O ano meio terminava, meio começava. Os relógios, à caminho
da meia-noite. Ouvia-se, de algum lugar perto, a voz gravada da Daniela
Mercury: “A cor dessa cidade sou eu. O canto dessa cidade é meu. O gueto, a rua, a fé. Eu vou andando a pé pela cidade
bonita. O toque do afoxé e a força onde
vem? Ninguém explica, ela é bonita…”
Estava alí uma dica para abrir o ano em que os
eleitores do Brasil decidirão quem governará as cidades onde moram. Onde a cor
e o canto não são, exatamente, o que deseja a Daniela Mercury.
O desconhecimento do modo como as coisas
funcionam na administração das cidades, no campo da política e da técnica, leva
muita gente a acreditar que, ao escolher o prefeito estará decidindo como a
cidade funcionará para que tenha a cor e o canto de cada um. Uma ilusão!
Existem, a tocar as cidades, figuras mais
importantes do que os prefeitos, porque são gente autorizada, via leis, a
decidir onde e como o dinheiro do povo será gasto e se o prefeito tem e terá ou
não a liberdade para cumpir o que combinou com o povo. Cabe-lhes também
elaborar as leis municipais, aquelas que organizam a vida em sociedade no local
onde as pessoas moram, trabalham, passam férias e revivem memórias. Essa tarefa
implica em fazer o planejamento urbano, algo de absoluta complexidade e
responsabilidade, para toda e qualquer cidade de qualquer tamanho. Nesse
contexto, estamos a tratar de Lei Orgânica, Plano Diretor, uso do solo, direito
ambiental, código de obras, impacto de vizinhança, patrimônio cultural e
histórico, segurança, trânsito e outras coisas bem importantes.
Os vereadores, figuras que pouco gente
conhece, mas nas quais quase toda gente vota, são políticos que formam uma
turma com poder até para tirar o prefeito, que o povo julgou ser a escolha mais
importante a fazer. Eis aqui uma questão a ser avaliada também pelos candidatos
a prefeito quando escolhem os candidatos a vereador que apoiam.
Por não serem percebidos e poderem atuar na
penumbra, alguns vereadores se frustram, enquanto outros fazem miséria. No
resultado final, sofre o povo, porque as cidades perdem a cor, o canto e o
encanto. Elas passam a servir, exclusivamente, de pasto para os interesses não
muito claros de grupos que têm o poder de agir nos corredores e bastidores,
para influenciar as decisões, um caminho que até o crime mais rasteiro já
descobriu e tem feito uso.
Estamos diante de um problema que sugere uma solução estratégica clara, se desejamos ter cidades melhores, com mais qualidade de vida, onde possamos viver, trabalhar e curtir a vida com alguma paz: a seleção bem avaliada dos candidatos às prefeituras, mas também às câmaras municipais para, na hora do “vamos ver”, na cabine de votação, se ter a convicção, ou pelo menos a percepção, de que se fez a escolha certa.
Feliz ano novo!
*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.