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Caramba!

As pesquisas provocam fortes emoções nos políticos e em quem vive da arte. Com os resultados, uns vibram de alegria e outros trincam os dentes de raiva. A população só desconfia, segue em frente e, no tempo certo, mostra que todos podem ter errado. 

Certamente, é o que aconteceu durante a semana com o resultado do Datafolha. Foram ouvidas 2.065 pessoas, uma amostragem correta e que representou todas as regiões do Brasil, um exercício que só a estatística permite fazer: ouvir a opinião de 200 milhões de pessoas com um processo que seleciona pouco mais de duas mil. 

O Datafolha fez a pesquisa por telefone, por causa da pandemia, e concluiu que o governo do presidente Jair Bolsonaro apresentou uma avaliação de ótimo e bom superior a todas as outras apuradas desde a posse. O salto foi de 32% para 37%. A reprovação (conceitos ruim e péssimo) recuou 10 pontos percentuais, de 44% para 34%. A parcela que nunca confia nas declarações do presidente caiu de 46% para 41% 

Percebi a surpresa de todos, tantos dos contrários como dos favoráveis ao presidente. Vi isso nas redes e no noticiário da imprensa tradicional. Outra pancada forte da surpresa está no quesito de responsabilidade direta do presidente pela morte de 100 mil pessoas, vítimas, no Brasil,  da pandemia. 

Uma questão estranha, mas real, porque o Instituto fez a indagação. Qual seria o objetivo de uma pergunta como essa? O questionário foi apresentado à população no curso de uma campanha forte que fizeram a imprensa e os adversários do presidente, para colocar no colo dele a culpa pelo insucesso das medidas de prevenção. 

Pois bem, com campanha e tudo, 47% dos entrevistados afirmaram que o presidente não tem culpa e 41% que ele tem culpa, mas não é o principal culpado. 11% culparam o presidente. 

As surpresas no campo da disputa eleitoral são consequência de um erro clássico de estratégia, o ato de querer adivinhar com base no atitude de subestimar ou superestimar quem é avaliado.  O Datafolha frustrou os adversários do Presidente, que subestimaram o talento dele para conseguir votos com base nas marolas que ele faz para governar. E, deve ter também surpreendido os aliados que superestimaram o poder demolidor dos adversários, em especial, a imprensa. 

Com relação ao presidente Jair Bolsonaro Já é hora de reconhecerem que o sujeito tem o feeling apurado, quando o voto é o assunto principal e o pouco caso aguçado se em pauta está a preocupação com o ato de governar. 

Uma das estratégias abordadas no livro que publiquei antes das eleições de 2018, “Que raios de eleição é essa?”, está a estratégia 35, exemplificada por uma episódio que presenciei na campanha indireta do ex-presidente Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral. A regra é: Não subestime. Também, nunca superestime. Sempre considere o adversário com o tamanho que ele tem. E para isso, é fundamental, que numa disputa eleitoral o candidato conheça tão bem o adversário como conhece a si mesmo. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Renúncia ou impeachment? Tanto faz

Renúncia ou impeachment? Tanto faz, porque, qualquer que seja o caminho para encurtar o mandato de quem foi legitimamente eleito, exceto a morte, é uma ameaça à consolidação da democracia, um processo que se arrasta há tempos por aqui.

Imaginemos uma estratégia para consolidar a democracia. Como toda estratégia, essa precisa de uma série de ações ligadas ao objetivo, em cenários onde se movimentam oportunidades e ameaças. Se o objetivo é se chegar a uma democracia como ela deve ser, tendo a vontade do povo como base do exercício do poder, uma das vontades a ser respeitada, sem dúvida, é a da escolha dos dirigentes pelo voto. 

Temos eleições, é fato, mas também uma Constituição que qualquer um, por traços de interpretação de interesse pessoal, viola. Nas eleições, somos a democracia do tapetão. 

O primeiro presidente da república, despejado o Imperador, Marechal Deodoro, foi presidente provisório até ser promulgada uma nova constituição. Depois, ele foi eleito por um colégio eleitoral, mas com base na nova carta, que estabelecia a obrigação de haver nova eleição, aí sim, direta, se o mandato presidencial fosse interrompido antes de completada a metade do tempo. E a interrupção aconteceu pela renúncia. 

Os vice-presidentes eram também eleitos, sem vínculo com a chapa presidencial. O Marechal Floriano Peixoto, eleito vice-presidente, assumiu o mandato dado a Deodoro da Fonseca e não convocou eleição. Treze generais discordaram e pediram eleições para se ter o cumprimento da Constituição. Floriano Peixoto fez uma interpretação manca da Carta, prendeu os generais e seguiu na presidência. 

Para contar todas as experiências da história da república do tapetão eu não disponho de espaço e se dispusesse, cansaria o leitor. Alguns casos nos bastam. Getúlio Vargas perdeu a eleição para Júlio Prestes. O candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio, João Pessoa, algum tempo depois da eleição foi assassinado no Recife por um motivo que nada teve com a campanha. Getúlio contou uma história diferente e tomou o poder. 

João Goulart? Esse foi vítima da primeira fake news política: perdeu a presidência por ter se ausentado do país, quando estava, na verdade, no Rio Grande do Sul. E vocês devem lembrar da ginástica e mirabolâncias que fizeram para o pobre presidente não assumir o governo com a renúncia do titular, Jânio Quadros. 

Com os generais no poder, o tapetão do tapetão! O presidente Costa Silva deixou a presidência doente, o vice, Pedro Aleixo, não conseguiu assumir, substituído por uma junta militar. 

E com Tancredo Neves? Outra ginástica se fez para empossar um vice-presidente no lugar de um presidente não empossado, porque o presidente da Câmara dos Deputados, se empossado como mandava a Constituição, deveria convocar novas eleições. E aí haveria o risco de ser eleito alguém fora do figurino. 

Ah! Mas ali tudo era válido em nome da democracia. Veio, então, a Constituição Cidadã e eleições diretas para a presidência. Estamos no quinto presidente eleito, mas dois foram afastados antes do tempo e já se pede a extensão da medida para o terceiro.

Mas, o presidente é maluco e um louco não pode governar o Brasil, dizem hoje sobre o Presidente Jair Bolsonaro. Que seja! Então, quem estaria no papel do Dr. Simão Bacamarte, o alienista de Machado? 

Quem terminará a vida na Casa Verde? Quem são os anormais? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Cautela e caldo de galinha, boa receita

Para qualquer assunto, Machado de Assis tem boas lições, já que da alma e dos costumes humanos conhecia como poucos. De política, eleição e conselhos de estratégia, ele deixou muita coisa.  

Como o meu tema é, foi e será sempre a política, eleições e estratégia, busquei num dos livros de Machado o assunto para hoje. Quincas Borba! Sobre o personagem, disse Machado: “É aquele mesmo náufrago da existência, que ali (Memórias Póstumas de Brás Cubas) aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia”. 

Quincas enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida… chamava-se Maria da Piedade. Quincas Borba apaixonou-se também de um cão, a quem deu o próprio nome. 

Rubião, irmão de Maria da Piedade, está na obra, é o centro dela. Ele fez todo o possível para casar Piedade com Quincas Borba. Não conseguiu, porque Piedade resistiu e depois, porque “um pleuris a levou”. Mas, isso não impediu Rubião de ser o herdeiro da grande fortuna do patrão, que poderia ter tido por cunhado. 

No capítulo cem da obra, falecido o filósofo Quincas Borba, Rubião recebe um convite para ser candidato a deputado. Dr. Camacho, já na política, faz a honra e entre todas as razões de homenagem, cita a necessidade de se evitar que a divisão de votos entre dois candidatos do mesmo lado levem a campanha para a derrota. 

Acontece um diálogo e, “Rubião, comovido, fez ainda outras perguntas acerca da luta e da vitória, se eram precisas despesas já, ou carta de recomendação e pedido, e como é que se havia de ter notícia frequente do enfermo, etc. Camacho respondia a tudo; mas recomendava-lhe cautela. Em política, disse ele, uma coisa de nada desvia o curso da campanha e dá a vitória ao adversário”. 

De outra coisa não tratei na Estratégia 29 do livro “Que raios de eleição é essa?”: Antes de se lançar numa campanha, resolva suas fragilidades.

A cautela sugerida pelo Dr. Camacho ao Rubião tem nome certo: estratégia. Ela é a ferramenta que dá ao candidato a possibilidade de conhecer bem os próprios atributos, tanto os positivos como os negativos. E também os melhores e piores recursos pessoais dos adversários. Uma cautela essencial para saber como se pode vencer.

Conhecer-se bem é fundamental, mas saber quem é o adversário, personalidade, história, fragilidades, capacidade de reagir e de agir dele, essencial. 

Davi era um pastor de ovelhas de pequena estatura física e decidiu enfrentar um gigante, Golias, para livrar o povo hebreu de ser escravo dos filisteus. Saul era o rei e preparou Davi para a luta, colocando sobre a cabeça dele um capacete de bronze e no corpo, uma couraça. Davi começou a andar e sentiu que com toda aquela parafernália, a mesma que usava o adversário dele, não conseguiria vencer. Davi não estava acostumado a andar com o paramento militar. Nunca vestiu-se para a guerra. Então, tirou tudo aquilo do corpo, armou-se com o cajado de pastor de ovelhas e com a funda que usava para vencer os lobos… 

O resto da história todo mundo conhece, aplaude e usa como exemplo da vitória do mais fraco sobre o mais forte. Mas, não foi só pelo conhecimento da própria fragilidade física que Davi venceu. Foi também pela decisão de derrubar o gigante antes que ele chegasse perto. O corpo a corpo seria uma vantagem fatal para o gigante. A estratégia fez Davi vencer a luta, resultado que ele, com lealdade, creditou a Deus. 

Na minha adolescência, pratiquei judô. Fábio, meu professor, ensinava na primeira aula: “A maneira mais fácil para se derrubar um adversário é usando o impulso e o peso dele. Só assim, um japonês franzino leva ao chão um gigante de quimono”. 

A ausência de cautela e escolha da estratégia correta transforma, com rapidez, uma oportunidade de sucesso numa ameaça. De outro modo, não consigo ver as dificuldades que tem hoje o presidente Jair Bolsonaro de lidar com o Congresso Nacional quando, quase com exclusividade na história do presidencialismo esquisito adotado pelo Brasil, conseguiu eleger-se presidente da república levando com ele uma expressiva bancada de deputados federais e senadores. 

Mas, o que fez o presidente dessa oportunidade? Implodiu o partido que deu a ele o diferencial e empurrou para a oposição gente que dançaria, por ele, qualquer música. A oportunidade se tem feito ameaça. Uma estratégia com sinal invertido. 

O presidente da República, definitivamente, não é um político cauteloso. Não atenderia ao requisito solicitado pelo magistral Machado de Assis, na pele do Dr. Camacho. 

Desejo que todos e todas tenham tido um bom domingo de Páscoa. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O coronavírus no organismo político

O coronavírus apareceu no Brasil com as consequências que a gente conhece e, num piscar de olhos, reacendeu uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que propõe transferir as eleições deste ano para 2022. A proposta foi apresentada no início do ano passado por um deputado federal do MDB de Santa Catarina.

O argumento do projeto, no ano passado, era fazer coincidir todas as eleições, num estilo de eleições gerais, que levariam o povo a decidir, de uma só vez, a Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, os Governos Estaduais, Assembleias Legislativas, as Câmaras Municipais e Prefeituras. Algo semelhante, o Brasil já viveu em 1982, quando prorrogados foram os mandatos dos prefeitos e vereadores. Naquele ano, só não houve eleição para Presidente da República, ainda indireta. 

O argumento de agora seria usar o dinheiro do fundo eleitoral no trabalho de combate ao vírus e, na voz do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, evitar que o Congresso Nacional trabalhe menos no combate ao vírus e mais nas campanhas municipais. É claro que a proposta do ministro apresentada diretamente aos maiores interessados, os prefeitos, fez sucesso. E a legítima má vontade que tem o povo com o financiamento dos partidos com dinheiro público ajuda o discurso.  

Se acontecer o adiamento, o povo, mero detalhe nas formulações legislativas no Brasil, será obrigado a conviver mais dois anos com prefeitos e vereadores que gostaria de ver pelas costas, simplesmente, para que o Estado Brasileiro faça melhor uso do dinheiro que os contribuintes entregam. Será que fará? Certamente, não. Afinal, sabe-se que é costume no Brasil, o Estado arrancar dinheiro com o argumento de melhorar o atendimento médico e, no final, desviar o que foi arrecadado para outras finalidades. 

Mas, a proposta é uma boa oportunidade para se debater o financiamento público para as campanhas eleitorais e sustento dos partidos.  

A gente financia com o dinheiro público todos os partidos, gostemos ou não de todos ou de alguns ou mesmo de nenhum. O Congresso Nacional decidiu que seria assim e assim é. Podemos até reclamar do fato, mas sabendo que isso de nada adiantará. O mal está feito.  

O problema dos fundos de campanha e partidário é o mesmo relativo a todos os tributos, numa situação em que o povo paga, recebe pouco de volta  e não é consultado sobre o destino do dinheiro.

O legislador brasileiro deveria criar mecanismos legais que permitam ao contribuinte designar a preferência dele pelos partidos que é obrigado a financiar por intermédio do Estado. Em outros tempos, a consulta seria um processo complicado, mas com a tecnologia do presente, é um ato simples de vontade, que pode ser confirmado com o apertar de uma tecla no computador ou no telefone. 

Então, quem leia pela cartilha do MDB, do DEM, do PTB ou de qualquer outro partido, que declare a sua preferência ao Tesouro Nacional, que destinará aos de preferência dos eleitores a quantia proporcional às indicações que cada um recebeu. 

Se no final do processo, ninguém quiser financiar partido algum – situação bem possível em razão da imagem desgastada dos partidos – os filiados que se virem para melhorar a imagem dos seus partidos ou para buscar financiadores, como se fazia no passado. Os recursos registrados no Orçamento para o financiamento das campanhas e dos partidos seriam redistribuídos na forma que a Lei de Diretrizes Orçamentárias autorizasse. 

Mas, eu tenho certeza que os partidos, por facilidade, segurança e rapidez, farão campanhas para conquistar o coração e a fidelidade dos eleitores, para deles ter algo mais que o voto, a confiança. 

Aí sim, com essa medida, acabaríamos de vez com os partidos de aluguel ou que têm donos, porque quem estivesse a pagar a conta com a chance de cobrar pelo serviço, não deixaria a situação correr frouxa como acontece hoje. 

Que tal? 

Eis aí uma boa estratégia que conseguiria fazer do dinheiro público que vai para as campanhas e para o sustento dos partidos, uma oportunidade de participação política mais efetiva, com gosto de cidadania, e não mais uma ameaça à democracia representativa, como acontece hoje. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Foto: Adriano Machado/Reuters

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Podcast 12: O coronavírus já matou o Estado Brasileiro

Quando se leva a política pra dentro da saúde pública, o povo morre. Vai-se isso hoje com o coronavírus e se fez isso no passado com a varíola. Houve uma revolta contra a vacinação liderada pela oposição. Sobre o tema vale ler “Os Bestializados”, livro de José Murilo de Carvalho.

Escute o podcast de Jackson Vasconcelos.

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Eleição é uma lavoura

“Eleição é uma lavoura”. A lição é do ex-prefeito César Maia e eu a aproveitei em um dos capítulos do livro que escrevi sobre a utilidade que tem a estratégia nas campanhas eleitorais, “Que raios de eleição é essa?”.Escrevi o livro e publiquei pela “Livros Ilimitados” no meio do ano de 2017. O título respondeu a minha dúvida sobre o que seria a eleição de 2018, porque eu percebia, desde as campanhas de 2016, para as prefeituras e câmaras municipais, que algo bem estranho estava para acontecer. E aconteceu. 

As situações inusitadas, depois que ocorrem, autorizam todo tipo de avaliação e teorias sobre as suas causas. Por isso, muita gente atribuiu a vitória do presidente Jair Bolsonaro e da turma de deputados, senadores e governadores que ele carregou para o poder, ao sucesso do trabalho deles nas mídias digitais. Sim, mas não foi só isso, afinal, “Eleição é como lavoura. Os meios de comunicação irrigam, mas só o contato direto semeia”, diz o mago Maia. 

A campanha do presidente Jair Bolsonaro durou quatro anos e não 45 dias. Grande parte dela aconteceu nas ruas e toda ela nas redes, em conexão direta entre umas e outras. As ruas e as redes criavam os fatos, todos estridentes, que alimentaram os eleitores. E, o presidente ainda contou com a ajuda dos adversários. No correr da campanha, os adversários do Jair Bolsonaro perderam as agendas próprias e passaram a funcionar como instrumentos de percussão da música radical do candidato que queriam combater. E quem perde a agenda, perde a eleição. Não tenham dúvida. O resultado da estratégia correta de 2018 governa o Brasil e poderá continuar governando após o primeiro mandato se a oposição não resolver criar uma agenda própria. 

Estamos em ano de eleição municipal e, permitam-me dizer, com o risco até de parecer arrogante; Rede sem rua e sem o discurso adequado é risco de derrota. Sem estratégia, pior ainda. E não tem dinheiro no mundo que resolva isso. 

O exemplo mais recente chegou para nós há pouco, ainda com o calor do forno, vindo dos Estados Unidos. Por lá acontecem as prévias do Partido Democrata para a escolha do candidato que enfrentará o presidente Donald Trump, que está em campanha pela reeleição. Na semana passada aconteceu a Super Terça, dia em que a maioria dos estados americanos realiza, ao mesmo tempo, as eleições primárias. No mundo todo houve expectativa positiva com o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, porque ele vinha despejando uma fortuna na TV, em valores muito acima do usado pelos adversários principais dele, Joe Binden e Bernie Sanders. Binden e Sanders usaram a TV, as mídias digitais e não dispensaram o corpo a corpo e as viagens cansativas de uma ponta a outra dos Estados Unidos. O ex-prefeito Bloomberg jogou todas as fichas na TV, numa campanha de comunicação até bem feita. O resultado das estratégias de Bloomberg, Sanders e Binden está posto. Bloomberg só venceu no território não incorporado, Samoa Americana. E aí eu completo a lição do mago César Maia: “Aperte a mão e ganhe o coração”.

Provavelmente, Joe Binden enfrentará o presidente Donald Trump e para chegar até aqui ele contou com a ajuda do adversário, que lhe deu de presente um ato de perseguição e de acirramento com os democratas. Uma situação que só não custou o mandato do presidente Trump, porque, abriu-se o processo de impeachment no último ano do mandato do presidente, estando ele bem avaliado e já em campanha pela reeleição. Os senadores Republicanos preservaram Trump,  porque seria uma estupidez entregar aos Democratas um fenomenal argumento de campanha num ano de eleição. Tudo em nome da estratégia.  

As primárias nos Estados Unidos quase me matam de inveja. Penso sempre, como deve ser bom estar filiado a um partido que ouve você na escolha dos candidatos que apresentará aos eleitores! Como é bom para os eleitores uma campanha de um ano inteiro de contato com os candidatos, num processo que facilita a avaliação e a escolha. Como é maravilhoso fazer parte de um país onde as campanhas eleitorais são a festa da democracia e nunca, nunca mesmo, atos censurados e repugnantes.

Por aqui, ao que parece, nem os candidatos gostam muito de campanhas. Por isso, quando eleitos e empossados no Congresso Nacional fazem leis que castram a criatividade, reduzem o prazo para a avaliação dos candidatos pelos eleitores e matam a festa e a beleza das campanhas. Mas, um dia isso foi diferente e pasmem, aconteceu quando a ditadura ainda andava por aqui.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Podcast 11: Congresso x Bolsonaro

Durante a semana, o Congresso e o presidente brigaram para saber qual dele usará, como bem entender, o nosso dinheiro. No final, chegaram a um acordo. Mas nós ficamos, novamente, de fora.

Confira o podcast da semana de Jackson Vasconcelos.

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A primeira lei de Newton

Do meu amigo, Rubem Medina, recebi a última pesquisa da XP Investimentos, que foi ao campo nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro, para ouvir 1.000 pessoas sobre o desempenho do governo do Presidente Jair Bolsonaro. 

A pesquisa mostra que antes da posse dele, 63% da população acreditava que o governo seria ótimo ou bom. Uma expectativa natural para o início de um mandato que, no entanto, mudou rápido até chegar à 34% e, praticamente, estacionar aí. A expectativa de o governo ser ruim ou péssimo esteve, no início do mandato, em 15%. Hoje 33% da população já acreditam que o restante do mandato poderá ser ruim ou péssimo. 

Os dados me autorizam afirmar, então, que no ar paira alguma decepção. Mas, com o quê? O que prometeu o governo? 

Jair Bolsonaro assumiu o compromisso de evitar a corrupção, enfrentar o crime, proteger os costumes dos conservadores e destravar a economia, travada pelo Estado.  

Sobre a corrupção, a pesquisa mostra que no mês da posse, 16% das pessoas acreditaram que nos seis meses seguintes a corrupção teria diminuído ou diminuído muito. Agora, em fevereiro, 33% acreditam nisso para os próximos seis meses. Uma evolução a favor do governo. Na outra ponta, 54% das pessoas ouvidas tinham a expectativa de aumento da corrupção nos seis meses seguintes. Hoje, apenas 28% acreditam nisso. Outro dado altamente favorável ao governo. Então, no quesito percepção da corrupção o governo vai bem. 

No combate à violência, a pesquisa mostrou que 47% acreditam que a violência e o crime diminuíram. Só 20% têm o sentimento de que aumentou. Então, aqui também o governo se sai bem. 

Sobre a economia, os dados mostram que 47% acreditam que a economia está no caminho certo e 40% acreditam que não. O governo vence, mas por pouco. Existe um racha na população. 

A expectativa com a economia é, portanto, o quesito frágil. No entanto, o governo Bolsonaro está blindado neste campo, porque só 15% dos eleitores lhe conferem culpa pela desaceleração ou crescimento pífio. 55% creditam o resultado ruim aos governos de Lula (31%), de Dilma (13%) e de Temer (11%). E há os que creditam o resultado a fatores externos, (13%). Então, para 68% da população, os resultados econômicos ruins ainda não atingem o governo. 

Que maravilha de cenário! Ah se o governo aproveitasse melhor esse momento! Mas, apesar de tudo isso, percebe-se que o governo se atrapalha ao mesmo tempo em que passa a ideia de estar inerte diante dos problemas nacionais. 

Para falar de inércia, ninguém melhor que o físico Isaac Newton. Diz ele:  “Se a força resultante sobre um corpo é nula, ele permanece em repouso… Um corpo em repouso tende, por inércia, permanecer em repouso… Para que as tendências inerciais de um corpo sejam vencidas, é necessária a intervenção de uma força externa”. 

O governo precisa de aceleração. Tudo indica que a vontade do governo – pelo menos de alguns de seus agentes –  seja caminhar para a frente, para ampliar o número de pessoas que acham o governo ótimo e bom. Mas, Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros não ajudam. 

A oposição, evidentemente, tem preferência natural por empurrar o governo na direção do ruim e péssimo, mas não parece saber exatamente como fazer isso. Busca auxílio na segunda parte da primeira lei de Newton: tanto mais atrito menos aceleração. Toda vez que o governo se mexe, a oposição cria atritos e, curiosamente, tem contado com a ajuda do presidente e de alguns de seus ministros. Eta gente que gosta de atritos, de confusão! 

A pesquisa XP mostra que, por enquanto, há paciência na população, mas, a qualquer momento isso pode mudar e, se e quando mudar, o governo terá conseguido a façanha de transformar uma oportunidade de ouro em uma ameaça e tanto. Aguardemos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Deu Parasita!

Paulo Guedes acertou em cheio, gente! O cara é mesmo muito bom. Tem feeling. Deu Parasita no Oscar de melhor filme. 

Para tentar algum sucesso para o meu artigo semanal, serei parasita do Guedes e do Bong Joon-ho e tratarei hoje de uma espécie de parasita bem nacional: os donos dos partidos políticos. 

Esse é o momento para tratar deles, porque fala-se muito por aqui em riscos para a democracia e no berço da mais significativa democracia do mundo, os partidos políticos estão na fase de definir, pelo voto dos filiados e eleitores, os candidatos que irão disputar a Presidência da República. 

Por lá é assim que se dá o começo de uma disputa eleitoral. Por aqui, acontece de maneira diferente. Bem diferente! O dedo indicador dos donos dos partidos faz o serviço completo, sem debates, sem convenções e sem conversa. Eles enfiam goela abaixo dos eleitores os candidatos que querem. 

Talvez, por isso, a democracia que temos seja ainda tão pobre quanto a família de quebrados espertos do filme que levou o Oscar. 

Os donos dos partidos, principalmente, daqueles que têm representatividade para levar seus candidatos aos debates e aos melhores tempos de propaganda eleitoral na TV e no rádio, resolveram evitar uma surra parecida com a que levaram na eleição de 2018, quando nomes novos surpreenderam. Eles, então, neste momento, fecham as portas dos seus partidos para novas lideranças. É fácil perceber isso, quando a gente conversa com quem tem vontade de disputar a eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo. E o mesmo movimento deve estar a ocorrer em outras praças pelo Brasil afora. 

A atitude é um abuso, porque os partidos, apesar de terem donos, não são eles os que pagam a conta. Exceto em um, ela é resolvida por todos os contribuintes, entre eles, os que buscam espaço para ingressar na política ou crescer nela. A legislação brasileira não permite candidaturas avulsas e dá aos partidos o monopólio do registro de candidatos. Está posta, portanto, a camisa de força. 

Desse jeito, os donos dos partidos sacrificam a democracia. Com eles, ela corre um risco bem maior do que com as declarações imbecis de quem sai por aí a falar no AI-5 ou  de outras bobagens. Essa situação, posso lhes garantir, é um paradoxo dos tempos novos da política brasileira, porque, na época do generais ditadores, existiu nos partidos a escolha dos candidatos pelo voto dos filiados e com disputas acirradas. A história registra a escolha do Paulo Maluf como candidato à Presidência da República na convenção do PSD, quando ele derrotou, no voto, o candidato dos generais, Mário Andreazza. Sou desse tempo, gente. Eu estava lá. 

Passados os generais, a prática continuou durante algum tempo. Em 1994, o PFL do Rio de Janeiro ficou dividido entre o apoio ao candidato a governador do PSDB, Marcello Alencar e uma candidatura própria, do engenheiro Roberto Procópio Lima Netto. Rubem Medina era o presidente do partido no estado. Houve uma disputa acirrada, numa convenção à qual compareceu, convocado pelo Lima Netto, um observador do TRE-RJ para garantir, não só a lisura da disputa, mas a isonomia das condições dadas às duas propostas. 

Fala-se muito em reforma política. Precisamos mesmo dela, mas só se ela eliminar, de vez, os parasitas que estão entranhados nos partidos políticos. E isso deveria interessar a todos os que disputam o voto dos eleitores, aos da esquerda, do centro e da direita, porque do jeito que estamos caminhando, os eleitores têm resolvido pelo “não voto”,  a dificuldade de encontrar nos pleitos os candidatos que gostariam. E, gente, há risco maior para a democracia do que uma eleição onde os escolhidos são eleitos pela minoria ou sempre pelo voto da rejeição e nunca da esperança. 

É assim que tem sido. É só examinar os resultados das últimas eleições. Daqui a pouco todos deixaremos de votar, porque os nomes que nos apresentam são estupidamente ruins e não há partido por aqui que nos dê melhor escolha.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos