Numa campanha para o Poder Executivo há dois lados: a situação e a oposição. Eles podem se dividir. Tanto a situação pode se apresentar com mais de um candidato – caso raro, mas possível – e a oposição também, com muita frequência. Se a situação está representada por um candidato, ideal é que a oposição não se divida, mas se estiver dividida, isso só será positivo em caso de dois turnos.
Contudo, é com o discurso que se marca posição. A seguir, o discurso que eu faria se fosse oposição ao governador do Estado do Rio de Janeiro:
Até quando os governadores do Rio justificarão a incapacidade de seus governos para investigar a origem das armas que estão nas mãos dos bandidos, com as mortes de pessoas que eles sentenciam pelo simples “ouvir dizer”?
O governador Cláudio Castro segue a trilha de seus antecessores. De todos eles. No Twitter, o governador justificou as vinte mortes na Vila Cruzeiro, com a apreensão de fuzis, pistolas, granadas e drogas que estavam com traficantes. Nas postagens ele fez uma pergunta: “Com essa apreensão, quantos tiros deixarão de ser dados em direção a cidadãos de bem do Rio, contra policiais, contra quem quer levar uma vida em paz?”
É-nos impossível responder, porque não sabemos o que será feito com todo o armamento apreendido. Também, nada sabemos sobre como tantas armas e granadas chegaram às mãos dos bandidos. Será que o governador tem resposta para essas duas questões?
Certamente, não, pois nenhum de seus antecessores teve e por isso, ele, agora, em 2022, age como agiram os seus antecessores nas várias chacinas que ocorreram nas favelas do Rio, pelo menos, desde 1994, com registro especial para a patrocinada pelo Sérgio Cabral no Complexo do Alemão em 2007, quando ele cumpria o primeiro ano de governo.
O cristão Cláudio Castro, na série de posts colocados no Twitter, disse também: “Uma moradora está entre as vítimas e sua morte está sendo investigada”. Ponto final! Simples assim. Afinal, que importância tem a vida de Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que tinha nome e contava 41 anos de idade, e estava em casa naquele momento? Os demais mortos, o governador já sentenciou. As notícias chamam todos de “suspeitos”. Um conceito complicado nas favelas e na política, onde os suspeitos reclamam pelo fato de não serem considerados só “suspeitos” até que se tenha o trânsito em julgado. E o governador está entre eles.
Vamos lá. Em que reside o problema? Na presença das armas nas mãos de quem não estaria autorizado a tê-las. Por que têm? A quem cabe a obrigação de saber? Diz a nossa Constituição, a nossa vilipendiada Constituição, que a obrigação de saber é dos governadores. Essa é a única obrigação deles com exclusividade.
Portanto, meu caro governador Cláudio Castro, arregace as mangas de sua camisa e inicie o trabalho e fique com a minha sugestão para suas horas de lazer, se você ainda as tiver diante de tanta obrigação. Leia “Escute, Zé-Ninguém! de Wilhelm Reich. O autor abre o livro com a seguinte passagem:
“Eles o chamam de Zé-Ninguém ou Homem Comum. Dizem que esta é a alvorada do seu tempo, a “Era do Homem Comum”. Não é você quem diz isso, zé-ninguém. São eles, os vice-presidentes de grandes nações, os líderes operários e os filhos arrependidos da burguesia, os estadistas e os filósofos. Eles lhe dão o futuro, mas não fazem perguntas sobre o seu passado.”
Minha homenagem a Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que o governador Cláudio Castro, me parece, sequer sabe o nome. Uma “Zé-Ninguém”.