Publicado em

No jogo político, a imprensa tem lado

Um erro bem comum na política é enxergar a imprensa como uma arma do demônio e, nas campanhas, como instrumento de notícias imparcial. A imprensa, na política e nas campanhas, é um agente político. Vi políticos e candidatos acreditarem-se com vantagem, porque estariam protegidos pela boa relação com a imprensa. Mas, eles, em algum momento, decepcionam-se e aborrecem-se. 

A imprensa, na política e nas campanhas só tem boa relação com os fatos que conseguem audiência e se o ambiente é de polarização, como tem acontecido, ela aplica todos os seus esforços aí.  O Brasil tem um histórico bem interessante na relação da imprensa com a política: Samuel Wainer, Chateaubriand, Roberto Marinho, Lacerda, Ari de Carvalho, José Maria Rebello, que faleceu no finalzinho do ano passado, com 94 anos de idade. Ele criou o Binômio, um jornal dedicado, quase exclusivamente, a fazer oposição a Juscelino Kubitschek. 

O historiador Cláudio Bojunga, biógrafo de Juscelino, autor do livro “JK o artista do impossível”, registra: “Juscelino também era bombardeado por um jornaleco chamado O Binômio, precursor da imprensa alternativa, editado por José Maria Rabelo e Euro Arantes, cujo primeiro número saiu no dia 22 de fevereiro de 1952. O nome já era uma gozação do slogan do governador, que eles reescreveram como “sombra e água” fresca, insinuando que concordavam com Oscar Dias Correia em apresentar JK como indolente e gozador da vida(…). José Maria Rabelo diz hoje que O Binômio foi “uma brincadeira que a política levou a sério”. 

Numa das viagens de JK, governador, a Araxá, ele levou, na comitiva, o empresário de jogos e turismo, Joaquim Rolla. O Binômio produziu a manchete: “JK foi a Araxá e levou Rolla”. O secretário de Segurança Pública, Geraldo Vidigal – disse Bojunga, alegou ofensa às tradições morais do povo mineiro e mandou recolher a edição. 

No livro do Bojunga há várias outras menções ao tipo específico de relação da imprensa com a política. Mas, quem quiser ir além disso, pode usar a biografia de Samuel Wainer, “Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter” ou ao “Chatô, o Rei do Brasil”. E muitas outras obras. 

O Presidente Jair Bolsonaro não gosta da imprensa. Hillary Clinton também não. O ex-Presidente Trump, muito menos. Fernando Henrique Cardoso, nem se fala! Lula apanhou muito. Brizola odiava o Sistema Globo de Rádio, jornal e tv e era odiado por ele. Ari de Carvalho, proprietário do jornal O Dia, enquanto viveu,  pintava e bordava com os políticos que não se alinhavam com ele. 

Então, seria razoável dizer que a imprensa, no jogo político, é um agente de oposição. Mas não é bem isso. Ela é um agente político que, por conveniência dos editores e interesse comercial, ou até mesmo por espírito de vingança dos repórteres, pode ser de oposição ou de situação. 

O jornalista Maurício Dias me disse algumas vezes: “Não acredito em liberdade de imprensa, mas em liberdade de expressão e liberdades políticas. Os veículos de comunicação têm interesses políticos, econômicos e comerciais”. Esta declaração está presente também numa longa entrevista que ele concedeu ao Mercado de Notícias, disponível no Youtube.

A política e a imprensa são temas que se misturam e quem faz política precisa conhecer muito bem esta relação se quiser sobreviver com sucesso. Mas, quem faz imprensa no segmento da política também necessita, para não estimular o risco de ser usado. 

No histórico da relação da imprensa com a política existem casos – muitos casos – que mostram o quanto isso acontece. Um bom exemplo é a substituição da Ministra Dorothea Werneck pelo político Francisco Dornelles no Ministério da Indústria e Comércio no governo Fernando Henrique Cardoso. 

O presidente queria a troca, mas não tinha como justificá-la com a Ministra. Então, o jornalista Márcio Moreira Alves ajudou com uma coluna dedicada exclusivamente ao Francisco Dornelles, do título ao ponto final. 

Não se pode encerrar um artigo em que se trate da relação da imprensa com a política sem trazer um caso clássico: Watergate. Dois jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein levaram um presidente americano à lona – Richard Nixon. A história foi reproduzida num livro do qual se fez um filme, “Todos os homens do presidente”. 

É um clássico de preservação da fonte, que só se soube quem era quando o próprio informante declarou-se muitos anos depois do fato. Um clássico também de investigação realizada pela imprensa. O  informante nunca deu uma informação aos jornalistas, mas pistas, que eles perseguiram na apuração. Sobre o tema é também relevante a leitura de Garganta Profunda, outro clássico sobre a relação da imprensa com a política. 

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Bolsonaro e o “tecnopopulismo” de Gabeira

Fernando Gabeira publicou na última sexta-feira(7), no Estadão, o artigo , “Os caminhos do tecnopopulismo”. No centro, está Jair Bolsonaro, mas para encaminhar o assunto principal: o jogo da imprensa tradicional contra as redes digitais. 

Desde a facada no abdômen do Jair Bolsonaro durante a campanha para presidente, a imprensa brasileira não trata de outra pessoa com o relevo que dá a ele. Nem a potência destruidora da pandemia e as fake-news excluíram  o presidente do noticiário principal. Pelo contrário, ele está misturado nisso tudo. 

No caso da pandemia por conta própria e no das fake-news, por estratégia da imprensa, do judiciário e das lideranças políticas feridas pelo presidente. Toda essa gente quer convencer o povo que a eleição do Jair Bolsonaro foi uma fraude tornada possível pela liberdade que se tem para usar as redes digitais. 

Certamente, na história política do Brasil, ninguém ocupou o espaço que Jair Bolsonaro tem na imprensa. Do soar da alvorada às madrugadas do dia seguinte, todos os dias e todas as noites, Jair Bolsonaro é assunto negativo de forte impacto. 

Pontualmente, alguém dá créditos bons ao presidente. Mas, no geral, sentam-lhe o sarrafo, com vontade, sem dó, sem piedade e até com outros propósitos que não somente arranhar a imagem dele a ponto de racha. É a luta para inviabilizar o segundo mandato. 

É o que fez Fernando Gabeira no artigo de sexta-feira, no Estadão.  Ele afirma: “Ainda estamos por construir uma teoria sobre o declínio do populismo, porque, em termos históricos, ele acabou de se instalar em bases novas, num contexto transformado pela revolução digital. A pandemia deu-nos uma pista”.  

Traduz-se que o populismo, troço ruim na consciência de muita gente, ressurgiu por causa das redes digitais usadas intensamente por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas campanhas e no governo.  Sobre o populismo, temos “Política Urbana no Brasil”, livro de Michael Conniff, publicado com o patrocínio do prefeito César Maia, de quem recebi a obra em 2006. Vale a pena ler. É o jeito bom e inteligente de entender o fenômeno e compreender que uma coisa que Jair Bolsonaro não é, é populista. Eu não consigo ainda dizer o que ele é, mas, populista, certamente, não. 

Depois de navegar sobre os defeitos do presidente Jair Bolsonaro e deixar Donald Trump pelo caminho, Fernando Gabeira retoma o assunto principal: redes digitais versus imprensa profissional. 

Escreveu ele: “Outro fator que tem peso é a relação dos tecnopopulistas (usuários, portanto, das mídias digitais), com a imprensa profissional. Eles a incluem no sistema decadente que pretendem destruir. Consideram-na um lixo desprezível e articulam sua comunicação por meio das redes sociais e pequenos veículos, que possam comprar com sua verba publicitária”. Tem-se, aqui, o descrédito da imprensa profissional como resultado das manobras dos modernos populistas. Será mesmo? 

Chamei-me a comentar o artigo do Gabeira não em razão do presidente Bolsonaro, sujeito bom de voto, ruim de política e minha inspiração quando construí Kamikaze, publicado no Boletim da Liberdade em 18 de maio e replicado no meu blog. Se há alguém que joga com mais competência contra o presidente, esse alguém é ele mesmo. 

Entrei no assunto do Fernando Gabeira pela questão estratégica. 

Há, sim, na imprensa tradicional com a ajuda muito evidente da Justiça, o desejo de tirar a credibilidade das mídias digitais e o papel delas na comunicação política. A imprensa, representada por seus profissionais, está incomodada com a queda de importância e atribui a isso a existência das mídias digitais. Fernando Gabeira é mais um. O desejo dele é proteger a imprensa tradicional e o monopólio que ela tinha das informações. 

E, sabe-se, a imprensa não fez por merecer o crédito que já teve. 

Antes do Jair Bolsonaro a população e seus representantes já rejeitavam a imprensa tradicional, que Gabeira chama de “profissional”. Bolsonaro e Donald Trump, citados por Gabeira, ajudaram zero nisso. Jair Bolsonaro só se aproveitou de um processo iniciado em razão do trabalho da própria imprensa. Fernando Henrique, Lula, Brizola, Juscelino, e outros, nunca suportaram a imprensa, só não conseguiam fazer política sem ela. As redes digitais agora permitem. E quando se inclui Donald Trump na história, bom exercício é saber porque Hillary Clinton desistiu da imprensa e passou a se comunicar com o público exclusivamente via Twitter, mesmo na campanha.  O desprezo à imprensa é quase unanimidade na política e na população. 

Sem as mídias digitais, a imprensa fazia miséria com a reputação alheia é isso atingidos não tinham pra onde correr. Alguns até buscavam reparação via direito de resposta, instrumento protegido pela própria Constituição, mas quem já precisou usar esse caminho sabe que ele é quase inútil. 

Eu não gostaria de perder a liberdade de expressão que as redes me conferem. E você?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Podcast 6: Moro x Jair? Nem pensar

Os seis jornalistas do Roda Viva tentaram intrigar o Ministro Sergio Moro com o Presidente da República e convencê-lo de ser um constrangimento estar no governo do Jair Bolsonaro. Não conseguiram. Moro venceu.

Esse é o assunto do Podcast #6 de Jackson Vasconcelos.

Publicado em Deixe um comentário

Liberdade de expressão ou libertinagem informativa?

Depois de caminhar por um atalho, retorno, como prometi, à caminhada iniciada no artigo publicado no dia 4 de novembro. Nele defendi que na relação da imprensa com a política, os jornalistas são agentes posicionados quase sempre na oposição. Mas, de vez em quando, meio envergonhados, sutis, ao lado dos governos. São agentes políticos! Sendo assim, não se deve esperar que os jornalistas cumpram a norma de bem informar e como estamos na era do espetacular, eles fazem de tudo para transformar as informações em notícias sensacionais.

Vargas Llosa, numa obra que abre as chaves do mundo moderno, “A Civilização do Espetáculo”, afirma: “A fronteira que tradicionalmente separava o jornalismo sério do sensacionalista e marrom foi perdendo nitidez, enchendo-se de buracos, até se evaporar em muitos casos, a tal ponto que em nossos dias é difícil estabelecer diferença nos vários meios de informação”.

“O que faz um jornalista?” Maurício Dias, que reputo um dos melhores jornalistas, respondeu, numa entrevista concedida em dezembro de 2012 e que está no Youtube: “Essencialmente, investiga. É redundante chamar um ramo do jornalismo de investigativo, porque toda reportagem é uma pergunta e toda notícia responde a uma pergunta”.

O jornalista Gerardo Reyes Copello, prêmio Pulitzer, escreveu “Periodismo de Investigación” e lá ele afirma: “Uma caracterização mais ampla do jornalismo de investigação concebe o repórter como um eficiente armador de quebra-cabeças, cujas peças estão dispersas e alguém trata de manter ocultas…”.

Reúno os conceitos de Maurício Dias aos de Reyes para concluir que todos os jornalistas são investigativos, eficientes armadores de quebra-cabeças, onde as peças (os fatos) estão colocadas à priori. Um dos melhores exemplos disponíveis da relação entre a imprensa e a política, é o caso Watergate, que Maurício Dias citou na entrevista indicada por mim. Maurício lembra que, o “Garganta Profunda”, informante que bem mais tarde se soube ser Mark Felt, do FBI, não passou uma só informação aos jornalistas Bob Wooward e Carl Berntein. Passou pistas, que os jornalistas saíam a investigar para transformar em informações e notícias.

Sobre o caso Watergate há pelo menos dois livros muito bons, “Todos os homens do Presidente” e “A Vida do Garganta Profunda”. É um caso exemplar de fidelidade canina à fonte e à investigação minuciosa antes de noticiar.

O tempo presente, contudo, é o da comunicação relâmpago e concorrência feroz pelo furo de reportagem online, situação que faz com que a imprensa, ao receber pistas ou informações, primeiro faça de tudo isso notícia, para depois, a depender dos efeitos, buscar a verdade. Se estragos houve, eles são resolvidos com um pedido de desculpas, no rabicho do telejornal ou numa nota de pé de página, e a vida segue.

Quem está na política deve compreender, quando traçar as estratégias de trabalho, que esse comportamento da imprensa veio pra ficar, é definitivo e não adianta espernear. Contudo, não precisa se conformar.

Em outros tempos sim, não tinha jeito, a reputação não sobrevivia aos impactos da imprensa. Hoje não, porque existem os canais diretos de comunicação do político e, de toda gente, com o povo, novidade que deveria levar os jornalistas a uma reflexão mais profunda sobre o papel que desempenham e a um tempo bom para aplicar o ofício de bem informar. Mas, mesmo que isso aconteça, e será difícil acontecer, a relação da política com comunicação dispensa, cada dia mais, a imprensa como intermediário na entrega da notícia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Bolsonaro: “Vivendo e aprendendo a jogar”

Não espere do jornalismo mais do que ele é e tem sido, aqui e no mundo. Isso pode levar você a conclusões precipitadas sobre o papel da imprensa. E se você lidar com a política, poderá ter dores de cabeça.

O jornalista e professor Eugênio Bucci publicou há tempos o livro “Ética e Imprensa” e na introdução afirmou: “O jornalista não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público; ele não tem autorização ética para perseguir outros fins que não este. Além disso, é cada vez mais chamado a pensar nas consequências do que faz…”

Será?

Em todos os tempos e lugares, o jornalista tem sido um profissional, que age para fazer, sem isenção pessoal, da notícia um instrumento de ação política. Eugênio Bucci admite isso no primeiro capítulo do livro, mas dá aos fatos que narra, todos sobre o Jornal Nacional, o caráter de exceção recriminada. Quando não são.

Na semana passada, o Jornal Nacional aproximou a imagem do presidente Jair Bolsonaro do assassinato da vereadora Mariele e do motorista dela. O presidente soltou os cachorros!

Pelo modo como as informações se organizaram, se a intenção do Jornal Nacional fosse “obter resultados que não sejam o de bem informar o público”, a confusão não teria acontecido. O fato não seria notícia, se o editor colocasse frente a frente as duas informações que recebeu. Uma dizia que Jair Bolsonaro, de viva-voz, ele próprio, teria autorizado a entrada no condomínio onde residia, de um dos assassinos da vereadora, para que ele se encontrasse com o outro, residente no mesmo condomínio e, de lá, os dois saíssem para cometer o crime. Isso faria do Jair Bolsonaro, cúmplice no assassinato.

A outra informação obtida pelo Jornal Nacional mostrava, com provas irrefutáveis, a impossibilidade de ser verdade o primeiro dado, porque Jair Bolsonaro, no mesmo dia e hora, estava em Brasília. Um editor preocupado em “bem informar o público, sem autorização ética para perseguir outros fins”, teria dado à notícia uma conotação diferente a favor do presidente, porque essa era a notícia, ou teria encerrado o caso ou, ainda, solicitado uma investigação mais profunda, para melhor calçado voltar à estrada. Nada disso ele fez e o Jornal Nacional veiculou a notícia com a sutil intenção de levantar dúvidas sobre o presidente.

Mas, a atitude não é exclusiva do sistema Globo, como muita gente quer crer, inclusive, Eugênio Bucci, com os exemplos que apresenta no livro.

Al Franken é um comediante americano, autor de um bestseller, “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam – Uma visão imparcial e equilibrada da direita”. Vale ler. Nela estão citados, entre os grandes do jornalismo, nada menos que Washington Post, New York Times e CNN com exemplos comprovados de distorções transformadas em notícias para uso político, na relação da imprensa com as eleições americanas.

Eu elaboro estratégias de ação política, identifico oportunidades e ameaças aos projetos que me são colocados. A expectativa errada do político com relação ao papel dos jornalistas é uma ameaça aos projetos dele. Na relação da imprensa com a política, eu desconheço (pode ser ignorância), casos em que sobreviveu o interesse de bem informar à intenção de criar imagens que, verdadeiras ou falsas, construam a decisão do eleitor.

O tema é extenso. Voltarei a ele na próxima semana.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Mentira tem perna curta?

Sugiro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, livro que tem como autor um time de 14 pesquisadores coordenados pelo Al Franken, mestre da sátira política americana. A obra, de 2004, confronta os profissionais da imprensa com as inverdades que constroem para participarem da vida política, tentando o papel de ator principal.

Eu deveria ter feito a sugestão de leitura no tempo das campanhas  eleitorais de 2018, porque elas foram a representação brasileira da obra. Mas, de certo modo continuam sendo, porque os governos eleitos ainda permanecem em campanha e a imprensa faz o mesmo.

O livro age parecido com o que se tenta fazer por aqui com a agência Lupa: checar as informações veiculadas pelos candidatos e mídia.

O livro tem lado político e a agência Lupa claudicou na campanha de 2018, porque adotou a mesma postura.

Já nas primeiras páginas, o livro é bom e engraçado. Ann Coulter, colunista famosa de diversos jornais importantes dos EUA, advogada, mereceu um capítulo do livro. O autor comenta um dos livros escritos pela Ann. Vamos lá:

“Para sustentar sua afirmação de que a grande mídia está nas mãos de esquerdistas, Coulter afirma que o chefe da sucursal da Newsweek em Washington, Evan Thomas, é filho de Norman Thomas, um candidato socialista à presidência em quatro ocasiões. Norman Thomas foi candidato socialista seis vezes… e não era pai de Evan Thomas”.

“Para ser justo com Coulter, esse tipo de pesquisa é difícil de fazer”. Al Franken, simplesmente, ligou para Evan Thomas, e transcreve o telefonema no livro:

– Evan, obrigado por atender à minha ligação.
– Tudo bem, Al. O que deseja?
– Norman Thomas foi seu pai?
– Não.
– Tem certeza?
– Sim.
– E como era o nome do seu pai?
– Evan Thomas. Eu sou Junior
– Ah! E seu pai, Evan Thomas, foi candidato à presidência?
– Não. Ele era editor.
– Tem certeza?
– Sim. Al, isso tem a ver com aquela coisa da Ann Coulter?
– Sim.
– Ouvi falar nisso. Há alguma coisa errada com ela?

É o não é assim, por aqui? A imprensa brasileira não confere, nem pergunta, simplesmente, afirma e quando pergunta, não considera as respostas, a não ser para apresentá-las ao distinto público como deboche.

O livro vale como instrumento de elaboração de estratégias de comunicação para campanhas. Em especial, o capítulo 15: A turma do ‘culpe primeiro o ex-presidente americano’, referindo-se ao 11 de setembro e ao ex-presidente Clinton. Não se culpe, nem se lamente, se no correr da leitura você lembrar do Jornal Nacional, e das imagens do William Bonner e da Ana Paula.

Boa leitura.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

O velho e cansado partido político

Você vê algum problema no fato do presidente da República aceitar indicações de nomes pelos partidos para compor o governo? Bernardo de Mello Franco não gosta do modelo e como quase todo mundo, tem motivos para não gostar.

Hábil como um diplomata, desses diplomatas de tempos menos ácidos, Bernardo Mello Franco, com fina ironia, marca posição contra o modelo, ao comentar a escolha de três ministros filiados ao DEM:  

“O velho PFL volta ao coração do poder”, diz ele no título do artigo que o Globo veiculou ontem, quarta-feira (21). Em seguida, Bernardo avança na provocação: “Depois de amargar 13 anos na oposição, o DEM retomou a vocação governista com Michel Temer… Na gestão que termina, o antigo PFL comandou a pasta da Educação…”.

Adiante, ele menciona a opinião do presidente do Democratas, ACM Neto, prefeito de Salvador: “São bons nomes, mas não são indicações partidárias”. Uma situação que Bernardo traduz como “escolhas pessoais do presidente”, para tocar na ferida: toda vez que um partido se refere à nomeação de um dos seus sem assumi-la, faz isso para lembrar que não está sendo atendido e, portanto, sente-se liberado para não atender quem nomeou.

No O Globo de hoje, quinta-feira (22), Bernardo manteve o tema, no artigo “Bolsonaro aposta contra os partidos”.

Mas, há como montar governos sem dividir responsabilidade com os aliados? Não há. Já está claro que não. O que fazer, então?

Assumir o modelo com franqueza e ter responsabilidade. Chega de governos que dividem com os partidos o botim do roubo, das vantagens pessoais, dos interesses de cada um. Depois do tsunami eleitoral que passou pelo Brasil, estamos em boa hora para os partidos acabarem de vez com o comportamento de fugirem da obrigação de disciplinar seus filiados.

Sejam por escolhas pessoais ou partidárias, os ministros filiados aos partidos carregam a marca da origem. É assim que o povo brasileiro vê todos eles. Quem duvida disso, que procure saber, as causas de muitos brasileiros e brasileiras terem fugido do PT e do MDB como o diabo foge da cruz. Eleitor não é bobo.

Se os partidos entenderem que é deles a obrigação de disciplinar os seus, certamente, os artigos do Bernardo Mello Franco serão menos irônicos quando fizerem referência a eles.

Por Jackson Vasconcelos