Publicado em Deixe um comentário

O coronavírus no organismo político

O coronavírus apareceu no Brasil com as consequências que a gente conhece e, num piscar de olhos, reacendeu uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que propõe transferir as eleições deste ano para 2022. A proposta foi apresentada no início do ano passado por um deputado federal do MDB de Santa Catarina.

O argumento do projeto, no ano passado, era fazer coincidir todas as eleições, num estilo de eleições gerais, que levariam o povo a decidir, de uma só vez, a Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, os Governos Estaduais, Assembleias Legislativas, as Câmaras Municipais e Prefeituras. Algo semelhante, o Brasil já viveu em 1982, quando prorrogados foram os mandatos dos prefeitos e vereadores. Naquele ano, só não houve eleição para Presidente da República, ainda indireta. 

O argumento de agora seria usar o dinheiro do fundo eleitoral no trabalho de combate ao vírus e, na voz do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, evitar que o Congresso Nacional trabalhe menos no combate ao vírus e mais nas campanhas municipais. É claro que a proposta do ministro apresentada diretamente aos maiores interessados, os prefeitos, fez sucesso. E a legítima má vontade que tem o povo com o financiamento dos partidos com dinheiro público ajuda o discurso.  

Se acontecer o adiamento, o povo, mero detalhe nas formulações legislativas no Brasil, será obrigado a conviver mais dois anos com prefeitos e vereadores que gostaria de ver pelas costas, simplesmente, para que o Estado Brasileiro faça melhor uso do dinheiro que os contribuintes entregam. Será que fará? Certamente, não. Afinal, sabe-se que é costume no Brasil, o Estado arrancar dinheiro com o argumento de melhorar o atendimento médico e, no final, desviar o que foi arrecadado para outras finalidades. 

Mas, a proposta é uma boa oportunidade para se debater o financiamento público para as campanhas eleitorais e sustento dos partidos.  

A gente financia com o dinheiro público todos os partidos, gostemos ou não de todos ou de alguns ou mesmo de nenhum. O Congresso Nacional decidiu que seria assim e assim é. Podemos até reclamar do fato, mas sabendo que isso de nada adiantará. O mal está feito.  

O problema dos fundos de campanha e partidário é o mesmo relativo a todos os tributos, numa situação em que o povo paga, recebe pouco de volta  e não é consultado sobre o destino do dinheiro.

O legislador brasileiro deveria criar mecanismos legais que permitam ao contribuinte designar a preferência dele pelos partidos que é obrigado a financiar por intermédio do Estado. Em outros tempos, a consulta seria um processo complicado, mas com a tecnologia do presente, é um ato simples de vontade, que pode ser confirmado com o apertar de uma tecla no computador ou no telefone. 

Então, quem leia pela cartilha do MDB, do DEM, do PTB ou de qualquer outro partido, que declare a sua preferência ao Tesouro Nacional, que destinará aos de preferência dos eleitores a quantia proporcional às indicações que cada um recebeu. 

Se no final do processo, ninguém quiser financiar partido algum – situação bem possível em razão da imagem desgastada dos partidos – os filiados que se virem para melhorar a imagem dos seus partidos ou para buscar financiadores, como se fazia no passado. Os recursos registrados no Orçamento para o financiamento das campanhas e dos partidos seriam redistribuídos na forma que a Lei de Diretrizes Orçamentárias autorizasse. 

Mas, eu tenho certeza que os partidos, por facilidade, segurança e rapidez, farão campanhas para conquistar o coração e a fidelidade dos eleitores, para deles ter algo mais que o voto, a confiança. 

Aí sim, com essa medida, acabaríamos de vez com os partidos de aluguel ou que têm donos, porque quem estivesse a pagar a conta com a chance de cobrar pelo serviço, não deixaria a situação correr frouxa como acontece hoje. 

Que tal? 

Eis aí uma boa estratégia que conseguiria fazer do dinheiro público que vai para as campanhas e para o sustento dos partidos, uma oportunidade de participação política mais efetiva, com gosto de cidadania, e não mais uma ameaça à democracia representativa, como acontece hoje. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Foto: Adriano Machado/Reuters

Publicado em Deixe um comentário

A estratégia é convencer e não agradar

Qual a primeira providência para realizar uma campanha eleitoral? Muitos responderão com rapidez: fazer pesquisas! 

Apesar de não dispensá-las e só conseguir realizar bem o meu trabalho orientado por elas, eu recuso a resposta. O discurso vem antes, porque ele é a peça que justifica a candidatura, dá sentido às pesquisas e faz a mágica do convencimento, objetivo essencial de uma campanha. 

O candidato que não convence perde e, para convencer, ele discursa, conversa, escreve, decide, se comunica. Enfim, ele submete o discurso à avaliação dos eleitores e dos adversários.  

Mas, há quem diga que o candidato pode, por disciplina e com bom treinamento, expor o que não pensa, para, tão somente, agradar aos eleitores. É verdade e isso tem sido comum. 

Contudo, a opção por esse roteiro abriga fortes emoções. Eu diria, as mais fortes emoções que uma campanha eleitoral seja capaz de produzir. O alerta para isso vem da psicologia, que classificou os atos espontâneos do cérebro como “atos falhos”. Um candidato que ande a distribuir um discurso que trai o próprio subconsciente só para agradar aos eleitores, corre o risco permanente de, a qualquer momento, deixar escapulir o que está guardado no “fundo da alma”. E aí, ninguém mais segura, “a máscara caiu”. 

Quando isso acontece, muita gente, com certeza, lamenta não ter escolhido o roteiro mais difícil, contudo, menos arriscado, de usar as pesquisas para saber em que tom e modo, o candidato deveria levar o que pensa para a campanha com o dever de convencer e não de agradar.  

O “ato falho” é, portanto, uma contribuição da psicologia às campanhas eleitorais. É um elemento da estratégia dos adversários de candidatos que, já se sabe, falam, usam roupas, gestos e  agendas só para agradar aos eleitores e não para convencê-los. Afinal, convencer dá mais trabalho do que agradar.

Quem pretenda ser candidato, teste o discurso que já está presente na consciência, não para ver se ele se encaixa no que quer o eleitor, ato de agradar, mas para entender como ele deve ser comunicado ao eleitor para convencê-lo. 

Outra orientação para os candidatos é que conheçam muito bem os seus adversários, para saber se o que eles pregam ou fazem está, de fato na história deles, porque, se não estiver, com certeza, também não estará no subconsciente. Aí, será só o trabalho de provocá-los quando eles estiverem em alto grau de exposição. 

A história das campanhas tem muita coisa pra contar, de anteontem e de ontem. Em 1945, o major-brigadeiro Eduardo Gomes, uma figura masculina bela, tão bela que fez com que as mulheres das classes média e alta brasileiras vendessem doces (que receberam o nome de brigadeiro) para ajudá-lo na campanha. 

Eduardo Gomes por estilo e imagem era considerado o candidato das elites. Contra ele estava Getúlio Vargas, “o pai dos pobres”, representado pela candidatura do General Eurico Gaspar Dutra. Pois bem, no dia 19 de novembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o brigadeiro Eduardo Gomes referiu-se os eleitores do Getúlio Vargas como uma “malta de desocupados que apóia o ditador”, referindo-se a um bando. 

O getulista Hugo Borghi correu aos dicionários para encontrar um outro significado para “malta”, que lhe servisse. Encontrou o sinônimo de “grupo de operários que percorrem as linhas férreas levando suas marmitas, marmiteiros”. Borghi foi às rádios e aos jornais com o discurso pronto: “O brigadeiro Eduardo Gomes disse que não precisa dos votos dos marmiteiros, dos pobres, daqueles que lutam pela vida, porque já tem o apoio dos ricos e grã-finos”. O fogo alastrou-se, porque o discurso do Brigadeiro, embora não fosse literalmente contra os pobres, carregou a imagem de um homem que, na verdade, tinha esse sentimento. 

De anteontem, temos ainda o famoso discurso do presidente Fernando Collor de Mello, com a convocação para que o povo fosse para as ruas apoiá-lo. Em cada frase do discurso, disponível na internet, se percebe a mágoa e o ódio de uma pessoa, que já não conhecia esconder a arrogância. 

De ontem, temos o exemplo do Ciro Gomes, que dispensa o cansaço com a lembrança. A imagem do machista fechou o circuito com o subconsciente dele e à tona veio o “ato falho”, sobre a razão da esposa Patrícia Pillar na campanha.  

Os resultados de tudo isso e muito mais, a história tem em registro. 

Hoje, as mídias digitais e o poder de comunicação das imagens em vídeo são campos férteis para o exercício de “atos falhos”. Todo cuidado é pouco! 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Jackson Vasconcelos é autor do livro “Que Raios de Eleição é essa?”. Disponível para venda AQUI.

Por Jackson Vasconcelos

https://www.travessa.com.br/que-raios-de-eleicao-e-essa-como-sao-as-estrategias-na-politica-e-os-bastidores-de-campanhas-eleitorais/artigo/05857989-929b-45ff-b5ad-e8bff6970129
Publicado em Deixe um comentário

Eleição é uma lavoura

“Eleição é uma lavoura”. A lição é do ex-prefeito César Maia e eu a aproveitei em um dos capítulos do livro que escrevi sobre a utilidade que tem a estratégia nas campanhas eleitorais, “Que raios de eleição é essa?”.Escrevi o livro e publiquei pela “Livros Ilimitados” no meio do ano de 2017. O título respondeu a minha dúvida sobre o que seria a eleição de 2018, porque eu percebia, desde as campanhas de 2016, para as prefeituras e câmaras municipais, que algo bem estranho estava para acontecer. E aconteceu. 

As situações inusitadas, depois que ocorrem, autorizam todo tipo de avaliação e teorias sobre as suas causas. Por isso, muita gente atribuiu a vitória do presidente Jair Bolsonaro e da turma de deputados, senadores e governadores que ele carregou para o poder, ao sucesso do trabalho deles nas mídias digitais. Sim, mas não foi só isso, afinal, “Eleição é como lavoura. Os meios de comunicação irrigam, mas só o contato direto semeia”, diz o mago Maia. 

A campanha do presidente Jair Bolsonaro durou quatro anos e não 45 dias. Grande parte dela aconteceu nas ruas e toda ela nas redes, em conexão direta entre umas e outras. As ruas e as redes criavam os fatos, todos estridentes, que alimentaram os eleitores. E, o presidente ainda contou com a ajuda dos adversários. No correr da campanha, os adversários do Jair Bolsonaro perderam as agendas próprias e passaram a funcionar como instrumentos de percussão da música radical do candidato que queriam combater. E quem perde a agenda, perde a eleição. Não tenham dúvida. O resultado da estratégia correta de 2018 governa o Brasil e poderá continuar governando após o primeiro mandato se a oposição não resolver criar uma agenda própria. 

Estamos em ano de eleição municipal e, permitam-me dizer, com o risco até de parecer arrogante; Rede sem rua e sem o discurso adequado é risco de derrota. Sem estratégia, pior ainda. E não tem dinheiro no mundo que resolva isso. 

O exemplo mais recente chegou para nós há pouco, ainda com o calor do forno, vindo dos Estados Unidos. Por lá acontecem as prévias do Partido Democrata para a escolha do candidato que enfrentará o presidente Donald Trump, que está em campanha pela reeleição. Na semana passada aconteceu a Super Terça, dia em que a maioria dos estados americanos realiza, ao mesmo tempo, as eleições primárias. No mundo todo houve expectativa positiva com o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, porque ele vinha despejando uma fortuna na TV, em valores muito acima do usado pelos adversários principais dele, Joe Binden e Bernie Sanders. Binden e Sanders usaram a TV, as mídias digitais e não dispensaram o corpo a corpo e as viagens cansativas de uma ponta a outra dos Estados Unidos. O ex-prefeito Bloomberg jogou todas as fichas na TV, numa campanha de comunicação até bem feita. O resultado das estratégias de Bloomberg, Sanders e Binden está posto. Bloomberg só venceu no território não incorporado, Samoa Americana. E aí eu completo a lição do mago César Maia: “Aperte a mão e ganhe o coração”.

Provavelmente, Joe Binden enfrentará o presidente Donald Trump e para chegar até aqui ele contou com a ajuda do adversário, que lhe deu de presente um ato de perseguição e de acirramento com os democratas. Uma situação que só não custou o mandato do presidente Trump, porque, abriu-se o processo de impeachment no último ano do mandato do presidente, estando ele bem avaliado e já em campanha pela reeleição. Os senadores Republicanos preservaram Trump,  porque seria uma estupidez entregar aos Democratas um fenomenal argumento de campanha num ano de eleição. Tudo em nome da estratégia.  

As primárias nos Estados Unidos quase me matam de inveja. Penso sempre, como deve ser bom estar filiado a um partido que ouve você na escolha dos candidatos que apresentará aos eleitores! Como é bom para os eleitores uma campanha de um ano inteiro de contato com os candidatos, num processo que facilita a avaliação e a escolha. Como é maravilhoso fazer parte de um país onde as campanhas eleitorais são a festa da democracia e nunca, nunca mesmo, atos censurados e repugnantes.

Por aqui, ao que parece, nem os candidatos gostam muito de campanhas. Por isso, quando eleitos e empossados no Congresso Nacional fazem leis que castram a criatividade, reduzem o prazo para a avaliação dos candidatos pelos eleitores e matam a festa e a beleza das campanhas. Mas, um dia isso foi diferente e pasmem, aconteceu quando a ditadura ainda andava por aqui.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Por que o povo nas ruas?

Durante a semana, a deputada federal Joice Cristina Hasselmann apresentou-se na CPMI das Fake News. A Comissão Parlamentar Mista (formada por senadores e deputados federais) de Inquérito foi criada com uma finalidade demagógica ou ambiciosa demais.

No ato formal de criação está dito: “Finalidade: Investigar os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018; a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. 

Mas, se sabe que, no fundo, o que se pretende ali é deslegitimar a eleição do Presidente da República. O resto é, simplesmente, o resto onde não se chegará a conclusão alguma. Assim têm sido as Comissões Parlamentares de Inquérito – a grande maioria delas – no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. 

Quem se deu ao trabalho de assistir a atuação da deputada e dos colegas que a inquiriram participou de um espetáculo de agressões mútuas e auto-elogios. O “eu sou”,  o “você é que é” prevaleceu todo o tempo. Um deputado federal pelo Paraná, Felipe Barros, do PSL, chamou o conjunto de “Tribunal Leninista, que se pode resumir numa frase: Xingue-os do que você é e acuse-os do que você faz”. Daí, aos palavrões, foi um pulo. 

Contudo, o espetáculo ruim não foi singular, nem ato exclusivo do Congresso Nacional, mas algo que temos visto acontecer em vários parlamentos no Brasil e mundo afora. Resultado de uma das questões mais relevantes do tempo moderno, a baixa qualidade da representação política, motivo que tem levado o povo às ruas no mundo todo. 

Muitos dirão que a causa do povo nas ruas não é a falta de representação política. Para aqueles que se dizem de esquerda, os liberais nos governos são a resposta. Para quem se coloca do outro lado, no lado oposto está o argumento. De qualquer modo, cai-se no chavão de “direita e esquerda”, que Ortega Y Gasset, no livro “A Rebelião das Massas”  define sem paciência: “Ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o homem (o ser humano) pode eleger para ser um imbecil: ambas são, de fato, formas de hemiplegia moral”. 

Ao não se sentir representado, o povo vai às ruas, volta a Ágora, para exigir, de viva-voz e com toda força e risco, o que quer dos governos. Faz isso, porque quem tem a obrigação de representá-lo, de defender os interesses dele, cuida de si mesmo e dos seus mais próximos. 

A deputada Joice Cristina Hasselmann abriu a apresentação dela com uma frase que tem significado no conceito da falta de compromisso com a representação. Disse ela: “Senhor presidente, senhora relatora, eu passei a investigar os crimes cometidos na internet, quando fui atingida por eles”. Mas, onde ficou, até ali, o interesse dos mais de um milhão de eleitores dela? E se ela não tivesse sido atingida? 

A representação é a essência da democracia. O Dicionário de Política, obra assinada por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Giafranco Pasquino, esgota a definição de Democracia na teoria política contemporânea, num elenco “mais ou menos amplo, de regras de jogo ou, como também se diz, de procedimentos universais”. O dicionário cita nove, todos eles vinculados à representação originada em eleições, “onde todos os eleitores devem ter voto igual e serem livres para votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional”. 

A imagem do Congresso Nacional é ruim. Seria melhor, bem melhor, se os deputados e os senadores conseguissem compreender que o papel deles é substituir os seus eleitores para estar no lugar deles no Parlamento. Mas, eles, visivelmente, preferem o uso de outro significado para a palavra representação. Escolheram a encenação, a teatralidade, o espetáculo e, como não são bons atores, têm-se o que se teve na CPMI das Fake News, no dia da estreia da deputada federal Joice Hasselmann no palco. 

Mesmo correndo o risco de ser longo demais, eu encerro dizendo que, como órgão de representação política, a CPMI teria como finalidade única aquela que tem por acessório: “Investigar a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. Algo que, com certeza, não será objeto de muita atenção.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Imagem real ou virtual?

O governador do Estado do Rio de Janeiro invadiu o campo no jogo final da Taça Libertadores, ajoelhou-se diante de um dos jogadores e beijou-lhe a mão. O governador tinha uma faixa em torno do pescoço e uma camisa por baixo do paletó, ambas do Flamengo. O jogador tratou o governador com desdém. A imagem do ato correu o mundo criticada. 

Teve gente que disse sentir “vergonha alheia”, mas também pessoas que não se incomodaram com isso, porque nada nos políticos as surpreende mais. Houve, do mesmo modo, quem, de boa memória, recordasse que  o governador, no início da campanha eleitoral, deixou claro e com orgulho o fato de ser torcedor do Corinthians. A declaração está na entrevista que ele concedeu ao repórter Alexandre Araújo, do Lance!. Ele disse literalmente: “Sou, desde criancinha, corintiano. Vivi o Corinthians na Era do Sócrates, por isso sou um grande democrata…”. 

A cena do gesto do governador diante do jogador do Flamengo acendeu em mim a lembrança de uma passagem do livro “1808”, do historiador Laurentino Gomes, que, recentemente, entregou aos leitores outra boa obra, “Escravidão”, que comecei a ler. 

Laurentino descreve no 1808, por citações, o ritual do “beija-mão”  na Corte de D. João VI. “Esse ritual”, diz ele, “Muito antigo, já tinha sido abolido havia bastante tempo pelas demais cortes européias, mas ainda era praticado em Portugal e pelos vice-reis no Brasil colônia”. 

Laurentino transcreve dois depoimentos sobre a solenidade. Escolhi um deles, o do cônsul inglês James Henderson: “As estradas que vinham da Cidade Nova, Catumbi e Mata Porcos ficavam repletas de oficiais e pessoas comuns, que pra lá se dirigiam em cabriolets, na garupa de cavalos ou a pé, todos à caça de alguma graça real. Quando as portas do palácio se abrem, acontece uma corrida promíscua para diante… Eles avançam numa mesma formação em direção ao andar superior, onde Sua Majestade está sentada, acompanhado de seus fidalgos (…). Era uma cerimônia que punha o monarca em contato direto com o vassalo, que lhe apresentava as devidas vênias e suplicava por alguma mercê”. 

Temos ali a imagem de um vassalo diante de um semelhante, que ele, no entanto,  julga ser seu soberano, alguém capaz de merecer todas as vênias e súplicas. Algo que passa longe das concepções de “um grande democrata da Era Sócrates”, porque alguém com tal concepção não aceitaria o papel de vassalo e menos ainda o de soberano. 

Somada a outras imagens que o governador tem produzido no mandato, aquela dele diante do soberano Gabigol, fecha o quebra-cabeças, de uma estratégia de comunicação. Garoto, eu gostava dos jogos de quebra-cabeças, onde você está obrigado a criar uma imagem completa juntando os pedaços dela embaralhados. É desse modo que se forma, na imaginação de todos, a imagem completa de alguém. 

Sem dúvida, o governador Witzel quer ser a imagem de representação da torcida do Flamengo na política. Como quis, por pouco tempo, ser a do Corinthians, pela figuração mental conveniente de ser um “grande democrata”. Cabe aqui, um desvio curto, para dizer que democratas não há pequenos ou grandes. Somos ou não somos. 

Para ser o flamenguista padrão que chegou ao Governo do Estado por méritos próprios, o governador beijou a mão de Gabigol e, antes, em outros jogos, tem sido visto em atos alucinados, como fez ao tentar, do campo, invadir a área dos torcedores em comemoração a uma vitória. 

No propósito de ser um flamenguista de sucesso na política, o governador não está sozinho, nem agora, nem no passado. Quase todo mundo gosta de tirar uma casquinha no sucesso dos outros. É vício da humanidade. 

Mas, ser somente líder político da maior torcida do planeta, não parece suficiente para o governador Witzel. Ele quer também a imagem de justiceiro, num estado em que o crime predomina.  Daí o vídeo da euforia no momento em que um atirador de elite matou o doente mental, que sequestrou um ônibus. Isso, também não parece suficiente, porque Witzel quer também a imagem do carioca apaixonado pelo carnaval. 

Ele tem conseguido o objetivo que persegue? A estratégia está correta? 

Isso é fato que precisa ser medido, mas a minha percepção é que não, por conta da ausência de um elemento fundamental na formação das imagens que perduram: a legitimidade de uma história pregressa, de um presente leal ao passado. 

Faltam ao governador as imagens de um passado que confirmem a imagem que ele quer ter no presente. Por exemplo, a imagem do torcedor de sempre do Flamengo, do carnavalesco de todos os carnavais e do combatente implacável contra o crime. Sem esses complementos será inútil o esforço do governador para alcançar a imagem que deseja. 

Sem legitimidade e fidelidade com o passado, a imagem de um político torna-se ato de puro oportunismo. Essa é outra lição importante da estratégia de formação de uma imagem na cabeça do eleitor: os pontos fortes são confirmados pela história, os pontos fracos são, muitas das vezes, aqueles dados como positivos por astúcia. Já se fez isso o suficiente para ensinar o eleitor a não ser enganado. Por isso, na política, os oportunistas estão deixando seus lugares vagos para aqueles que são autênticos, gostemos deles ou não. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

O impeachment de uns e de outros

Ora, o pouco caso com os partidos políticos é quase unanimidade. Seria ele, a motivação popular para expulsar um presidente? A lógica diz que não. Então, alguma coisa está mal explicada. E, está mesmo.

Os registros da história recente do Brasil comprovam que o ex-presidente Fernando Collor afastou os partidos para entregar as posições de governo ao crivo do ex-tesoureiro da campanha dele que, em razão do que fez com o privilégio que recebeu, provocou o impeachment. Não me parece ser essa a situação de agora.

Semelhança existe, isso sim, entre as causas do pedido de impeachment do Presidente dos EUA, Donald Trump, e, em 1974, do ex-presidente Richard Nixon. Os resultados, no final do processo, no entanto, poderão ser diferentes.

Na origem do problema está a estratégia comum dos dois presidentes republicanos de enfraquecer os adversários pela espionagem. Mas, a leitura dos cenários – atributo de uma estratégia – indica que o resultado final do pedido de impeachment do presidente Trump tem tudo para ser diferente do ocorrido com ex-presidente Nixon.

Trump está no final do primeiro mandato, já em ritmo de campanha para a reeleição. Nixon estava no início do segundo mandato, situação que garantia aos republicanos a permanência no poder, por um mandato inteiro, mesmo com o impeachment de seu presidente, como, de fato, aconteceu.

Entregar a cabeça do presidente Trump neste momento, significará, para os republicanos, com maioria no Senado, a transferência de sua agenda de campanha para os democratas, situação bem difícil de imaginar.

No ponto limite, se a opinião pública forçar uma decisão drástica, os republicanos, substituirão Trump por outro nome na disputa do próximo ano. Até lá manterão o poder seguro nas mãos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Liberdade de expressão ou libertinagem informativa?

Depois de caminhar por um atalho, retorno, como prometi, à caminhada iniciada no artigo publicado no dia 4 de novembro. Nele defendi que na relação da imprensa com a política, os jornalistas são agentes posicionados quase sempre na oposição. Mas, de vez em quando, meio envergonhados, sutis, ao lado dos governos. São agentes políticos! Sendo assim, não se deve esperar que os jornalistas cumpram a norma de bem informar e como estamos na era do espetacular, eles fazem de tudo para transformar as informações em notícias sensacionais.

Vargas Llosa, numa obra que abre as chaves do mundo moderno, “A Civilização do Espetáculo”, afirma: “A fronteira que tradicionalmente separava o jornalismo sério do sensacionalista e marrom foi perdendo nitidez, enchendo-se de buracos, até se evaporar em muitos casos, a tal ponto que em nossos dias é difícil estabelecer diferença nos vários meios de informação”.

“O que faz um jornalista?” Maurício Dias, que reputo um dos melhores jornalistas, respondeu, numa entrevista concedida em dezembro de 2012 e que está no Youtube: “Essencialmente, investiga. É redundante chamar um ramo do jornalismo de investigativo, porque toda reportagem é uma pergunta e toda notícia responde a uma pergunta”.

O jornalista Gerardo Reyes Copello, prêmio Pulitzer, escreveu “Periodismo de Investigación” e lá ele afirma: “Uma caracterização mais ampla do jornalismo de investigação concebe o repórter como um eficiente armador de quebra-cabeças, cujas peças estão dispersas e alguém trata de manter ocultas…”.

Reúno os conceitos de Maurício Dias aos de Reyes para concluir que todos os jornalistas são investigativos, eficientes armadores de quebra-cabeças, onde as peças (os fatos) estão colocadas à priori. Um dos melhores exemplos disponíveis da relação entre a imprensa e a política, é o caso Watergate, que Maurício Dias citou na entrevista indicada por mim. Maurício lembra que, o “Garganta Profunda”, informante que bem mais tarde se soube ser Mark Felt, do FBI, não passou uma só informação aos jornalistas Bob Wooward e Carl Berntein. Passou pistas, que os jornalistas saíam a investigar para transformar em informações e notícias.

Sobre o caso Watergate há pelo menos dois livros muito bons, “Todos os homens do Presidente” e “A Vida do Garganta Profunda”. É um caso exemplar de fidelidade canina à fonte e à investigação minuciosa antes de noticiar.

O tempo presente, contudo, é o da comunicação relâmpago e concorrência feroz pelo furo de reportagem online, situação que faz com que a imprensa, ao receber pistas ou informações, primeiro faça de tudo isso notícia, para depois, a depender dos efeitos, buscar a verdade. Se estragos houve, eles são resolvidos com um pedido de desculpas, no rabicho do telejornal ou numa nota de pé de página, e a vida segue.

Quem está na política deve compreender, quando traçar as estratégias de trabalho, que esse comportamento da imprensa veio pra ficar, é definitivo e não adianta espernear. Contudo, não precisa se conformar.

Em outros tempos sim, não tinha jeito, a reputação não sobrevivia aos impactos da imprensa. Hoje não, porque existem os canais diretos de comunicação do político e, de toda gente, com o povo, novidade que deveria levar os jornalistas a uma reflexão mais profunda sobre o papel que desempenham e a um tempo bom para aplicar o ofício de bem informar. Mas, mesmo que isso aconteça, e será difícil acontecer, a relação da política com comunicação dispensa, cada dia mais, a imprensa como intermediário na entrega da notícia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Lula solto. Bolsonaro livre?

Meu compromisso seria retomar a rota iniciada no artigo da semana passada, quando tratei da relação da imprensa com a política e firmei a minha opinião sobre o papel dos jornalistas como agentes políticos, que não conseguem, ainda que queiram, agir com isenção.

Contudo, preciso mudar o rumo da conversa, porque Lula voltou às ruas com base numa decisão do Supremo Tribunal Federal, fato que desejo comentar sob a ótica da imagem e dos conceitos da estratégia, ferramenta que avalia oportunidades, ameaças, pontos fortes e frágeis e cria mecanismos para que se conservem as conquistas.

O STF saiu com a imagem arranhada? Muito, apesar dos ministros, terem dado, no passado, uma no cravo e agora, outra na ferradura. Somos uma nação rachada ao meio desde 2014. Então, era de se esperar que, ao agradarem uma parte do povo com a prisão em 2ª instância e a outra parte, agora, com uma sentença inversa, os ministros tivessem zerado o jogo. Não zeraram, porque com relação à imagem, os ministros, na verdade, abriram uma segunda cicatriz na face.

O Supremo Tribunal Federal é, por definição, o guardião da Constituição e ao decidir sobre a aplicação dela não deveria ter dúvida. E, certamente, não tem. As decisões que contrariam decisões anteriores têm outro motivo. A Corte, como a imprensa, é formada por homens e mulheres com histórias de vida, simpatias e antipatias próprias, que se comunicam numa linguagem também muito própria. Ela lhes permite dizer a mesma coisa de modos mil vezes diferentes e coisas diferentes de mil modos iguais. O Supremo tem, além desses, outro argumento para as decisões controversas: o legislador brasileiro faz leis com jeitinho.

Há algum mal nesse modo do Supremo se relacionar com as leis e com a população? Se há, ele vem do início da nossa história, tempo suficiente para a gente aceitar o fato como tradição e ter menos aborrecimentos. Os livros “Tanques e Togas” e “Os Onze, o STF, seus bastidores e suas crises” dão boa mostra de como os ministros da Corte são humanos comuns com vigor político. No capítulo que comenta as consequências da morte do Ministro Teori Zavascki, “Os Onze” registra uma declaração do ex-ministro Sepúlveda Pertence sobre o STF. Diz ele: “O Supremo é um arquipélago de onze ilhas incomunicáveis”.

Para mostrar que o modelo não é exclusivo do Brasil, o livro continua a definição com a declaração do juiz da Suprema Corte americana, Oliver Wendell Holmes sobre o tribunal dele: “Nove escorpiões numa garrafa”. “Tanques e Togas” e “Os Onze foram escritos pelo jornalista Felipe Recondo, o segundo em parceria com Luiz Weber, jornalista e mestre em Ciência Política.

Nesse contexto, alguns perguntam: “Onde estará a segurança jurídica?”. Está em sabermos que as leis e decisões judiciais, em nossa terra, funcionam ao sabor dos ventos da política.

Antes que termine meu espaço, pulemos algumas casas para chegar ao Lula nas ruas. É o caso de se perguntar: E agora, para onde irá a política? Irá, com mais velocidade, para os extremos, dando ao centro, o destino que Cristo deu à igreja em Laodicéia: “…Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16).

E a batalha entre os extremos, quem vencerá? É cedo para saber, mas com Lula solto, Bolsonaro perde a liberdade para fazer o que anda a fazer por aí se quiser conquistar outro mandato. Mas, ele ganha a oportunidade de receber de volta os apoios que vem perdendo de antigos eleitores e aliados e tudo deveria fazer para conservá-los porque, na vida, não há insubstituíveis.

Para não termos o PT de volta ao poder, nós substituiremos Bolsonaro se ele não for a garantia que precisamos. Os liberais, certamente, têm bons personagens.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Bolsonaro: “Vivendo e aprendendo a jogar”

Não espere do jornalismo mais do que ele é e tem sido, aqui e no mundo. Isso pode levar você a conclusões precipitadas sobre o papel da imprensa. E se você lidar com a política, poderá ter dores de cabeça.

O jornalista e professor Eugênio Bucci publicou há tempos o livro “Ética e Imprensa” e na introdução afirmou: “O jornalista não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público; ele não tem autorização ética para perseguir outros fins que não este. Além disso, é cada vez mais chamado a pensar nas consequências do que faz…”

Será?

Em todos os tempos e lugares, o jornalista tem sido um profissional, que age para fazer, sem isenção pessoal, da notícia um instrumento de ação política. Eugênio Bucci admite isso no primeiro capítulo do livro, mas dá aos fatos que narra, todos sobre o Jornal Nacional, o caráter de exceção recriminada. Quando não são.

Na semana passada, o Jornal Nacional aproximou a imagem do presidente Jair Bolsonaro do assassinato da vereadora Mariele e do motorista dela. O presidente soltou os cachorros!

Pelo modo como as informações se organizaram, se a intenção do Jornal Nacional fosse “obter resultados que não sejam o de bem informar o público”, a confusão não teria acontecido. O fato não seria notícia, se o editor colocasse frente a frente as duas informações que recebeu. Uma dizia que Jair Bolsonaro, de viva-voz, ele próprio, teria autorizado a entrada no condomínio onde residia, de um dos assassinos da vereadora, para que ele se encontrasse com o outro, residente no mesmo condomínio e, de lá, os dois saíssem para cometer o crime. Isso faria do Jair Bolsonaro, cúmplice no assassinato.

A outra informação obtida pelo Jornal Nacional mostrava, com provas irrefutáveis, a impossibilidade de ser verdade o primeiro dado, porque Jair Bolsonaro, no mesmo dia e hora, estava em Brasília. Um editor preocupado em “bem informar o público, sem autorização ética para perseguir outros fins”, teria dado à notícia uma conotação diferente a favor do presidente, porque essa era a notícia, ou teria encerrado o caso ou, ainda, solicitado uma investigação mais profunda, para melhor calçado voltar à estrada. Nada disso ele fez e o Jornal Nacional veiculou a notícia com a sutil intenção de levantar dúvidas sobre o presidente.

Mas, a atitude não é exclusiva do sistema Globo, como muita gente quer crer, inclusive, Eugênio Bucci, com os exemplos que apresenta no livro.

Al Franken é um comediante americano, autor de um bestseller, “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam – Uma visão imparcial e equilibrada da direita”. Vale ler. Nela estão citados, entre os grandes do jornalismo, nada menos que Washington Post, New York Times e CNN com exemplos comprovados de distorções transformadas em notícias para uso político, na relação da imprensa com as eleições americanas.

Eu elaboro estratégias de ação política, identifico oportunidades e ameaças aos projetos que me são colocados. A expectativa errada do político com relação ao papel dos jornalistas é uma ameaça aos projetos dele. Na relação da imprensa com a política, eu desconheço (pode ser ignorância), casos em que sobreviveu o interesse de bem informar à intenção de criar imagens que, verdadeiras ou falsas, construam a decisão do eleitor.

O tema é extenso. Voltarei a ele na próxima semana.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Mais soluções, menos burocracias

Fala-se por aí em reforma administrativa. Seria boa providência, porque o Estado é fundamental prestador de serviços para a população toda e, em especial, para a população pobre e para a classe média. E sabe-se que a qualidade do serviço público no Brasil é das piores. Resta saber como será a reforma, tema muito antigo na pauta nacional. Outras vezes já se tentou fazê-la e nada de concreto se conseguiu porque, no fim da linha, as corporações venceram. 

Dê no que der a reforma, o serviço prestado ao público pelo Estado Brasileiro já poderia ser melhor, pela simples adoção de práticas administrativas e uso adequado de uma tecnologia que o mercado já oferece. O Estado opera pouco com aplicativos e nesse campo há muito a explorar. Na campanha para a Prefeitura do Rio, em 2016, Indio da Costa, candidato, navegou bastante pelo tema, que por um erro de comunicação do candidato com o público e ação nociva dos adversários, virou chacota. 

Sabe-se que é possível sim, com o uso de aplicativos, reduzir barbaramente a burocracia, organizar as filas de atendimento, enquanto elas existirem e acabar com a velha prática de criar dificuldades para vender facilidades .

Outro campo em que o Estado que pode melhorar muito é o da comunicação dos seus agentes com o público e nesse sentido faz bem ler a matéria: “Discurso afinado”, da revista Meio & Mensagem, de 28 de outubro. A matéria está assinada por Karina Balan Julio. Nela está uma nova abordagem das empresas de RP (relações públicas) no trabalho com o pessoal das empresas, que fala com o público. 

Um dos motivos da reputação ruim dos servidores públicos é a maneira como eles se comunicam com o público externo e com o público interno. Nesse ponto, a matéria da Karina mostra um caminho novo adotado pelo setor privado, que eu entendo, caberia muito bem no setor público.

O primeiro ponto é a escolha dos porta-vozes. A matéria do Meio & Mensagem alerta que as empresas de comunicação têm aplicado treinamentos de interlocução em todos os níveis funcionais das empresas. 

“Não bastava que apenas a diretoria carregasse o discurso, todos na empresa precisavam entender e falar sobre inovação. Antes quem falava para fora era apenas o diretor ou presidente, mas hoje estamos capacitando diferentes pessoas para falar”, avisou Sabrina Sciama, diretora de relações corporativas da Visa. 

Helena Bertho, gerente de comunicação da Coca-Cola, foi na mesma linha: “Os porta-vozes eram tradicionalmente treinados hierarquicamente, primeiro os vice-presidentes, depois diretores e, então, gerentes sênior. Com o passar do tempo, entendemos que seria interessante ter mais especialistas falando sobre temas de interesse da companhia”. 

Na administração pública a principal voz é da liderança política, escolhida pelo voto popular, mas todos os agentes públicos são cobrados para falar e falam distribuindo confusão. O treinamento amplo ajudaria bastante melhorar a reputação do setor público. 

Outro ponto é o uso da linguagem adequada. É preciso acabar com o discurso excessivamente formal e impessoal e confuso. Diz a matéria: A linguagem direta e orgânica, característica da era digital estimula que porta-vozes adotem um novo tomo diante de consumidores, colaboradores e demais stakeholders. 

“Temos visto uma mudança de linguagem gritante. O mundo em que vivemos hoje é cada vez menos intermediado e, por isso, as pessoas querem se comunicar de maneira mais direta” (Eduardo Vieira, do Grupo Ideal).

Por fim, há a questão dos canais. O setor público ainda vive o formato da relação com a imprensa, mas a comunicação hoje se dá nas redes, canais que o setor público utiliza pouco, mas que mostra, a cada dia, maior poder de convencimento.

Por Jackson Vasconcelos