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RIO, O ELEITOR É O PROBLEMA.

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O Rio, de Janeiro a Janeiro. 

Atribui-se o esvaziamento econômico e político do Rio de Janeiro, estado e cidade, à transferência da Capital da República para Brasília e ao desaparecimento do estado da Guanabara, pela fusão da cidade com o estado. A rebeldia de quem entende o processo desse modo fez nascer o enredo de decisões tomadas à revelia dos representantes da cidade, fato que a história não confirma. 

Sabe-se que a transferência da Capital foi inserida na Constituição Federal por proposta de um senador fluminense, Quintino Bocaiúva e lá ficou diante dos olhos dos parlamentares que representavam o povo da Cidade do Rio de Janeiro, até que o presidente Juscelino Kubitschek transformou-a em realidade. Poucos se insurgiram. 

Dizem que o Rio não foi recompensado ou indenizado por perder a qualidade de Capital da República. Não é verdade, uma vez que, transformado numa cidade-estado, passou a arrecadar os impostos de competência de duas unidades federativas. O povo carioca, antes governado por governadores indicados pelo Presidente da República, ganhou autonomia para elegê-los. Elegeu Carlos Lacerda e seu opositor, Negrão de Lima. Carlos Lacerda deixou uma conta alta para Negrão pagar, nela inseridos quatro meses de salários atrasado e obras por terminar. O Túnel Rebouças foi inaugurado por Lacerda, às pressas, ainda não asfaltado, para que representasse um legado no currículo de um governador que gostaria de ser presidente. Lacerda criou empresas estatais para confrontar o governo federal, a quem se opunha.  

Depois, em 1974, a Guanabara desapareceu e a Cidade do Rio de Janeiro foi incorporada ao estado para ser a sua capital. Os críticos insistem até hoje, que, de igual modo, a decisão deu prejuízos à Cidade sem recompensa. E, novamente, tentam emplacar a imagem de uma decisão à revelia dos políticos locais. Contudo, a fusão foi proposta por um deputado federal eleito pela Guanabara, Célio Borja, ao Presidente da República, Ernesto Geisel. Célio, certamente, quis ser governador da nova unidade federativa. Não conseguiu, porque o Presidente Geisel nomeou o Almirante Faria Lima para tirá-lo da Presidência da Petrobras. 

A Cidade do Rio de Janeiro, ao ser incorporada como capital ao Estado do Rio, passou a compor um território bem mais vasto e viu ampliado o litoral, hoje o terceiro maior do Brasil, com potencial para a indústria da pesca, esportes aquáticos e turismo. 

O Rio ganhou o caráter de capital de um estado onde estavam a Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Refinaria da Petrobrás e outros patrimônios com enorme potencial econômico. Além disso, poucos meses antes da fusão, o governo federal entregou ao estado e à cidade, a ponte Rio-Niterói, que deu impulso à indústria da construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, elemento multiplicador exponencial de trabalho, renda e impostos, não só em razão da construção da ponte, mas pelo canteiro de obras que se instalou em Niterói para novas moradias e empresas. 

Então, as lamentações pela perda da condição de Capital da República e fusão da Cidade do Rio de Janeiro com o Estado do Rio, não fazem sentido. É choro sem motivo de um povo que não soube aproveitar as oportunidades econômicas que a transferência da Capital e depois a fusão ofereceram. Durante muito tempo, tudo o que se fez por aqui tinha o caráter provisório, porque a decisão de transferir a Capital da República e a fusão deveriam ser desfeitas. 

Mas, mesmo assim, a natureza garantiu outras oportunidades. Destaco a ECO-92, que poderia ter feito da cidade e do estado exemplo de locais com altos índices de saneamento básico e aplicação de sistemas modernos de conservação do ambiente. Destaco também a realização de duas Copas do Mundo, dos Jogos Pan Americanos, Olimpíadas e outras realizações com visibilidade de potencial econômico que ficaram pelo caminho e deixaram escombros de obras mal-feitas ou inacabadas. 

Fizemos péssimas escolhas na hora de votar. Conseguimos a proeza de reunir numa mesma personalidade, os ex-governadores Chagas Freitas e Amaral Peixoto. Um da Guanabara e outro do Estado do Rio. Do casamento deles nasceu Leonel Brizola, que gerou Saturnino, Marcello Alencar, César Maia, Garotinho e Eduardo Paes. Sobreviver a essa gente seria impossível, mesmo com todas as oportunidades que nos foram oferecidas pelo destino em razão do enorme presente que a natureza nos deu. 

Em 1982, os estados retomaram a autonomia administrativa. Em 1985, foi a vez das capitais e cidades consideradas de interesse para a segurança nacional. Os generais, então, começaram a deixar o poder, depois de mais de 20 anos no comando da Presidência da República. 

O Estado do Rio de Janeiro elegeu Leonel Brizola. Instalou-se o que ele mesmo denominou “Socialismo Moreno”, política que definiu o crime como última opção dos miseráveis por um prato de comida e algo para beber. Para evitar que o crime pelo prato de comida proliferase, Brizola criou escolas de tempo integral, que a vaidade dele permitiu serem chamadas de Brizolões. O modelo educacional aplicado inspirou-se no antropólogo Darcy Ribeiro. O objetivo era manter os filhos dos pobres nas escolas o dia todo para tirá-los do crime. As horas de estudo e alimentação seriam o elemento oferecido pelo Estado para concorrer com o dinheiro farto e fácil das drogas. Para substituir o tênis, a menina virgem e bonita e tudo o que o dinheiro fácil poderia comprar, o governador oferecia café da manhã, almoço, livros e uma cadeira dura numa escola. Não passou pela cabeça do “Socialismo Moreno”, que o combate direto ao crime seria mais eficaz. Nada disso. Gastou-se fortunas com a construção de escolas à beira das estradas para que o povo pudesse ver. 

Eleito governador, Leonel Brizola ganhou a prerrogativa de escolher um prefeito para a Cidade do Rio de Janeiro. Escolheu Marcello Alencar e depois Jamil Haddad. Em 1985, o povo foi chamado para escolher. Escolheu que Brizola gostaria que fosse o escolhido, Saturnino Braga e a Cidade faliu, um fato inédito na histórias das cidades brasileiras e se bobear, das cidades no mundo inteiro. 

Contou-se as mentiras de prejuízo com a transferência da Capital para Brasília e com a fusão. Depois, a mentira maior dos Brizolões sendo armas para tirar as crianças do crime e depois, tudo isso, somado, criou a mentira dos grandes eventos internacionais e dinheiro ganho com as festas no carnaval e réveillon. 

A verdade está num fato. O povo escolhe os governadores e prefeitos e eles não têm a menor noção do que fazer com o estado e com as cidades que nele estão. Sequer têm noção do potencial que há a ser explorado. Por isso, seguimos sendo o estado onde o crime encontrou um ambiente altamente favorável e se instalou nas favelas, nos palácios, em todas as brechas que encontra pelo caminho. 

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