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O ESPADACHIM DELTAN. 

Jackson Vasconcelos. 01.06.2023

Deltan Dallagnol foi ao Roda Viva da TV Cultura na segunda-feira, dia 29, para participar de uma com adeptos do Presidente Lula. Houve muito tiro e Deltan fez da cadeira giratória, lugar dos entrevistados, uma trincheira e da voz, escudo para se defender dos jornalistas: Vera Magalhães, moderadora; Flávio VM Costa, do Intercept Brasil; Bernardo Mello Franco, do O Globo, Camila Mattoso, da Folha de São Paulo, Conrado Corsalette, do Nexo Jornal e Carolina Brígido, do Portal UOL. 

Destaco seis pontos: 

  1. Os jornalistas atuaram na superfície dos temas que escolheram, por objetiva falta de conhecimento mais profundo. Por isso, Deltan Dallagnol, na maior parte das vezes, atuou com a imagem de um explicador, mesmo sendo contestado nas explicações que ofereceu; contestação sem profundidade. 
  2. Deltan Dallagnol aceitou por inexperiência a posição de protetor de Bolsonaro, que os jornalistas, todos e todas, em defesa do presidente Lula, lhe impuseram. 
  3. Deltan fraquejou quando provocado sobre o voto que deu a um projeto que, em tese, pretendeu equiparar os salários de homens e mulheres e se embananou quando confrontado com o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. Não precisava aceitar a provocação, mas aceitou. 
  4. Deltan venceu o jogo e os entrevistadores Flávio VM Costa e Bernardo Mello Franco tiveram um desempenho ruim. Bem ruim. 
  5. Quem assistiu o programa perdeu de goleada. 
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Doutrinar ou ensinar? 

Quando a educação é tema, uma questão deve estar na primeira linha: educar quer dizer ensinar ou doutrinar? Quem doutrina transfere para os outros aquilo que está na sua cabeça sem permitir que o conhecimento e as informações transferidas sejam questionadas ou mesmo usadas como elementos para formação de novos conhecimentos. Quem educa não tem esse egoísmo, pois sabe que a atitude de impedir que novos conhecimentos se formem, é um ato autoritário que desumaniza o outro. 

Isso dito, como se pode conceituar o que andam a fazer as famílias, as escolas e as diversas organizações que dizem cuidar da educação na época mais rica da formação de um ser humano, o tempo infantil? Estão a ensinar  as crianças a construírem o próprio pensamento, para que elas, na relação delas com o mundo, sejam capazes de tomar decisões por si mesmas ?

Se assim é, então estaremos a tratar de algo chamado educação. Caso contrário, haverá doutrinação e a melhor maneira de evitá-la é pelo estímulo à liberdade para se expressar e pela leitura. As crianças são seres com a inteligência em formação, quando o questionamento, a rebeldia diante da falta de lógica e o desejo de entender os atos e fatos são elementos fundamentais. 

O trabalho dos educadores é orientar e nunca impor. A imposição é atitude própria dos doutrinadores. Então, não se deve castigar uma criança por algo errado que ela fez? Antes de se ter a resposta é preciso compreender que educar é um ato de comunicação, onde o que vale é o modo como a informação é compreendida e não como é remetida. 

Portanto, castigar uma criança, pelo modo que for, para fazê-la compreender os riscos que ela corre de sofrer em razão das atitudes que toma, será um ato educativo, se assim a criança entender o castigo em qualquer fase da vida dela.  Mas, se ela receber o castigo com a compreensão de ser ele mero ato de raiva ou imposição de uma vontade sem sentido, uma atitude alimentada pelo capricho, ela se sentirá torturada. 

O que há no Brasil neste momento? Dois grupos de pessoas doutrinam, um com uma conversa enviesada que chama de direita e o outro de esquerda. Estamos criando tribos e não uma nação. Por isso, há fanáticos para todos os gostos. O fanatismo e os dogmas são elementos de doutrinação e nunca de educação. 

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“Lula quer”. 

Todo dia, o Presidente da República quer alguma coisa. Desta vez, ele quer mudar as regras para o concurso público antes de realizá-los às pencas. Para agilizar o cumprimento da própria vontade, Lula deseja aproveitar o trâmite de um projeto que perambula entre o Senado e a Câmara desde 2003, elaborado pelo ex-senador Jorge Bornhausen. 

Na origem, o projeto Bornhausen tem 75 artigos e é bom. Está de bom tamanho! Em sua vida parlamentar, Jorge Bornhausen fez coisas boas que, talvez por serem boas, ficaram pelo caminho. É o caso do Código de Defesa do Contribuinte, que buscou colocar equilíbrio na relação sempre desigual que há entre o fisco e os pagadores de impostos, entre o Estado e o cidadão. 

O projeto Jorge Bornhausen que reorganiza os concursos públicos poderia ser aprovado do jeitinho como veio ao mundo, mas isso, certamente, muita gente não quer e Lula quer menos ainda, pois ele precisa inserir na proposta elementos de escolha subjetiva e discricionária, para que seja possível o partido dele e aliados colocarem no serviço público gente sem mérito, critério já usado para o preenchimento dos cargos de livre nomeação, os chamados DAS. 

O governo Lula é composto por 37 ministérios que abrigam 28 mil cargos de livre nomeação, ao custo mensal de 33 milhões de reais e nesses números não estão incluídas as autarquias, as estatais, nem as fundações e agências reguladoras. Os dados são do Ministério da Economia e foram divulgados pela CNN na entrada do novo governo. 

Sobre a liberdade que quer ter para nomear nas estatais, Lula já avisou e ao avisar, corrobora com o meu sentimento do que ele quer para os concursos públicos. 

As tais funções de livre nomeação, além da falta do mérito como critério,  carregam outra maldição. Elas desestimulam os servidores concursados pela carreira, pois sem apadrinhamento político eles não chegam ao topo. Nunca! Então, resta-lhes buscar apoio ou cumprir uma “tabela de campeonato” enquanto o tempo passa e a aposentadoria chega.  

Toda vez que Lula quer alguma coisa, sinto um frio na espinha e dor no estômago. 

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O Vingador Flávio Dino.  

No governo tem gente demais fazendo coisa de menos, enquanto o povo precisa de gente de menos para fazer o essencial. A agenda do Ministro da Justiça é exemplo de um caso assim. Ele está quase todo o tempo no Congresso Nacional e para tratar do mesmo assunto, do tal PL com título longo, que tem o objetivo, na verdade, de evitar que a internet seja usada com liberdade pela oposição. 

Fui à página do Ministério da Justiça e encontrei as seguintes atribuições: “O Ministério da Justiça e Segurança Pública, MUSP é um órgão da administração pública federal direta, que tem dentre suas competências a defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais; a coordenação do Sistema Único de Segurança Pública, e a defesa da ordem econômica nacional e dos direitos do consumidor. 

O Ministério atua também no combate ao tráfico de drogas e crimes conexos, inclusive por meio da recuperação de ativos que financiem essas atividades criminosas ou dela resultem como a prevenção e combate à corrupção, à lavagem de dinheiro e ao finaciamento do terrorismo. Há um decreto de primeiro de janeiro de 2023, o decreto número 11.348, só para cuidar dessas competências. 

Diante disso, acredito que eu não preciso dizer muito sobre quanto o Ministro da Justiça, Flávio Dino, deixa de cumprir na relação das atribuições que, por lei, lhe cabem, mesmo ele tendo-se como Hulk, um dos Vingadores dos estúdios Marvel, um herói que só se torna herói quando é tomado por uma ira incontrolável. Como ainda não o vimos nesse estado, pode ser que com uma pele verde ele dê conta de todo o recado. Quem sabe? 

Há nisso tudo um outro aspecto. Num debate com o Senador Magno Malta, do Espírito Santo, o Ministro Flávio Dino advertiu: “Uma rádio é regulada? Sim. Uma TV? Sim. A família? Sim. O parlamentar? Sim. Uma farmácia? Também. Uma fazenda? Um banco? Também. Por que só as plataformas tecnológicas não podem ter regulação, se todas as atividade humanas, lucrativas ou não, têm regulação?” O Ministro, em defesa da tese, argumenta com uma premissa falsa. 

A Lei 12.965, de 23 de abril de 2014, chamada Marco Legal da Internet, é a regulamentação que o Ministro diz não existir. Ocorre que essa regulamentação não é a que ele e o governo que ele representa querem. Não há outro motivo para o apelo que o ministro e o governo fizeram ao STF, para modificar a lei, embora a Constituição não dê aos supremos ministros competência para tal. Mas, diante do que temos visto no Brasil, que valor tem a Constituição Brasileira? 

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Nós quem? 

O Senador Randolfe Rodrigues explodiu em cólera na sessão do Senado Federal, logo após o canal CNN veicular imagens da invasão do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, onde o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, homem de confiança do Presidente Lula, aparece entre os baderneiros. Disse o Senador Randolfe, referindo-se ao PT e aos adversários de Jair Bolsonaro: “Nós somos as vítimas do 8 de janeiro. Por isso, naquele dia, prendemos mais de mil e é por isso que nós temos, sequencialmente, feito as operações conduzidas pelo STF e pela Polícia Federal”. Nas palavras do Senador, o STF e a Polícia Federal estão à serviço dele e dos partidos do governo. 

Junte-se isso à resposta dada, em Nova York, pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, a um eleitor do Jair Bolsonaro e se tem o quadro de uma campanha onde o Supremo Tribunal Federal e a oposição a Jair Bolsonaro caminharam juntos. Disse o Ministro: “Perdeu mané, não amole”. Ou seja, “nós vencemos e vocês perderam”. 

Tenha o “Perdeu Mané”, esse sentido ou não, se somos, de verdade, uma democracia, toda vez que é encerrada uma campanha e divulgados os resultados, feita a diplomação e empossados os eleitos, o jogo está jogado. Os vencedores governam e os derrotados assumem o papel de opositores ao governo, pois deste modo, todos os eleitores estarão representados, tanto os que votaram nos vencedores, como os que escolheram os que perderam. 

Uma democracia estará em risco e poderá desaparecer quando a cidadania dos eleitores que votaram nos candidatos que perderam for anulada à espera de uma nova eleição, que, por falta de oposição, repetirá, com certeza, o resultado da eleição anterior. É desse jeito que muitas tiranias se instalam. 

Portanto, a campanha de 2022 está encerrada, gostemos ou não do modo como ela ocorreu. A partir do resultado é preciso que a oposição exerça com liberdade o papel que lhe cabe, principalmente, no Congresso Nacional, sem que um dos lados tome para si a caneta do Poder Judiciário como deseja ou já faz, o Senador Randolfe Rodrigues. Se as palavras dele não forem só força retórica, a oposição corre o sério risco de não sobreviver e com ela desaparecerá também a democracia. 

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Uma nota que denota constrangimento. 

Uma boa notícia não precisa ser anunciada com constrangimento, como fez o Partido Novo quando comunicou a decisão de utilizar os rendimentos do Fundo Partidário. A deliberação do partido indica que seus dirigentes reconheceram, finalmente, que os partidos, nas eleições, disputam um lugar no poder para que o que pregam não seja mera poesia ou carta de intenções. 

Ora, o povo brasileiro decidiu financiar os partidos e as campanhas eleitorais com o dinheiro dos impostos. Está na lei. Há quem defenda a ignorância do eleitor sobre o fato. Não sou desses. Mas, se a decisão do povo é consciente ou não, o próprio Partido Novo pode dizer pelos resultados eleitorais obtidos por seus candidatos quando levam para as ruas o discurso de purificação do modelo pelo uso exclusivo do dinheiro privado. 

Quando o Partido Novo, com os princípios que defende para a gestão do dinheiro do povo, entra no ambiente de uso do recurso para o financiamento do partido e das campanhas, certamente, a população perceberá que, de fato, há um problema quando os partidos usam o dinheiro dela: o modo como usam. Tenho certeza, que o Partido Novo, no modo como usará o dinheiro que o povo disponibiliza para os partidos e campanhas, demonstrará, pela diferença de comportamento, que o problema não está no financiar, mas na transparência sobre o que é financiado e com quais objetivos. 

Ora, para que haja democracia, há que existirem eleições e elas são disputas no campo da comunicação convincente, algo que não se faz sem recursos. Então, alguém precisa disponibilizar esses recursos e se sabe, ao cansaço, que aqui e na mais festejada democracia do mundo, a americana, quem financia as campanhas exerce o poder conquistado através delas. Não é melhor que o povo cumpra esse papel? Eu, por isso, dispenso o constrangimento presente na comunicação que fez o Partido Novo. Há motivo para se festejar. 

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Que democracia é essa?

Que democracia é essa a defendida pela esquerda brasileira? Uma democracia que permite que cidadãos eleitos legitimamente e legalmente percam os mandatos que receberam dos eleitores por um simples ato deliberativo da Justça, em que o povo seja ouvido ou o cidadão cassado tenha dito assegurado o direito de se manifestar para exercer o democrático direito de se defender e exercer o contraditório? Isso não é uma democracia e as deliberações que tornam isso um fato são antidemocráticas.

Eu me lembro da alegria com que o povo brasileiro recebeu a Constituição de 1988, elaborada pelos representantes que ele elegeu e com a participação dos diversos segmentos da sociedade nos corredores do Congresso Nacional . Em 1964, quando a ditadura derrubada em 1988, iniciou-se, o deputado Afonso Arinos fez um discurso na Câmara que tornou notável a seguinte passagem: “A mocidade de hoje não tem ideia do que foram aquelas horas de frenético entusiasmo, em que assistimos a democracia brasileira ressurgir, límpida e nua, dos andrajos de uma escravidão de tandos anos…”. Ele fez referência à deposição de Getúlio, um ditador não eleito e deposto pela vontade do povo.

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RIO, O ELEITOR É O PROBLEMA.

O Rio, de Janeiro a Janeiro. 

Atribui-se o esvaziamento econômico e político do Rio de Janeiro, estado e cidade, à transferência da Capital da República para Brasília e ao desaparecimento do estado da Guanabara, pela fusão da cidade com o estado. A rebeldia de quem entende o processo desse modo fez nascer o enredo de decisões tomadas à revelia dos representantes da cidade, fato que a história não confirma. 

Sabe-se que a transferência da Capital foi inserida na Constituição Federal por proposta de um senador fluminense, Quintino Bocaiúva e lá ficou diante dos olhos dos parlamentares que representavam o povo da Cidade do Rio de Janeiro, até que o presidente Juscelino Kubitschek transformou-a em realidade. Poucos se insurgiram. 

Dizem que o Rio não foi recompensado ou indenizado por perder a qualidade de Capital da República. Não é verdade, uma vez que, transformado numa cidade-estado, passou a arrecadar os impostos de competência de duas unidades federativas. O povo carioca, antes governado por governadores indicados pelo Presidente da República, ganhou autonomia para elegê-los. Elegeu Carlos Lacerda e seu opositor, Negrão de Lima. Carlos Lacerda deixou uma conta alta para Negrão pagar, nela inseridos quatro meses de salários atrasado e obras por terminar. O Túnel Rebouças foi inaugurado por Lacerda, às pressas, ainda não asfaltado, para que representasse um legado no currículo de um governador que gostaria de ser presidente. Lacerda criou empresas estatais para confrontar o governo federal, a quem se opunha.  

Depois, em 1974, a Guanabara desapareceu e a Cidade do Rio de Janeiro foi incorporada ao estado para ser a sua capital. Os críticos insistem até hoje, que, de igual modo, a decisão deu prejuízos à Cidade sem recompensa. E, novamente, tentam emplacar a imagem de uma decisão à revelia dos políticos locais. Contudo, a fusão foi proposta por um deputado federal eleito pela Guanabara, Célio Borja, ao Presidente da República, Ernesto Geisel. Célio, certamente, quis ser governador da nova unidade federativa. Não conseguiu, porque o Presidente Geisel nomeou o Almirante Faria Lima para tirá-lo da Presidência da Petrobras. 

A Cidade do Rio de Janeiro, ao ser incorporada como capital ao Estado do Rio, passou a compor um território bem mais vasto e viu ampliado o litoral, hoje o terceiro maior do Brasil, com potencial para a indústria da pesca, esportes aquáticos e turismo. 

O Rio ganhou o caráter de capital de um estado onde estavam a Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Refinaria da Petrobrás e outros patrimônios com enorme potencial econômico. Além disso, poucos meses antes da fusão, o governo federal entregou ao estado e à cidade, a ponte Rio-Niterói, que deu impulso à indústria da construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, elemento multiplicador exponencial de trabalho, renda e impostos, não só em razão da construção da ponte, mas pelo canteiro de obras que se instalou em Niterói para novas moradias e empresas. 

Então, as lamentações pela perda da condição de Capital da República e fusão da Cidade do Rio de Janeiro com o Estado do Rio, não fazem sentido. É choro sem motivo de um povo que não soube aproveitar as oportunidades econômicas que a transferência da Capital e depois a fusão ofereceram. Durante muito tempo, tudo o que se fez por aqui tinha o caráter provisório, porque a decisão de transferir a Capital da República e a fusão deveriam ser desfeitas. 

Mas, mesmo assim, a natureza garantiu outras oportunidades. Destaco a ECO-92, que poderia ter feito da cidade e do estado exemplo de locais com altos índices de saneamento básico e aplicação de sistemas modernos de conservação do ambiente. Destaco também a realização de duas Copas do Mundo, dos Jogos Pan Americanos, Olimpíadas e outras realizações com visibilidade de potencial econômico que ficaram pelo caminho e deixaram escombros de obras mal-feitas ou inacabadas. 

Fizemos péssimas escolhas na hora de votar. Conseguimos a proeza de reunir numa mesma personalidade, os ex-governadores Chagas Freitas e Amaral Peixoto. Um da Guanabara e outro do Estado do Rio. Do casamento deles nasceu Leonel Brizola, que gerou Saturnino, Marcello Alencar, César Maia, Garotinho e Eduardo Paes. Sobreviver a essa gente seria impossível, mesmo com todas as oportunidades que nos foram oferecidas pelo destino em razão do enorme presente que a natureza nos deu. 

Em 1982, os estados retomaram a autonomia administrativa. Em 1985, foi a vez das capitais e cidades consideradas de interesse para a segurança nacional. Os generais, então, começaram a deixar o poder, depois de mais de 20 anos no comando da Presidência da República. 

O Estado do Rio de Janeiro elegeu Leonel Brizola. Instalou-se o que ele mesmo denominou “Socialismo Moreno”, política que definiu o crime como última opção dos miseráveis por um prato de comida e algo para beber. Para evitar que o crime pelo prato de comida proliferase, Brizola criou escolas de tempo integral, que a vaidade dele permitiu serem chamadas de Brizolões. O modelo educacional aplicado inspirou-se no antropólogo Darcy Ribeiro. O objetivo era manter os filhos dos pobres nas escolas o dia todo para tirá-los do crime. As horas de estudo e alimentação seriam o elemento oferecido pelo Estado para concorrer com o dinheiro farto e fácil das drogas. Para substituir o tênis, a menina virgem e bonita e tudo o que o dinheiro fácil poderia comprar, o governador oferecia café da manhã, almoço, livros e uma cadeira dura numa escola. Não passou pela cabeça do “Socialismo Moreno”, que o combate direto ao crime seria mais eficaz. Nada disso. Gastou-se fortunas com a construção de escolas à beira das estradas para que o povo pudesse ver. 

Eleito governador, Leonel Brizola ganhou a prerrogativa de escolher um prefeito para a Cidade do Rio de Janeiro. Escolheu Marcello Alencar e depois Jamil Haddad. Em 1985, o povo foi chamado para escolher. Escolheu que Brizola gostaria que fosse o escolhido, Saturnino Braga e a Cidade faliu, um fato inédito na histórias das cidades brasileiras e se bobear, das cidades no mundo inteiro. 

Contou-se as mentiras de prejuízo com a transferência da Capital para Brasília e com a fusão. Depois, a mentira maior dos Brizolões sendo armas para tirar as crianças do crime e depois, tudo isso, somado, criou a mentira dos grandes eventos internacionais e dinheiro ganho com as festas no carnaval e réveillon. 

A verdade está num fato. O povo escolhe os governadores e prefeitos e eles não têm a menor noção do que fazer com o estado e com as cidades que nele estão. Sequer têm noção do potencial que há a ser explorado. Por isso, seguimos sendo o estado onde o crime encontrou um ambiente altamente favorável e se instalou nas favelas, nos palácios, em todas as brechas que encontra pelo caminho. 

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Os donos da verdade ou verdade dos donos?

Existem os donos da verdade e a verdade dos donos. Todos os seres humanos deveriam ser donos da verdade, principalmente, quem tem a obrigação de prestar informações ao povo. O que é verdade, é verdade e ponto final. O dono da verdade não mente. Já a verdade dos donos da informação pode ser uma grande mentira, que só seja verdade para eles. 

Um fato para ser verdade necessita ser real. A verdade é objetiva. É inegável! É clara e evidente. Não há verdade subjetiva. Fora da verdade estão a mentira e a opinião, sendo que a mentira é a ausência completa de relação do fato com a realidade e a opinião, algo ainda não testado pela realidade, por falta de conhecimento. Alguém com posições sobre fatos sem conhecimento pleno da realidade tem opinião. A partir do momento em que os fatos se encaixam à realidade, a opinião passa a ser uma verdade e quando não se encaixam, mentira.  

A imprensa e o Estado têm a obrigação de prestar informações ao povo. Deveriam ser os donos da verdade, mas quase nunca são. São donos da opinião e da mentira e a transmitem como sendo verdade. Verdade só deles, A verdade dos donos da informação. 

Portanto, a ordem dos fatores influencia o resultado. Ser dono da verdade e divulgá-la é virtude. Vício é criar uma informação a partir de um fato que se sabe ser uma mentira, porque contraria a realidade ou ser mera opinião, pois está sujeita ainda a ser testada com a realidade, e transmiti-la aos outros como verdade. Ser dono da verdade é ter força moral. A verdade do dono é distorção. 

É o que acontece com relação ao ocorrido em Foz do Iguaçu, quando dois sujeitos armados se enfrentaram e um deles morreu. O outro ficou gravemente ferido. De pronto, sem muito pensar, afirmou-se que a paixão deles por candidatos diferentes à presidência foi a causa do duelo, a única. 

Criou-se, então, o “crime político”, que é uma ficção, porque a legislação não define um ato político como crime. Para atender à ocorrência em Foz do Iguaçu a lista de crimes definidos pela lei é suficiente. 

A verdade sobre o que houve em Foz do Iguaçu só será estabelecida quando a opinião encontrar-se com a realidade. Isso é investigação. É conhecimento. Contudo, para alguns, pouco importará o resultado da investigação e da realidade. Eles já construíram uma versão para si e a querem estabelecer como verdade a ser informada. 

Os jornalistas, em especial, Bernardo de Mello Franco e Miriam Leitão, são exemplos. Por antipatia legítima ao presidente, eles e elas praticam o ato ilegítimo de criar informações, que contrariam a realidade e as empurram para as pessoas como verdade – verdade só para eles, só deles. 

A verdade de poucos donos, que os não donos chamam de narrativa, está presente o tempo todo na campanha eleitoral para a Presidência da República. É prática dos jornalistas, que não estão sozinhos com ela. Os agentes do Estado agem de igual modo. 

Ora, sabemos todos que os gastos do Estado com valores acima do que lhe é autorizado pelo povo, representados pelos impostos, cria inflação, desvaloriza a moeda e aumenta a dívida que será impingida às gerações que sequer ainda estão no mundo. Os agentes do Estado, por conveniência eleitoral, afirmam que isso é uma narrativa. Mas, a realidade caminha para outro lado. 

A democracia é a garantia de liberdade para pensar e exprimir o pensamento e mentir está nesse campo. Não há impedimento para a mentira. Mas, quando se tem os instrumentos de divulgação dos fatos, a ética é o elemento limitador para a mentira. Uns têm, outros não. Mas, a democracia sabe conviver também com isso. 

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Romeu Zema e o Globo.

Público do Zema.

 “Subestimei a política”, diz Romeu Zema. 

O sistema Globo tem entrevistado os candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. O governador Romeu Zema foi um deles. Ele, a exemplo de quase todos, deixou a pauta nas mãos do entrevistador.  

De tudo o que disse Zema, o editor criou a chamada, “Subestimei a política. O Novo não pode se isolar”. Tivemos, então, as palavras do governador de Minas Gerais, candidato à reeleição numa entrevista em que ele cuidou, quase exclusivamente, da política e do partido, temas que se sabe, são irrelevantes para os eleitores. 

Os que dizem respeito diretamente aos desejos dos eleitores, Educação, Saúde e as tragédias causadas pelas chuvas, preencheram os espaços das últimas perguntas e nada, nadinha de concreto, ele apresentou para justificar a permanência à frente do governo. 

Sobre o adversário mais competitivo, o Prefeito de Belo Horizonte,  Alexandre Kalil, Romeu Zema nada disse além de provocações. Pautou-se pelo confronto agressivo e acusatório. Não mostrou aos eleitores os motivos pelos quais Kalil não pode substituí-lo. 

Os candidatos à presidência foram também pauta da entrevista. Zema deixou claro que não apoia Lula, mas não fez isso com a mesma clareza com relação ao Jair Bolsonaro e, só de passagem, sem maiores justificativas para o voto, fez comentários sobre o candidato do partido dele, Luiz Felipe D’avila. 

Um candidato não pode, mesmo com a justificativa de evitar os riscos de uma comunicação imperfeita, deixar que a pauta de uma entrevista seja do interesse, exclusivo, do entrevistador. Numa entrevista, o candidato não conversa com quem o entrevista, mas com quem tomará conhecimento da entrevista com o desejo de decidir o voto. 

Em suma, Zema falou para os filiados do Novo, gente que votará nele sem pedir maiores explicações.