De onde veio essa história de ser brasileiro e nunca desistir, eu não sei bem. Mas, na tentativa de compreender o que é o Estado, tenho vivido um pouco isso. Confesso que vez por outra até desanimo. Agora, por exemplo, depois de acompanhar as campanhas para as prefeituras, conhecer os resultados, ler os discursos de posse dos prefeitos das cidades que julgo mais importantes e conhecer as primeiras medidas deles, eleitos ou reeleitos, pesa um pouco mais a descrença.
Frederic Bastiat, autor de “A Lei”, um livro magnífico, escreveu: “O Estado é a grande ficção pela qual todas as pessoas tentam viver à custa das outras”. É a síntese do que temos na entrada dos prefeitos e vereadores. Prestem vocês alguma atenção e vejam se não estou certo.
Quanto mais o Brasil se enterre de problemas e as cidades em complicações de toda sorte, mais os administradores públicos acreditam que é possível gerar empregos e desenvolvimento metendo-se na vida alheia. O livro de Bastiat deveria ser o manual dessa turma.
Ao revisitar Frederic Bastiat, me lembrei de um artigo que escrevi em 1989 e foi publicado num jornalzinho em Teresópolis, “O Jornal do Muro”. Foi o ano da primeira eleição presidencial depois da eleição de 1960. A campanha começou muito cedo naquele ano e não fugiu ao costume dos discursos contra a corrupção, encerrados na campanha de 60.
Dois candidatos mostraram disposição para reorganizar o Estado Brasileiro: Guilherme Afif Domingos e Fernando Collor de Mello que esteve, em maio, em Teresópolis para uma palestra na Fundação Serra dos Órgãos, FESO, que congrega um grupo de faculdades.
O Presidente da FESO, Irineu Dias da Rosa, me pediu para escrever um artigo para a quarta edição do Jornal do Muro, que seria entregue ao Fernando Collor de Mello, na visita dele. Não bobeei e sapequei lá “Brasil – Nova Realidade”. Num texto longo, eu defendi, como faço até hoje, uma reforma estrutural do Estado Brasileiro, para que a sociedade pudesse voltar a cuidar da própria vida e citei a frase de Bastiat.
Três meses depois, eu soube que o candidato tinha lido o artigo. Soube por ele mesmo, que disse ter gostado e que eu estava certo. Imaginei, então, que se esse cara vencesse, enfrentaria um perrengue danado, mas o povo brasileiro se livraria do peso insuportável que faz o Estado nos seus ombros. No entanto, o cara mal venceu e fez uma das intervenções mais duras e autoritárias registradas pela história econômica no Brasil. E até hoje, ainda se vive a grande ficção registrada por Bastiat com a esquerda no começo de todos os postos relevantes.
Sempre que há eleições, eu torço para que alguém comece a executar a música certa, na velocidade que for, para que o grande público brasileiro, possa assistir a remontagem do Estado. Poderia ter sido agora. Algo assim como o Bolero de Ravel, – que coisa magnífica! Um processo que se inicia com um instrumento e segue incorporando todos os demais, com uma orquestração brilhante. Poderia ser assim na política, o discurso de campanha no papel do tarol, o candidato na posição de maestro e no processo de libertação num crescendo.
O artigo publicado no Jornal do Muro, está republicado no aqui no “Aqui tudo é política”, do jeitinho como foi editado, com alguns erros, mas com muita convicção da necessidade absurda que o Brasil tem de rever o funcionamento deste monstro chamado Estado Brasileiro. Fica aqui a sugestão, leiam “A Lei” e ouçam, novamente, Ravel. É uma forma de continuar a acreditar que, por mais desafiadora que seja uma obra, ela pode acontecer e, sem muitas variações, fazer um bem danado à vida de um povo.
*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.
Por Jackson Vasconcelos