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O Sermão do Bom Ladrão

Fico mais atento às relações dos agentes do Estado Brasileiro com a sociedade  no tempo das eleições, porque elas representam a chance de haver mudança numa relação que é, ainda hoje, de vassalagem.  

Vejo nisso ocasião para trazer à memória um dos sermões do Padre Vieira, o Sermão do Bom Ladrão, aqui colocado como lição e nunca como provocação. 

Acredito que todos já conheçam o Padre Vieira, mas quero apresentá-lo com a beleza da cena de abertura do filme Palavra e Utopia, de Manoel de Oliveira, onde Lima Duarte dá aos Sermões a mesma eloquência que, certamente, lhes deu o Padre. 

A cena de apresentação de Vieira está num julgamento. O juiz determina ao réu: “Levante-se e diga quem é”.  O réu obedece e diz:  “Sou Padre Antônio Vieira, religioso professor da Companhia de Jesus, teólogo, pregador régio e assistente do colégio desta cidade.  Nascido em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608, filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria Azevedo, ainda vivos na Bahia, com meu irmão, Gonçalves Ravasco de Albuquerque e família, para onde fomos em 1614, e onde fui educado no Colégio dos Jesuítas, entrei no noviciado e me ordenei”. 

Fico por aqui na narrativa do filme, que vale a pena assistir por completo. Ele está disponível no Youtube. Apresentado o autor, vamos ao Sermão, antes, porém, dizendo o motivo de usá-lo como lição aos eleitores na campanha que está à porta. 

Tenho visto por aí candidatos esforçando-se para voltar ou permanecer no poder. Ato legítimo. 

Entretanto,  alguns já nos causaram prejuízos e, em alguns casos, a morte de pessoas. Para fugirem à responsabilidade por esses atos, os candidatos apontam o dedo para os auxiliares, que eles mesmos escolheram. Mas, seria somente dos auxiliares a responsabilidade? Afinal, quem nomeou tais pessoas e quem deixou de observá-las de perto como deveria? Por certo, não fomos nós contribuintes. Mas, seremos, contudo, chamados, no final da linha, a pagar a conta, situação resultante da relação desigual que há entre os agentes públicos e o povo. 

O voto é ato de confiança, que se estende à liberdade que têm os eleitos para escolher com quem trabalham e para cuidar do dinheiro, que entregamos ao Estado para que ele cumpra as funções em razão das quais existe. 

Quem não foi digno da confiança uma vez, por certo, não será novamente. Cheguei, então, ao elo que liga o presente assunto ao Sermão do Padre Vieira. Nele está relatado, entre muitos exemplos de ladrões pobres e ladrões ricos, o perdão de Cristo a Zaqueu, um agente público, coletor de impostos. 

Diz o Padre Vieira: “Entrou, pois o Salvador em casa de Zaqueu, e aqui parece que cabia bem o dizer-lhe, que então entrara a salvação em sua casa; mas nem isto nem outra palavra disse o Senhor…”. 

Continua o Padre Vieira, dizendo ao Cristo: “E este homem na vossa pessoa vos está servindo com tantos obséquios, e na dos pobres com tantos empenhos, (…), e a sua salvação é a importância que vos trouxe à sua casa, se o chamastes, e acudiu com tanta diligência, se lhe dissestes que se apressasse e ele se não deteve um momento, por que dilatais tanto a mesma graça que lhe desejais fazer? Por que não acabais de o absolver, por que não lhe assegura a salvação?” 

A resposta indica um caminho para o perdão e salvação: 

“Porque este mesmo Zaqueu, como cabeça de publicanos roubou a muitos, e rico como era, tinha com que restituir o que roubara. Enquanto estava devedor e não restituiu o alheio, por mais boas obras que fizesse, nem o mesmo Cristo o podia absolver(…). Eram todas obras muito louváveis; mas, enquanto não chegava a fazer a da restituição, Zaqueu não merecia a salvação. Restitua, e logo será salvo. E no mesmo ponto que o Senhor, que até ali tinha calado, desfechou os tesouros de sua graça e lhe anunciou a salvação. De sorte que, ainda que entrou o Salvador em casa de Zaqueu, a salvação ficou de fora, porque, enquanto não saiu da mesma casa a restituição, não podia entrar nela a salvação. A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se pode perdoar sem restituir o roubado”. 

Está dito. Sirvamos-nos, portanto, do exemplo para ter uma boa prática na relação dos agentes públicos com a cidadania. Se alguém deseja ter, novamente, o voto do cidadão, e no passado, por negligência ou ação direta, permitiu que ele fosse roubado ou mutilado, arranje um jeito de o ressarcir do prejuízo. Caso contrário, o pedido de voto será, com justo motivo, considerado um ato de cinismo e a confirmação da confiança uma atitude estúpida que aplaudirá a irresponsabilidade.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Diante do espelho

Quem trabalha com estratégia descarta a intuição? Se fizer isso, errará muito. Mas, para não descartar e, ao contrário, trabalhar a intuição como elemento de estratégia, precisa entender o que ela é, exatamente. 

Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, autor de “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”, pode ajudar. Logo na introdução à obra ele afirma: 

“A psicologia da intuição precisa não envolve mágica alguma. Talvez a melhor declaração sucinta sobre ela seja a do grande Herbert Simon, que estudou mestres enxadristas e mostrou que após milhares de horas praticando eles passam a ver as peças no tabuleiro de modo diferente do resto de nós. Podemos sentir a falta de paciência de Simon com a mitificação da intuição especializada quando escreve: A situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada em sua memória, e a informação fornece a resposta. Intuição não é nada mais, nada menos que reconhecimento”. 

Ou seja, a intuição não é adivinhação mística, não é o “eu acho isso ou acho aquilo”, situação bem comum aos pedantes. Para ser intuição, um ato ou decisão precisa estar revestida com a experiência. Algo como: “Eu já vi isso antes”; “Já senti esse cheiro”, ou coisa parecida, que liga, num estalo, o processo de decisão. 

Numa campanha eleitoral a intuição poderá produzir boas decisões para situações que dependem de decisões rápidas. Numa campanha eleitoral, os experientes, depois de tanto praticarem, olham as peças no tabuleiro de modo diferente do resto das pessoas. Por intuição, sabem quando um candidato pode ir bem ou pode quebrar a cara. 

A minha intuição diz que quando a imagem do candidato difere daquilo que ele é na realidade, a chance de ele ser um dia descoberto e decepcionar é enorme. Collor, Jânio e há outros exemplos por aí. 

Diante do espelho, mas longe dele, as rugas não aparecem. À medida que o personagem se aproxima, aí começam os problemas. Por essa razão que existe a desilusão na política. 

Durante a campanha, geralmente, o candidato se apresenta para você com a comunicação muito bem feita, organizada. Você vota naquele personagem, naquela imagem. Eleito, quando começa a governar, os holofotes são voltados para ele, aí entra a decepção. 

Mas tem o outro lado também. À medida que você se aproxima do espelho, o candidato pode se tornar, surpreendentemente, mais belo e agradável. Vemos isso em campanhas. Casos daqueles que imaginamos não ter chance alguma e, com tempo, observação e analisando a biografia, sua opinião muda e você decide votar nele.

Por isso que é importante se trabalhar com essa visão e esse conceito de imagem. É quando entra a intuição também. Ela faz parte do processo de decisão, que são tomadas a partir das experiências que se tem. Para que não se erre na intuição, é fundamental que o candidato conheça a si próprio e tome as decisões.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Podcast 18: Direto e certo

A comunicação correta na administração de um mandato consolida o voto que elegeu e conquista o voto do eleitor do adversário. Escute o podcast #18 de Jackson Vasconcelos.

 

Vídeo da semana, comentado no podcast:

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David Copperfield do Brasil

Compartilho com vocês o texto que recebi de um amigo, o Pedro Antonio. Faço questão de compartilhar esse texto porque achei uma visão interessante e moderna do que é a relação do Estado Brasileiro com a sociedade, mas principalmente porque o Pedro Antonio é um liberal.

Um empresário que teve sucesso financeiro com o empreendimento que fez partindo do zero, nunca recebeu apoio ou suporte do Estado, pelo contrário, o Pedro Antonio sempre entendeu que como empresário e cidadão tem compromisso com a sociedade independente daquilo que o Estado faça.

Com a empresa dele foram muitas pessoas empregadas, impostos pagos e, no momento certo, ele resolveu se aposentar e passar a empresa a diante. Mas, mesmo aposentado, ele tem sido incansável em ajudar sempre que é chamado.

Eu o conheci no Fluminense, onde ele, com recursos próprios, iniciou e concluiu a construção do Centro de Treinamento do clube. Iria fazer, se tivessem deixado, um novo estádio de futebol para o Fluminense.

Na Prefeitura do Rio, ele esteve como voluntário, gastando dinheiro do próprio bolso, para ajudar a Secretaria de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, na construção de um modelo moderno de arrecadação, que sacrificasse menos pela burocracia e pelo preço o cidadão, mas também permitisse que a prefeitura arrecadasse mais, uma forma inteligente de realizar a arrecadação sem pesar na burocracia e desonestidade.

Agora na pandemia, Pedro Antônio, com recursos próprios, distribuiu quase 100 toneladas de alimentos nas comunidades carentes do Rio de Janeiro e construiu um cabedal de exemplos das dificuldades que o Estado Brasileiro cria para as pessoas que querem ajudar e até suprir as deficiências do Estado.

Em cima disso, eu construí um bate-papo no Instagram e ele mostrou essas experiências. As histórias que o Pedro Antônio tem na relação dele com o Estado me estimularam a colocar esse texto aqui. Prestem atenção que esse texto recebi há dois, três meses, e vejam que se cumpriu um pouco da profecia dele:

David Copperfield do Brasil

O governo através do Banco Central e Ministério da Economia estão realizando um trabalho digno dos maiores aplausos e isto sem serem reconhecidos, ou melhor, sem serem percebidos.

Movimento 1: Em 2019 foi aprovada a reforma da Previdência que trouxe uma projeção de economia para os cofres públicos da ordem de R$ 800bi no período de 10 anos (1). Na última reunião do COPOM os juros básicos foram cortados em 0,75%, o que significa uma economia para os cofres públicos projetados em 10 anos de R$ 315bi (0,75% na dívida de R$ 4,2tri em 31/12/2019). Com a decisão do COPOM, o governo projeta uma economia equivalente a quase 40% de tudo o que será economizado com a reforma da Previdência, e feito sem um voto no Congresso ou qualquer negociação política.

Movimento 2: Desde 2019 o Banco Central tem deixado o dólar subir e chegando a níveis próximos de R$ 5,90. O que tem por detrás deste “liberalismo” e “econômica de mercado”. Algo simples e escondido na queda da SELIC: Se empresas ou pessoas físicas tem dinheiro no Brasil e veem o juro básico a 3%, de imediato pensariam, vou transformar em dólares, mandar para fora e aplicar até em títulos de empresas brasileiras com rendimentos superiores aos 3%. Só que com o dólar acima de R$ 5,50 quem vai fazer esta aposta? Então, é melhor ficar com o dinheiro aqui e se contentar com este juro. O Brasil conseguiu mesmo sendo uma economia muito menor do que os EUA, impor um juro simbólico para quem tem dinheiro.

Movimento 3: O Brasil vinha a anos realizando uma operação do tipo: pega dinheiro do limite do cheque especial com juros estratosféricos e aplicando na caderneta de poupança. Qualquer economista diria a uma pessoa física que isto é uma loucura, pois bem, as nossas reservas cambiais foram criadas quase que neste modelo. Como consequência o mundo passou a respeitar o Brasil na hipótese de algum calote na dívida internacional, porém, reservas caras que quase nada rendem, os governos seguiram mantendo tais reservas, mesmo quando todo o mundo entendia que o Brasil era confiável. Novas cabeças na economia do Brasil e, vamos lá, começaram a vender parte das reservas. Reservas estas compradas com dólar provavelmente muito abaixo de R$2,50, então vender tais dólares passaram a gerar bilhões de Reais de lucro para o Banco Central. Em 22/05/20 as reservas estão em US$ 339,3 bi. Sem fazer muitas contas, o BACEN vendeu cerca de US$ 40 bi, o que gerou um lucro de pelo menos R$ 60bi. Pode-se somar a este lucro o ganho obtido na venda de títulos do Tesouro Americano que pagavam juros muito maiores do que os atuais. Ainda tem um outro “pequeno” ganho de líquido de R$ 598 bilhões até abril/2020 referente a valorização das reservas cambiais. A valorização das reservas leva uma melhora na dívida pública líquido. Ao final do semestre o seu saldo pode ser transferido para o caixa do Tesouro.

Movimento 4: O dólar alto somado às consequências da pandemia, em que empresas não devem remeter lucros para o exterior, pessoas farão poucos gastos em viagens e compras no exterior, superávit na balança de exportações e importações, menos importações de supérfluos, teremos um muito provavelmente dois grandes efeitos: Superávit na balança de pagamentos e incentivo indireto, não intervencionista para produtos fabricados no Brasil. Será que as pessoas irão massivamente comprar roupas e bens no exterior ou no Brasil?

Movimento 5: Com o superávit da balança de pagamentos, com a entrada de US$ para comprarem ações na bolsa brasileira, uma das que teve maiores quedas, investimento ou mesmo compra de empresas no Brasil, o dólar provavelmente vai cair a níveis reais, e aí possivelmente o Banco Central já realizou o ganho na venda de reservas, vai ganhar novamente: nos contratos de Swap. Como se diz no ditado popular: “dinheiro chama dinheiro”.

Depois dos 5 movimentos acima listados, você talvez esteja se perguntando, o que tem tudo isto a ver com David Copperfield, o grande mágico ou como se diz agora, ilusionista? Todo mágico precisa além da varinha, foco e distração, todos precisam ficar atentos a ele, enquanto de alguma forma ele e sua equipe realizam a mágica que resulta em algo surpreendente.

Desde a posse do Presidente Bolsonaro, toda a mídia faz com que os Brasileiros só olhem para ele, não deixando espaço para mais ninguém, nem o Lula após ter sido solto conseguiu alguma atenção, o Mandetta em vez de trabalhar com a equipe, passava duas horas aparecendo na TV repetindo o mesmo assunto; foi desligado em uma simples carta, aí toda a atenção voltou novamente para o “David Copperfield”: Bolsonaro.

Enquanto neste último final de semana ficaram discutindo quantos palavrões ele falou na reunião ministerial, sem os palavrões dos governos passados, tais como: propina, Foro de SP, Pasadena, superfaturamento, caixa 2 etc., nos bastidores a sua equipe segue trabalhando para que o público presente tenha o grande final feliz: Um Brasil muito melhor. Querem uma prova final de que o Presidente Bolsonaro é o David Copperfield brasileiro? Perguntem a 10 dos mais radicais petistas e da esquerda radical, quando a Petrobrás Distribuidora será privatizada. 9 em 10 vão lhe responder: “Nunca, nós não deixaremos”. Ocorre que a BR foi privatizada em 2019 e não perceberam.

A cereja do bolo, é que o mágico, ilusionista Bolsonaro tem o maior aliado que poderia almejar: A mídia, a Globo, que faz todo mundo olhar para o que ele quer. Todos os dias ao ir trabalhar ou retornar do trabalho ele pauta o Jornal Nacional e os sites da mídia, deixando que a sua equipe tremendamente capaz, siga nos bastidores fazendo o melhor para o Brasil.

Pedro Antonio

*Artigo publico no Boletim da Liberdade.

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O eleitor tutelado

O Boletim da Liberdade, no dia 28 de junho, noticiou: “Fachin propõe aprovar cassação por abuso de poder religioso já em 2020”. Isso não me desceu bem. “Abuso de poder religioso?” O que poderia ser isso? Um poder sobre as almas? A garantia de entrar no céu? O abuso do poder religioso estaria, então, no rol onde já se colocam o abuso do poder econômico e do poder político? É provável, mas difícil saber, porque a criatividade do Estado Brasileiro para encontrar meios e modos de tutelar a sociedade é infinita. 

A notícia diz que  um Ministro do Supremo Tribunal Federal estaria a cuidar do caso da vereadora e pastora Valdirene Tavares dos Santos, de Luziânia (GO), punida pela Justiça Eleitoral por pedir votos num dos cultos da catedral local da Assembleia de Deus. Ou seja, no culto ela, uma pastora, pode pregar, cantar, cumprimentar efusivamente os “irmãos e irmãs em Cristo”, entregar e cobrar o dízimo, operar milagres, ato corriqueiro na vida dos líderes pentecostais, mas não pode pedir o voto de quem congrega com ela, nem avisar que é candidata. O laborioso Estado Brasileiro, através de seus agentes, não quer que os eleitores, ignorantes como são, corram o risco de acreditar que Deus chancela a candidatura da vereadora.  

Quase tudo na legislação eleitoral brasileira é trágico e cômico. Para os candidatos, um inferno!  O pior nesse quadro é ser deles, candidatos hoje, legisladores ontem e amanhã, a autoria de tamanha maluquice. Os agentes do Estado Brasileiro são tutores da vontade dos eleitores, talvez por nos considerarem idiotas o suficiente para cairmos nas armadilhas dos candidatos. 

Com esse argumento, a legislação eleitoral criou a figura esquisita do pré-candidato, aquela pessoa que é candidata, mas não pode dizer que é, enquanto não for. O Estado tutor acredita que o eleitor pode ser levado a votar em quem não é candidato e em algum momento, disse que seria. Com o mesmo intuito os agentes do Estado criaram a pré-campanha. Afinal, se temos pré-candidatos, havemos de ter, pré-campanhas, que são campanhas sem o pedido de voto ou declaração de candidatura. Qual o sentido disso? 

O Estado tutor, formado por gente que se imagina com inteligência acima da média, gente que lá chegou por eleição, concurso público, indicação de padrinhos e militância política – pouco importa – acha-se com a obrigação de orientar os eleitores para que eles, com inteligência abaixo da média, não sejam enganados pelos candidatos com esperteza além do limite. 

Com o mesmo objetivo cuidador, o Estado tutor, esfriou as campanhas eleitorais, quando acabou com as festas e shows nos comícios, com a distribuição de material publicitário, que chamavam de brindes e com as reuniões onde se podia comer, beber e conversar sobre o voto. Hoje, o candidato pode estar presente aos churrascos, aos encontros, desde que prove que não foi ele quem pagou a conta, porque se ele pagar, os comilões, idiotas como são, se sentirão obrigados a votar no pagante. Quem sabe o eleitor, idiota como é, não possa ser enganado a ponto de votar num cantor de showmício acreditando ser ele o candidato? 

O legislador, agente do Estado tutor, se defende com o argumento de igualdade de condições para todos os candidatos. Se é isso, como explicar as incongruências, por exemplo, da lei de desincompatibilização. Ela exige que quem exerce cargos públicos se afaste com antecedência para não usar a máquina pública a favor da campanha pessoal. Vejam como isso funciona: se um prefeito for candidato à reeleição poderá seguir no cargo campanha adentro, mas se for candidato a vereador, precisará deixar a prefeitura algum tempo antes. Faz sentido isso? E o mesmo acontece com os governadores e presidentes. 

Outra situação curiosa no campo da igualdade de condições se dá com a veiculação gratuita da campanha na televisão e rádio e presença nos debates, quando a uns é garantido mais tempo que a outros e somente a alguns a presença nos debates. O Estado manda nos debates. Onde fica o cuidado com a igualdade de condições? O Estado tutor poderá responder que as campanhas são dos partidos e ele, Estado, precisa reconhecer a representatividade de cada um deles. Então, não é o cuidado com a igualdade, mas o desejo de não permitir que os pequenos ameacem os grandes. 

Por essas situações e tantas outras, eu não gosto de um Estado que tenha o poder de orientar a minha consciência ou tentar mandar nela. Num discurso em 1854, o Presidente Abraham Lincoln declarou: 

“Nenhum ser humano é bom o suficiente para governar outro ser humano sem o consentimento deste último”. 

Eu acredito nisso. E acredito mais: que só os liberais têm a exata compreensão do papel que o Estado deve exercer numa democracia. Os demais são e serão sempre pacientes demais com os agentes do Estado que se acham no direito de se intrometer na vida da população. Para os liberais o Estado não é patrão, é servidor.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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As Excelências!

E a rachadinha, gente? Certamente, o senador Flávio Bolsonaro não ousaria, quando deputado estadual, a ser o único a praticá-la. Já se ouviu falar dela em outros casos na mesma Assembleia Legislativa e em algumas Câmaras Municipais, Brasil a fora. Pode ser que o mesmo aconteça até no Congresso Nacional. Quem pode garantir que não seja desse modo, se o Estado Brasileiro é opaco? 

Mas, será esse o único problema a se resolver na estrutura da administração pública? Aí, eu posso garantir que não, mas é digno de pena quem ousa pensar numa reforma administrativa, porque estará a mexer numa estrutura bem antiga, que distribui e mantém privilégios às mãos cheias, alguns deles, hipocritamente, chamados de prerrogativas, como são a estabilidade, as aposentadorias integrais, as promoções e progressões funcionais automáticas, bem como a autonomia para tomar decisões sem se incomodar com o resultado delas sobre a sociedade. 

É certo que sobre a corrupção age-se, no presente, com mais força. E sobre a irresponsabilidade e a incompetência, que produzem o mesmo efeito e às vezes com resultados até mais cruéis, porque o irresponsável pode até não roubar e não ser apanhado por isso, mas deixa que o roubo aconteça. 

O comportamento da máquina administrativa do Estado Brasileiro não deixa dúvidas de que ela pertence aos que a operam e nada dela é do povo. Quem, no Estado, recebe a chancela de uma nomeação, seja por eleição, concurso ou designação de confiança, apropria-se da estrutura. Por isso, acha normal ou até razoável errar e enriquecer na administração de um patrimônio que julga ser seu. Está aí o conceito de patrimonialismo que Raymundo Faoro entregou de forma magistral na obra “Os Donos do Poder”, onde está a derivação do patrimonialismo português e dos conceitos de Max Weber. Mas, que se leia Faoro e por justiça se veja o que é Portugal hoje. Isso talvez nos sirva de ânimo e de esperança. 

Sem muita sofisticação, a tese confirmada é de apropriação das estruturas do Estado pelos agentes públicos e privados. O que é a rachadinha se não a apropriação do patrimônio público pelos que o entendem como sendo seu? Na mesma linha e direção seguem as obras de reforma dos gabinetes funcionais de quem ocupa funções públicas e o uso indiscriminado de transportes gratuitos e outras regalias às quais só os escolhidos têm acesso. Mas, o mesmo se dá com a escolha dos séquitos de assessores inúteis à sociedade, apesar de extremamente úteis aos que os nomeiam, seja por concurso ou por confiança pessoal. 

“Os homens e as mulheres produzem mais quando recebem a recompensa tanto da sua diligência ou inteligência como as penalidades pela indolência…”. A frase é de Adam Smith. Mas, para tê-la como verdade na estrutura do Estado será preciso definir-se, com clareza, os objetivos a serem medidos, porque quando o objetivo é a prestação de serviços à sociedade, teremos mais indolentes do que diligentes. Contudo, se o objetivo for o sucesso do agente público, aí, então, não há indolência, nem incompetência. Existirá sim, muita inteligência e esperteza. 

Há que se mexer na estrutura da administração pública se quisermos governos voltados para o serviço público. Quem poderá fazer isso? Só os liberais, porque eles sim compreendem o prejuízo que dá à sociedade um Estado capturado pelos agentes públicos e privados em detrimento das expectativas do povo. Os conservadores, tenham as cores que tiverem, à esquerda ou à direita, querem manter tudo como está, com pequenas variações que, no fim,  facilitam mais a vida deles, independente do resultado que tenham na vida do povo.  

Encerro desculpando-me com o senhor Vargas Llosa, que numa das brilhantes obras que dedicou à política afirmou: “Um liberal costuma ser cético, alguém que considera provisórias até mesmo as verdades que lhe são mais caras. Esse ceticismo com o próprio é justamente o que lhe permite ser tolerante e conciliador com as convicções e crenças dos outros, mesmo que sejam muito diferentes das suas. Este espírito aberto, capaz de mudar e superar as próprias convicções é incomum e quase sempre inconcebível para quem, como tantos conservadores, julga ter alcançado as verdades absolutas, invulneráveis a qualquer questionamento ou crítica”. 

Peço perdão ao mestre Vargas Llosa, porque já perdi a paciência com os conservadores. Estou há tempo demais aguardando que eles mudem o rumo do Estado Brasileiro, ambiente onde qualquer burocrata mais assanhado é chamado de Excelência, para que fique mesmo, bem distante de quem lhe paga os salários. No país mais republicano e democrata do mundo, o Presidente da República, chefe de toda a máquina pública é tratado como Mr.  President. E quando a paixão é grande, como “My President”. Nesse pequeno detalhe está toda uma diferença que grita e implora por uma reforma administrativa urgente aqui.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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“Do outro lado do balcão”

O título do artigo de hoje está entre aspas por ser uma frase que tirei da entrevista que deu o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao Boletim da Liberdade. Ele postula, novamente, a cadeira de prefeito e o Boletim está ouvindo candidatos, com a boa intermediação do Pedro Rafael. 

Fiquei com comichão para comentar a entrevista do ex-prefeito do Rio, porque ela é rica para quem estuda e se dedica à estratégia, onde a análise dos discursos serve para identificar os pontos fortes e frágeis, as ameaças e oportunidades, na realização de projetos políticos. Um discurso político é útil para quem faz e para quem se contrapõe. É a súmula do jogo. 

A candidatura presente do ex-prefeito vem no rastro de uma estratégia aplicada por ele em 2016, tentada contra ele, em 2008, pelo César Maia: abrir caminho para um sucessor que fizesse o povo do Rio de Janeiro sentir saudades. 

Crivella teria sido prefeito na eleição de 2008, se Eduardo não disputasse (desejo ardente do César Maia, a ponto de fazê-lo entregar o próprio partido ao PMDB, para obstruir o desejo do Eduardo Paes). 

Portanto, Crivella seria, na eleição de 12 para Maia, o discurso da tragédia que Eduardo Paes usa desde a campanha de 2018. Situação fabricada pela decisão do Paes de ter escolhido e insistido em disputar a própria sucessão com um candidato que ele, com certeza, sabia estar, naquele momento, com a imagem ferida de morte.  

No tema mais precioso para o Boletim que, na palavra autorizada do Pedro Rafael, é “produzir conteúdos jornalísticos com viés liberal”, o discurso do Paes é bastante frágil. 

O ex-prefeito fez uso da frase, “sentar do outro lado do balcão”, para demarcar os conceitos de setor público e setor privado. “Eu não venho de uma família de políticos”, disse ele para iniciar um argumento que encerrou com as seguintes palavras: “É aquela história, eu fui educado para ir para o setor privado, para ser advogado, né? E acabei me enveredando pelo caminho da política. Acabei virando um político profissional (…). Faltava na minha formação sentar do outro lado do balcão. Ver como é difícil empreender” e etc e tal. Pura retórica de convencimento. 

Existe uma diferença essencial, básica, a marcar a situação daqueles que estão do outro lado do balcão. Ali se situam dois tipos de pessoas, pelo menos: aquelas que empreendem, que pagam as contas e aquelas que são remuneradas pelo trabalho que realizam e sobre o risco do investimento que fez o empreendedor. 

O ex-prefeito, ao que ele próprio diz e insiste dizer, está entre os que são remunerados pelo trabalho. Dele passou ou ainda passa longe a experiência de “ver como é difícil empreender”. 

Ele está setor privado, numa empresa chinesa, como Vice-Presidente para a América Latina. Não é ele o empreendedor. Não é ele o patrão. O capital dele não está no risco. Ele é o outro lado do balcão, aquele remunerado, onde o risco único é de mudar de emprego. 

Há um outro aspecto a considerar. No início da entrevista Paes afirma que ainda trabalha lá, para dizer, adiante, em outro momento: “Foi uma experiência muito legal…”.

E a gente sabe que Eduardo há tempos está na vitrine como candidato. Então, a favor do Eduardo, sem dúvida, está a qualidade profissional, tamanha ao ponto de um empresa privada, chinesa, deixar que ele dispute eleições sem incomodá-lo, remunerando-o. Mas, com todas as qualidades profissionais que tem, o ex-prefeito não pode dizer que, ali naquela empresa, aprendeu a empreender. 

Sendo político profissional sempre bem colocado no Estado e favorecido por ele, é compreensível que Eduardo Paes faça críticas à reforma trabalhista e aos limites de gastos que se impõe aos governos, como fez na entrevista. 

É pedir demais de quem sempre viveu à sombra ou a serviço do Estado a defesa das ideais liberais. Quem teve ou tiver a possibilidade de assistir a entrevista do ex-prefeito por vídeo, perceberá que a hora mais aborrecida para ele, momento em que ele muito se movimenta na cadeira, foi diante da pergunta: “A gente está vivendo um novo ciclo político com a influência cada vez maior de ideias liberais na esfera de governo. Nesse sentido, uma das pautas que os liberais defendem é a redução do escopo do Estado. Como você enxerga a pauta liberal?” Perguntou Pedro Rafael.  

O entrevistado rechaça, imediatamente, a colocação do entrevistador e usa como argumento o fato de, na pandemia, todos pedirem o socorro do Estado. Literalmente, a resposta foi: “Eu diria que tinha um predomínio da pauta liberal até começar a pandemia. Aí todo mundo pediu o Estado”. 

Para o agente estatizante a presença forte do Estado, como acontece na pandemia, deve ser permanente e crescente e isso lhe cria vícios. Para o liberal, a atuação do Estado numa pandemia, numa crise de grandes proporções, é uma obrigação remunerada pelo contribuinte. E, uma vez, normalizada a situação, o Estado que diminua seus raios de ação. 

Ora bolas, uma sociedade submetida à uma Constituição que tem 250 artigos e 105 emendas, é uma sociedade estatizante. É disso que queremos sair, por absoluta necessidade. Somos liberais, porque sabemos quanto nos custa o Estado e o perrengue que é fechar as contas no início do mês, tendo os agentes públicos no nosso pescoço. Eu vivo isso há 22 anos! A gente sabe o que é ficar sem dormir, quando surge o risco de perder a empresa, como acontece agora, quando o faturamento não vem.

Faço votos que a próxima eleição seja melhor para o Brasil todo. Seja uma eleição onde o discurso liberal tenha espaço para convencer o povo, que o Estado Brasileiro é perdulário, pesado, ineficiente e capaz de produzir decisões que desperdiçam dinheiro que nos custa muito caro.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Chega de briga! Chamem a política

Quem deveria amenizar os efeitos da crise e organizar a saída briga por tudo e por qualquer coisa, só para impor a vontade e a opinião pessoal. Dane-se o outro. Dane-se a lógica. 

Ouve-se um vozerio infernal vindo de todos os lados. Barulho de vozes e panelas. Os três poderes falam ao mesmo tempo coisas diferentes, juntam-se à imprensa e engalfinham-se numa luta sem trégua. Todos querem ter razão. 

A política pede passagem para o diálogo e compreensão. 

Há vários significados para a política. Eu fico com o que a define como a solução pacífica para os conflitos humanos. Eles não são poucos e estão em todas as relações humanas, inclusive, no amor. A política torna possível a convivência dos contrários, pela fórmula entregue pela monja Cohen, fundadora da Comunidade Zeb-Budista do Brasil, no livro A Monja e o Professor”: “Os opostos convivem, desde que cada um reconheça a diferença como um dado a descobrir mais do que enfrentar”. O Professor da obra é o pop star Clóvis de Barros Filho. 

Onde estiverem a violência e a incapacidade de entender o outro, não estará a política. Nas guerras, ela só se manifesta no tempo dos acordos de paz, porque a política não mata.  Ela revigora. 

Então, não faz o menor sentido dizer-se que há política na confusão que está armada no Brasil. Não há! E lembremos que a incapacidade para dialogar, para respeitar a liberdade do outro de pensar diferente levou o Brasil várias vezes à ditadura. E todas as vezes, a política entrou em campo para devolver a liberdade. 

A política fez o recuo necessário no movimento pela eleição direta para presidente da república e, desse modo, abriu espaços para que a sociedade avançasse até a eleição de Tancredo Neves, ainda no Colégio Eleitoral. A política construiu o consenso na Assembleia Nacional Constituinte.  O povo que foi às ruas pela eleição direta, esteve, algo depois, nas galerias e corredores do Congresso Nacional para com os Constituintes, elaborar a nova Constituição. Eu fui um dos espectadores privilegiados de todo o movimento no Congresso: da frustração da proposta de “Diretas Já” à promulgação da Nova Carta. 

E a resistente e invencível inflação? Tentou-se um sem número de vezes acabar com ela pelo tranco, sem a política, sem a participação de todos e vezes mil, os que tentaram quebraram a cara. Ela só foi vencida, quando a política entrou em campo e se negociou a solução com o povo e se fez isso com transparência. Eis a política! 

Negociando-se, e não na truculência que se vê hoje, o Brasil encontrou novos caminhos e atalhos.  

Hoje, os agentes públicos, que se auto-intitulam políticos, querem vencer a crise pela truculência, pela disputa entre opiniões, sem a política. É impossível. 

Voltando às ruas a gente já vê o enorme estrago que fez o isolamento inevitável nas empresas, nos empregos, nos sonhos estimulados pela poupança de anos. O Estado faz remendos, mas, se sabe que nenhum deles evitar a desolação, até porque os limites do Estado estão fincados na capacidade que o mercado tem para contribuir com os impostos. Eu chego a imaginar que a recuperação será impossível, mas socorro-me numa frase que retirei de um dos volumes dos Diários da Presidência de FHC: 

“O impossível é sempre mais sedutor que o possível”. A saída impossível será pelo caminho que os agentes públicos escolheram até aqui. Mas, o que há de sedutor nesse “impossível” é a possibilidade de eles – cada um deles – estejam no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário, compreenderem que já basta de confusão e que é hora de chamar a Musa que todos eles sempre disseram venerar: a política. 

É hora de união nacional, porque o adversário dessa vez é, de fato, um inimigo poderosíssimo. Foi-nos mandado pela Mãe Natureza, depois de todos os atrevimentos que ela recebeu e tem recebido dos humanos. Dessa vez não há escolhidos. 

A população está insegura e quanto retornar às ruas, mais insegura ficará, porque, afinal de contas, o “próximo”, aquele a quem Cristo manda-nos amar como a nós mesmos, poderá ser o emissário da doença e da morte. Como conviveremos com todo o problema que já suportamos e teremos que suportar se, de quem se espera o apoio, a ajuda, só conseguimos ouvir acusações, impropérios, desavenças? 

A melhor estratégia para o Brasil vencer o inimigo e sair com vida é o entendimento e nisso a política é mestre. Podem tentar. Podem usar, que vocês verão que funciona. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Os isolados

“Como fazer campanha eleitoral no isolamento?”. Na internet há uma infinidade de gente com respostas prontas para esta pergunta. 

Para o político tradicional, nada de novo lhes trouxe o Covid-19, a não ser o medo de adoecerem e morrerem, porque, para muitos, o adoecer sem grandes complicações pode até ser conveniente, um modo de mostrar proximidade com o povo, uma maneira de dizer, “Isso acontece até comigo”, como fez o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, quando comunicou ter sido contaminado: 

“(…)Peço mais uma vez para que fiquem em casa, porque a doença, como todos podem estar percebendo, não escolhe ninguém”.

O sumiço dos políticos não é novidade. Sejamos justos que há elogiáveis exceções, eu conheço algumas, que existem exclusivamente, para confirmar a regra. 

Alguns gostam tanto da chance de viverem sumidos que, no Congresso Nacional, propuseram a redução do tempo de campanha de seis para três meses e depois para 45 dias. Eles e elas reduziram o prazo e criaram uma porção de dificuldades para as campanhas, tornando-as maçantes, sem alegria e sem calor. 

Ninguém se surpreenda se, com base nos riscos de contaminação de agora, o Congresso Nacional criar leis restringindo, definitivamente, a presença de políticos nas ruas. Para muitos, será o céu na terra. 

A decisão mais relevante de JK foi isolar a política em Brasília. Imaginem vocês o que seria a ebulição política que estamos a viver, com Ministros, principalmente, do Supremo, precisando circular por aqui. A vida deles e delas não seria nada fácil. Já não tem sido nos aeroportos e nas visitas ao exterior.

Mas, antes do Covid, aberta a temporada de caça aos votos, viam-se os políticos no metrô, nas feiras onde nunca compraram uma laranja, nas igrejas,  nos bares populares e até nos cemitérios. E não faltavam os apertos de mão e o tapinha no peito. O político César Maia criou a proeza de contar quantas mãos ele é capaz de apertar por dia numa campanha, mas nunca nos disse quantos rostos e histórias pessoais ele lembra terem passado por ele nem é capaz de dizer quantas mãos aperta no intervalo das campanhas. 

Terminada a temporada de caça aos votos, os candidatos eleitos somem. Os outros também. Ninguém sabe exatamente para onde eles vão. Há quem jure que eles habitam um planeta próprio, localizado num sistema bem distante da Terra. Então, o isolamento de agora nenhum problema maior causa para as campanhas, bastando que elas comecem um pouco mais tarde. E há as mídias sociais. 

Ah! Que maravilha poder fazer campanha à distância, sempre sob aplausos, porque quem discorda fica no vácuo. Quem critica na tela, toma uma pancada, e segue caminho. Nas ruas, não é assim. Povo constrange. Cobra. Não concorda com a falta de resposta. 

A política é calor humano. É proximidade. Os evangélicos conseguem mais sucesso com a política e com as eleições, porque, pelo menos, uma vez por semana, todas as semanas, estão congregados com os seus.

A falta de proximidade tem respondido pelo número maior, a cada eleição, de não votos (abstenção, nulos e brancos), com prejuízo enorme para o conceito de representação, modelo da nossa democracia. 

Mas, se não podemos mais estar nas ruas, como ter proximidade com o eleitor, que é, se sabe, cada dia mais exigente? Sendo-se autêntico e íntegro. Honesto no discurso e nas propostas e tendo consciência das expectativas do eleitor e dos sentimentos dele. 

Teremos este ano eleições para prefeito e vereador. Como fazer? 

Mesmo, à distância, o candidato deve mostrar ao eleitor que é capaz de representá-lo, porque conhece os problemas que ele, eleitor, enfrenta e sabe das dificuldades que ele tem para viver. A proximidade será pelo discurso que, com vídeos correndo soltos e comunicação rápida e direta, não conseguirá enganar com facilidade.

Inventou-se que a eleição do Presidente Jair Bolsonaro e de todos e todas que ele carregou com ele é um caso a merecer estudos. Não é. Jair Bolsonaro cultivou a proximidade de sentimentos e opiniões com os eleitores. Ele foi capaz de mostrar que sentia a mesma dor e indignação da maioria. Com isolamento ou nas ruas, a autenticidade será sempre elemento estratégico para se conseguir o voto. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Kamikaze

Oportunidades e ameaças são conceitos da estratégia e é prova de bom senso aproveitar as oportunidades e descartar as ameaças, seja anulando-as, seja transformando-as em oportunidades. 

Contudo, o presidente Jair Bolsonaro, assunto único do mundo político do Brasil desde a facada que ele levou em Minas Gerais, faz diferente. Ao que parece,  o presidente firmou uma aliança com as ameaças, num processo de estratégia negativa. Ou, se preferirmos o que diz o consultor de estratégias, Michael Raynor, temos aí um paradoxo da estratégia, situação que se verifica quando a principal causa do fracasso estratégico não é a estratégia ruim, mas uma boa estratégia que simplesmente provoca um erro. O presidente acredita piamente que a melhor estratégia de sobrevivência seja o conflito. Não é. 

O clímax dessa escolha está agora na relação dele com o Covid-19. A oportunidade de explorar a imagem de um governo que age para ajudar a população a suportar o mal – atitude que o governo federal, realmente, tem adotado – o presidente prefere uma briga inútil contra os fatos. No caso Covid, o presidente se porta como um soldado que caminha na direção oposta à do resto do batalhão. 

A opção pelas ameaças jogou a imagem do presidente numa areia movediça, que a faz afundar tanto mais o presidente se movimente.

Vejam vocês se não tenho razão. 

Jair Bolsonaro foi eleito presidente a bordo de uma campanha nunca imaginada competitiva e levou com ele, para Brasília, um bom número de deputados federais e senadores aliados.

Esse grupo de parlamentares definiu a Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, neste caso, disputada entre uma velha e experiente raposa, Renan Calheiros, e um senador desconhecido fora do Pará e de sobrenome complicado : Alcolumbre Tobelem. 

Com a ajuda dos senadores aliados ao Presidente da República, Alcolumbre derrotou Calheiros com requintes de humilhação. Se vencesse a velha raposa ou, se ela, pelo menos, saísse fortalecida, teríamos uma pedra no sapato do presidente da república, uma ameaça forte ao projeto dele. 

O resultado da disputa no Congresso Nacional somou-se à garantia que o presidente obteve dos eleitores para condução do governo do jeito que bem entendesse. 

Isso deu ao presidente e aos auxiliares que ele escolheu sem ouvir partidos ou aliados, situação totalmente nova na República, segurança para  aprovação das reformas essenciais à criação de um Brasil novo, onde o Estado deixe de ser carrasco dos contribuintes e distribuidor de privilégios entre apadrinhados e bajuladores do poder. 

Em paralelo, o apoio popular ao presidente  crescia impulsionado por imagens inéditas e fortes. A primeira ocasionada pela decisão do presidente de entregar à esposa o privilégio do mais importante discurso da posse, aquele que acontece no Parlatório do Palácio e é assistida no mundo todo. A decisão produziu uma cena maravilhosa nunca ocorrida na história das nações. 

A senhora Michelle Bolsonaro, por sua vez,  deu o recado de maneira magistral. O presidente e a esposa criaram a imagem de um governo reformador e inclusivo. Esta atitude em qualquer lugar do mundo valeria bastante e, por aqui, vale bem mais, porque somos um país que ainda discrimina as mulheres na política e cuida pouco das pessoas com deficiência. 

A liberdade para a escolha dos ministros e de uma ministra, sem ouvir o Congresso Nacional ou os partidos, acrescentou mais valor à imagem do presidente e na esteira correram nomes de bom peso, como Paulo Guedes, Sérgio Moro, Tarcísio, Teresa e outros. O Banco Central, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Caixa Econômica e todas as empresas do governo passaram ao comando de gente com qualidade pessoal e competência reconhecidas. Interrompeu-se o canal de comunicação do Estado com o financiamento de interesses pessoais e partidários. E a popularidade do presidente chegava à cabeceira da pista para levantar voo.

Talento ou sorte? 

Na arte de administrar as oportunidades e ameaças estamos descobrindo que o presidente tem mais sorte que talento. 

Neste ponto, dou um salto até a Segunda Guerra Mundial, para encontrar por lá os “ventos divinos”, os kamikazes. 
Derrotados várias vezes na tentativa de manter os americanos longe das ilhas filipinas, ponto estratégico para a guerra, e já com poucos soldados, equipamentos de mar, terra e ar, os generais japoneses convocaram voluntários. 

Chamados com base no Código de Honra do Japão, que estabelece ser melhor morrer do que viver como um covarde, os soldados voluntários foram convocados para morrer pela pátria e pelo imperador, ser supremo a quem, as vontades de todos os japoneses  deveriam estar subordinadas.

A imagem mais conhecida dos kamikazes está vinculada aos aviões que eles jogaram sobre a frota de porta-aviões americanos. Os jovens pilotos eram enviados ao combate só com combustível para a ida, fugindo do risco de, no momento do lançamento, se arrependerem. 

Mas, eles também agiram em terra, prendendo minas em volta do próprio corpo e se atirando debaixo dos tanques inimigos. Com a tática, os japoneses retardaram o avanço das tropas americanas. Isso não adiantou muito, mas os que morreram, certamente, levaram a ideia de ter valido a pena.

Em nome do imperador e da honra, mais de 70 mil jovens japoneses perderam a vida na aplicação da tática suicida. 

O Presidente do Brasil é um kamikaze, mas sem alvo definido. Ele atira-se à morte todos os dias, jogando-se contra os adversários e, cada vez mais, contra os próprios aliados. No final, ele poderá morrer sem honra, mesmo que não seja um covarde. 

Do mesmo modo como é um estrategista com sinal trocado, o presidente é um kamikaze que se lança contra os próprios aliados, transformando-os, com velocidade, em inimigos. Jair Bolsonaro não perdoa, não negocia. Contrariado, ele amarra uma mina em volta da cintura e se atira, sobe num avião de guerra e se lança ao mar. 

De atrito em atrito, o presidente reduziu a margem de conforto que tinha no Congresso Nacional e perdeu apoios na sociedade. 

Por sorte e, ao que se vê, não por talento, o Kamikaze Bolsonaro assumiu em janeiro de 2019, o comando de um avião abastecido para uma viagem de oito anos e com garantia de retorno, em glória, para a base. Mas, ele fez um rombo no tanque, que perde combustível enquanto o avião voa. 

Ainda há tempo para salvar a viagem? Claro que sim. A estratégia é uma ferramenta de trabalho quase milagrosa. Se o presidente quiser salvar o próprio governo deveria começar por evitar os atritos.  

Na estratégia, o atrito produz o mesmo efeito que na física: reduz a aceleração. Ao mesmo tempo, o presidente deveria identificar, com rapidez, as oportunidades e apoios que ainda lhes restam e potencializá-las ao máximo, para enfraquecer as ameaças, que estimulou até agora. O presidente precisa de um reset no sistema de governo e de comunicação. 

Quando a gente cuida de projetos políticos, a imagem é a matéria-prima. Nesse ambiente, o pior não é o impeachment nem a renúncia, situações que não acredito possíveis. O problema está na imagem que o presidente deixará registrada nas páginas da história. Isso sim é importante e deveria ser a preocupação principal na cabeça de alguém a quem a sorte confiou o destino de uma Nação. 

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos