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“O poder tem vida própria”. Birgitte.

Geraldo Alckmin apoia Lula. Qual o problema?

São pesadas as críticas que se ouve ao apoio que Garotinho deu ao Cláudio Castro, assim como ao apoio que Alckmin deu ao Lula e ao acordo que César Maia fez com Freixo. Caminha na mesma  trilha, a composição que Jair Bolsonaro fez com o Centrão. Isso pelo fato de a sociedade brasileira ver as composições políticas como algo espúrio, coisa de gente sem caráter. 

A razão está no comportamento dos políticos que se relacionam uns com os outros com ofensas pessoais e agressividade, pois xingar e ofender dispensa raciocínios mais elaborados para a construção do contraditório. É, com certeza, mais fácil chamar alguém de ladrão, de vagabundo e de mau-caráter do que gastar tempo e inteligência para contestar propostas ou opiniões. Só que, após a baixaria, quando surge a necessidade de composições para vencer eleição ou governar, o político faz o que tem que fazer e o povo fica enojado. No final da linha, a política perde. 

Não seria já hora de os políticos mostrarem ao povo que eles podem sim discordar uns dos outros, que a essência da política é a convivência entre os contrários e que a democracia não existe sem a política? O jeito de fazer isso é ter trabalho para construir a contestação e apontar os equívocos que as propostas dos adversários contém e desconstruí-las com inteligência a estratégia adequada. 

Sobre isso há uma lição importante numa das melhores séries de ficção produzidas pela Netflix sobre política e poder na Dinamarca, país onde há uma monarquia parlamentarista. Sirvo-me do discurso que fez a Primeira-Ministra Birgitte Nyborg, na convenção do partido dela, “Novos Democratas”. Birgitte, na série, representa o papel da primeira mulher dinamarquesa no comando do país. Em pauta na convenção, está a disputa pelo comando do partido, entre Birgitte Nyborg e Jon Berthelsen. O discurso é magnífico como peça de estratégia política.  Vamos a ele: 

“Quero dizer a vocês uma coisa importante sobre o poder. Estamos lutando por poder aqui hoje. Pelo direito de decidir. Não podemos ser políticos sem aspirarmos ao poder.  Sem o poder, não daria para realizarmos nossas políticas importantes. Mas, o poder tem vida própria. Quando vê, você se afastou de tudo aquilo em que acreditava. 

Jon, eu tentei derrubá-lo. Ameacei tirar seu poder. Mas, querem saber? Jon não pode ser derrubado. Sabem por quê? Porque as convicções dele sempre terão mais peso que o poder. 

Na vida pessoal, cheguei ao ponto de dizer coisas horríveis ao meu filho na TV, para continuar no poder. Talvez eu tenha mudado. Mas, espero nunca perder a capacidade de admitir quando estou errada. 

Mas, meus amigos, não deveríamos combater uns aos outros. Deveríamos lutar pelo que acreditamos. Eu acredito neste partido. Às vezes, a vida diz quando um novo capítulo vai começar. Para mim começa hoje. Como política e como ser humano. 

Renuncio à liderança do partido e recomendo fortemente que Jon Berthelsen seja o novo líder do Novos Democratas!”

Birgitte fez com arte e vida o que Getúlio fez na morte: virou o jogo. 

Ora, a política é uma arte e, sendo assim, autoriza composições, acordos, renúncias a posições históricas em nome do resultado final, seja das eleições seja de governos melhores. É possível discordar momentaneamente ou adaptar o discurso para facilitar a vitória e composições políticas, que autorizem governos mais eficientes. E a discordância é salutar. Certamente, o povo entenderia os acordos políticos, se eles não fossem recheados com as agressões pessoais mútuas, que desqualificam a disputa política bem mais do que prejudicam os agredidos. 

Haverá, certamente, quem me diga que há políticos que merecem mesmo que o povo saiba quem são e que advertir o eleitor é papel dos candidatos. É verdade e aí é que reside o problema: o eleitor ser advertido quanto ao caráter de um político, por um adversário dele que, logo adiante, precisará aplaudí-lo. O honesto não chama alguém de ladrão só por conveniência eleitoral. Agir assim é agir com a mais absoluta leviandade e os levianos não deveriam ter lugar na política. 

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Sou um liberal, e você, o que é?

COM QUEM IREMOS NÓS, LIBERAIS? 

Uma eleição num país presidencialista define o governo e a oposição. Quem vence, governa e quem perde, se opõe na busca de, em outro momento, ser governo. 

Contudo, somos um presidencialismo meio estranho, que anula a oposição aos governos, na esteira de algo que deram o nome de Presidencialismo de Coalizão. Os candidatos que perdem encontram um meio de acomodarem-se no governo, para separarem-se, novamente, por conveniência do voto, quando uma nova eleição se avizinha. 

Com o mesmo objetivo de ser oposição e governo ao mesmo tempo, criou-se o discurso das decisões convenientes ao povo, mas sem perguntar a ele. Criou-se a regra de votar com o governo quando a matéria interessa ao povo e votar contra, quando as decisões são contra o povo. Mas, o povo não se pronuncia. 

Ora, todas as medidas de qualquer governo podem ser aprimoradas e, por isso, contestadas. Não sendo desse modo, a oposição perde o sentido e o eleitor que nela votou fica confuso.  Foi o que aconteceu com o partido Novo que, durante todo o tempo do governo de Jair Bolsonaro, passou a imagem de um partido sem identidade. 

Dito isso, eu me atrevo a levantar uma questão: quem, entre os candidatos à Presidência, será capaz de, uma vez eleito, defender o que desejam os liberais e esse candidato, uma vez derrotado, terá disposição para permanecer na política e liderar uma oposição ao vencedor? 

Na eleição passada, aquela de 2018, João Amoedo, candidato a presidente pelo partido Novo, apresentou-se como um liberal na economia e conservador nos costumes. Disse isso, com todas as letras, em vários lugares, em especial e com mais detalhes, no Programa Roda Viva, que foi ao ar no dia 21 de maio daquele ano. 

A jornalista Raquel Landim, da Folha de São Paulo, levantou a bola: “O senhor é um candidato liberal ou conservador? O liberal clássico é liberal em todo o espectro e não só na Economia. É a favor do aborto e da liberalização das drogas”. Amoedo retrucou e assumiu o papel de liberal na economia e conservador nos costumes. Pauta semelhante, naquele momento, à apresentada pelo Jair Bolsonaro e avalizada pelo liberal Paulo Guedes. 

Na eleição, João Amoedo foi derrotado no primeiro turno. Ele e os liberais, por óbvio, abraçaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Iniciado o governo, conhecidas as primeiras medidas e a retração da pauta liberal, João Amoedo tentou erguer uma oposição dos liberais. Quem conquistou algum mandato pelo partido se insurgiu.  A decisão era votar com o governo, quando isso interessasse ao povo e etc. Ainda sem ouvir o povo. 

O que houve na relação do João Amoedo com o partido, todos conhecemos e está disponível nas redes. Mas, agora, entramos em 2022, quando o partido Novo escolheu Luiz Felipe D’ávila para disputar a Presidência da República e ele demarcou o terreno, para mostrar-se liberal. 

Para onde iremos nós, os que entendemos que o Estado deve ter um papel bem diferente do que tem hoje na vida dos brasileiros, se Felipe D’ávila, o candidato liberal, não estiver no segundo turno? Seguiremos a pauta de 2018, para votar, novamente, no Jair Bolsonaro? De que lado, estarão Dávilla e o partido Novo? Em Minas Gerais, berço do único governador do partido, Romeu Zema, o Novo, ao que se ouve, fará alianças à esquerda, com o Cidadania e à direita com o PP. Cidadania com Lula, PP com Jair Bolsonaro. 

Que encruzilhada, gente! Mas, seja como for a decisão dos liberais no segundo turno, uma oposição deles a qualquer um dos governos que sair das urnas em outubro será uma estratégia excelente para que a nossa agenda não se perca como se perdeu no primeiro governo do Jair Bolsonaro. 

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Quem manda no país? Você.

Sendo ou não uma democracia, um país é governado por seu povo, por ação, covardia ou omissão. O Brasil de governos autoritários e de governos democráticos não fugiu nem foge à regra. Uma longa história temos para não ficar com dúvida sobre a sina. O povo brasileiro aplaudiu os ditadores e deles se livrou quando se tornaram insuportáveis. 

A nossa gente custa a compreender um problema, mas quando compreende, resolve. Assim foi com a ditadura e com a inflação e pode ser agora com relação ao papel dado ao Estado Brasileiro pelos agentes públicos, servidores, bajuladores ou eleitos. 

O Brasil precisa sair do impasse, que segura a sociedade numa situação, para uns, de extrema miséria e para outros de injustificada riqueza. A saída é pela revisão do papel dos agentes públicos. Eu não tenho dúvida. E só o povo pode exigir e fazer a revisão. 

Luiza Trajano, entrevistada pelo jornal O Globo, no domingo dia 10, disse: “Quem manda no país é o Congresso Nacional”. Na mesma linha trabalha um grupo de ex-alunos do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que criou o movimento GRITA, com o objetivo de conscientizar a população brasileira para a importância do voto que escolherá deputados federais e senadores. 

A opinião predominante, no entanto, é a favor da importância do voto a ser dado aos candidatos à presidência porque um presidente da república, seja quem for, tem instrumentos para fazer o Congresso dançar a música que será tocada pelo Poder Executivo. E disso também existem provas. Quem pensa assim, estende o entendimento para a relação entre os governadores e deputados estaduais, prefeitos e vereadores. 

Esteja a razão com quem estiver, na ponta está o povo, que para escolher uns e não outros ou escolher nenhum candidato, depende das informações que tenha e de poder traduzi-las em algo útil para a seleção que fará. Claro está, no entanto, que tais informações os eleitores não conseguirão com os candidatos. 

Elas e eles estão aí em plena atividade, nas ruas e nas redes. Na imprensa, também. No entanto, que informações oferecem para que os eleitores possam decidir o voto sem o risco de estarem a entrar numa fria ? As candidatos e candidatos dançam, jogam bola, abraçam o povo, distribuem pensamentos incentivadores, criticam uns aos outros. Promovem um bombardeio de informações totalmente inúteis para quem precisa escolher em quem votar. 

Há um vácuo no sistema de informações que pode ser preenchido pelos liberais. É suficiente que eles mostrem serem os únicos a compreender o papel que cabe ao Estado, esse mastodonte consumidor de energia do cidadão sem o menor escrúpulo. O povo sabe que o Estado lhe pesa nas costas. Sabe também que os políticos participam desse peso sem contrapartida. Então, basta que lhes mostrem alternativas. 

A palavra, portanto, está com os liberais. Temos a melhor mensagem, porque sabemos exatamente que incumbência deve ter o Estado, na linguagem do povo reconhecido como governo. Com liberdade para criar e empreender, o povo sairia da armadilha em que está metido. 

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Jair Bolsonaro é isso tudo

Jair Bolsonaro tem mesmo tanto poder?

Seis horas da manhã de domingo, leio numa das páginas do jornal O Globo, o seguinte título: “Confiança na democracia melhora, mesmo com extrema-direita mais agressiva”. Subentende-se disso uma relação de causa e efeito, onde a democracia melhora para contrariar a extrema-direita agressiva. E o título se confirma no artigo que encabeça, escrito pelo professor e cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais. Literalmente escreveu ele: 

“A pesquisa A Cara da democracia traz, em sua quinta edição, uma boa notícia para o país: aumentou o número de brasileiros que não aceitariam um golpe de Estado. Para 59% dos entrevistados, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo…”. 

Adiante, ele afirma: “No entanto, apesar dos avanços importantes em relação ao apoio à democracia no Brasil, há dados que precisam ser observados com bastante cuidado, pois apontam para uma direção contrária (grifo meu). Entre esses resultados está um enorme crescimento, no Brasil, da extrema-direita, especialmente nos últimos dois anos”. 

Caminhando-se mais no roteiro do artigo, chega-se ao seguinte fechamento: 

“(…), a pesquisa revela algo ainda mais intenso, qual seja, o aumento do número de brasileiros que se declaram de extrema-direita…Essa constatação, obtida a partir do levantamento, aponta na direção de um êxito relativo do bolsonarismo em estimular a formação de uma extrema-direita movimentalista (não sei o que representa o adjetivo, por isso grifo) no Brasil…”. 

Pronto, está, novamente, feita a linha de causa e efeito, Bolsonaro formou uma extrema-direita no Brasil e ela representa o risco de um golpe contra a democracia. Desse modo, o professor Leonardo joga por terra todo o valor que a pesquisa poderia ter para quem esteja interessado, de verdade, em conhecer o pensamento do povo brasileiro. 

Contudo, a pesquisa, com a declaração do professor ou sem ela, já teria falhas de método, porque tenta conhecer os valores dos entrevistados com a mesma metodologia que se usa para captar intenção de votos, onde o entrevistador escolhe um entre todos, com o critério simples de “esse sim”, “esse não” e “aprovo” ou “não aprovo”. 

O que é a democracia para quem respondeu que a defende, ou que tem preferência por ela, diante das três possibilidades de resposta apresentadas na pesquisa?  

  1. “Tanto faz um regime democrático ou não democrático”; 
  2. “A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo” e 
  3. “Em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático”. 

Acredito que eu não precise me estender em considerações, porque o questionário da pesquisa e a análise do professor Leonardo falam por si mesmos sobre a intenção da matéria que nasceu com base na pesquisa: vincular dados quantitativos ao pensamento do Presidente Bolsonaro. 

O desejo dos intérpretes chega ao ponto de definir conspirações a partir de bobagens como terra plana, cloroquina, a relação da China com o vírus e a chegada do ser humano na lua, fazendo vínculo de tudo isso com a extrema-direita e da extrema-direta com o “formulador” Jair Bolsonaro.  

Quando se quer conhecer atitudes, motivações e comportamentos, o caminho não pode ser uma pesquisa quantitativa como quer  o jornal O Globo. Para cumprir esse papel, uma pesquisa deve permitir uma análise criteriosa das respostas a perguntas feitas com mais profundidade, algo que Sócrates ensinou o mundo a fazer 400 anos antes do nascimento de Cristo. 

O que é ser extrema-direita? Que circunstâncias alguém acredita que uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático? O que define como democracia quem prefere um regime não democrático?  

Antes da matéria publicada pelo jornal O Globo, a ONG britânica Article divulgou o “Relatório de Expressão Global de 2022”, onde noticia que o Brasil caiu da 31a posição no ranking dos mais livres, conquistada em 2015, para o 89o neste momento. Qual o motivo da queda? A introdução ao relatório esclarece: 

“O Brasil presenciou uma das maiores e chocantes deteriorações na última década sob a influência de um líder democraticamente eleito. O assédio do Presidente Jair Bolsonaro e a estigmatização da mídia andam juntas com persistentes ataques ao judiciário e questionamento à integridade do sistema…”.  O Relatório está disponível na íntegra, em inglês, na rede e a ele se pode ter acesso a partir de um link disponibilizado pelo Boletim da Liberdade, que continua na vanguarda, na garantia da liberdade de expressão. No Boletim todo e qualquer pensamento tem espaço se for relevante para formulações.  

Pois é, gente. Todo o material que me serviu de leitura e análise para o presente artigo me mostra um homem com poderes excepcionais para formar opinião e decidir o destino da Nação que, temporariamente, governa. Ele pode tudo pela lábia e esse é o conceito que querem nos empurrar. 

Ora, na verdade, Jair Bolsonaro é um sujeito que estava parado numa posição qualquer, enquanto a roda da vida se movimentou até encontrá-lo e ele, nela, se encaixou. Houve coincidência de pensamento e essa coincidência levou o eleitor ao voto e o voto colocou Jair Bolsonaro na Presidência. Somente isso. O Presidente tem mais poder para perder posições pelo que fala do que para conseguir adeptos. Isso está claro, claríssimo, na análise que se pode fazer das pesquisas que chegam até nós. 

Acontece que estamos em campanha, ocasião em que a todos e a todas é dada a liberdade de defenderem seus candidatos com qualquer argumento que lhes sirva. É natural. E é ótimo que assim seja. Melhor seria, contudo, se os eleitores brasileiros tivessem um pouquinho mais de discernimento para saber quando há intenção dos agentes políticos de enganá-los ou de esclarecê-los. É aqui que entra a Educação, uma ferramenta fantástica que dá às pessoas a capacidade de decidirem sem serem influenciadas por informações tendenciosas. 

Mas, que pena que o povo que decide as coisas no Brasil não percebe que a garantia para a democracia e o fim da pobreza é a liberdade, uma liberdade que só a Educação entrega. 

Enfim. É o país que temos. 

Boa semana para todos e todas. 

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Vice, serve para quê?

E o Vice? 

“Vice, serve para quê?” Eu ouvi isso de um amigo, alguém de quem respeito muito a inteligência e a capacidade de formular boas estratégias. Ouvi a pergunta, quando comentei com ele a escolha que o governador Cláudio Castro fez para a posição de candidato a vice-governador na chapa de reeleição. 

Não achei que foi a melhor escolha, porque sou defensor de que não se deve escolher um vice só para vencer eleição, mas para dar garantia ao eleitor de que, na ausência daquele ou daquela que escolheram para governar, poderão ser governados por alguém, que atenda às mesmas expectativas. 

Na escolha do vice se sabe se o titular tem a compreensão de um estadista ou de um sujeito que vive a ocasião e ponto final. Não se importa nem com a própria e inevitável morte, porque, uma vez morto, o que virá depois nem é com ele. Só os estadistas enxergam para além do próprio tempo. 

Ora, quem vier a votar no Cláudio Castro, se ele faltar por qualquer motivo, se sentirá de igual modo representado pelo Washington Reis? Eu não me sentiria. Cláudio Castro é o caso de um vice com zero de utilidade eleitoral, mas que, ao substituir o titular, fez cumprir as expectativas dos eleitores dele. E, neste sentido, melhor do que o destrambelhado Witzel faria. 

Os vices no Brasil merecem um capítulo da história só para eles. Nos governos militares, os mineiros serviram como vices. Alckmin, de Castelo Branco, Pedro Aleixo de Costa e Silva, Aureliano Chaves, de Figueiredo. Pedro Aleixo não teve boa sorte, porque quando o titular adoeceu e morreu, os milicos não quiseram saber dele. Deram-lhe o cartão vermelho na maior cara-de-pau. Tancredo tentou vingar Aleixo, mas morreu antes. 

João Goulart, quase não foi presidente. Algum tempo conseguiu ser presidente pela metade e quando decidiu ser por inteiro, mandaram o cara embora. A morte substituiu Tancredo por Sarney, ótimo vice para vencer a eleição no modelo que existia no Brasil, mas incapaz de responder às expectativas que o povo tinha com relação ao titular. 

Collor escolheu Itamar Franco para ser seu vice, por ser um ótimo nome para vencer a eleição, mas nada confiável quando precisou dele. Michel Temer, idem na relação com Dilma. E bem que Dilma sabia e por isso, esperneou para dar a vaga de vice a ele. 

Lula não se ocupou do vice. Fernando Henrique Cardoso também não. E, nos dois casos, se o Brasil precisasse dos vices estaria melhor servido do que com os titulares. Certamente. 

No Rio de Janeiro, os vices também têm história para contar. Benedita passou o diabo nas mãos do Garotinho. César Maia precisou do PSDB para vencer a segunda eleição para a Prefeitura do Rio. Fez de tudo para não precisar, mas, como teve necessidade, aceitou Otávio Leite na Vice-Prefeitura. Como nunca confiou no Otávio, não pode deixar a prefeitura para voltar a ser candidato a governador. Paciência! Ficou soterrado no Rio. 

Eduardo Paes vive situação semelhante com o Vice-Prefeito, que escolheu. Escaldado com a derrota para o governo do estado, Eduardo Paes quis fugir dos riscos, por menores que fossem, de perder uma eleição novamente.  Então, fez um acordo com o PL, para evitar Daciolo, entregou a vice a Nilton Caldeira e agora está agarrado à cadeira até vencer uma nova eleição e ter um vice que seja integralmente, ele, no comando da Prefeitura.

Encerro com uma resposta rápida para o meu amigo: Um vice serve para substituir o titular quando ele menos espera. Por isso, todo cuidado é pouco. 

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ESCRAVO, NEM DE DEUS…

O Estado só faz sentido se for a garantia paga por todos para que todos tenham liberdade, segurança pública e segurança jurídica, que quer dizer leis iguais para todos, indistintamente, todos. 

Ora, ao que se sabe, o Estado Brasileiro falha nos três quesitos. Ele não me garante liberdade, nem segurança pública e já se sabe de sobra, que sequer segurança jurídica. Para que existe ele, então? Explorar e infernizar a vida das pessoas. E cobra caro por isso. 

Quanto à liberdade, nela está a de iniciativa, que a economista Deirdre McCloskey define como o instrumento para vencer a pobreza, como fez no artigo, que publicou durante a semana passada na Folha de São Paulo, “O Cristianismo e o Liberalismo”, reproduzido em parte no Boletim da Liberdade e a mim sugerido para leitura, pelo Gabriel Menegale. 

Os não liberais desacreditam disso. Para eles, só o Estado tem a capacidade de eliminar a pobreza com políticas públicas adequadas. Por isso, defendem um Estado que dê educação, saúde, teatro, ping-pong, petróleo, turismo, casa, comida e tudo o mais que a criatividade e o desejo de um bom emprego dos burocratas consiga alcançar. Em troca, o Estado nada mais pede do que a liberdade do indivíduo. O que é isso, diante de tantos benefícios? 

Deirdre McCloskey, na entrevista ao Paulo Gontijo, do Livres, num hotel em São Paulo, há dois anos, definiu a liberdade, pelo conceito do seu contrário, a escravidão. Disse ela: “Voltando para a origem latina da palavra liberdade, liber significa uma pessoa livre, em oposição às pessoas escravizadas. Então, a crença central do liberalismo é a noção que se tornou popular pela primeira vez nos anos 1700, a de que nós deveríamos ter uma sociedade na qual ninguém é escravo. Nem escravo de um mestre, nem escravo de um marido, nem escravo do Estado”. 

Eu afirmo que, escravo, nem de Deus, porque Ele detesta a escravidão e, por detestá-la, concedeu ao ser humano, o livre-arbítrio. Deirdre cita o livre-arbítrio no artigo “Cristinanismo e Liberalismo”. Diz ela: “o livre-arbítrio, que pela teologia cristã nos é concedido por Deus, combina com a liberdade de escolha na economia”. Combina não! É a própria essência, porque a liberdade de escolha na economia é que livra o indivíduo do pior tipo de escravidão, a pobreza profunda. 

Deus nos fez livres, por ser livre. É na liberdade, no livre-arbítrio, que está o sentido da nossa “imagem e semelhança” com Deus”. Deus precisou ser convincente, paciente e mágico, para fazer com que Moisés conduzisse os judes para fora do Egito. No deserto, alertado por Moisés, Deus arrependeu-se de ter determinado a eliminação dos idólatras e reconsiderou. O livre-arbítrio Deus concedeu e nem Ele pode tirar. Por isso, o mundo vive as mazelas que vive, sem que Deus consiga interferir para evitar. 

Quando o povo encasquetou com a ideia de ter um rei, para ser igual aos seus vizinhos, Deus contestou. Deus reagiu, mas não conseguiu evitar. Cedeu. E olha que Ele usou como argumento a melhor definição que já encontrei para o Estado, algo que faria com que, qualquer indivíduo, com bom senso, desistisse de ter um rei. Mas, o livre-arbítrio anulou o argumento divino. 

Deus avisou: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinquenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. 

E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais , e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará para dar aos seus oficiais e aos seus servos. E também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhes servireis de servos…”(I Samuel 8). 

Nascia o Estado, para quem, todos os demais além de seus agentes, são servos. E como ainda estamos no ambiente do Cristianismo, por sugestão da Deirdre, tragamos João 15:15: “Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor…”. E não sabemos mesmo. Só votamos e deixamos pra lá. 

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Segunda leitura da entrevista do Gov. Zema

 “Subestimei a política”, diz Romeu Zema. 

Antes de tecer considerações sobre a entrevista que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, único do partido Novo, candidato à reeleição, concedeu ao jornal O Globo, eu chamo a atenção para um ponto importante na estratégia de comunicação de um candidato: quem deve ter a pauta? O entrevistado.  E como ele faz isso? Ele constrói a pauta, quando dá resposta às perguntas do entrevistador e com habilidade, consegue conduzir a entrevista para o campo do seu objetivo fundamental: falar com o eleitor e não com o entrevistador. 

A entrevista do governador Zema foi morna e equivocada nos objetivos alcançados e isso permitiu que o editor criasse uma chamada que não falou com os interesses reais do eleitor: “Subestimei a política. O Novo não pode se isolar”. Nela estão a política e o partido, dois temas que, com certeza, o povo mineiro não deve estar muito interessado. No destaque, idem. 

Os temas que dizem respeito diretamente aos desejos dos eleitores, Educação, Saúde e as tragédias causadas pelas chuvas preencheram os espaços das últimas perguntas, porque o governador permitiu que assim fosse a elas destinou respostas curtas, resumidas. Nada de concreto apresentou para justificar a permanência dele no governo e não mostrou realizações. 

No enfrentamento com o principal adversário, Alexandre Kalil, Romeu Zema limitou-se a jogar pedras – o que, previamente, na entrevista, indicou que não gosta de fazer. Ele não apontou as fragilidades do adversário para ser o governador do estado. Pautou-se pelo confronto agressivo, acusatório somente. 

Com relação aos candidatos à Presidência da República, o governador Zema aceita a polarização, porque limita suas considerações aos dois candidatos que estão nos pólos. Zema não apoia Lula, conforma-se com Bolsonaro e não acredita que o candidato do seu partido irá até o dia da eleição. Nas poucas linhas que Luiz Felipe D’avila, do Novo, ocupou na entrevista está a declaração do governador: “Se amanhã, o partido decidir, juntamente com ele, retirar a candidatura e apoiar A,B ou C, eu seguirei”.  Mas, claro, seria deselegante! 

Eis aí mais um fato a mostrar que a estratégia é algo fundamental na condução de uma campanha política. 

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Cláudio Casto e “Zé-Ninguém”

O problema é a arma.

Numa campanha para o Poder Executivo há dois lados: a situação e a oposição. Eles podem se dividir. Tanto a situação pode se apresentar com mais de um candidato – caso raro, mas possível – e a oposição também, com muita frequência. Se a situação está representada por um candidato, ideal é que a oposição não se divida, mas se estiver dividida, isso só será positivo em caso de dois turnos.

Contudo, é com o discurso que se marca posição. A seguir, o discurso que eu faria se fosse oposição ao governador do Estado do Rio de Janeiro:

Até quando os governadores do Rio justificarão a incapacidade de seus governos para investigar a origem das armas que estão nas mãos dos bandidos, com as mortes de pessoas que eles sentenciam pelo simples “ouvir dizer”?  

O governador Cláudio Castro segue a trilha de seus antecessores. De todos eles. No Twitter, o governador justificou as vinte mortes na Vila Cruzeiro, com a apreensão de fuzis, pistolas, granadas e drogas que estavam com traficantes. Nas postagens ele fez uma pergunta: “Com essa apreensão, quantos tiros deixarão de ser dados em direção a cidadãos de bem do Rio, contra policiais, contra quem quer levar uma vida em paz?”

É-nos impossível responder, porque não sabemos  o que será feito com todo o armamento apreendido. Também, nada sabemos sobre como tantas armas e granadas chegaram às mãos dos bandidos. Será que o governador tem resposta para essas duas questões? 

Certamente, não, pois nenhum de seus antecessores teve e por isso, ele, agora, em 2022, age como agiram os seus antecessores nas várias chacinas que ocorreram nas favelas do Rio, pelo menos, desde 1994, com registro especial para a patrocinada pelo Sérgio Cabral no Complexo do Alemão em 2007, quando ele cumpria o primeiro ano de governo.

O cristão Cláudio Castro, na série de posts colocados no Twitter, disse também: “Uma moradora está entre as vítimas e sua morte está sendo investigada”. Ponto final! Simples assim. Afinal, que importância tem a vida de Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que tinha nome e contava 41 anos de idade, e estava em casa naquele momento? Os demais mortos, o governador já sentenciou. As notícias chamam todos de “suspeitos”. Um conceito complicado nas favelas e na política, onde os suspeitos reclamam pelo fato de não serem considerados só “suspeitos” até que se tenha o trânsito em julgado. E o governador está entre eles. 

Vamos lá. Em que reside o problema? Na presença das armas nas mãos de quem não estaria autorizado a tê-las. Por que têm? A quem cabe a obrigação de saber? Diz a nossa Constituição, a nossa vilipendiada Constituição, que a obrigação de saber é dos governadores. Essa é a única obrigação deles com exclusividade. 

Portanto, meu caro governador Cláudio Castro, arregace as mangas de sua camisa e inicie o trabalho e fique com a minha sugestão para suas horas de lazer, se você ainda as tiver diante de tanta obrigação. Leia “Escute, Zé-Ninguém! de Wilhelm Reich. O autor abre o livro com a seguinte passagem: 

“Eles o chamam de Zé-Ninguém ou Homem Comum. Dizem que esta é a alvorada do seu tempo, a “Era do Homem Comum”. Não é você quem diz isso, zé-ninguém. São eles, os vice-presidentes de grandes nações, os líderes operários e os filhos arrependidos da burguesia, os estadistas e os filósofos. Eles lhe dão o futuro, mas não fazem perguntas sobre o seu passado.”

Minha homenagem a Gabrielle Ferreira Cunha, uma mulher que o governador Cláudio Castro, me parece, sequer sabe o nome. Uma “Zé-Ninguém”. 

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O baralho Brasil.

O coelho entra e anuncia:
“Sua Graça!”
“Sua Excelência!”
“Sua Real Majestade!”
“A Rainha de Copas!…”. E, com certo desprezo:
“E o rei! “

A Rainha, então, reclama:
“Quem pintou as minhas rosas brancas de jasmim? Quem, quem? “
Uma das cartas responde:
“A culpa é dele!” e aponta para o 2 de espadas.
“Não, não, minha senhora, a culpa é dele”.
“Quem, tu?” “Não, não, minha senhora, o 2”.
“Eu não! Foi o 5 de paus!”.
“Basta! Cortem as cabeças!’.

O público aplaude. Os soldados carregam os condenados para cumprir a sentença. A Rainha fica maravilhada com a popularidade que consegue.

Alice, a menina criada por Lewis Carroll, está presente e implora piedade em nome dos condenados. A Rainha olha Alice e diz:
“Olha, é uma menina!” Alice responde: “sou…eu só espero…”
A Rainha interrompe aos gritos: “Olha para mim, Fala direito. Pare com essas mãos e fique em posição de cortesia. Abra a boca um pouco mais e diga sempre assim: Oh! Majestade!”

Alice cumpre. A Rainha pergunta: “De onde viestes e para onde vais?” Alice responde. Ou tenta responder: “Quero encontrar o meu caminho”. A Rainha enlouquece, novamente: “Teu caminho? Tudo aqui é meu. Só meu!”

Alice aborrece a Rainha, ao vencê-la num jogo A Rainha, imediatamente, determina que lhe cortem a cabeça. O rei, com todo cuidado e humildade, sugere que a Rainha constitua um júri…”um jurizinho”. O objetivo do rei é salvar Alice. Tinha simpatia por ela.

A Rainha atende e determina: “Podem começar o julgamento”. O coelho assume o papel de promotor e inicia o discurso de acusação: “a ré, com intuitos malévolos, maltratou, atormentou, irritou a nossa amada Rainha…”.
A Rainha impaciente, interrompe o coelho para dizer: “chegue logo ao ponto em que eu perdi a calma”. ( Alice é acusada pelo crime de aborrecer a Rainha). O coelho obedece e segue para o final da explanação, quando mostra que a Rainha ficou aborrecida.

A Rainha, então, pergunta para Alice:
“Queres ouvir a sentença?”
Alice responde: “Sentença? Não há que ser o veredito?”
A Rainha responde: “sentença, primeiro! O veredito, depois”.
Alice retruca: “Mas, não é assim que se faz?”
A Rainha grita: “Quem manda aqui?”
“Sois vós”, responde Alice.
A Rainha insiste: “Cortem-lhe a cabeça”.
O rei interfere, novamente: “Meu bem. E as testemunhas? Não podemos chamar uma ou duas?”

E a história continua. Estamos diante de um clássico da literatura mundial. Algo bem atual, não?