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Sete de Setembro.

Uma parte do povo brasileiro foi às ruas no Dia da Independência. Cantou o Hino Nacional, vestiu verde-amarelo e aplaudiu o Presidente Jair Bolsonaro. Há muitos anos não se via no Brasil comemorações de fato, comemorações de verdade e festiva no Sete de Setembro. A bandeira nacional estava nos carros, nas janelas e vestia o povo. O povo fez um mar verde e amarelo nas ruas. 

Outra parte do povo criticou. Estava irritada pela captura do dia para a campanha de reeleição do Presidente da República. Lula chegou a dizer nas redes que esse negócio de usar verde e amarelo é uma bobagem. 

Vá lá que os eleitores do Presidente da República usem a bandeira e o hino nacional, a cor verde-amarela e camisas com a marca da Seleção Brasileira de Futebol para fazer campanha. Que problema isso causa? Nenhum. Faz tempo, que Jair Bolsonaro levou para si os símbolos nacionais, uma atitude facilitada pelo fato do outro polo ter como marca a cor vermelha. 

A contrariedade e a ignorância de alguns agentes públicos, que julgam ser o Estado o proprietário dos símbolos nacionais e do povo, chegou ao ponto de ter juízes com decisões para proibir o uso das cores da bandeira e da própria bandeira na campanha eleitoral. Ora, ora. Essa gente! 

A democracia dói quando toca nos agentes do Estado Brasileiro. Dói uma dor doída. Temos vivido tanto tempo sob o julgo do Estado que viciamos seus agentes, mesmo aqueles eleitos pelo povo. A pessoa coloca um crachá no peito, um certificado na parede e já se julga proprietária da vontade dos outros. 

Não gosto dos socialistas, porque detesto o Estado opressor, o Estado que se acha dono da vontade do povo. Ora, se o dia é o Dia da Independência, firmado sobre um slogan que vincula a falta de liberdade à morte, então, que se deixe o povo comemorar. Quem sabe não será este o último dia alegre de comemoração da Independência? Poderá ser se em outubro, o outro lado do povo que estava nas ruas vencer a eleição. Queira Deus que não. 

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Jair Bolsonaro é isso tudo

Jair Bolsonaro tem mesmo tanto poder?

Seis horas da manhã de domingo, leio numa das páginas do jornal O Globo, o seguinte título: “Confiança na democracia melhora, mesmo com extrema-direita mais agressiva”. Subentende-se disso uma relação de causa e efeito, onde a democracia melhora para contrariar a extrema-direita agressiva. E o título se confirma no artigo que encabeça, escrito pelo professor e cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais. Literalmente escreveu ele: 

“A pesquisa A Cara da democracia traz, em sua quinta edição, uma boa notícia para o país: aumentou o número de brasileiros que não aceitariam um golpe de Estado. Para 59% dos entrevistados, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo…”. 

Adiante, ele afirma: “No entanto, apesar dos avanços importantes em relação ao apoio à democracia no Brasil, há dados que precisam ser observados com bastante cuidado, pois apontam para uma direção contrária (grifo meu). Entre esses resultados está um enorme crescimento, no Brasil, da extrema-direita, especialmente nos últimos dois anos”. 

Caminhando-se mais no roteiro do artigo, chega-se ao seguinte fechamento: 

“(…), a pesquisa revela algo ainda mais intenso, qual seja, o aumento do número de brasileiros que se declaram de extrema-direita…Essa constatação, obtida a partir do levantamento, aponta na direção de um êxito relativo do bolsonarismo em estimular a formação de uma extrema-direita movimentalista (não sei o que representa o adjetivo, por isso grifo) no Brasil…”. 

Pronto, está, novamente, feita a linha de causa e efeito, Bolsonaro formou uma extrema-direita no Brasil e ela representa o risco de um golpe contra a democracia. Desse modo, o professor Leonardo joga por terra todo o valor que a pesquisa poderia ter para quem esteja interessado, de verdade, em conhecer o pensamento do povo brasileiro. 

Contudo, a pesquisa, com a declaração do professor ou sem ela, já teria falhas de método, porque tenta conhecer os valores dos entrevistados com a mesma metodologia que se usa para captar intenção de votos, onde o entrevistador escolhe um entre todos, com o critério simples de “esse sim”, “esse não” e “aprovo” ou “não aprovo”. 

O que é a democracia para quem respondeu que a defende, ou que tem preferência por ela, diante das três possibilidades de resposta apresentadas na pesquisa?  

  1. “Tanto faz um regime democrático ou não democrático”; 
  2. “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo” e 
  3. “Em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático”. 

Acredito que eu não precise me estender em considerações, porque o questionário da pesquisa e a análise do professor Leonardo falam por si mesmos sobre a intenção da matéria que nasceu com base na pesquisa: vincular dados quantitativos ao pensamento do Presidente Bolsonaro. 

O desejo dos intérpretes chega ao ponto de definir conspirações a partir de bobagens como terra plana, cloroquina, a relação da China com o vírus e a chegada do ser humano na lua, fazendo vínculo de tudo isso com a extrema-direita e da extrema-direta com o “formulador” Jair Bolsonaro.  

Quando se quer conhecer atitudes, motivações e comportamentos, o caminho não pode ser uma pesquisa quantitativa como quer  o jornal O Globo. Para cumprir esse papel, uma pesquisa deve permitir uma análise criteriosa das respostas a perguntas feitas com mais profundidade, algo que Sócrates ensinou o mundo a fazer 400 anos antes do nascimento de Cristo. 

O que é ser extrema-direita? Que circunstâncias alguém acredita que uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático? O que define como democracia quem prefere um regime não democrático?  

Antes da matéria publicada pelo jornal O Globo, a ONG britânica Article divulgou o “Relatório de Expressão Global de 2022”, onde noticia que o Brasil caiu da 31a posição no ranking dos mais livres, conquistada em 2015, para o 89o neste momento. Qual o motivo da queda? A introdução ao relatório esclarece: 

“O Brasil presenciou uma das maiores e chocantes deteriorações na última década sob a influência de um líder democraticamente eleito. O assédio do Presidente Jair Bolsonaro e a estigmatização da mídia andam juntas com persistentes ataques ao judiciário e questionamento à integridade do sistema…”.  O Relatório está disponível na íntegra, em inglês, na rede e a ele se pode ter acesso a partir de um link disponibilizado pelo Boletim da Liberdade, que continua na vanguarda, na garantia da liberdade de expressão. No Boletim todo e qualquer pensamento tem espaço se for relevante para formulações.  

Pois é, gente. Todo o material que me serviu de leitura e análise para o presente artigo me mostra um homem com poderes excepcionais para formar opinião e decidir o destino da Nação que, temporariamente, governa. Ele pode tudo pela lábia e esse é o conceito que querem nos empurrar. 

Ora, na verdade, Jair Bolsonaro é um sujeito que estava parado numa posição qualquer, enquanto a roda da vida se movimentou até encontrá-lo e ele, nela, se encaixou. Houve coincidência de pensamento e essa coincidência levou o eleitor ao voto e o voto colocou Jair Bolsonaro na Presidência. Somente isso. O Presidente tem mais poder para perder posições pelo que fala do que para conseguir adeptos. Isso está claro, claríssimo, na análise que se pode fazer das pesquisas que chegam até nós. 

Acontece que estamos em campanha, ocasião em que a todos e a todas é dada a liberdade de defenderem seus candidatos com qualquer argumento que lhes sirva. É natural. E é ótimo que assim seja. Melhor seria, contudo, se os eleitores brasileiros tivessem um pouquinho mais de discernimento para saber quando há intenção dos agentes políticos de enganá-los ou de esclarecê-los. É aqui que entra a Educação, uma ferramenta fantástica que dá às pessoas a capacidade de decidirem sem serem influenciadas por informações tendenciosas. 

Mas, que pena que o povo que decide as coisas no Brasil não percebe que a garantia para a democracia e o fim da pobreza é a liberdade, uma liberdade que só a Educação entrega. 

Enfim. É o país que temos. 

Boa semana para todos e todas. 

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Vice, serve para quê?

E o Vice? 

“Vice, serve para quê?” Eu ouvi isso de um amigo, alguém de quem respeito muito a inteligência e a capacidade de formular boas estratégias. Ouvi a pergunta, quando comentei com ele a escolha que o governador Cláudio Castro fez para a posição de candidato a vice-governador na chapa de reeleição. 

Não achei que foi a melhor escolha, porque sou defensor de que não se deve escolher um vice só para vencer eleição, mas para dar garantia ao eleitor de que, na ausência daquele ou daquela que escolheram para governar, poderão ser governados por alguém, que atenda às mesmas expectativas. 

Na escolha do vice se sabe se o titular tem a compreensão de um estadista ou de um sujeito que vive a ocasião e ponto final. Não se importa nem com a própria e inevitável morte, porque, uma vez morto, o que virá depois nem é com ele. Só os estadistas enxergam para além do próprio tempo. 

Ora, quem vier a votar no Cláudio Castro, se ele faltar por qualquer motivo, se sentirá de igual modo representado pelo Washington Reis? Eu não me sentiria. Cláudio Castro é o caso de um vice com zero de utilidade eleitoral, mas que, ao substituir o titular, fez cumprir as expectativas dos eleitores dele. E, neste sentido, melhor do que o destrambelhado Witzel faria. 

Os vices no Brasil merecem um capítulo da história só para eles. Nos governos militares, os mineiros serviram como vices. Alckmin, de Castelo Branco, Pedro Aleixo de Costa e Silva, Aureliano Chaves, de Figueiredo. Pedro Aleixo não teve boa sorte, porque quando o titular adoeceu e morreu, os milicos não quiseram saber dele. Deram-lhe o cartão vermelho na maior cara-de-pau. Tancredo tentou vingar Aleixo, mas morreu antes. 

João Goulart, quase não foi presidente. Algum tempo conseguiu ser presidente pela metade e quando decidiu ser por inteiro, mandaram o cara embora. A morte substituiu Tancredo por Sarney, ótimo vice para vencer a eleição no modelo que existia no Brasil, mas incapaz de responder às expectativas que o povo tinha com relação ao titular. 

Collor escolheu Itamar Franco para ser seu vice, por ser um ótimo nome para vencer a eleição, mas nada confiável quando precisou dele. Michel Temer, idem na relação com Dilma. E bem que Dilma sabia e por isso, esperneou para dar a vaga de vice a ele. 

Lula não se ocupou do vice. Fernando Henrique Cardoso também não. E, nos dois casos, se o Brasil precisasse dos vices estaria melhor servido do que com os titulares. Certamente. 

No Rio de Janeiro, os vices também têm história para contar. Benedita passou o diabo nas mãos do Garotinho. César Maia precisou do PSDB para vencer a segunda eleição para a Prefeitura do Rio. Fez de tudo para não precisar, mas, como teve necessidade, aceitou Otávio Leite na Vice-Prefeitura. Como nunca confiou no Otávio, não pode deixar a prefeitura para voltar a ser candidato a governador. Paciência! Ficou soterrado no Rio. 

Eduardo Paes vive situação semelhante com o Vice-Prefeito, que escolheu. Escaldado com a derrota para o governo do estado, Eduardo Paes quis fugir dos riscos, por menores que fossem, de perder uma eleição novamente.  Então, fez um acordo com o PL, para evitar Daciolo, entregou a vice a Nilton Caldeira e agora está agarrado à cadeira até vencer uma nova eleição e ter um vice que seja integralmente, ele, no comando da Prefeitura.

Encerro com uma resposta rápida para o meu amigo: Um vice serve para substituir o titular quando ele menos espera. Por isso, todo cuidado é pouco. 

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O eleitor já decidiu nacionalizar a eleição.

Na dúvida. Sempre na dúvida

O eleitor já decidiu nacionalizar. 

O governador Cláudio Castro está em O Globo na arrancada das entrevistas com todos os candidatos a governador do estado, pelo menos aqueles que conseguiram vencer a cláusula pétrea de uma campanha eleitoral: ter um partido político. Isso não é algo fácil, porque os partidos têm dono, o dinheiro dos partidos está nas mãos deles e o tempo de uso da TV e Rádio também. Então, eles e elas decidem quem será candidato. E quem entre os candidatos, será competitivo. 

O editor da entrevista com Cláudio Castro compôs a chamada com uma frase do entrevistado, como manda o figurino. Disse ele: “Não quero nacionalizar a eleição do Rio”, um jeito matreiro de dizer que ele não está plenamente alinhado com o candidato a presidente do partido dele, Jair Bolsonaro. 

O governador está alinhado com todos e com nenhum, uma prática antiga de comunicação política, mas, cada vez menos convincente, porque os eleitores já andam saturados desse comportamento sem personalidade. 

O governador não quer assumir uma posição na relação da campanha dele com os candidatos à presidência, porque quer os eleitores de todos eles e acredita que desse modo poderá alcançá-los. 

Quando questionado sobre os apoios políticos que abraça, com tudo e com todos, Cláudio Castro mostrou onde é que a pancada nele dói mais. Esperneou e bateu duro nos adversários diretos, para dizer que na campanha do Freixo estão os saqueadores da Petrobrás e lembrar que o candidato Rodrigo Neves esteve preso.  

Cláudio Castro foi arrogante ao dizer que Wilson Witzel teria caído antes se ele tivesse assumido a posição de tirá-lo do poder. E, reafirma a personalidade ao destacar que as alianças que fez para governar não serão as alianças que adotará ser reeleito.  Desse modo, ele desqualifica quem veio com ele até aqui e faz isso da pior forma: não nomina e, portanto, generaliza. 

Cláudio Castro não quer, mas é evidente que o eleitor, na hora do voto, levará em conta a opção nacional. Isso está bem claro. Na hora do voto, o eleitor fará opção pelos candidatos vinculados ao candidato dele à presidência da república. 

Em seguida, Cláudio Castro entrou num campo no qual ele não deveria se aventurar. Ele se diz liberal por ter privatizado a CEDAE e se diz de centro-direita, porque distribui café da manhã para os pobres e vai mais longe – corajosamente ou irresponsavelmente – vai mais longe para definir as políticas ambientais como temas associados à esquerda. Uma salada que mistura legumes, frutas, coco, carne linguiça e chiclete. 

O tema principal foi pouco abordado por quem tem, com exclusividade, a obrigação constitucional de cuidar da segurança pública. O entrevistador isolou o tema no episódio do Jacarezinho e Cláudio Castro aceitou a pauta. 

“O meu governo não celebra a morte de ninguém, mas, quanto ao Jacarezinho, só havia um inocente: era o policial que acabou morto, deixando viúva e filho”. Ele julgou e sentenciou, de imediato, sem processos, sem questionar motivos, sem contraditório ou ampla defesa. Igualzinho ao que fazia seu ex-chefe, Wilson Witzel.  

Enfim, tudo dentro do esperado. As palavras ditas com os cuidados adquiridos, certamente, em tensas reuniões de treinamento. 

O diabo é que campanha tem adversários e quando os candidatos não estão atentos para isso, o debate pode desandar. 

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Não há democracia a defender.

Fico irritado, toda vez que ouço os agentes do Estado Brasileiro dizerem que tomam decisões em defesa da democracia. Sejam eles nomeados por concurso ou designados pelo mérito da bajulação, com função por prazo certo ou vitalício. Ora, para defender a democracia é essencial é que ela exista e, se existir, que esteja em risco.

Somos uma democracia? Uma democracia pressupõe que o poder emane do povo. Como todo o povo não consegue se pronunciar diretamente, adaptou-se a democracia para que o povo exerça o poder por intermédio daqueles que ele escolhe por um processo de seleção feito com liberdade. 

No Brasil, quem o povo pode escolher para representá-lo nos parlamentos e governar a favor dos seus interesses, as cidades, os estados e a nação? Os nomes indicados pelos partidos. Mas, digamos que nenhum dos nomes submetidos ao povo seja do seu agrado? Paciência! Durmam, eleitores, com o problema, porque os votos brancos e nulos, expressão da vontade popular, são jogados no lixo e as abstenções desconsideradas e quando não, sujeitas a multas. 

O povo não deveria, então, ter a liberdade de participar da indicação dos candidatos nos partidos? Claro. Mas, não tem. Nos partidos mandam os seus donos. A filiação está autorizada e é, inclusive, estimulada, mas ela não implica em ter o poder de decidir. 

Como contribuintes, os membros do povo pagam as contas dos partidos via fundos partidário e pagam as despesas dos partidos com as campanhas, via fundo eleitoral. Mesmo assim, ninguém do povo, só por ser do povo, tem a liberdade de associar-se aos partidos com poder de decisão. 

Dizem para mim, que no Partido Novo isso funciona diferente, porque lá não se usa o dinheiro do povo; usa-se o dinheiro de quem se filia. Só que nem por isso, quem se filia, decide. Afinal de contas, para quem dirige o Partido Novo, contribuir já é ato de participação voluntária. Seria um exagero de liberdade ir além disso. 

Temos, então, um fato incontestável: quem o povo acredita que o representa, na verdade, representa interesses outros que não os dele. Por isso, ele se afasta cada vez mais da política. 

É hipocrisia dizer que no Brasil há uma democracia a defender, se o povo não tem liberdade para designar aqueles que, nomeados por ele, entre as pessoas que fazem parte do conjunto, estão autorizados a elaborar as leis, decidir quanto de imposto todos pagarão para sustentar um Estado, que seja só instrumento à disposição do povo. 

No Brasil há um grupo de pessoas que acredita, com fé absoluta, ter sido escolhido e iluminado para tomar decisões pelo povo, por acreditar que o povo, definitivamente, não sabe decidir o que é melhor para ele mesmo. Eis os agentes do Estado Brasileiro! 

Eles tudo podem, tudo são capazes de fazer, porque, iluminados, sabem exatamente o que é melhor fazer para que o povo seja feliz. E, se você, minha cara leitora, meu caro leitor, duvidar de mim, pare por um momento e ouça os discursos dos candidatos em campanha. 

Em cada frase, em cada vírgula, ponto e dois pontos, com exclamação e aspas, eles garantem que, no poder, farão o que é melhor para mim e para você, sendo eles escolhidos por eles mesmos. Na lista de pontuações, no discurso deles, só não existe a interrogação, porque eles juram que tudo sabem.  

Por aqui, as eleições funcionam como no Irã, uma teocracia islâmica. Lá há eleições livres, com voto secreto e apuração pública, mas os candidatos que disputam são escolhidos e vetados pelo líder supremo, que tem mandato vitalício e representa um ente divino. 

No Irã como aqui, o povo tem liberdade para votar, desde que seja nos nomes escolhidos por um líder supremo. e estamos conversados. E, por falar em eleições no Irã, sugiro que você assista “118 dias”, um filme que eu assisti no ano passado. Vale a pena. 

Boa semana para todos. 

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O baralho Brasil.

O coelho entra e anuncia:
“Sua Graça!”
“Sua Excelência!”
“Sua Real Majestade!”
“A Rainha de Copas!…”. E, com certo desprezo:
“E o rei! “

A Rainha, então, reclama:
“Quem pintou as minhas rosas brancas de jasmim? Quem, quem? “
Uma das cartas responde:
“A culpa é dele!” e aponta para o 2 de espadas.
“Não, não, minha senhora, a culpa é dele”.
“Quem, tu?” “Não, não, minha senhora, o 2”.
“Eu não! Foi o 5 de paus!”.
“Basta! Cortem as cabeças!’.

O público aplaude. Os soldados carregam os condenados para cumprir a sentença. A Rainha fica maravilhada com a popularidade que consegue.

Alice, a menina criada por Lewis Carroll, está presente e implora piedade em nome dos condenados. A Rainha olha Alice e diz:
“Olha, é uma menina!” Alice responde: “sou…eu só espero…”
A Rainha interrompe aos gritos: “Olha para mim, Fala direito. Pare com essas mãos e fique em posição de cortesia. Abra a boca um pouco mais e diga sempre assim: Oh! Majestade!”

Alice cumpre. A Rainha pergunta: “De onde viestes e para onde vais?” Alice responde. Ou tenta responder: “Quero encontrar o meu caminho”. A Rainha enlouquece, novamente: “Teu caminho? Tudo aqui é meu. Só meu!”

Alice aborrece a Rainha, ao vencê-la num jogo A Rainha, imediatamente, determina que lhe cortem a cabeça. O rei, com todo cuidado e humildade, sugere que a Rainha constitua um júri…”um jurizinho”. O objetivo do rei é salvar Alice. Tinha simpatia por ela.

A Rainha atende e determina: “Podem começar o julgamento”. O coelho assume o papel de promotor e inicia o discurso de acusação: “a ré, com intuitos malévolos, maltratou, atormentou, irritou a nossa amada Rainha…”.
A Rainha impaciente, interrompe o coelho para dizer: “chegue logo ao ponto em que eu perdi a calma”. ( Alice é acusada pelo crime de aborrecer a Rainha). O coelho obedece e segue para o final da explanação, quando mostra que a Rainha ficou aborrecida.

A Rainha, então, pergunta para Alice:
“Queres ouvir a sentença?”
Alice responde: “Sentença? Não há que ser o veredito?”
A Rainha responde: “sentença, primeiro! O veredito, depois”.
Alice retruca: “Mas, não é assim que se faz?”
A Rainha grita: “Quem manda aqui?”
“Sois vós”, responde Alice.
A Rainha insiste: “Cortem-lhe a cabeça”.
O rei interfere, novamente: “Meu bem. E as testemunhas? Não podemos chamar uma ou duas?”

E a história continua. Estamos diante de um clássico da literatura mundial. Algo bem atual, não?

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O PSDB é o partido que ensina como perder eleições

Os partidos têm dono. Sabe-se disso. E assim são definidos, por serem agremiações às quais as pessoas se filiam, mas, afiliadas, não têm poder de decisão. Uma pessoa, ou um pequeno grupo toma todas as decisões.

O PSDB, contudo, ficou sem dono, para cumprir o dito popular: “filho feio não tem pai”. Nasceu de pais nobres e, para contrariar a natureza, sem mãe: Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Rocha e Pimenta da Veiga. Gente de Minas, São Paulo e Paraná.

Por ironia do destino, o partido plebeu de onde se apartaram os nobres para dar luz ao PSDB, os levou ao poder. Itamar Franco, mineiro do PMDB, colocou Fernando Henrique, do PSDB, de cara para o gol e ele deu o chute certeiro.

Nobres são nobres, gente de sangue azul, e não se misturam com a plebe. E tal nobreza, não poderia ter símbolo com mais significado e beleza, do que o tucano, uma ave que vive, quando muito, 40 anos. Os nobres tucanos presentes na política nacional farão 33 anos em junho. No dia 25 de junho, para ser exato. A natureza diz que morreram logo.

Após Fernando Henrique Cardoso, os tucanos perderam cinco eleições consecutivas para a Presidência da República. Só times de futebol sobrevivem tanto tempo e mais tempo ainda sem títulos. José Serra perdeu duas, uma por não ter tido o apoio de Fernando Henrique Cardoso, Presidente, que preferiu Lula, e a outra por ter subestimado Dilma Rousseff.

Aécio Neves, mineiro como o fundador nobre Pimenta da Veiga, perdeu uma, derrotado pela senhora Rousseff no seu pior momento. Uma lição relevante para um partido que subestima as mulheres.

Geraldo Alckmin empatou com José Serra no número de derrotas. Perdeu uma para Lula e outra para Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, representante do Lula. Parece ter cansado e decidiu unir-se ao adversário para vencer o adversário comum. “Já que você não vence o adversário, una-se a ele”.

Cinco derrotas e nenhuma lição! O PSDB fez todas as campanhas presidenciais com uma comunicação equivocada. Fosse ele um partido liberal – liberal de fato e não do tipo que atende pelo nome para disfarçar as intenções – teria observado a lição preciosa presente na melhor obra do liberal Ludwig Von Mises. No livro Ação Humana, ele alerta que os seres humanos mudam de posição na vida diante de duas circunstâncias: elas e eles, com a consciência de estar a viver uma situação ruim, saem dela, mas se concluírem que a nova será melhor do que a antiga. Se não acreditarem nisso, os seres humanos ficarão onde estão, seja num emprego ruim, numa cidade pior ou numa relação pessoal pior ainda.

Ora, por natureza, o ser humano acha os governos ruins e não gosta deles. Para gostar, precisam que sejam excepcionais, maravilhosos, acima da média das expectativas. Então, gastar tempo para falar que os governos são ruins, é uma bobagem. É “chover no molhado”. Melhor é que se gaste saliva e tempo para ganhar a confiança do eleitor numa situação que será melhor no futuro após a eleição.

Outra abordagem, que pode ser complementar e atender a quem já está no governo, é usar todos os meios que a comunicação oferece para dissolver a imagem do que é ruim e assumir o compromisso confiável de que será melhor em seguida.

A campanha do Lula contra o Serra apresentou o PT como a “esperança que venceu o medo”. Ou seja, com eles (PSDB) é ruim, comigo será melhor. Vitória! Depois, na campanha de reeleição do Lula, a mensagem do PT mudou. “Com a gente está ruim? Não é verdade. Mas, se você acreditar nisso, esteja certo que com a volta deles (PSDB) será pior”.

Este ano é a ocasião para os liberais, porque todos os não liberais estão do mesmo lado. É fácil identificá-los e vê-los de corpo inteiro. Geraldo Alckmin ajudou-nos bastante com a decisão que tomou.

Não percamos a nova oportunidade. Tivemos uma, em 1989, primeira eleição direta para a Presidência da República depois de 25 anos de jejum. Fernando Collor venceu a eleição com um discurso liberal, a favor de uma economia de livre mercado sem adjetivos, de desregulamentação, privatização e contra o intervencionismo. Nada disso aconteceu, porque o discurso não encontrou ressonância no Congresso Nacional. É lá que está o problema.

Sabe-se também que com um presidente com zero de identidade com os liberais, o Congresso poderá fazer pouco. Isso nos dá a estratégia para votar: escolher o candidato a presidente que mais se aproxima de nós; não queimar energia nem comunicação com candidatos que na presidência da república darão zero de chance às teses liberais. Do mesmo modo, apoiar que, no Parlamento, turma que no Parlamento dará curso ao que nós pregamos e um tranco naquilo que, por obviedade histórica, não acreditamos.

Boa semana para todos.

Foto: Rodger Timm/Divulgação

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Quem serão os eleitos em outubro?

Quem serão os eleitos em outubro? Você sabe? 

Quem serão os deputados federais e estaduais eleitos no Estado do Rio de Janeiro em outubro? Tomando por base a polarização entre Lula e Bolsonaro e as decisões dos eleitores em 2018, ocasião em que a polarização aconteceu entre os mesmos pólos, é possível desenhar os cenários. 

Na eleição passada, Jair Bolsonaro fez no Estado do Rio de Janeiro, barba, cabelo e bigode. Ele elegeu o governador e os dois senadores. Elegeu também 13 deputados federais e 14 estaduais se considerarmos só os eleitos pelo PSL. Mas, sabe-se que muitos outros penduraram-se nele, inclusive a turma do Partido Novo que, no primeiro turno ficou no vai-não vai com o candidato João Amoedo. 

Quando a gente olha os resultados de 2018, cidade a cidade do Estado do Rio, verifica que Jair Bolsonaro venceu o PT em todas elas e com diferenças expressivas. Na capital, por exemplo, no primeiro turno Jair Bolsonaro obteve 1.930.000 votos e Fernando Haddad, 398 mil. 

A minha análise recebeu a ajuda, no domingo passado, de um bom material publicado pela Folha de São Paulo, no Caderno Ilustrada, Ilustríssima, a mim encaminhado por duas fontes: pelo próprio autor, Antonio Lavareda e, no mesmo momento, pelo Rodrigo Bethlem, estudioso da política. Com o título “Barômetros Ideológicos”, o artigo antecipa o lançamento de um livro do Lavareda e Helcimara Telles, “Eleições Municipais na Pandemia”. 

Lavareda revisitou as eleições municipais de 1985 até 2020, e concluiu que as disputas pelos cargos de vereadores e prefeito têm funcionado como barômetros ideológicos das eleições gerais posteriores. Por gráficos presentes na matéria, Lavareda mostra que a campo ideológico da Direita venceu a Esquerda, com larga margem, nas eleições de 2020, para prefeitos e vereadores. 

A polarização teve peso na seleção, que fez o eleitor.

Sabe-se lá como será encerrado o período eleitoral deste ano, mas se o desenho for o de agora até outubro, a polarização entre Lula e Bolsonaro permanecerá a ponto de levar os dois para o segundo turno. Dizem as pesquisas que Lula chegará ao segundo turno à frente do Jair Bolsonaro. É possível, se as causas do voto dado a Jair Bolsonaro em 2018 desapareceram, ou seja, se a onda contra o PT com a força e a rapidez de um Tsunami, virou uma marola ou onda calma. Daí, cabe a pergunta: quem rejeitou o PT – e o PT é Lula e só Lula – estaria disposto a rever a posição e votar nele? 

Lula, para justificar o apoio presente de Geraldo Alckmin, disse que eles dois mudaram o suficiente para revisarem suas posições de 2018. Mas, afirmo: posições de um contra o outro e não com relação ao Jair Bolsonaro. Naquela eleição os dois estiveram do mesmo lado. E, no Estado do Rio de Janeiro, meu objetivo aqui, os votos dados ao Geraldo Alckmin, se somados aos votos do candidato do Lula, Fernando Haddad, no primeiro turno, o resultado final ainda seria favorável ao Jair Bolsonaro. 

Encerro com um ponto: haverá espaço no processo seletivo que leva o eleitor a escolher em que irá votar para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados e mesmo para o Senado Federal e até para o governo do estado, para candidatos que não estejam num dos dois pólos? Acredito que não. Tenho para mim e para quem quiser me ouvir, que a escolha do eleitor para todos os postos terá como base os dois candidatos à presidência, Jair Bolsonaro e Lula. 

O futuro dirá. 

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Só resta ao eleitor, aguardar

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro.

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha.

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação. O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar.

Após ir e vir, entre o público e o privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos. Mas, esta semana, ele apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil, segundo partido dele em apenas quatro meses. Fez isso com menos pompa e com constrangimento. A filiação dele ao Podemos foi, então, uma decisão precipitada e pelo que se viu e se ouve nas hostes do União Brasil, a ida para lá teve também uma certa dose de precipitação.

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão.

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem.

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso.

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos.

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate.

1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente?

2.”Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?

3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente.

4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.” Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato.

5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?

6“Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância?

7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês.

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato.

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores.


Foto: Reprodução/Podemos

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Sérgio Moro, um elefante em loja de louças.

Só resta ao eleitor, aguardar. 

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro. 

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha. 

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação.  O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.  

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar. 

Sérgio Moro julgou e condenou Lula à prisão e à inelegibilidade, quando instruiu os processos para o julgamento na segunda instância. Se solto e elegível, Lula teria concorrido à presidência em 2018, para ser o adversário principal do candidato Jair Bolsonaro. Os dois teriam ido ao segundo turno, uma vez que o representante do Lula conseguiu. Jair Bolsonaro venceu a eleição e Sérgio Moro tornou-se ministro. Com esse ato, o juiz autorizou a imaginação de os julgamentos terem acontecido com a intenção política para tirar Lula do combate. Pouco tempo depois, o próprio judiciário, na última instância, no Supremo Tribunal Federal, reforçou a imagem quando anulou os processos. 

Sérgio Moro ficou pouco tempo no governo, mas nesse pouco tempo deu apoio incondicional ao presidente, até que começou a perder prestígio. Ele, então, resolveu deixar o ministério e buscar emprego no setor privado, mas numa empresa de consultoria, que atende também casos julgados e condenados por ele. Levantou-se mais uma dúvida sobre a seriedade dos julgamentos. Tudo isso foi-se acumulando na imaginação dos eleitores. 

Após ir e vir, entre o setor público e o setor privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos e esta semana apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil. Armou-se a confusão. Ficou claro, que a filiação dele ao Podemos foi uma decisão precipitada e pelas reações da turma que está no partido para onde ele foi, a nova escolha foi mais precipitada ainda. 

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão. 

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem. 

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso. 

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos. 

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate. 

  1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente? 
  2. “Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?  
  3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente. 
  4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.”  Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato. 
  5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?
  6. “Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância? 
  7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês. 

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato. 

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores.