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OS BACANAS E AS FAVELAS

Jackson Vasconcelos, 21 de outubro de 2024

Vejam só! Meio & Mensagem, sob o título “Potencial (Ainda) Inexplorado)”dá notícias da pujança econômica das favelas brasileiras, trabalho feito com base numa pesquisa (tracking) da organização “Nós – Novo Outdoor Social”. A matéria está assinada por Fernando Murad, que prometeu novos capítulos. 

Os números apresentados pela matéria, de fato, indicam um “conglomerado” econômico pujante. O Brasil possui mais de 10 mil favelas, a maioria no Sudeste. Nelas há 6,5 milhões de residências ocupadas por 17 milhões de pessoas e 260 mil empresas com CNPJ. Gente que consome 167 bilhões de reais. A matéria não dá o período. Mas, certamente, é um valor anual. 

Claro que essas são boas notícias sobre um tema sempre apresentado de forma negativa para a população, com o estigma de marginalidade e violência. O trabalho do “Nós – Novo Outdoor Social” é um esforço que se soma a outros tantos de pessoas que moram nas favelas e gritam para o mundo em volta: “estamos vivos, estudando, trabalhando, dando empregos e produzindo. Amamos viver”. 

O Meio & Mensagem avisou que a matéria é a primeira de uma série sobre a economia nas favelas. Não está dito, mas é possível que a iniciativa tenha o G-20 como objetivo. O encontro acontecerá no Rio em novembro e dias antes abrirá espaço para o que chamam de G20 Social, algo que o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, com o estilo bem do Partido dos Trabalhadores, identificou como a oportunidade para o povo dar o seu recado para os “20 bacanas de paletó e gravata ou 20 mulheres bem vestidas, que tomam decisões para o mundo todo”. 

Meu primeiro contato intelectual com as favelas se deu quando, numa visita à Biblioteca Nacional, em 1980, encontrei uma pesquisa publicada no Estadão, em abril de 1960, mês da inauguração de Brasília, com o título “Aspectos Humanos da Favela Carioca”. Obtive uma cópia, estimulado pelo tema e curioso sobre o motivo de um trabalho com mais de mil páginas ter sido financiado e divulgado por um jornal de São Paulo, referindo-se às favelas cariocas e ter sido coordenado por um padre francês, o economista Louis Joseph Lebret. Li e estudei todo o trabalho. 

Existiam no Rio de Janeiro, na época, 16 favelas, Jacarezinho, Morro de São Carlos, Favela do Esqueleto, Barreira do Vasco, Favela Vila do Vintém, Parada de Lucas, Vila Proletária da Penha. Cordovil, Morro do Telégrafo, Morro do Bonsucesso, Morro da Providência, Favela do Escondidinho, Praia do Pinto. Rocinha, Parque Proletário da Gávea e Cantagalo. Hoje são quase 800. O Censo de 2010 do IBGE identificou 746. 

Cinquenta anos após a publicação da pesquisa, um grupo de professores intelectuais organizou um “colóquio”, para reavivar a pesquisa. Isso em 2010, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Aconteceu em maio. Eu passei por lá. Na época, eu andava envolvido com a campanha do Peter Siemsen para a Presidência do Fluminense e isso prejudicou a minha vontade de assistir todas as palestras e apresentações. O evento ocorreu durante três dias. 

Contudo, anos depois, fuçando o tema na Amazon, encontrei o livro “Favelas Cariocas ontem e hoje”, um compêndio sobre o encontro. O livro ofereceu um CD com a pesquisa de 1960 completa. O CD é algo impossível de usar hoje por falta de computadores que permitam. Eita evolução rápida. O livro é de 2012, tem 516 páginas. Nele, Licia do Prado Valladares, pioneira no estudo sobre as favelas cariocas, autoridade no tema, respondeu à minha dúvida sobre o fato de o Estadão ter financiado e divulgado a pesquisa em abril de 1960. 

Escreveu ela: 

“Convém agora explicar o paradoxo do financiamento de uma pesquisa sobre o Rio de Janeiro por um jornal de São Paulo. Discutir essa questão, aparentemente sem importância, vai nos ajudar a esclarecer os propósitos e o contexto político em que a pesquisa foi realizada. 

Em primeiro lugar, voltemos ao contexto político geral. Na segunda metade dos anos 1950, a construção da nova capital, Brasília, mobilizou todos os setores da economia brasileira, todos os grupos e partidos políticos, a imprensa e os meios de comunicação. Juscelino Kubistchek, defensor das propostas desenvolvimentistas, era atacado pela UDN, partido das elites conservadoras, e pelo jornal O Estado de São Paulo. Este órgão de imprensa buscava desestabilizar Juscelino publicamente, atacando em especial a construção da nova capital, considerada desastrosa do ponto de vista econômico. Os editoriais e os artigos defendiam a ideia de que seria preferível investir os milhões lutando contra a pobreza no Rio de Janeiro. De fato, a pobreza não parava de crescer, ameaçando cada dia mais os bairros ricos da capital, e há bastante tempo as favelas constituíam um importante tema do debate político. A realização de um grande estudo científico sobre as favelas seria, portanto, capaz de fornecer ao jornal Estado de São Paulo argumentos sólidos contra a política de descentralização do poder federal.” Em resumo: “Senhor Presidente, pare de gastar com a construção de Brasília e coloque dinheiro para acabar com a miséria no Rio de Janeiro”. 

Para não tornar esse texto em um relato cansativo, encerro aqui, aproveitando o que está na abertura – as notícias sobre a economia pujante das favelas brasileiras – para sugerir a leitura do livro que me serviu de base para nossa conversa e de outro, esse da Lícia Valladares, “A invenção da favela. Do mito de origem a favela.com”  que aborda os desafios para se compreender uma favela globalizada e conectada, composta de uma geração nova, que Lícia chama de “universitários da favela”.  A obra da Lícia fala de bem perto com a matéria do Meio & Mensagem. 

Pois bem, gente. Apesar de tudo o que fazem contra às pessoas que residem nas favelas e comunidades, lá tem gente que luta todos os dias para produzir e viver melhor. Se os governos entendessem que a felicidade completa está numa medida simples, seria tudo mais fácil. Basta que tirem as armas de lá. 

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OBRIGADO, JOSÉ SAUD

Jackson, 12 de outubro de 2024

Sem muito desejar o trabalho com campanhas eleitorais, depois de ter participado de 30 desde 1982, bateu na minha porta o convite para a campanha de reeleição do Prefeito de Taubaté e lá fui eu.

Foi um trabalho árduo durante todo o tempo e o resultado foi ruim. Contudo, conheci um ser humano que tem poucos semelhantes na política. Os bons seguem desaparecendo porque os eleitores votam por votar e municiados com ódio. Em um ambiente assim, prevalece a irracionalidade.

Quero deixar aqui o meu depoimento sobre José Saud, Prefeito de Taubaté. Ele é um ser humano que a política leva tempo para compreender, mas que um dia, ao olhar para trás, entenderá, certamente, com arrependimento. Ele diz que não é político. Eu discordo. Ele representa a política sadia, onde a paixão pelas pessoas que precisam dele está na flor da pele e onde os conflitos são resolvidos sempre de forma pacífica, sem rancor e sem ódio. Por mais ingratos que fossem os que dele receberam gestos de confiança, ele nunca, nunca mesmo, os destratou ou demonstrou mágoas.

Por ser bom, ele acredita que todos são capazes de uma bondade simples: honrar o que combinam, mas quase nunca é assim.

Muitas vezes, pensei sugerir a ele que desse a alguns um tratamento diferente. Parei, pensei e concluí que seria inútil. Ele é incapaz de devolver as ingratidões ou de articular estratégias para destruir alguém. Até mesmo, com relação ao Ortiz Júnior que lhe fez todo o mal, ele nunca levantou acusações pessoais. Tudo o que Saud fez foi com o intuito de colocar a verdade na pauta e Ortiz esteve nela por representar o outro lado da verdade: a mentira.

Numa das suas melhores obras, Machado de Assis criou Quincas Borba e construiu um diálogo entre Quincas e Rubião, que ouso usar aqui para traduzir o sentimento que guardo da minha participação na campanha do Saud:

“Ah, meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende, coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz de ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão”.

Gosto tanto dessa passagem que com ele escrevi um livro: “Isto de política, meu caro…Uma vida pela democracia”, sobre outro herói da política com quem vivi grandes momentos da trajetória do Brasil do tempo dos generais até o retorno da democracia. Tudo isso, entremeado por várias campanhas eleitorais que deram solidez à minha paixão. Escrevi sobre Rubem Medina.

Bem, sou muito grato ao Saud, por ele ter feito reviver em mim a paixão pela política, que andava morna no meu coração.

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É PRECISO MUITO CUIDADO

Jackson, 7 de outubro de 2024

O momento do encontro do eleitor com a urna é delicadíssimo. Qualquer passo em falso pode provocar um tombo. Assim aconteceu na véspera da eleição para a Presidência da República em 2022. Os aliados de Jair Bolsonaro, Roberto Jefferson e Carla Zambelli produziram cenas que, certamente, mexeram com o sentimento dos eleitores indecisos. 

Este ano deu-se o mesmo com a campanha do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal. Ele abriu bem a campanha, conseguiu dominar o cenário durante quase todo o tempo, até que extrapolou os limites da arrogância engraçada para a arrogância insuportável. Mas, ainda assim, mantinha-se com certa vantagem para uma disputa com dois turnos. 

Na reta final, Marçal apareceu com um atestado para reafirmar a acusação que vinha fazendo ao Boulos de ser viciado em cocaína. Em poucos minutos a farsa caiu, provando-se que o atestado era um estelionato. Certamente, o fato tirou Marçal do segundo turno. 

Como política é um cipoal de fatos repetidos, muitos até iguais, lembro aqui do episódio de 1988 que, em razão do assassinato de operários da CSN, em Volta Redonda, por tropas do Exército, com repercussão nacional, Luiza Erundina, uma candidata com tendência para a derrota, terminou por ser eleita Prefeita de São Paulo. 

Os momentos próximos do dia da eleição são momentos bem delicados. Um erro derruba todo o prédio. 

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DEMOCRACIA SEM POVO

Jackson. 5 de outubro de 2024

Há quem queira uma nova Constituição por acreditar que desse modo impedirá decisões dos ministros do STF julgadas por muitos como inconstitucionais. Há quem defenda uma nova Carta por outros motivos. Se satisfeita a vontade, teremos a oitava Constituição. A primeira foi feita há 200 anos, em 1824 e a última, ainda em vigor, está com apenas 36 anos de idade. 

Do que sei, essa última foi a única a contar com a participação do povo desde a escolha dos constituintes por eleição direta. O povo esteve presente nos corredores e galerias do Congresso Nacional durante todo o tempo da elaboração da Carta. Pessoas de todos os lugares do Brasil chegaram a Brasília. Gente de todas as etnias, religiões, sexo, escolaridade, padrão de vida. Pessoas com deficiência. Pessoas com emprego e pessoas sem emprego. Quem não conseguiu ir a Brasília participou de fóruns, debates e conversas com os parlamentares e jornalistas. 

A elite acomodou-se. Depois, resolveu adaptar o documento aos seus interesses e hoje a Carta já tem mais de 200 emendas promulgadas e sabe-se que há um número maior ainda de propostas nos escaninhos do Congresso Nacional aguardando deliberação. 

Insatisfeita, a elite faz e refaz leis; faz, refaz e emenda constituições;  depõe e coloca presidentes, instala ditadura e até muda regimes, como aconteceu em 1889, quando proclamou a República com o intuito de livrar-se do risco de ter um terceiro reinado com Isabel, autora da Lei Áurea, decisão contrária à vontade da elite brasileira. 

Encontrei no livro “Campos Sales. Da Propaganda à Presidência” o relato sobre todo o movimento que levou o Brasil da Monarquia à República: 

“Aumentavam-lhe a probabilidade de uma próxima vitória definitiva…” pela instauração da República…”O Imperador tinha-se descuidado negligentemente de preparar o espírito da princesa Isabel, dando-lhe uma educação cívica mais compatível com as altas funções de imperante, que o direito de sucessão lhe havia destinado…” 

Em outra passagem, relata Campos Sales: 

“O Sr. Saraiva, na sua conferência de Petrópolis, adiantara ao Imperador este parecer: O que Vossa Majestade deve fazer ao findar este reinado é entregar à nação a coroa que ela deu a V.M. em 1831.” 

  • Mas, minha filha? 
  • A princesa é muito religiosa, segundo se diz, e deve resignar-se.” 

Sérgio Buarque de Holanda numa das entrevistas que concedeu à revista VEJA, publicada nas Páginas Amarelas no dia 28 de janeiro de 1976, com o título “A DEMOCRACIA É DIFÍCIL”, afirmou: “No Brasil sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, as mudanças são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico.(…). Até agora, todas as revoluções dentro da história do Brasil foram de elites, civis ou militares, mas sempre elites…”

Vilfredo Pareto definiu a elite na obra Trattato di Sociologia generale, publicada em 1916: “A teoria da elite ou classe eleita foi elaborada por Vilfredo Pareto e consiste na tese de que uma pequena maioria de pessoas é a que conta em todo ramo ou campo de atividade e que, mesmo em política, é uma tal minoria que decide sobre os problemas do governo. Essa teoria foi um dos pontos fundamentais da doutrina política do fascismo e do nazismo” (Dicionário de Filosofia. N. Abbagnano). 

Se queremos uma nova Constituição para o Brasil, que tal tentarmos viver uma segunda vez a experiência de 1988, trazendo o povo para a conversa? Nem que seja só para ela dizer se aceita as mudanças que a elite tem feito no tratado combinado em 05 de outubro de 1988.

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ISONOMIA? NÃO. HIPOCRISIA, SIM.

Jackson. 24 de setembro de 2024

O motivo mais relevante em defesa da existência de uma Justiça Eleitoral é a garantia de que os candidatos concorrem em igualdade de condições, situação definida pela lei eleitoral como isonomia.

Nunca houve isonomia nas disputas por mandatos eletivos. Nunca mesmo, até pelo fato de que os candidatos têm habilidades pessoais e são diferentes entre si. Uns sabem lidar melhor com as campanhas do que outros. No entanto, a lei e a Justiça Eleitoral autorizam e chegam até a determinar o desequilíbrio nas condições oferecidas a uns candidatos em detrimento de outros e seguem adiante para vestir com as vestes da hipocrisia o que defendem como isonomia.

Há inúmeros exemplos e de bastante tempo. Existe, por exemplo, o desequilíbrio na disputa em favor daqueles que exercem funções públicas, gente que conta com assessores, estruturas, influência políticas e outras vantagens.

O exemplo mais gritante de desequilíbrio está na distribuição do Fundo Eleitoral e do tempo de TV e rádio, instrumentos pagos com o dinheiro de todos os contribuintes. Os recursos são entregues aos partidos com base no número de mandatos que conquistam. Ou seja, aqui já se tem a primeira distorção. A situação piora pelo fato de os partidos não terem democracia interna, o que os transforma em feudos de seus presidentes. Por isso, numa mesma campanha, há candidatos com milhões nas contas de campanha e com tempos elásticos de veiculação de suas campanhas na TV e no rádio, disputando com candidatos que recebem zero ou migalhas dos mesmos instrumentos.

Por isso, o poder não se renova e se tem o caso de filhos e filhas dos donos dos partidos que, na falta de disposição de lutar pela própria sobrevivência, buscam os salários e vantagens que os cargos públicos lhes dão.

O povo poderia romper isso? Poderia, mas como ele terá as informações essenciais para escolher os candidatos que não utilizam os privilégios das máquinas pública e partidária se as campanhas os tornam invisíveis aos olhos dos eleitores?

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APOSTO NA POLÍTICA.

21.05.2024

Google proibiu que campanhas políticas sejam impulsionadas pela ferramenta de anúncios Google Ads, o que implica também a suspensão da distribuição paga de conteúdos postados no Youtube. Essa é a resposta do Google às imposições da Justiça Eleitoral, uma delas, a obrigação das plataformas de manter um banco de dados com os conteúdos impulsionados pelos candidatos e partidos políticos.  As normas demonstram, uma vez mais, o grau de desprezo da Justiça Eleitoral pela política, representado pelas restrições à liberdade para se fazer campanhas eleitorais. 

Em razão desse sentimento dos magistrados e correlatos, tenho recebido sugestões para retirar toda a menção à política dos espaços onde publico conteúdos. Jamais farei isso, pois é preciso insistir na defesa da política, tanto quanto se faz a defesa da democracia, uma vez que a política é o único instrumento à disposição do ser humano capaz de tornar possível a convivência pacífica entre as pessoas. Por abolir a política, a raça humana torna-se cada vez mais um conjunto de bestas-feras, fato comprovado pela radicalização e fanatismo. 

É o caso de se perguntar: “É possível uma democracia sem política?” É, e essa situação está representada no populismo. Portanto, quando se toma a abominação à política por parte de quem diz defender a democracia com unhas e dentes e com todos os argumentos disponíveis, inclusive, o uso da força, fica-se com o sentimento de que, para essas pessoas, o populismo é bem-vindo. Ocorre que os populistas apegam-se ao poder a ponto de impedir o revezamento, a alternância, elemento essencial para definir a democracia. 

Quem por aqui anda a defender a democracia com o mesmo furor com que combate a política deveria ler com especial atenção, numa leitura compassada e anotada, o livro do filósofo basco, Daniel Innerarity, “A Política em tempos de indignação – A Frustração popular e os riscos para a democracia”. Como aperitivo, deixo aqui o registro da parte final do capítulo “A Condição Política”: “ O sucesso e o fracasso não são algo absoluto…O horizonte a partir do qual se avalia o sucesso ou o fracasso é diferente porque aquilo que é politicamente possível em cada momento está em constante mutação. Além disso, o êxito não é determinado pelos resultados imediatos; há muitos exemplos de derrotas que foram vitórias no longo prazo, do mesmo modo que há demissões que são, implicitamente, uma vitória. Claro que faz parte da arte da política intuir um estado de opinião do eleitorado, antecipar-se e corresponder ‘às suas expectativas, mas isso não basta para definir, com suficiência, uma política bem-sucedida, já que nesse caso o seu melhor exemplo seria o populista com menos escrúpulos. O sucesso na política e o sucesso político não são, necessariamente, idênticos. 

Numa sociedade estão sendo feitos, constantemente, juízos políticos no curto prazo (pesquisas, opinião nos meios de comunicação, eleições, etc.), mas cada uma dessas avaliações tem um prazo de validade próprio. As avaliações potencialmente duradouras exigem certo distanciamento. Aquilo que parece um êxito visto de perto pode ser um fracasso contemplado a partir de longe. (…) A agitação midiática, o ciclo eleitoral e o juízo da história são regidos por registros temporais diferentes e é quase impossível jogar bem em todos os terrenos. Aos grandes assuntos políticos, apenas a posteridade é que pode julgá-los com rigor, algo que sem dúvida deixará insatisfeito o político que os cidadão julgaram, pensa ele, com muito rigor…O que mostra bem que a política é uma tarefa tão difícil quanto pouco rigorosa.”

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CADÊ O SIVAM? 

20.05.2024

Está na primeira página do Estadão de ontem: “Amazônia tem onda de saques a embarcações por “piratas de rio”. R$100 milhões é o prejuízo anual causado pelos piratas ao transporte de cargas no Rio Amazonas, diz o Instituto de Combustível Legal”. A matéria cita a atuação de duas facções, uma local e o Comando Vermelho, quando a cocaína entra na pauta. A matéria cita o uso de tecnologias contra o crime, inclusive, uma desenvolvida por Elon Musk, celebridade desses tempos de polarização. O Brasil é mesmo um hospício fiscal: torram fortunas com um projeto de monitoramento da Amazônia, aprovado com fortes polêmicas, e não se tem notícias dele, nem nas queimadas, nem agora na pirataria. O Sivam deve ter a mesma utilidade que têm as câmeras nas cidades: divertimento para os usuários da internet. Os agentes de segurança pública 

ODEIAM investigação, pois dá trabalho e queima a cabeça.

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ELES SÃO UNS INTROMETIDOS. 

18.05.2024 

Os agentes do Estado Brasileiro, eleitos, concursados ou nomeados por apadrinhamento, acreditam saber mais do que as outras pessoas, o que é melhor para elas. Eis mais um exemplo: 

O Ministro Paulo Pimenta, agora Ministro Extraordinário,  informou ao distinto público em entrevista à TV (Record): 

“Senhor e senhora que está lá no abrigo me ouvindo agora: Sua casa está debaixo d’água e a senhora sabe que não vai voltar para lã. Tem gente que quer voltar e reformar a casa. A gente tem que considerar também essa hipótese. Ele vai encontrar o imóvel. Não precisa ser na cidade em que ele está.  Nós vamos comprar esse imóvel pra ele. Segunda situação. Nós vamos comprar todos os imóveis – PRESTA ATENÇÃO, SAMUEL – que estão a leilão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal e que estão desocupados…O Governo Federal vai comprar todos os imóveis que estão em leilão. E vamos colocar eles nesse programa.”  

Vejam que não passa por eles a possibilidade – nem de longe – de devolverem às vítimas o que elas pagaram de impostos ao governo federal ou deverão pagar nos próximos anos, para que elas, por si mesmas, resolvam onde e como morar.

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NO DIA EM QUE DEUS SE ARREPENDEU…

Domingo de Páscoa de 2024. 

“Viu o Senhor  que a maldade do ser humano se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, arrependeu-se o Senhor de ter feio o ser humano na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e os animais…( Gênesis 6:5). Por Noé existir, Deus resolveu, com Moisés começar de novo. 

Um segundo de meditação, de pouca atenção que seja com os fatos criados pela humanidade é suficiente para entender a razão do arrependimento de Deus. 

Alexei Navalni, opositor de Putin, assassinado pelo tirano, declarou diante do tribunal o condenou: “Deus lhes deu a vida e é assim que vocês escolhem vivê-la?”

Não há tiranos sem a ajuda dos covardes que cumprem as suas ordens. 

Na sexta, no sábado e no domingo, falou-se sobre a cruz em que Cristo foi crucificado, ferido e morto, depois de ser esvaziado de todo o sangue e ser exposto aos escárnios da multidão que o condenou. 

Deus, claramente, desistiu de fazer desaparecer a humanidade da face da terra. Ele deixou a tarefa com o próprio ser humano, que tem feito uma obra irretocável a começar pela criação do Estado, lugar onde os tiranos estão abrigados, protegidos pelos covardes. 

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DIA DA CONSTITUIÇÃO. NÃO HÁ O QUE COMEMORAR. 

25.03.2024

Na “folhinha” (sou do tempo dela) o dia 25 de março está marcado como o Dia da Constituição, pois foi nesse dia, em 1824, que Dom Pedro I enfiou a primeira Constituição goela abaixo do povo brasileiro. Ele tinha autoridade para tanto, não só por ser o Imperador do momento, mas por ter, dois anos antes, livrado o Brasil do julgo português. Depois dela vieram as Constituições de 1891,1934,1937,1946, 1967 e 1988. Houve também um emendão em 1969, que, igualmente, recebeu o título de Constituição. 

Hoje há o que comemorar? Não! Se a Constituição elaborada pelo povo em 1988 permanecesse em vigor, até se poderia agradecer por ela, mas comemorá-la, nunca! Construída com 250 artigos, ela já foi emendada 128 vezes e há, no Congresso Nacional uma fila enorme de novas emendas a aguardar o voto dos parlamentares. Portanto, não temos uma Constituição e sim uma colcha de retalhos já sem pé e sem cabeça com outro um vício grave: o presidencialismo. Santo Deus! Até quando o legislador brasileiro insistirá nesse negócio? Quantos presidentes e crises institucionais ainda serão necessárias para que se chegue ao parlamentarismo? 

Eu me nego a bater palmas para a Constituição Brasileira e nem acredito que ainda temos uma por aqui. Se há, sobre ela se tripudia todos os dias, até mesmo por inspiração do Supremo Tribunal Federal, que deveria ser a garantia de existência e aplicação dela. 

Os farrapos andam a justificar pregadores da necessidade de termos uma nova constituição e há projetos por aí. Um deles, do jurista Modesto Carvalhosa, que institui uma curiosidade semântica. Carvalhosa defende a substituição dos termos: “todos iguais perante a lei”, para “uma lei igual para todos”. Aprofundando-se na proposta, pode-se chegar à conclusão que ela faz todo o sentido. 

Roda também à disposição do debate público a proposta do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que desmonta a farsa de um país regido por uma república federativa: “Não somos uma república, mas uma oligarquia, nem somos uma federação, pois a Constituição atual centraliza o poder em Brasília”, diz ele. 

Eu tive a felicidade de participar de inúmeras sessões da Assembleia Nacional Constituinte, pois naquele tempo, sendo assessor parlamentar do Ministério da Fazenda, a mim coube a tarefa de representá-lo, com outros, nos trabalhos. Vi todo o povo brasileiro representado nos corredores do Congresso e nas galerias dos plenários, não só por deputados federais e senadores, mas por índios, operários, empresários, lobistas, mulheres, negros, brancos, gente pobre e gente rica. Trabalhadores e desocupados. O povo fez a Constituição do primeiro ao último artigo e talvez por isso, ela não tenha servido aos que sobraram depois de apagados os holofotes. E por não ter servido, seja emendada a cada momento e desrespeitada a todo momento. 

O que fazer? Que tal começar pela troca do presidencialismo pelo parlamentarismo e na onda instituir o voto distrital e uma nova legislação para os partidos políticos? A proposta do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança pode ser o caminho. Nela, ele defende: 

  • criar um sistema parlamentarista;
  • descentralizar o poder para os estados;
  • reduzir competências da União para somente o que a União pode fazer;
  • solidificar a soberania popular;
  • criar mais freios e contrapesos entre as instituições;
  • limitar poderes sobre o cidadão.

Se você quiser conhecê-la, aqui está o link: https://lpbraganca.com.br/luiz-philippe-lanca-a-constituicao-libertadora/