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OS BACANAS E AS FAVELAS

Jackson Vasconcelos, 21 de outubro de 2024

Vejam só! Meio & Mensagem, sob o título “Potencial (Ainda) Inexplorado)”dá notícias da pujança econômica das favelas brasileiras, trabalho feito com base numa pesquisa (tracking) da organização “Nós – Novo Outdoor Social”. A matéria está assinada por Fernando Murad, que prometeu novos capítulos. 

Os números apresentados pela matéria, de fato, indicam um “conglomerado” econômico pujante. O Brasil possui mais de 10 mil favelas, a maioria no Sudeste. Nelas há 6,5 milhões de residências ocupadas por 17 milhões de pessoas e 260 mil empresas com CNPJ. Gente que consome 167 bilhões de reais. A matéria não dá o período. Mas, certamente, é um valor anual. 

Claro que essas são boas notícias sobre um tema sempre apresentado de forma negativa para a população, com o estigma de marginalidade e violência. O trabalho do “Nós – Novo Outdoor Social” é um esforço que se soma a outros tantos de pessoas que moram nas favelas e gritam para o mundo em volta: “estamos vivos, estudando, trabalhando, dando empregos e produzindo. Amamos viver”. 

O Meio & Mensagem avisou que a matéria é a primeira de uma série sobre a economia nas favelas. Não está dito, mas é possível que a iniciativa tenha o G-20 como objetivo. O encontro acontecerá no Rio em novembro e dias antes abrirá espaço para o que chamam de G20 Social, algo que o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, com o estilo bem do Partido dos Trabalhadores, identificou como a oportunidade para o povo dar o seu recado para os “20 bacanas de paletó e gravata ou 20 mulheres bem vestidas, que tomam decisões para o mundo todo”. 

Meu primeiro contato intelectual com as favelas se deu quando, numa visita à Biblioteca Nacional, em 1980, encontrei uma pesquisa publicada no Estadão, em abril de 1960, mês da inauguração de Brasília, com o título “Aspectos Humanos da Favela Carioca”. Obtive uma cópia, estimulado pelo tema e curioso sobre o motivo de um trabalho com mais de mil páginas ter sido financiado e divulgado por um jornal de São Paulo, referindo-se às favelas cariocas e ter sido coordenado por um padre francês, o economista Louis Joseph Lebret. Li e estudei todo o trabalho. 

Existiam no Rio de Janeiro, na época, 16 favelas, Jacarezinho, Morro de São Carlos, Favela do Esqueleto, Barreira do Vasco, Favela Vila do Vintém, Parada de Lucas, Vila Proletária da Penha. Cordovil, Morro do Telégrafo, Morro do Bonsucesso, Morro da Providência, Favela do Escondidinho, Praia do Pinto. Rocinha, Parque Proletário da Gávea e Cantagalo. Hoje são quase 800. O Censo de 2010 do IBGE identificou 746. 

Cinquenta anos após a publicação da pesquisa, um grupo de professores intelectuais organizou um “colóquio”, para reavivar a pesquisa. Isso em 2010, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Aconteceu em maio. Eu passei por lá. Na época, eu andava envolvido com a campanha do Peter Siemsen para a Presidência do Fluminense e isso prejudicou a minha vontade de assistir todas as palestras e apresentações. O evento ocorreu durante três dias. 

Contudo, anos depois, fuçando o tema na Amazon, encontrei o livro “Favelas Cariocas ontem e hoje”, um compêndio sobre o encontro. O livro ofereceu um CD com a pesquisa de 1960 completa. O CD é algo impossível de usar hoje por falta de computadores que permitam. Eita evolução rápida. O livro é de 2012, tem 516 páginas. Nele, Licia do Prado Valladares, pioneira no estudo sobre as favelas cariocas, autoridade no tema, respondeu à minha dúvida sobre o fato de o Estadão ter financiado e divulgado a pesquisa em abril de 1960. 

Escreveu ela: 

“Convém agora explicar o paradoxo do financiamento de uma pesquisa sobre o Rio de Janeiro por um jornal de São Paulo. Discutir essa questão, aparentemente sem importância, vai nos ajudar a esclarecer os propósitos e o contexto político em que a pesquisa foi realizada. 

Em primeiro lugar, voltemos ao contexto político geral. Na segunda metade dos anos 1950, a construção da nova capital, Brasília, mobilizou todos os setores da economia brasileira, todos os grupos e partidos políticos, a imprensa e os meios de comunicação. Juscelino Kubistchek, defensor das propostas desenvolvimentistas, era atacado pela UDN, partido das elites conservadoras, e pelo jornal O Estado de São Paulo. Este órgão de imprensa buscava desestabilizar Juscelino publicamente, atacando em especial a construção da nova capital, considerada desastrosa do ponto de vista econômico. Os editoriais e os artigos defendiam a ideia de que seria preferível investir os milhões lutando contra a pobreza no Rio de Janeiro. De fato, a pobreza não parava de crescer, ameaçando cada dia mais os bairros ricos da capital, e há bastante tempo as favelas constituíam um importante tema do debate político. A realização de um grande estudo científico sobre as favelas seria, portanto, capaz de fornecer ao jornal Estado de São Paulo argumentos sólidos contra a política de descentralização do poder federal.” Em resumo: “Senhor Presidente, pare de gastar com a construção de Brasília e coloque dinheiro para acabar com a miséria no Rio de Janeiro”. 

Para não tornar esse texto em um relato cansativo, encerro aqui, aproveitando o que está na abertura – as notícias sobre a economia pujante das favelas brasileiras – para sugerir a leitura do livro que me serviu de base para nossa conversa e de outro, esse da Lícia Valladares, “A invenção da favela. Do mito de origem a favela.com”  que aborda os desafios para se compreender uma favela globalizada e conectada, composta de uma geração nova, que Lícia chama de “universitários da favela”.  A obra da Lícia fala de bem perto com a matéria do Meio & Mensagem. 

Pois bem, gente. Apesar de tudo o que fazem contra às pessoas que residem nas favelas e comunidades, lá tem gente que luta todos os dias para produzir e viver melhor. Se os governos entendessem que a felicidade completa está numa medida simples, seria tudo mais fácil. Basta que tirem as armas de lá. 

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WASHINGTON CORREU PARA A PUBLICIDADE CAMINHAR EM PAZ

Gabriel Medeiros, 14 de outubro de 2024.

O maior de todos se foi.
O cara que pavimentou um terreno descampado para o Nizan caminhar em paz. Pavimentou para os publicitários dos anos 80, 90, 2000 e os formandos de 2024, 25, 30, 35 caminharem em paz. Washington estava 30 anos na frente e vai continuar.

Assim como Nelson Piquet inventou o pit stop para o fórmula 1, o Washington inventou a criatividade simples para a publicidade.

Forno que faz comida.
Carro que te leva de um ponto ao outro.
Esponja de aço que cumpre o que promete. Mas sempre com inteligência e humor afinados.

Mil anos luz à frente dessa publicidade chatinha que te obriga a ter afinidade sentimental com uma máquina de lavar.
O storytelling (do jeito que é usado hoje) estragou muita ideia boa por aí.

Washington é hors concurs.

A publicidade mundial te agradece. Obrigado por tudo.

GABRIEL MEDEIROS

Publicitário, estrategista de marketing, ex-diretor de comunicação do Governo do Rio de Janeiro, e sócio da agência Bartô publicidade, especializada em conteúdo e digital.

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DEMOCRACIA SEM POVO

Jackson. 5 de outubro de 2024

Há quem queira uma nova Constituição por acreditar que desse modo impedirá decisões dos ministros do STF julgadas por muitos como inconstitucionais. Há quem defenda uma nova Carta por outros motivos. Se satisfeita a vontade, teremos a oitava Constituição. A primeira foi feita há 200 anos, em 1824 e a última, ainda em vigor, está com apenas 36 anos de idade. 

Do que sei, essa última foi a única a contar com a participação do povo desde a escolha dos constituintes por eleição direta. O povo esteve presente nos corredores e galerias do Congresso Nacional durante todo o tempo da elaboração da Carta. Pessoas de todos os lugares do Brasil chegaram a Brasília. Gente de todas as etnias, religiões, sexo, escolaridade, padrão de vida. Pessoas com deficiência. Pessoas com emprego e pessoas sem emprego. Quem não conseguiu ir a Brasília participou de fóruns, debates e conversas com os parlamentares e jornalistas. 

A elite acomodou-se. Depois, resolveu adaptar o documento aos seus interesses e hoje a Carta já tem mais de 200 emendas promulgadas e sabe-se que há um número maior ainda de propostas nos escaninhos do Congresso Nacional aguardando deliberação. 

Insatisfeita, a elite faz e refaz leis; faz, refaz e emenda constituições;  depõe e coloca presidentes, instala ditadura e até muda regimes, como aconteceu em 1889, quando proclamou a República com o intuito de livrar-se do risco de ter um terceiro reinado com Isabel, autora da Lei Áurea, decisão contrária à vontade da elite brasileira. 

Encontrei no livro “Campos Sales. Da Propaganda à Presidência” o relato sobre todo o movimento que levou o Brasil da Monarquia à República: 

“Aumentavam-lhe a probabilidade de uma próxima vitória definitiva…” pela instauração da República…”O Imperador tinha-se descuidado negligentemente de preparar o espírito da princesa Isabel, dando-lhe uma educação cívica mais compatível com as altas funções de imperante, que o direito de sucessão lhe havia destinado…” 

Em outra passagem, relata Campos Sales: 

“O Sr. Saraiva, na sua conferência de Petrópolis, adiantara ao Imperador este parecer: O que Vossa Majestade deve fazer ao findar este reinado é entregar à nação a coroa que ela deu a V.M. em 1831.” 

  • Mas, minha filha? 
  • A princesa é muito religiosa, segundo se diz, e deve resignar-se.” 

Sérgio Buarque de Holanda numa das entrevistas que concedeu à revista VEJA, publicada nas Páginas Amarelas no dia 28 de janeiro de 1976, com o título “A DEMOCRACIA É DIFÍCIL”, afirmou: “No Brasil sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, as mudanças são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico.(…). Até agora, todas as revoluções dentro da história do Brasil foram de elites, civis ou militares, mas sempre elites…”

Vilfredo Pareto definiu a elite na obra Trattato di Sociologia generale, publicada em 1916: “A teoria da elite ou classe eleita foi elaborada por Vilfredo Pareto e consiste na tese de que uma pequena maioria de pessoas é a que conta em todo ramo ou campo de atividade e que, mesmo em política, é uma tal minoria que decide sobre os problemas do governo. Essa teoria foi um dos pontos fundamentais da doutrina política do fascismo e do nazismo” (Dicionário de Filosofia. N. Abbagnano). 

Se queremos uma nova Constituição para o Brasil, que tal tentarmos viver uma segunda vez a experiência de 1988, trazendo o povo para a conversa? Nem que seja só para ela dizer se aceita as mudanças que a elite tem feito no tratado combinado em 05 de outubro de 1988.

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ISONOMIA? NÃO. HIPOCRISIA, SIM.

Jackson. 24 de setembro de 2024

O motivo mais relevante em defesa da existência de uma Justiça Eleitoral é a garantia de que os candidatos concorrem em igualdade de condições, situação definida pela lei eleitoral como isonomia.

Nunca houve isonomia nas disputas por mandatos eletivos. Nunca mesmo, até pelo fato de que os candidatos têm habilidades pessoais e são diferentes entre si. Uns sabem lidar melhor com as campanhas do que outros. No entanto, a lei e a Justiça Eleitoral autorizam e chegam até a determinar o desequilíbrio nas condições oferecidas a uns candidatos em detrimento de outros e seguem adiante para vestir com as vestes da hipocrisia o que defendem como isonomia.

Há inúmeros exemplos e de bastante tempo. Existe, por exemplo, o desequilíbrio na disputa em favor daqueles que exercem funções públicas, gente que conta com assessores, estruturas, influência políticas e outras vantagens.

O exemplo mais gritante de desequilíbrio está na distribuição do Fundo Eleitoral e do tempo de TV e rádio, instrumentos pagos com o dinheiro de todos os contribuintes. Os recursos são entregues aos partidos com base no número de mandatos que conquistam. Ou seja, aqui já se tem a primeira distorção. A situação piora pelo fato de os partidos não terem democracia interna, o que os transforma em feudos de seus presidentes. Por isso, numa mesma campanha, há candidatos com milhões nas contas de campanha e com tempos elásticos de veiculação de suas campanhas na TV e no rádio, disputando com candidatos que recebem zero ou migalhas dos mesmos instrumentos.

Por isso, o poder não se renova e se tem o caso de filhos e filhas dos donos dos partidos que, na falta de disposição de lutar pela própria sobrevivência, buscam os salários e vantagens que os cargos públicos lhes dão.

O povo poderia romper isso? Poderia, mas como ele terá as informações essenciais para escolher os candidatos que não utilizam os privilégios das máquinas pública e partidária se as campanhas os tornam invisíveis aos olhos dos eleitores?

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OS IMPOSTOS VÃO AUMENTAR. ACREDITE!

Durante a semana, a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação da reforma tributária, outro trambolho aprovado, há tempos, no Congresso Nacional como Emenda Constitucional.

Depois da emenda, veio o soneto e na toada da sabedoria popular, sabe-se que, geralmente, a emenda é sempre pior que o soneto. E nesse caso, também é.

Dito isso, eu pergunto a vocês, minhas caras leitores, meus caros leitores, sejam vocês engenheiros, arquitetos, médicos, pedreiros, carpinteiros, motoristas de Uber, de táxi, de ônibus ou de caminhão; sejam vocês, ainda, professores, administradores, pintores, farmacêuticos, balconistas, recepcionistas, comerciantes, sejam vocês quem forem, vocês têm alguma ideia do que é a reforma tributária, a emenda ou o soneto, a regulamentação? Não se frustrem nem se tomem por ignorantes se vocês não tiverem a menor ideia do que é tudo isso. Os legisladores – criadores da reforma e da regulamentação – esperam mesmo isso de vocês, para que possam nos enganar com a conversa fiada de que a intenção deles é facilitar a vida de quem paga impostos. Não é! O objetivo deles é aumentar os impostos e fazer isso como sempre fazem na relação deles com a gente: enganando-nos.

A reforma e a regulamentação aumentam os impostos que a gente paga pelos serviços e pelo consumo de qualquer produto. As propostas multiplicam por 5 os impostos que pagamos hoje. Fazer o quê, né? Eles não nos perguntam e quando percebem o risco de nós descobrirmos o que querem fazer, de verdade, colocam uma meia-sola na proposta para isentar isso ou aquilo, carregando o peso da isenção em outros impostos. Coisa para dizerem que cuidam dos pobres e que tiram dos ricos. Mas, nem de longe, essa turma pensa em gastar menos, para nos cobrar menos. Pagamos muito para ter, nas escolas públicas, alunos que não aprendem, para ter serviços de atendimento médico vergonhosos, com postos de saúde e hospitais onde faltam médicos, enfermeiros, equipamentos e até gaze e algodão. Dipirona? É uma piada.

Entretanto, nem tudo está perdido. As eleições para deputados federais e senadores acontecerão antes da reforma entrar em vigor. Então, vocês já sabem o que fazer, quando essa turma bater na porta de vocês para buscar o voto…Essa é a beleza da democracia: podemos mandar embora os deputados e senadores que não nos atendem.

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DIA DA CONSTITUIÇÃO. NÃO HÁ O QUE COMEMORAR. 

25.03.2024

Na “folhinha” (sou do tempo dela) o dia 25 de março está marcado como o Dia da Constituição, pois foi nesse dia, em 1824, que Dom Pedro I enfiou a primeira Constituição goela abaixo do povo brasileiro. Ele tinha autoridade para tanto, não só por ser o Imperador do momento, mas por ter, dois anos antes, livrado o Brasil do julgo português. Depois dela vieram as Constituições de 1891,1934,1937,1946, 1967 e 1988. Houve também um emendão em 1969, que, igualmente, recebeu o título de Constituição. 

Hoje há o que comemorar? Não! Se a Constituição elaborada pelo povo em 1988 permanecesse em vigor, até se poderia agradecer por ela, mas comemorá-la, nunca! Construída com 250 artigos, ela já foi emendada 128 vezes e há, no Congresso Nacional uma fila enorme de novas emendas a aguardar o voto dos parlamentares. Portanto, não temos uma Constituição e sim uma colcha de retalhos já sem pé e sem cabeça com outro um vício grave: o presidencialismo. Santo Deus! Até quando o legislador brasileiro insistirá nesse negócio? Quantos presidentes e crises institucionais ainda serão necessárias para que se chegue ao parlamentarismo? 

Eu me nego a bater palmas para a Constituição Brasileira e nem acredito que ainda temos uma por aqui. Se há, sobre ela se tripudia todos os dias, até mesmo por inspiração do Supremo Tribunal Federal, que deveria ser a garantia de existência e aplicação dela. 

Os farrapos andam a justificar pregadores da necessidade de termos uma nova constituição e há projetos por aí. Um deles, do jurista Modesto Carvalhosa, que institui uma curiosidade semântica. Carvalhosa defende a substituição dos termos: “todos iguais perante a lei”, para “uma lei igual para todos”. Aprofundando-se na proposta, pode-se chegar à conclusão que ela faz todo o sentido. 

Roda também à disposição do debate público a proposta do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que desmonta a farsa de um país regido por uma república federativa: “Não somos uma república, mas uma oligarquia, nem somos uma federação, pois a Constituição atual centraliza o poder em Brasília”, diz ele. 

Eu tive a felicidade de participar de inúmeras sessões da Assembleia Nacional Constituinte, pois naquele tempo, sendo assessor parlamentar do Ministério da Fazenda, a mim coube a tarefa de representá-lo, com outros, nos trabalhos. Vi todo o povo brasileiro representado nos corredores do Congresso e nas galerias dos plenários, não só por deputados federais e senadores, mas por índios, operários, empresários, lobistas, mulheres, negros, brancos, gente pobre e gente rica. Trabalhadores e desocupados. O povo fez a Constituição do primeiro ao último artigo e talvez por isso, ela não tenha servido aos que sobraram depois de apagados os holofotes. E por não ter servido, seja emendada a cada momento e desrespeitada a todo momento. 

O que fazer? Que tal começar pela troca do presidencialismo pelo parlamentarismo e na onda instituir o voto distrital e uma nova legislação para os partidos políticos? A proposta do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança pode ser o caminho. Nela, ele defende: 

  • criar um sistema parlamentarista;
  • descentralizar o poder para os estados;
  • reduzir competências da União para somente o que a União pode fazer;
  • solidificar a soberania popular;
  • criar mais freios e contrapesos entre as instituições;
  • limitar poderes sobre o cidadão.

Se você quiser conhecê-la, aqui está o link: https://lpbraganca.com.br/luiz-philippe-lanca-a-constituicao-libertadora/

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OITO DE JANEIRO. DIA DA VERGONHA. 

05.01.2024

O mundo está transformado num grande e maldito manicômio onde os loucos se sentem com liberdade para tudo e os sãos têm medo de qualquer espirro. 

No Brasil, a primeira semana do ano de 2024 é de comemorações para quem venceu a eleição, julgou sumariamente os adversários inconformados, os prendeu e os condenou a longas penas. 

Mas, a semana deveria servir também para reaquecer a vergonha e a dor daqueles perdedores que, mesmo diante dos sinais de insanidade do líder, resolveram, em nome dele e encorajados por ele, peitar os vencedores com a ilusão de que poderiam, na raça, mudar o resultado do pleito. 

Essa gente custou a perceber – e alguns ainda não perceberam – que o Leão avistado na Avenida Paulista no dia da Independência de 2021 era um gato domesticado, ajudado na imagem pelo som de excelente qualidade que fez o povo ouvir rugidos enfurecidos e encorajados no lugar de um rosnar que se transformou num grunhir de medo no primeiro grito da passa-fora. 

No final da peleja, vencedores e perdedores enterraram um pouco mais a democracia numa cova em que ela resiste entrar. 

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Perdemos o Rio de Janeiro para a violência

Às 6:54 da manhã, recebi a seguinte mensagem enviada pelo jornalista Ricardo Bruno: “Médicos de São Paulo são mortos a tiros em quiosque na Barra da Tijuca”. Os médicos vieram de São Paulo para um congresso de ortopedia. Certamente, o congresso não acontecerá, pelo menos não como previsto. Eram eles bolsonaristas ou lulistas, da esquerda ou da direita? A favor do aborto ou contra ele? Em seguida, Ricardo Bruno enviou uma nova notícia: “um dos médicos era irmão da deputada Sâmia Bonfim, do PSOL-SP”. Que diferença isso faz? O que eles tinham em comum: estavam numa das áreas nobres da Cidade do Rio de Janeiro, antes da uma hora da manhã. Hospedador num dos melhores hotéis da cidade. Entregues à própria sorte, porque não se sabe a escala dos Guardas Municipais, não se sabe por onde anda a polícia, nem se sabe porque eles andam armados, montados num carro, possivelmente, roubado. E, certamente, para as famílias, pacientes e amigos dos médicos, o que menos deve importar nesse momento é saber por qual aeroporto eles chegaram ao Rio, ou ter conhecimento de ser a Segurança Pública caso para o prefeito ou para o governador. Para mim, é suficiente saber que poderia ter sido um filho meu (que é médico também) e ter plena consciência de que a ousadia do crime perdura faz mais tempo do que o tempo de minha vida ou dos médicos que morreram. Depois vem gente me dizer que o problema do Rio é a transferência da Capital, a fusão ou se em 8 de janeiro houve tentativa de golpe ou baderna. Que loucura é viver aqui!

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A lição de Dionísio para um liberal residente no Brasil. 

01.11.2022. 

Cansado das lamentações do criado Dâmocles e das constantes exaltações dele às maravilhas oferecidas pela vida a um soberano, o rei  Dionísio aproveitou-se de um banquete oferecido a ele e permitiu que o criado ocupasse o trono. Cedeu-lhe também a coroa, todas as homenagens e as mais desejadas iguarias, servidas por escravas de grande beleza. A única exigência do rei foi que Dâmocles não deixasse o trono durante toda a festa.  

O criado, então, transformou-se no rei, um rei deslumbrado, maravilhado, enturpecido pelas honras, até que olhou para o alto e viu que sobre ele estava colocada uma afiada espada segura apenas por uma crina de cavalo. Qualquer movimento no trono, mesmo dos ventos, poderia soltar a espada e ela lhe deceparia a cabeça. Dâmocles entrou em pânico implorou ao verdadeiro rei, Dionísio, que o tirasse dali. O rei, contudo, só atendeu ao pedido, quando o escravo reconheceu que a vida de um rei não é o mar de maravilhas que ele andava a dizer pelos corredores do palácio, nem a dos criados do rei algo tão ruim, que não valesse a pena viver. Sobre a cabeça de um soberano existirá sempre uma espada, presa por uma fina crina de cavalo, a democracia. Qualquer movimento estranho, o soberano povo de um país poderá perder a cabeça, a própria liberdade.

  

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A democracia.

Se há no meio de um povo medo dos agentes do Estado e revolta com as decisões que eles tomam, a democracia não está mais presente. 

Se um povo não acredita mais nas instituições do Estado que têm o papel de garantir-lhe segurança é porque o Estado perdeu a razão de existir. 

Se um povo não confia mais nas informações que recebe da imprensa, uma instituição que tem como obrigação única bem informar, ela torna-se inútil e perigosa. 

Se as instituições têm suas estruturas não visíveis destruídas, a destruição das visíveis será só a materialização daquilo que os agentes do Estado fizeram há muito tempo e são a razão de terem perdido o respeito do povo.  

Se um povo está em conflito consigo mesmo e em confronto direto com os agentes do Estado, a política deixou de existir.  

Este é o diagnóstico para a doença presente no organismo da sociedade brasileira. O remédio é voltar à política, mas para esse retorno, o povo precisa de líderes. Um presidente da república eleito pelo povo deveria ser um líder, mas o que temos por hora é um presidente dedicado ao trabalho de afrontar, debochar e tentar aniquilar a parte do povo que se imaginando livre para escolher quem deveria liderá-lo, não o escolheu. E esse presidente fecha os olhos a todas as covardias que fazem com o povo, que ele deveria liderar, porque perdeu a autoridade moral para o papel e faz vista grossa aos covardes que estão perfilados ao seu lado.