninguém está autorizado a dizer que o povo fica feliz ao ser enrolado. Muito menos alguém que tenha como obrigação representar este mesmo povo. A ironia não é boa companheira do discurso político.
O deputado federal Paulo Ganime, candidato a governador pelo Partido Novo, uma pessoa qualificada, que tem ótimas intenções na política, construiu o artigo com o desejo de comentar a política de segurança pública aplicada no estado que ele pretende governar.
O deputado critica as UPPs, as câmeras colocadas nas fardas dos policiais militares e a decisão do Ministro Edson Fachin de proibir que a polícia entre nas comunidades e favelas a não ser em casos “absolutamente excepcionais”.
Bem, a crítica é exercício de liberdade, mas quando ela vem sobre a política de segurança pública na voz de um candidato ao governo do estado, tem peso diferente, porque o governador é a pessoa que de acordo com a Constituição Federal tem, com exclusividade, a obrigação de cuidar da segurança pública nos estados.
Qual é a proposta do deputado Paulo Ganime para o problema? Diz ele: “O Estado precisa garantir a liberdade e a segurança do cidadão, seja ele de qualquer classe social ou nível educacional”. Ótimo. Como? Ele responde: “Com ações de planejamento, inteligência, modernização das polícias, aprimoramento das investigações e, acima de tudo, com a valorização dos policiais, não apenas com salários compatíveis, mas também com treinamento e planos de carreira”. E, novamente, uma frase de efeito: “A proteção da população vem da qualidade de como o policial é tratado”. Então, se bem tratado o policial, a população estará protegida. Certo? Pode não ser.
Se eleito governador, Paulo Ganime não poderá ficar, na superfície do tema como fez no artigo, nem na posição de mero crítico, articulista da imprensa ou nas frases de efeito e marketing eleitoral. Ele não deveria entrar na onda que ele mesmo condena: enrolar. Ele precisa ir mais fundo e começar por compreender direitinho o que já se fez e a razão de tudo o que foi feito não ter dado certo.
Vamos lá. Brizola. Ele defendia que com educação integral, meninos e meninas não seriam bandidos. Fez os CIEPs, prédios com bonito visual, para serem plataforma eleitoral. O crime cresceu.
Moreira. Ele chegou batendo pesado e, embaixo do braço, com os presídios de segurança máxima para prender todos os líderes do chamado crime organizado. O crime cresceu. Brizola retornou com a mesma política de antes. O crime cresceu.
Marcello Alencar. Este quis a contribuição faroeste. Achou que a polícia precisava disso para combater o crime. O crime cresceu.
Garotinho. Chegou bem chegado com a proposta de reformar as polícias, tirar cárceres das delegacias e aprimorar as investigações. Criou até fardamento novo. Fez tudo certinho, mas nada deu certo, porque os bandidos continuam armados. O crime cresceu.
Podemos pular Benedita, que ficou com o troféu de prender Elias Maluco e usar um dirigível. Podemos passar batidos pela Rosinha para ir direto ao Cabral que, depois de promover uma chacina no Complexo do Alemão e ser aborrecido pela ONU, resolveu ocupar as comunidades no sapatinho. Eram as UPPs. O crime cresceu.
Veio Witzel e Cláudio está lá. O crime não dá sossego. A polícia chega nas comunidades e é recebida a bala e granadas.
O que não se fez ainda? Não se desarmou os bandidos. Nunca. Os políticos saem em campanha pelo estado vangloriando-se de entrar nas comunidades e ver garotos e garotas armados. Na campanha para o governo do estado em 2006, Denise Frossard, com sinceridade, disse que não se sentia segura ao subir nas favelas. Eduardo Paes, fanfarrão, foi à Maré trepado numa bicicleta para dizer-se mais corajoso que a Juíza.
A UPP começou pelo desarmamento e desistiu. Para desarmar é preciso polícia e investigação séria para saber a causa de o Rio de Janeiro ter, nas mãos dos bandidos, verdadeiros arsenais, com os quais eles recebem a polícia à bala. A sociedade precisa ter meios para saber que destino têm as armas apreendidas, para viver com a certeza de a polícia não estar enxugando gelo ou envolvida.
Ouço, com frequência, a crítica ao Ministro Fachin. A mesma crítica se fez ao Brizola. Para esses, a resposta está com Luiz Eduardo Soares, nos relatos que ele fez do tempo em que foi Secretário de Segurança Pública do Estado, tempo em que quase chegamos à solução do problema. O trecho que reproduzo está no livro “Meu Casaco de General”, que todo candidato a governador do Rio deveria ler:
“Quem não mora numa favela experimenta a angústia da insegurança e o medo da violência. Quem vive lá sente pavor e desespero. Só quem vive nas comunidades, nos morros, nos bairros populares dominados pelo tráfico e episodicamente invadidos pela polícia, sabe do que é que se está falando quando se diz risco…”.
Além do que fizeram os governadores, na história da Segurança Pública no Rio de Janeiro há intervenções, a última muito recente, que produziu um consistente relatório que o deputado Paulo Ganime deveria conhecer.
O deputado fala sobre as milícias e o tráfico, mas não aborda o complexo problema do sistema prisional. Quem sabe num próximo artigo?
Se eu pudesse dar um conselho ao deputado candidato ao governo diria: prepare as polícias para desarmar quem as enfrenta quando elas aparecem para cumprir as funções que a lei designa. Se não desarmar, o crime terá território livre para agir no estado do Rio de Janeiro.
O deputado foi relator de um projeto sobre a liberdade de andar armado. Ele disse que o porte de arma não é tema de segurança pública, mas de liberdade. Pois, bem, levanto uma questão. Que garantia se dá ao cidadão que, uma vez roubada a arma que ele, por liberdade, porta, ela não será usada por um bandido qualquer?