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Chega de briga! Chamem a política

Quem deveria amenizar os efeitos da crise e organizar a saída briga por tudo e por qualquer coisa, só para impor a vontade e a opinião pessoal. Dane-se o outro. Dane-se a lógica. 

Ouve-se um vozerio infernal vindo de todos os lados. Barulho de vozes e panelas. Os três poderes falam ao mesmo tempo coisas diferentes, juntam-se à imprensa e engalfinham-se numa luta sem trégua. Todos querem ter razão. 

A política pede passagem para o diálogo e compreensão. 

Há vários significados para a política. Eu fico com o que a define como a solução pacífica para os conflitos humanos. Eles não são poucos e estão em todas as relações humanas, inclusive, no amor. A política torna possível a convivência dos contrários, pela fórmula entregue pela monja Cohen, fundadora da Comunidade Zeb-Budista do Brasil, no livro A Monja e o Professor”: “Os opostos convivem, desde que cada um reconheça a diferença como um dado a descobrir mais do que enfrentar”. O Professor da obra é o pop star Clóvis de Barros Filho. 

Onde estiverem a violência e a incapacidade de entender o outro, não estará a política. Nas guerras, ela só se manifesta no tempo dos acordos de paz, porque a política não mata.  Ela revigora. 

Então, não faz o menor sentido dizer-se que há política na confusão que está armada no Brasil. Não há! E lembremos que a incapacidade para dialogar, para respeitar a liberdade do outro de pensar diferente levou o Brasil várias vezes à ditadura. E todas as vezes, a política entrou em campo para devolver a liberdade. 

A política fez o recuo necessário no movimento pela eleição direta para presidente da república e, desse modo, abriu espaços para que a sociedade avançasse até a eleição de Tancredo Neves, ainda no Colégio Eleitoral. A política construiu o consenso na Assembleia Nacional Constituinte.  O povo que foi às ruas pela eleição direta, esteve, algo depois, nas galerias e corredores do Congresso Nacional para com os Constituintes, elaborar a nova Constituição. Eu fui um dos espectadores privilegiados de todo o movimento no Congresso: da frustração da proposta de “Diretas Já” à promulgação da Nova Carta. 

E a resistente e invencível inflação? Tentou-se um sem número de vezes acabar com ela pelo tranco, sem a política, sem a participação de todos e vezes mil, os que tentaram quebraram a cara. Ela só foi vencida, quando a política entrou em campo e se negociou a solução com o povo e se fez isso com transparência. Eis a política! 

Negociando-se, e não na truculência que se vê hoje, o Brasil encontrou novos caminhos e atalhos.  

Hoje, os agentes públicos, que se auto-intitulam políticos, querem vencer a crise pela truculência, pela disputa entre opiniões, sem a política. É impossível. 

Voltando às ruas a gente já vê o enorme estrago que fez o isolamento inevitável nas empresas, nos empregos, nos sonhos estimulados pela poupança de anos. O Estado faz remendos, mas, se sabe que nenhum deles evitar a desolação, até porque os limites do Estado estão fincados na capacidade que o mercado tem para contribuir com os impostos. Eu chego a imaginar que a recuperação será impossível, mas socorro-me numa frase que retirei de um dos volumes dos Diários da Presidência de FHC: 

“O impossível é sempre mais sedutor que o possível”. A saída impossível será pelo caminho que os agentes públicos escolheram até aqui. Mas, o que há de sedutor nesse “impossível” é a possibilidade de eles – cada um deles – estejam no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário, compreenderem que já basta de confusão e que é hora de chamar a Musa que todos eles sempre disseram venerar: a política. 

É hora de união nacional, porque o adversário dessa vez é, de fato, um inimigo poderosíssimo. Foi-nos mandado pela Mãe Natureza, depois de todos os atrevimentos que ela recebeu e tem recebido dos humanos. Dessa vez não há escolhidos. 

A população está insegura e quanto retornar às ruas, mais insegura ficará, porque, afinal de contas, o “próximo”, aquele a quem Cristo manda-nos amar como a nós mesmos, poderá ser o emissário da doença e da morte. Como conviveremos com todo o problema que já suportamos e teremos que suportar se, de quem se espera o apoio, a ajuda, só conseguimos ouvir acusações, impropérios, desavenças? 

A melhor estratégia para o Brasil vencer o inimigo e sair com vida é o entendimento e nisso a política é mestre. Podem tentar. Podem usar, que vocês verão que funciona. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Os isolados

“Como fazer campanha eleitoral no isolamento?”. Na internet há uma infinidade de gente com respostas prontas para esta pergunta. 

Para o político tradicional, nada de novo lhes trouxe o Covid-19, a não ser o medo de adoecerem e morrerem, porque, para muitos, o adoecer sem grandes complicações pode até ser conveniente, um modo de mostrar proximidade com o povo, uma maneira de dizer, “Isso acontece até comigo”, como fez o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, quando comunicou ter sido contaminado: 

“(…)Peço mais uma vez para que fiquem em casa, porque a doença, como todos podem estar percebendo, não escolhe ninguém”.

O sumiço dos políticos não é novidade. Sejamos justos que há elogiáveis exceções, eu conheço algumas, que existem exclusivamente, para confirmar a regra. 

Alguns gostam tanto da chance de viverem sumidos que, no Congresso Nacional, propuseram a redução do tempo de campanha de seis para três meses e depois para 45 dias. Eles e elas reduziram o prazo e criaram uma porção de dificuldades para as campanhas, tornando-as maçantes, sem alegria e sem calor. 

Ninguém se surpreenda se, com base nos riscos de contaminação de agora, o Congresso Nacional criar leis restringindo, definitivamente, a presença de políticos nas ruas. Para muitos, será o céu na terra. 

A decisão mais relevante de JK foi isolar a política em Brasília. Imaginem vocês o que seria a ebulição política que estamos a viver, com Ministros, principalmente, do Supremo, precisando circular por aqui. A vida deles e delas não seria nada fácil. Já não tem sido nos aeroportos e nas visitas ao exterior.

Mas, antes do Covid, aberta a temporada de caça aos votos, viam-se os políticos no metrô, nas feiras onde nunca compraram uma laranja, nas igrejas,  nos bares populares e até nos cemitérios. E não faltavam os apertos de mão e o tapinha no peito. O político César Maia criou a proeza de contar quantas mãos ele é capaz de apertar por dia numa campanha, mas nunca nos disse quantos rostos e histórias pessoais ele lembra terem passado por ele nem é capaz de dizer quantas mãos aperta no intervalo das campanhas. 

Terminada a temporada de caça aos votos, os candidatos eleitos somem. Os outros também. Ninguém sabe exatamente para onde eles vão. Há quem jure que eles habitam um planeta próprio, localizado num sistema bem distante da Terra. Então, o isolamento de agora nenhum problema maior causa para as campanhas, bastando que elas comecem um pouco mais tarde. E há as mídias sociais. 

Ah! Que maravilha poder fazer campanha à distância, sempre sob aplausos, porque quem discorda fica no vácuo. Quem critica na tela, toma uma pancada, e segue caminho. Nas ruas, não é assim. Povo constrange. Cobra. Não concorda com a falta de resposta. 

A política é calor humano. É proximidade. Os evangélicos conseguem mais sucesso com a política e com as eleições, porque, pelo menos, uma vez por semana, todas as semanas, estão congregados com os seus.

A falta de proximidade tem respondido pelo número maior, a cada eleição, de não votos (abstenção, nulos e brancos), com prejuízo enorme para o conceito de representação, modelo da nossa democracia. 

Mas, se não podemos mais estar nas ruas, como ter proximidade com o eleitor, que é, se sabe, cada dia mais exigente? Sendo-se autêntico e íntegro. Honesto no discurso e nas propostas e tendo consciência das expectativas do eleitor e dos sentimentos dele. 

Teremos este ano eleições para prefeito e vereador. Como fazer? 

Mesmo, à distância, o candidato deve mostrar ao eleitor que é capaz de representá-lo, porque conhece os problemas que ele, eleitor, enfrenta e sabe das dificuldades que ele tem para viver. A proximidade será pelo discurso que, com vídeos correndo soltos e comunicação rápida e direta, não conseguirá enganar com facilidade.

Inventou-se que a eleição do Presidente Jair Bolsonaro e de todos e todas que ele carregou com ele é um caso a merecer estudos. Não é. Jair Bolsonaro cultivou a proximidade de sentimentos e opiniões com os eleitores. Ele foi capaz de mostrar que sentia a mesma dor e indignação da maioria. Com isolamento ou nas ruas, a autenticidade será sempre elemento estratégico para se conseguir o voto. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Kamikaze

Oportunidades e ameaças são conceitos da estratégia e é prova de bom senso aproveitar as oportunidades e descartar as ameaças, seja anulando-as, seja transformando-as em oportunidades. 

Contudo, o presidente Jair Bolsonaro, assunto único do mundo político do Brasil desde a facada que ele levou em Minas Gerais, faz diferente. Ao que parece,  o presidente firmou uma aliança com as ameaças, num processo de estratégia negativa. Ou, se preferirmos o que diz o consultor de estratégias, Michael Raynor, temos aí um paradoxo da estratégia, situação que se verifica quando a principal causa do fracasso estratégico não é a estratégia ruim, mas uma boa estratégia que simplesmente provoca um erro. O presidente acredita piamente que a melhor estratégia de sobrevivência seja o conflito. Não é. 

O clímax dessa escolha está agora na relação dele com o Covid-19. A oportunidade de explorar a imagem de um governo que age para ajudar a população a suportar o mal – atitude que o governo federal, realmente, tem adotado – o presidente prefere uma briga inútil contra os fatos. No caso Covid, o presidente se porta como um soldado que caminha na direção oposta à do resto do batalhão. 

A opção pelas ameaças jogou a imagem do presidente numa areia movediça, que a faz afundar tanto mais o presidente se movimente.

Vejam vocês se não tenho razão. 

Jair Bolsonaro foi eleito presidente a bordo de uma campanha nunca imaginada competitiva e levou com ele, para Brasília, um bom número de deputados federais e senadores aliados.

Esse grupo de parlamentares definiu a Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, neste caso, disputada entre uma velha e experiente raposa, Renan Calheiros, e um senador desconhecido fora do Pará e de sobrenome complicado : Alcolumbre Tobelem. 

Com a ajuda dos senadores aliados ao Presidente da República, Alcolumbre derrotou Calheiros com requintes de humilhação. Se vencesse a velha raposa ou, se ela, pelo menos, saísse fortalecida, teríamos uma pedra no sapato do presidente da república, uma ameaça forte ao projeto dele. 

O resultado da disputa no Congresso Nacional somou-se à garantia que o presidente obteve dos eleitores para condução do governo do jeito que bem entendesse. 

Isso deu ao presidente e aos auxiliares que ele escolheu sem ouvir partidos ou aliados, situação totalmente nova na República, segurança para  aprovação das reformas essenciais à criação de um Brasil novo, onde o Estado deixe de ser carrasco dos contribuintes e distribuidor de privilégios entre apadrinhados e bajuladores do poder. 

Em paralelo, o apoio popular ao presidente  crescia impulsionado por imagens inéditas e fortes. A primeira ocasionada pela decisão do presidente de entregar à esposa o privilégio do mais importante discurso da posse, aquele que acontece no Parlatório do Palácio e é assistida no mundo todo. A decisão produziu uma cena maravilhosa nunca ocorrida na história das nações. 

A senhora Michelle Bolsonaro, por sua vez,  deu o recado de maneira magistral. O presidente e a esposa criaram a imagem de um governo reformador e inclusivo. Esta atitude em qualquer lugar do mundo valeria bastante e, por aqui, vale bem mais, porque somos um país que ainda discrimina as mulheres na política e cuida pouco das pessoas com deficiência. 

A liberdade para a escolha dos ministros e de uma ministra, sem ouvir o Congresso Nacional ou os partidos, acrescentou mais valor à imagem do presidente e na esteira correram nomes de bom peso, como Paulo Guedes, Sérgio Moro, Tarcísio, Teresa e outros. O Banco Central, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Caixa Econômica e todas as empresas do governo passaram ao comando de gente com qualidade pessoal e competência reconhecidas. Interrompeu-se o canal de comunicação do Estado com o financiamento de interesses pessoais e partidários. E a popularidade do presidente chegava à cabeceira da pista para levantar voo.

Talento ou sorte? 

Na arte de administrar as oportunidades e ameaças estamos descobrindo que o presidente tem mais sorte que talento. 

Neste ponto, dou um salto até a Segunda Guerra Mundial, para encontrar por lá os “ventos divinos”, os kamikazes. 
Derrotados várias vezes na tentativa de manter os americanos longe das ilhas filipinas, ponto estratégico para a guerra, e já com poucos soldados, equipamentos de mar, terra e ar, os generais japoneses convocaram voluntários. 

Chamados com base no Código de Honra do Japão, que estabelece ser melhor morrer do que viver como um covarde, os soldados voluntários foram convocados para morrer pela pátria e pelo imperador, ser supremo a quem, as vontades de todos os japoneses  deveriam estar subordinadas.

A imagem mais conhecida dos kamikazes está vinculada aos aviões que eles jogaram sobre a frota de porta-aviões americanos. Os jovens pilotos eram enviados ao combate só com combustível para a ida, fugindo do risco de, no momento do lançamento, se arrependerem. 

Mas, eles também agiram em terra, prendendo minas em volta do próprio corpo e se atirando debaixo dos tanques inimigos. Com a tática, os japoneses retardaram o avanço das tropas americanas. Isso não adiantou muito, mas os que morreram, certamente, levaram a ideia de ter valido a pena.

Em nome do imperador e da honra, mais de 70 mil jovens japoneses perderam a vida na aplicação da tática suicida. 

O Presidente do Brasil é um kamikaze, mas sem alvo definido. Ele atira-se à morte todos os dias, jogando-se contra os adversários e, cada vez mais, contra os próprios aliados. No final, ele poderá morrer sem honra, mesmo que não seja um covarde. 

Do mesmo modo como é um estrategista com sinal trocado, o presidente é um kamikaze que se lança contra os próprios aliados, transformando-os, com velocidade, em inimigos. Jair Bolsonaro não perdoa, não negocia. Contrariado, ele amarra uma mina em volta da cintura e se atira, sobe num avião de guerra e se lança ao mar. 

De atrito em atrito, o presidente reduziu a margem de conforto que tinha no Congresso Nacional e perdeu apoios na sociedade. 

Por sorte e, ao que se vê, não por talento, o Kamikaze Bolsonaro assumiu em janeiro de 2019, o comando de um avião abastecido para uma viagem de oito anos e com garantia de retorno, em glória, para a base. Mas, ele fez um rombo no tanque, que perde combustível enquanto o avião voa. 

Ainda há tempo para salvar a viagem? Claro que sim. A estratégia é uma ferramenta de trabalho quase milagrosa. Se o presidente quiser salvar o próprio governo deveria começar por evitar os atritos.  

Na estratégia, o atrito produz o mesmo efeito que na física: reduz a aceleração. Ao mesmo tempo, o presidente deveria identificar, com rapidez, as oportunidades e apoios que ainda lhes restam e potencializá-las ao máximo, para enfraquecer as ameaças, que estimulou até agora. O presidente precisa de um reset no sistema de governo e de comunicação. 

Quando a gente cuida de projetos políticos, a imagem é a matéria-prima. Nesse ambiente, o pior não é o impeachment nem a renúncia, situações que não acredito possíveis. O problema está na imagem que o presidente deixará registrada nas páginas da história. Isso sim é importante e deveria ser a preocupação principal na cabeça de alguém a quem a sorte confiou o destino de uma Nação. 

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um líder, por favor

Escrevo do Hospital das Clínicas de Volta Redonda, onde me recupero, ainda, da COVID-19. Suspendi todas as minhas atividades, mas essa eu não gostaria, porque amo escrever para o Boletim da Liberdade, um presente do meu amigo Pedro Rafael.

Aqui tenho me relacionado com uma classe que foi enviada à uma guerra, os profissionais de saúde. Elas e eles têm estado na linha de combate sem armas certas. Mas, lutam e alguns tombam e, com enorme sacrifício pessoal para elas e eles e para as famílias, reerguem-se. Têm medo, mas seguem na batalha diária.

Vendo o que vejo aqui, entristeço-me com a política. Fico até de certo modo acanhado com ela. Amo a arte, já lhes disse várias vezes. Amo desde menino. E o que mais amo nela é o poder realizador que ela tem, mas um poder que precisa de liderança. Ah! Mas, essa já não temos por aqui no Brasil e, raramente, no mundo.

Por aqui a coisa é pior. Bem pior. Porque quem deveria liderar briga, disputa o poder pelo poder e não pela possibilidade de realizar coisas boas para o povo.

Brigam até saturar a nossa paciência. Não são como profissionais da saúde, que lutam pela vida alheia, antes da vida própria. Os políticos brigam, se engalfinham, quase se matam preocupados com eles próprios e com os prazeres que o poder lhes pode render.

Mas, há em mim esperança, porque sei que há entre eles, mesmo entre eles, ainda quem, com mandatos ou sem, deseje liderar uma grande mudança. Vejo-os em muitas mulheres e homens nas redes sociais com discursos sinceros, com força e garra, acreditando que, apesar de muita gente ruim, ser possível mudar. É possível mudar!

Gente que se encontrar abrigo na política, disputará mandatos um dia com uma vantagem estratégica: substituirá os ruins e fará a diferença.

É difícil? É. Mas, conseguirão se tiverem a “audácia dos canalhas”, para vencê-los. É hora de dar um basta!

Não dá mais para assistir esse espetáculo de terror de governadores que só pensam ser presidentes, de presidentes que não sabem, exatamente, para que servem e de prefeitos que não enxergam um palmo além do trono em que sentam. Não dá mais para pagar a conta de parlamentos e ter circos no lugar dele.

Já chega não? O Brasil não é só deles. O Brasil é também e principalmente, de quem rala para pagar pelos serviços que eles deveriam prestar.

Que assumam as Marias, os Josés, os brasileiros e brasileiros que sabem honrar o pavilhão, como vejo hoje fazerem os profissionais da saúde e uma série de outros profissionais que mantém o meu país ainda vivo.

Quero meu Brasil de volta!

Aquele Brasil que conheci, por exemplo, no dia 29 de setembro de 1968, um mês antes de eu fazer 15 anos de idade, na voz de Geraldo Vandré. Não só na letra da música garfada no Festival, mas quando ele, diante da vaia recebida por Tom Jobim e Chico Buarque, beneficiados pelo garfo, avisou: “Sabem o que eu acho? Acho que Francisco Buarque de Holanda e Tom Jobim, merecem o nosso respeito. Vocês estão enganados se acham que vaiando eles estão me homenageando”.

Esse é o Brasil que quero ter de volta: dignidade e menos briga.

Até a próxima.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.
Foto: Isaac Ribeiro

Por Jackson Vasconcelos

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Renúncia ou impeachment? Tanto faz

Renúncia ou impeachment? Tanto faz, porque, qualquer que seja o caminho para encurtar o mandato de quem foi legitimamente eleito, exceto a morte, é uma ameaça à consolidação da democracia, um processo que se arrasta há tempos por aqui.

Imaginemos uma estratégia para consolidar a democracia. Como toda estratégia, essa precisa de uma série de ações ligadas ao objetivo, em cenários onde se movimentam oportunidades e ameaças. Se o objetivo é se chegar a uma democracia como ela deve ser, tendo a vontade do povo como base do exercício do poder, uma das vontades a ser respeitada, sem dúvida, é a da escolha dos dirigentes pelo voto. 

Temos eleições, é fato, mas também uma Constituição que qualquer um, por traços de interpretação de interesse pessoal, viola. Nas eleições, somos a democracia do tapetão. 

O primeiro presidente da república, despejado o Imperador, Marechal Deodoro, foi presidente provisório até ser promulgada uma nova constituição. Depois, ele foi eleito por um colégio eleitoral, mas com base na nova carta, que estabelecia a obrigação de haver nova eleição, aí sim, direta, se o mandato presidencial fosse interrompido antes de completada a metade do tempo. E a interrupção aconteceu pela renúncia. 

Os vice-presidentes eram também eleitos, sem vínculo com a chapa presidencial. O Marechal Floriano Peixoto, eleito vice-presidente, assumiu o mandato dado a Deodoro da Fonseca e não convocou eleição. Treze generais discordaram e pediram eleições para se ter o cumprimento da Constituição. Floriano Peixoto fez uma interpretação manca da Carta, prendeu os generais e seguiu na presidência. 

Para contar todas as experiências da história da república do tapetão eu não disponho de espaço e se dispusesse, cansaria o leitor. Alguns casos nos bastam. Getúlio Vargas perdeu a eleição para Júlio Prestes. O candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio, João Pessoa, algum tempo depois da eleição foi assassinado no Recife por um motivo que nada teve com a campanha. Getúlio contou uma história diferente e tomou o poder. 

João Goulart? Esse foi vítima da primeira fake news política: perdeu a presidência por ter se ausentado do país, quando estava, na verdade, no Rio Grande do Sul. E vocês devem lembrar da ginástica e mirabolâncias que fizeram para o pobre presidente não assumir o governo com a renúncia do titular, Jânio Quadros. 

Com os generais no poder, o tapetão do tapetão! O presidente Costa Silva deixou a presidência doente, o vice, Pedro Aleixo, não conseguiu assumir, substituído por uma junta militar. 

E com Tancredo Neves? Outra ginástica se fez para empossar um vice-presidente no lugar de um presidente não empossado, porque o presidente da Câmara dos Deputados, se empossado como mandava a Constituição, deveria convocar novas eleições. E aí haveria o risco de ser eleito alguém fora do figurino. 

Ah! Mas ali tudo era válido em nome da democracia. Veio, então, a Constituição Cidadã e eleições diretas para a presidência. Estamos no quinto presidente eleito, mas dois foram afastados antes do tempo e já se pede a extensão da medida para o terceiro.

Mas, o presidente é maluco e um louco não pode governar o Brasil, dizem hoje sobre o Presidente Jair Bolsonaro. Que seja! Então, quem estaria no papel do Dr. Simão Bacamarte, o alienista de Machado? 

Quem terminará a vida na Casa Verde? Quem são os anormais? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Estrategista não é profeta

O meu dia de trabalho mal tinha iniciado na sexta-feira, quando um aluno de comunicação da Estácio de Sá, Joel, fez contato comigo por vídeo. Ele queria saber o que, exatamente, faz um estrategista numa campanha eleitoral. “Vocês conseguem garantir a vitória de um candidato?”, perguntou ele. 

“Não. Não conseguimos”, eu respondi. Pode ser que os profetas tenham essa habilidade e, se tiverem, ainda precisarão estar fora da ressalva feita por Jesus Cristo, quando declarou que “não há profeta sem honra senão na sua própria pátria, entre os seus parentes e na sua casa”. Como eleição é ato de aproximação, as previsões, nesse ambiente, são péssimas companheiras mesmo para os profetas.

O trabalho dos estrategistas é melhorar as vantagens comparativas de um candidato e reduzir as variáveis existentes na equação que pode levá-lo à vitória, ou, pelo menos, garantir que elas funcionarão sempre a favor do resultado positivo. Para isso, dependemos de informações, dados, um bom de conhecimento da história das eleições e saber interpretar corretamente tudo isso. Somos confeccionadores de GPS.  

Quando recebemos a solicitação de orientar uma campanha, a primeira providência é semelhante a dos médicos quando recebem seus pacientes numa primeira consulta: ouví-los com atenção, para conhecer a história deles e saber como ajudá-los. 

O diagnóstico dependerá, ainda, dos exames, ou seja, da leitura das pesquisas e da análise do cenário – ambiente – onde a campanha ocorrerá e, com menos dúvida possível, como se comportam os  adversários, quando submetidos a uma campanha. 

Todo o trabalho de análise encaminha-se para um objetivo só: a construção do discurso, das mensagens e ações que terão força para convencer os eleitores. E, no conjunto disso tudo, forma-se a imagem.  

Uma campanha eleitoral é tão e exclusivamente, uma campanha de comunicação, que necessita de uma série de elementos de convencimento, porque vencerá a eleição o candidato que conquistar o maior número de eleitores. 

Está claro, portanto, que as campanhas eleitorais são disputas entre candidatos no campo da comunicação e imagem. E a decisão do eleitor é um ato de escolha. Então, cabe ao estrategista facilitar a seleção na direção do candidato que o contrata, um trabalho que inclui criar as condições ideais de comparação entre o candidato e os adversários. 

Por isso, cabe também ao estrategista conhecer muito bem os adversários, para saber o que eles têm de atributos positivos e negativos. Ideal é que os conheça tão bem ou proximamente tão bem quando conhece o candidato que defende.  

Elaborada a estratégia, nasce o discurso e o modo como ele deve ser transmitido. Um discurso confuso, incoerente com a história do candidato ou cheio de ruídos, ajuda os adversários. Construído o discurso, dele saem as mensagens e adaptações aos diversos veículos de comunicação, sempre alertado o estrategista de que os melhores veículos são o próprio candidato e os adversários. E a embalagem, nesse caso, pode ajudar bastante.

Com todo esse trabalho, não se tem nenhuma garantia de vitória? Haverá mais facilidade, contudo, garantia não, porque lidamos com seres humanos que têm liberdade para mudar de opinião até a hora do voto. 

Por isso, o trabalho do estrategista só se encerra com o processo de votação. Eu diria que um estrategista precisa ser panótico: olhar de uma só vez todas as partes e elementos que compõem a campanha, para amarrar as situações nos conceitos de oportunidade e ameaça e precisa fazer isso numa velocidade crescente, no tempo em que os eleitores se aproximam da hora de votar. 

Joel encerrou a conversa com uma pergunta mais simples: “Pode existir campanha sem estratégia?”. “Claro”, respondi. Existem muitas. Você pode decidir ir a Disney no final do ano com seus filhos e comprar a passagem no dia da viagem e chegar lá sem reservas e sem previsão do que fará. Isso pode ser uma boa aventura, mas tem tudo pra dar errado, não? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Cautela e caldo de galinha, boa receita

Para qualquer assunto, Machado de Assis tem boas lições, já que da alma e dos costumes humanos conhecia como poucos. De política, eleição e conselhos de estratégia, ele deixou muita coisa.  

Como o meu tema é, foi e será sempre a política, eleições e estratégia, busquei num dos livros de Machado o assunto para hoje. Quincas Borba! Sobre o personagem, disse Machado: “É aquele mesmo náufrago da existência, que ali (Memórias Póstumas de Brás Cubas) aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia”. 

Quincas enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida… chamava-se Maria da Piedade. Quincas Borba apaixonou-se também de um cão, a quem deu o próprio nome. 

Rubião, irmão de Maria da Piedade, está na obra, é o centro dela. Ele fez todo o possível para casar Piedade com Quincas Borba. Não conseguiu, porque Piedade resistiu e depois, porque “um pleuris a levou”. Mas, isso não impediu Rubião de ser o herdeiro da grande fortuna do patrão, que poderia ter tido por cunhado. 

No capítulo cem da obra, falecido o filósofo Quincas Borba, Rubião recebe um convite para ser candidato a deputado. Dr. Camacho, já na política, faz a honra e entre todas as razões de homenagem, cita a necessidade de se evitar que a divisão de votos entre dois candidatos do mesmo lado levem a campanha para a derrota. 

Acontece um diálogo e, “Rubião, comovido, fez ainda outras perguntas acerca da luta e da vitória, se eram precisas despesas já, ou carta de recomendação e pedido, e como é que se havia de ter notícia frequente do enfermo, etc. Camacho respondia a tudo; mas recomendava-lhe cautela. Em política, disse ele, uma coisa de nada desvia o curso da campanha e dá a vitória ao adversário”. 

De outra coisa não tratei na Estratégia 29 do livro “Que raios de eleição é essa?”: Antes de se lançar numa campanha, resolva suas fragilidades.

A cautela sugerida pelo Dr. Camacho ao Rubião tem nome certo: estratégia. Ela é a ferramenta que dá ao candidato a possibilidade de conhecer bem os próprios atributos, tanto os positivos como os negativos. E também os melhores e piores recursos pessoais dos adversários. Uma cautela essencial para saber como se pode vencer.

Conhecer-se bem é fundamental, mas saber quem é o adversário, personalidade, história, fragilidades, capacidade de reagir e de agir dele, essencial. 

Davi era um pastor de ovelhas de pequena estatura física e decidiu enfrentar um gigante, Golias, para livrar o povo hebreu de ser escravo dos filisteus. Saul era o rei e preparou Davi para a luta, colocando sobre a cabeça dele um capacete de bronze e no corpo, uma couraça. Davi começou a andar e sentiu que com toda aquela parafernália, a mesma que usava o adversário dele, não conseguiria vencer. Davi não estava acostumado a andar com o paramento militar. Nunca vestiu-se para a guerra. Então, tirou tudo aquilo do corpo, armou-se com o cajado de pastor de ovelhas e com a funda que usava para vencer os lobos… 

O resto da história todo mundo conhece, aplaude e usa como exemplo da vitória do mais fraco sobre o mais forte. Mas, não foi só pelo conhecimento da própria fragilidade física que Davi venceu. Foi também pela decisão de derrubar o gigante antes que ele chegasse perto. O corpo a corpo seria uma vantagem fatal para o gigante. A estratégia fez Davi vencer a luta, resultado que ele, com lealdade, creditou a Deus. 

Na minha adolescência, pratiquei judô. Fábio, meu professor, ensinava na primeira aula: “A maneira mais fácil para se derrubar um adversário é usando o impulso e o peso dele. Só assim, um japonês franzino leva ao chão um gigante de quimono”. 

A ausência de cautela e escolha da estratégia correta transforma, com rapidez, uma oportunidade de sucesso numa ameaça. De outro modo, não consigo ver as dificuldades que tem hoje o presidente Jair Bolsonaro de lidar com o Congresso Nacional quando, quase com exclusividade na história do presidencialismo esquisito adotado pelo Brasil, conseguiu eleger-se presidente da república levando com ele uma expressiva bancada de deputados federais e senadores. 

Mas, o que fez o presidente dessa oportunidade? Implodiu o partido que deu a ele o diferencial e empurrou para a oposição gente que dançaria, por ele, qualquer música. A oportunidade se tem feito ameaça. Uma estratégia com sinal invertido. 

O presidente da República, definitivamente, não é um político cauteloso. Não atenderia ao requisito solicitado pelo magistral Machado de Assis, na pele do Dr. Camacho. 

Desejo que todos e todas tenham tido um bom domingo de Páscoa. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Linguagem: Agente de persuasão

A comunicação dos políticos com o povo deve persuadir, convencer e, nas épocas das campanhas, converter a expectativa dos eleitores em voto. Não é algo fácil de fazer. 

Harold Lasswell, apelidado de “pai da psicologia política” escreveu “A Linguagem da Política”, obra muito útil para quem queira se enveredar pelos caminhos da comunicação dos políticos com o povo. Lasswell faleceu em 1978, com 76 anos. É dele a definição da comunicação política como a linguagem do poder, agente de persuasão, que uso no título. 

Quando trata do estilo, ele diz que o pensamento e a fala são inseparáveis. Mas, alguns políticos conseguem fazer a magia da não conversão. Dizem o que não pensam e pensam o que não falam. 

Com os eleitores acontece o mesmo, afinal, todos somos seres humanos e em todos nós há um mecanismo que traduz palavras e atitudes em lógica. Isso faz com que os eleitores digam coisas que no pensamento se processam de outra forma, a depender do que recebem do emissário das mensagens. Olham, observam, ouvem, por vezes, não movem um músculo, mas no subconsciente registram a emoção negativa ou positiva. 

Com as redes digitais e o poder que elas deram às pessoas de produzirem conteúdos para seus canais de vídeo, voz e texto, os políticos ganharam linhas de comunicação direta com os eleitores. Mas, perderam a liberdade para falar o que, verdadeiramente, não pensam e de agir de forma diferente do que orientam os outros a agirem. Os políticos que estão nos governos ordenam que fiquemos em casa, mas fazem isso fora de casa. Um pequeno exemplo. 

Há quem acredite que com pesquisas de opinião, resolve-se a dúvida sobre o que vai na cabeça do eleitor. Resolve-se não. É preciso mais. É preciso aprofundar, conversar com o povo para, com paciência, ouvir e perceber o que vai no consciente dele. 

Tenho visto no instagram programas diários ao vivo de candidatos às prefeituras. Os tempos de agora são duríssimos para a população, mas os candidatos cuidam deles mesmos, com os discursos e falatórios de sempre. Falam para ninguém. 

A falta de interação é outro problema. O político convida você para estar no espaço dele e lá ele fala, fala, gesticula, conta história, e nenhuma das perguntas ou opiniões que recebe, ele responde. Entregam o que querem dizer e caem fora.  Sem interação, não há fidelidade e sem fidelidade, não há voto. 

No livro “Que raios de eleição é essa?”, dediquei o espaço da 15ª estratégia para o cuidado de ouvir o eleitor. Falei sobre duas derrotas eleitorais provocadas porque as pesquisas ouviram o eleitor superficialmente, só naquilo que ele não gostaria de ser ouvido. Com interação, o resultado seria, certamente, diferente.  

Abri o texto com Lasswell e encerro com ele: “A arma que mais se parece com a linguagem, do ponto de vista funcional, é o projétil, pois, tanto quanto a palavra, é capaz de causar dano à distância”. E, hoje, com a internet, põe distância nisso.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Que raios de Estado!

O isolamento é o mal menor da epidemia. O medo do futuro é pior. Que país, afinal, encontraremos nós, quando deixarmos a caverna? Será que, como os personagens de Platão, teremos medo de enfrentar a realidade por desconhecermos o quanto ela pode ser bela à luz do sol e da liberdade? Qual a melhor estratégia para após o confinamento? 

Sábado (28), o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, declarou: “O mundo sairá dessa sem vencedor, nem perdedor, mas sairá diferente. Sairá um mundo reflexivo, que terá que repensar os valores, a dinâmica social e como nós vamos nos comportar daqui pra frente”. 

Estou com dificuldade para entender a ausência de perdedores, porque quem morreu ou ainda morrerá perdeu a luta do mesmo modo como quem tem ou terá entre os mortos gente sua. 

Se há perdedores, existirão vencedores, os sobreviventes e aqueles que da epidemia conseguirem tirar alguma lição. 

As empresas privadas, aquelas que podem, estão dando uma contribuição relevante ao Brasil. Certamente, não por altruísmo, mas por compreensão da força que tem o capitalismo, quando dá à relação capital-trabalho, o sentido de um bom negócio. 

Adam Smith viu assim, na Riqueza das Nações: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro, que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à sua generosidade, mas ao seu amor próprio, pois nunca conseguiremos sensibilizá-los pelas nossas necessidades, mas pelas vantagens que eles podem obter”. 

Sobre as ajudas do Estado, das empresas e bancos às pessoas durante a epidemia, a revista Exame trata numa matéria que o editor intitulou com a pergunta:  “Quem vai salvar a economia?”. Os jornalistas Natália Flach e Rodrigo Caetano responderam. Os bancos estão lá com o papel de sempre: emprestar a juros altos e fazer isso com o semblante de caridade. 

As empresas, com os exemplos da UBER, IFood, Starbucks e Facebook e de algumas fundações. O Estado, com os governos dos EUA, da Alemanha, China, Reino Unido, Japão, França, Dinamarca, que decidiu bancar 75% dos salários dos empregados das empresas privadas para evitar demissões, e o Brasil, com a proposta menos ambiciosa de todos os países citados. Não por insensibilidade, mas por incapacidade. 

O Brasil tem dificuldades para oferecer mais, porque somos uma economia tradicionalmente travada e que tem uma estrutura de serviços públicos em colapso, mesmo nos dias normais. 

A causa disso tudo é o tipo de Estado que temos. Ele é caro. A overdose de tributos, burocracia e ineficiência tem feito de nós uma Nação com uma economia debilitada, apesar de todo o potencial de crescimento que ela tem. 

O COVID-19 terá prestado um excepcional serviço ao Brasil se convencer a Nação e, principalmente, aos seus agentes públicos, que o Estado precisa pesar menos sobre o setor privado para que ele possa produzir melhor e com mais qualidade. Desse modo, ele gerará empregos e também tributos para dar ao Estado, numa situação de emergência, a capacidade de fazer melhor do que tem feito agora. 

Vale ler a matéria da Exame, que está de cara nova.  

Tomara que o ministro Mandetta esteja certo quando diz que do tempo difícil do coronavírus, “sairá  um mundo reflexivo, que terá que repensar os valores, a dinâmica social e como nós vamos nos comportar daqui pra frente”. Se isso ajudar o Estado a rever posições, aí, sim, a dor terá gerado uma criança sadia e mais feliz.   

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O coronavírus no organismo político

O coronavírus apareceu no Brasil com as consequências que a gente conhece e, num piscar de olhos, reacendeu uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que propõe transferir as eleições deste ano para 2022. A proposta foi apresentada no início do ano passado por um deputado federal do MDB de Santa Catarina.

O argumento do projeto, no ano passado, era fazer coincidir todas as eleições, num estilo de eleições gerais, que levariam o povo a decidir, de uma só vez, a Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, os Governos Estaduais, Assembleias Legislativas, as Câmaras Municipais e Prefeituras. Algo semelhante, o Brasil já viveu em 1982, quando prorrogados foram os mandatos dos prefeitos e vereadores. Naquele ano, só não houve eleição para Presidente da República, ainda indireta. 

O argumento de agora seria usar o dinheiro do fundo eleitoral no trabalho de combate ao vírus e, na voz do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, evitar que o Congresso Nacional trabalhe menos no combate ao vírus e mais nas campanhas municipais. É claro que a proposta do ministro apresentada diretamente aos maiores interessados, os prefeitos, fez sucesso. E a legítima má vontade que tem o povo com o financiamento dos partidos com dinheiro público ajuda o discurso.  

Se acontecer o adiamento, o povo, mero detalhe nas formulações legislativas no Brasil, será obrigado a conviver mais dois anos com prefeitos e vereadores que gostaria de ver pelas costas, simplesmente, para que o Estado Brasileiro faça melhor uso do dinheiro que os contribuintes entregam. Será que fará? Certamente, não. Afinal, sabe-se que é costume no Brasil, o Estado arrancar dinheiro com o argumento de melhorar o atendimento médico e, no final, desviar o que foi arrecadado para outras finalidades. 

Mas, a proposta é uma boa oportunidade para se debater o financiamento público para as campanhas eleitorais e sustento dos partidos.  

A gente financia com o dinheiro público todos os partidos, gostemos ou não de todos ou de alguns ou mesmo de nenhum. O Congresso Nacional decidiu que seria assim e assim é. Podemos até reclamar do fato, mas sabendo que isso de nada adiantará. O mal está feito.  

O problema dos fundos de campanha e partidário é o mesmo relativo a todos os tributos, numa situação em que o povo paga, recebe pouco de volta  e não é consultado sobre o destino do dinheiro.

O legislador brasileiro deveria criar mecanismos legais que permitam ao contribuinte designar a preferência dele pelos partidos que é obrigado a financiar por intermédio do Estado. Em outros tempos, a consulta seria um processo complicado, mas com a tecnologia do presente, é um ato simples de vontade, que pode ser confirmado com o apertar de uma tecla no computador ou no telefone. 

Então, quem leia pela cartilha do MDB, do DEM, do PTB ou de qualquer outro partido, que declare a sua preferência ao Tesouro Nacional, que destinará aos de preferência dos eleitores a quantia proporcional às indicações que cada um recebeu. 

Se no final do processo, ninguém quiser financiar partido algum – situação bem possível em razão da imagem desgastada dos partidos – os filiados que se virem para melhorar a imagem dos seus partidos ou para buscar financiadores, como se fazia no passado. Os recursos registrados no Orçamento para o financiamento das campanhas e dos partidos seriam redistribuídos na forma que a Lei de Diretrizes Orçamentárias autorizasse. 

Mas, eu tenho certeza que os partidos, por facilidade, segurança e rapidez, farão campanhas para conquistar o coração e a fidelidade dos eleitores, para deles ter algo mais que o voto, a confiança. 

Aí sim, com essa medida, acabaríamos de vez com os partidos de aluguel ou que têm donos, porque quem estivesse a pagar a conta com a chance de cobrar pelo serviço, não deixaria a situação correr frouxa como acontece hoje. 

Que tal? 

Eis aí uma boa estratégia que conseguiria fazer do dinheiro público que vai para as campanhas e para o sustento dos partidos, uma oportunidade de participação política mais efetiva, com gosto de cidadania, e não mais uma ameaça à democracia representativa, como acontece hoje. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Foto: Adriano Machado/Reuters