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Um tsunami atropelou a oposição na Previdência

Sabe-se que as ondas do mar são formadas pelo encontro dos ventos com as águas e também que o tamanho das ondas depende da força e duração dos ventos na superfície. Esse fenômeno explica o que se viu no plenário da Câmara dos Deputados, na hora em que se votou a reforma da Previdência.

Num ambiente de águas agitadas, uma enorme onda se formou, rapidamente, em razão dos ventos da articulação política acontecida entre o presidente da casa, Rodrigo Maia, e os líderes dos partidos da base de sustentação. A onda deu um capote na oposição.

Eu estive lá na terça e na quarta-feira e percebi os movimentos. Rodrigo Maia só compareceu ao plenário para presidir as sessões quando os votos para obstruir a obstrução e aprovar a reforma estavam contados e certos. O processo de votação, pelas normas legislativas, se dá em duas fases, uma de discussão e outra de votação.

A primeira aparição do deputado Rodrigo Maia no plenário aconteceu às 21h de terça-feira e com o objetivo de acelerar a etapa de discussão da matéria, para entrar na fase de votação.

Quando assumiu a presidência – entrou no cenário –, Rodrigo Maia encontrou uma oposição cansada pelas horas intensas de debate sobre um assunto completamente irrelevante: as vaquejadas. A sessão das vaquejadas, maçante, provocou o discurso revoltado de um dos deputados, às 20h, que bradou ao microfone: “Estou aqui desde cedo para votar a reforma e nada acontece. Isso é um absurdo”.

A estratégia do deputado Rodrigo Maia e dos líderes da base funcionou. Em poucas horas, exausta, a oposição viu entrar a madrugada e encerrar-se o período de discussão da reforma da Previdência.

No dia seguinte, quarta-feira, encerrada a discussão, se teria a votação do texto base. O deputado Rodrigo Maia repetiu a dose. Ele deixou o plenário cansar com homenagens à Igreja Universal e discussões estéreis sobre a reforma, mas sem impactos no processo deliberativo. Assim ele levou a coisa toda até perto das 17h.

Com a oposição rouca de tanto esbravejar, o deputado Rodrigo Maia chegou ao plenário, pouco antes das 17h, assumiu a presidência dos trabalhos e, com mão e pulso firmes, respaldado nos acordos feitos durante todo o dia com os líderes da base de sustentação, tocou o processo de votação. Os ventos fortes das negociações nos bastidores bateram na superfície do plenário e formaram um tsunami que arrastou a oposição para uma derrota e tanto!

O passo seguinte seria a votação dos destaques (emendas que podem modificar o texto original), mas o deputado Rodrigo Maia percebeu que a situação começava a ficar fora de controle. Então, imediatamente, suspendeu a sessão e voltou às articulações nos bastidores para buscar jogo.

A limitação férrea de acesso de não parlamentares às áreas próximas do plenário da Câmara foi outra providência inteligente, porque deixou que as conversas entre deputados e deputadas, nos corredores, acontecessem sem constrangimentos.

Fiquei quase todo o tempo sediado na liderança do PSD. A sintonia dos líderes dos partidos da base aliada com o presidente da Câmara era tão ajustada que eles tiveram o controle absoluto sobre a hora exata de cada um dos passos que o presidente daria.

Quem se der ao trabalho de conhecer a história das duas Casas do Congresso Nacional confirmará um fato relevante: os momentos mais intensos de produção legislativa foram todos sob a batuta de presidentes de pulso forte na Câmara dos Deputados.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Sincericídio ou sincerivida?

Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos

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A reforma essencial

A reforma essencial não é a da previdência que, sem dúvida necessária e urgente, acontecerá mesmo como remendo, se o sistema de capitalização não substituir o de repartição. A reforma essencial é a da legislação, que ordena o sistema político, causador de todos os males, inclusive daqueles que obrigam a população brasileira a rever a Previdência Social.

O sistema político brasileiro justifica, por exemplo, as ocorrências recentes entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Câmara Municipal, prática comum no relacionamento entre os poderes da República em todos os níveis da federação.

Em janeiro de 2018, os vereadores do Rio de Janeiro, desconfiados com o prefeito, que demonstrava certa independência com relação a eles, enxertaram um deles no sistema administrativo da Prefeitura: o vereador Paulo Messina foi nomeado Chefe da Casa Civil e se colocou, rapidamente, no papel de um “primeiro-ministro”.

Tudo andou bem, até que a expansão dos poderes do Chefe da Casa Civil mexeu com os brios do prefeito. Momento em que Paulo Messina começou a ser tolhido.

Os vereadores, então, assessorados pela Casa Civil, criaram os argumentos para processos de impeachment do prefeito e Paulo Messina retornou à Câmara com a alegação, no primeiro momento, de defender o prefeito. Estava dada a mensagem de captura integral da prefeitura pela Câmara. A partir daí, o prefeito ampliou o número de secretarias, remanejou funções e entregou os cargos aos vereadores. Tudo isso porque a legislação brasileira autoriza que membros do Poder Legislativo, sem perderem os mandatos originais, exerçam funções administrativas no Poder Executivo, um dos defeitos do nosso modelo.

Isso acontece na relação entre a Câmara Municipal e a Prefeitura do Rio, como acontece na relação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo no Brasil todo e em todos os níveis e cria a situação complicada de gente eleita para aprovar os orçamentos públicos e fiscalizar a aplicação deles, exercendo o papel de também executá-los. Muita gente para gastar, quase ninguém para fiscalizar.

A reforma essencial é de reorganização do sistema, para arrumar a bagunça que os vícios fizeram e têm feito.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Governo sabatinado

O Ministro Sérgio Moro foi sabatinado durante dez horas pelo Senado Federal. Lá esteve outras vezes. O Ministro Paulo Guedes, outras tantas. Os dois ministros da educação também. A Ministra Damares, idem. A Ministra Tereza Cristina, da mesma forma.

Não aprofundei a minha pesquisa. Mas, certamente todo o primeiro escalão do governo foi sabatinado pelos Senadores e Deputados Federais e participou de longas entrevistas à imprensa em razão das sabatinas nestes poucos meses de um governo de quatro anos.

Algo semelhante tem acontecido, com certeza, com os demais escalões do Poder Executivo.

Todo esse trabalho e retrabalho produziu notícias, debates e opiniões. E o povo brasileiro ganhou o quê com todo esse movimento? Muito, muito pouco… talvez nada.

O compositor Arnaldo Antunes compôs a música “Muito Muito Pouco”. A letra se encaixa direitinho no que tem sido a relação entre os poderes e o povo brasileiro:

“Tem muita gente e muito pouco pão

Tem muito papo e muito pouca ação

Tem muito pouca dúvida e muita razão

Tem muito pouca ideia e muita opinião

Muita pornografia e muito pouco tesão

Muita cerimônia e muito pouca educação”

O tempo gasto pelo governo com explicações no Congresso Nacional, a grande maioria de absoluta inutilidade pelo conteúdo e repetição, seria demais em qualquer lugar do mundo.

Contudo, representa um peso enorme sobre os ombros dos contribuintes brasileiros, pelo grau de dependência que a sociedade tem do Estado e o tamanho da conta que paga em tributos.

Não se fez ainda o cálculo exato do custo de uma sessão no Congresso Nacional, mas, sem o risco de errar, é possível trabalhar na casa do milhão. Estamos, portanto, diante de um problema.

Qual seria a solução? Estaria em se oferecer à opinião pública a informação preciosa do custo e do benefício das vezes em que os membros do Poder Executivo são obrigados a abandonar o trabalho para serem sabatinados pelos membros do Poder Legislativo. A informação envergonharia ou, quando menos, constrangeria os parlamentares na relação deles com o povo, esta sim, com poder suficiente para mudar o rumo da história.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Política pública só funciona com estratégia

A primeira peça essencial numa campanha eleitoral deve ser o discurso, porque ele dirá da razão de ser candidato. Não precisa ser bem elaborado no início no processo, mas precisa ser convincente. Quando se faz campanha para funções de Estado, como é o caso das campanhas para vereador, prefeito, deputados, senadores, governadores e presidente, o discurso precisa estar atrelado às políticas públicas, porque elas é que dão sentido à função pública.

Uma das funções da estratégia é identificar os pontos fortes e fracos de um projeto ou desafio, para dar facilidade à realização deles. Uma das questões críticas para as funções de Estado é o atendimento médico, que forma com a falta de segurança pública a equação do insucesso de um projeto político dos governantes, principalmente no Rio de Janeiro.

Uma situação se comunica diretamente com a outra, porque os crimes lotam os hospitais e a lotação deles dificulta o atendimento à população. Disso, a gente tira uma lição importante sobre administração pública: quer reduzir a pressão sobre os hospitais? Aplique dinheiro e inteligência na prevenção das causas que levam as pessoas ao sistema de saúde.

Se os governos fossem mais atenciosos com a segurança pública – atenciosos e eficazes – o sistema de saúde pública teria algum alívio.

Mas, ao considerar a falta de segurança pública como uma das causas de hospitais e postos de atendimento da saúde estarem lotados e sem condições de atendimento digno, podemos fazer o mesmo com relação a todas as políticas públicas. Por exemplo, a educação e informação. A gravidez precoce que movimenta os hospitais e postos de atendimento poderia ser evitada se as meninas e moças recebessem informação e educação. A falta de cuidado com a natureza, que produz valas negras e áreas sem sol são situações outras que impactam sobre o sistema de saúde.

Em resumo: não é aconselhável pensar política pública sem estratégia de atuação, porque a ausência dela cria a situação que a gente está cansado de conhecer: a tentativa de resolver os problemas pelas conseqüências e não pelas causas. Por isso, os governos acreditam que as dificuldades de atendimento médico estão vinculadas à falta de pessoal adequado, de hospitais, de remédios e exames. Os problemas da política pública de saúde estão muito mais na falta de políticas de prevenção do que no atendimento médico curativo.

Só com a estratégia correta se resolverá o problema da saúde. Eis aí um bom motivo para se preparar um plano de governo para as campanhas eleitorais: pensar a política pública com base em elementos de estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Quero a velha política

“Onde estiver o teu tesouro estará também o teu coração”

Essa advertência bíblica deveria pautar o debate sobre o Fundo Partidário, criado para sustentar os partidos políticos, assim como o caixa dois passou a existir para pagar as campanhas eleitorais, que causam vergonha ou medo aos financiadores. Passou a ser assim, porque a política deixou de apaixonar para ser uma atividade quase criminosa e sem sentido, sendo esta última característica a razão para a fuga das mulheres, que são bem mais pragmáticas que nós homens.

A última eleição é um alento para quem gostaria de ver a política com o perfil de outros tempos. Sim, porque houve época, não muito distante, em que os partidos e a política eram sustentados pelos militantes. Eu me lembro desse tempo.

Em 1982, vim de Brasília, minha residência naquele tempo, para organizar um partido e algumas campanhas no Rio de Janeiro. Cheguei à sede do PFL, na Almirante Barroso, no Centro do Rio, e encontrei um oficial de justiça com um comunicado judicial de obrigação de pagamento em sete dias, dos seis meses de aluguéis atrasados, sob pena de despejo logo em seguida.

Resolvi o problema em cinco dias, com uma campanha relâmpago de arrecadação que animou 816 filiados. Logo depois, providenciei a mudança de endereço para um local mais barato, cumprindo a promessa que fiz na campanha de arrecadação. A paixão dos militantes enchia os auditórios das convenções e eventos, sempre financiados com o dinheiro dos filiados. O débito em conta de mensalidades para o partido era um procedimento de rotina.

A contribuição de pessoas jurídicas era proibida como hoje é. Quando a paixão desapareceu, criou-se, primeiro, a contribuição de pessoas jurídicas e fez-se a ligação entre o financiamento das campanhas e os interesses comerciais das empresas financiadoras. Surgiu o caixa dois, porque, como em pauta estavam os interesses, era preciso preservá-los independente dos resultados de cada eleição. Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.

“Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.”
Ao que parece, o povo cansou de tudo isso e começou a promover mudanças. A paixão volta devagar, numa situação que os desavisados chamam de radicalização.

Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, na autobiografia “Minha Vida”, avisa: “As campanhas presidenciais bem sucedidas exigem três pontos básicos. Primeiro, as pessoas têm de ser capazes de olhar para você e imaginá-lo presidente. Depois, você precisa ter dinheiro e apoio suficientes para se tornar conhecido. Depois disso é uma batalha de ideias, mensagens e questões”.

Nos Estados Unidos, a primeira batalha é pelo financiamento. O candidato que mais arrecada mostra que é capaz de apaixonar, de fazer com que o dinheiro caminhe na direção do coração.

Sei não, mas me parece, ao olhar as últimas eleições, que algo positivo começar a acontecer por aqui. Já tem partido que entendeu que o Fundo Partidário não é bom negócio, porque não qualifica o voto. Quem sabe, não voltará a velha política, aquela em que contribui quem acredita?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Quem precisa de voto tem medo

A eleição do presidente do Senado Federal foi disputadíssima? Aparentemente, sim. Na realidade, não. Era fatura decidida em favor do vencedor, senador Davi Alcolumbre, desde o primeiro momento da sessão. Os olhos de alguém acostumado à construção e análise de estratégias seria capaz de antecipar o resultado, pela ótica das oportunidades e ameaças apresentadas nas imagens transmitidas pela TV Senado.

O senador Renan Calheiros abriu como candidato preferencial. Imbatível, pelo histórico e por pertencer ao partido com maior número de cadeiras no Senado, o MDB. Abriu-se a sessão de posse dos novos senadores e escolha da Mesa Diretora, que conduzirá o Senado nos próximos dois anos, com direito de reeleição por mais dois.

O senador Davi Alcolumbre usou a função de único remanescente da Mesa Diretora a ser substituída, para assumir a presidência da sessão. Ele está na primeira metade do primeiro mandato, que começou em 2015 e terminará em 2023. Na presidência interina, ele empossou os senadores na nova legislatura e abriu a segunda parte da sessão, destinada à eleição da Mesa Diretora.

Neste momento, Renan Calheiros, de muitos mandatos, reeleito e empossado, entrou em desespero com endereço certo: O senador Davi Alcolumbre. As angústias de um homem experimentado indicam risco, ameaças. Ora, com votos suficientes e garantidos para ser o presidente, Calheiros deixaria a sessão correr. No entanto, ele perdeu o autocontrole e enlouqueceu a aliada senadora Kátia Abreu. O Brasil todo e talvez o mundo inteiro, viram do que ela foi capaz para prestar serviços ao colega Renan.  

Davi Alcolumbre permaneceu frio e firme no comando da sessão. Transmitiu a imagem de segurança dos votos que conquistara na campanha. Vários senadores, de público, registraram a visita que receberam dele nos estados à busca do voto.  Alcolumbre, ainda presidindo a sessão, à deliberação do plenário a eleição por voto aberto. Venceu com o voto de 52 dos 81 senadores. Está dado outro sinal de vitória antecipada.

Novamente, Renan Calheiros perdeu as estribeiras e correu para o STF, com o intuito de anular a decisão do plenário. Ele conseguiu uma liminar do presidente do Tribunal e um reforço para a imagem de homem desesperado. A votação teve início, com senadores, sem receio, declarando o voto para constranger quem não declarasse. Alguém, então, fraudou o processo.

O senador Renan Calheiros precisaria de mais tempo para amedrontar os colegas com a decisão do presidente do STF. Mas, a Mesa, já sob a presidência do senador mais idoso, como manda a regra, decidiu anular a votação e, imediatamente, partir para a próxima. O tempo que Renan queria pra si, ele, na verdade, entregou ao povo, que reforçou a pressão sobre os senadores que insistiram, na primeira votação, em manter o sigilo do voto.

Xeque-Mate. O povo conseguiu.

Em que momento o senador Renan Calheiros perdeu a disputa? No momento em que o povo brasileiro entendeu que é possível sim pressionar e levar. Quem precisa de voto tem medo.

Por Jackson Vasconcelos

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Mentira tem perna curta?

Sugiro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, livro que tem como autor um time de 14 pesquisadores coordenados pelo Al Franken, mestre da sátira política americana. A obra, de 2004, confronta os profissionais da imprensa com as inverdades que constroem para participarem da vida política, tentando o papel de ator principal.

Eu deveria ter feito a sugestão de leitura no tempo das campanhas  eleitorais de 2018, porque elas foram a representação brasileira da obra. Mas, de certo modo continuam sendo, porque os governos eleitos ainda permanecem em campanha e a imprensa faz o mesmo.

O livro age parecido com o que se tenta fazer por aqui com a agência Lupa: checar as informações veiculadas pelos candidatos e mídia.

O livro tem lado político e a agência Lupa claudicou na campanha de 2018, porque adotou a mesma postura.

Já nas primeiras páginas, o livro é bom e engraçado. Ann Coulter, colunista famosa de diversos jornais importantes dos EUA, advogada, mereceu um capítulo do livro. O autor comenta um dos livros escritos pela Ann. Vamos lá:

“Para sustentar sua afirmação de que a grande mídia está nas mãos de esquerdistas, Coulter afirma que o chefe da sucursal da Newsweek em Washington, Evan Thomas, é filho de Norman Thomas, um candidato socialista à presidência em quatro ocasiões. Norman Thomas foi candidato socialista seis vezes… e não era pai de Evan Thomas”.

“Para ser justo com Coulter, esse tipo de pesquisa é difícil de fazer”. Al Franken, simplesmente, ligou para Evan Thomas, e transcreve o telefonema no livro:

– Evan, obrigado por atender à minha ligação.
– Tudo bem, Al. O que deseja?
– Norman Thomas foi seu pai?
– Não.
– Tem certeza?
– Sim.
– E como era o nome do seu pai?
– Evan Thomas. Eu sou Junior
– Ah! E seu pai, Evan Thomas, foi candidato à presidência?
– Não. Ele era editor.
– Tem certeza?
– Sim. Al, isso tem a ver com aquela coisa da Ann Coulter?
– Sim.
– Ouvi falar nisso. Há alguma coisa errada com ela?

É o não é assim, por aqui? A imprensa brasileira não confere, nem pergunta, simplesmente, afirma e quando pergunta, não considera as respostas, a não ser para apresentá-las ao distinto público como deboche.

O livro vale como instrumento de elaboração de estratégias de comunicação para campanhas. Em especial, o capítulo 15: A turma do ‘culpe primeiro o ex-presidente americano’, referindo-se ao 11 de setembro e ao ex-presidente Clinton. Não se culpe, nem se lamente, se no correr da leitura você lembrar do Jornal Nacional, e das imagens do William Bonner e da Ana Paula.

Boa leitura.

Por Jackson Vasconcelos

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Mente na posse ou na campanha?

O que se pode esperar do discurso de posse de um presidente da república? Em que bases ele deve ser construído? Li o que consegui ler e ouvi o que consegui ouvir dos comentários sobre os dois discursos que fez o presidente Jair Bolsonaro no dia da posse. O primeiro, no plenário do Congresso Nacional. O segundo, no parlatório do Palácio do Planalto.

O Estadão se pronunciou em editorial, “A posse de Bolsonaro” com produtos do teclado da jornalista Vera Magalhães. A Folha de São Paulo participou com “Retórica da posse” e com as letras do Ricardo Balthazar, com “Bolsonaro rompe tradição ao ignorar desigualdade do país”. O Globo chegou com o velho hábito de dar uma no cravo e outra na ferradura. No cravo, quando fez meio elogio com “Acenos positivos ao entendimento e ao fim das divisões” e na pena do imortal Merval Pereira com “Duas Vozes”. Na ferradura, criticou os dois discursos com os artigos de Bernardo Mello Franco e Miriam Leitão.

Não fui ainda às páginas das revistas semanais. Mas, ontem, ao retornar de Teresópolis, ouvi Dora Kramer na Band News e alguns outros comentaristas que não consegui identificar, por precisar prestar mais atenção ao que acontecia em torno de mim na estrada. Na Band, Dora e todos os demais criticaram o presidente.

Em todos os veículos que visitei, tanto os críticos como os concordantes curvaram-se à iniciativa da primeira dama, Michelle Bolsonaro que, no parlatório, discursou antes do presidente, em linguagem de libras, interpretada por uma mulher, que a imprensa não nominou, mas qualificou como assessora. Os críticos foram unânimes: “o presidente permanece no palanque!” .

Minha praia é a estratégia, que precisa estar em todas as decisões, principalmente, na comunicação. Daí, eu pergunto: deveria o presidente na posse, falar para o regalo dos jornalistas e comentaristas ou reafirmar ao povo que o elegeu os compromissos que assumiu com ele?

Olhando da areia da minha praia, eu afirmo: o presidente acertou. A posse é o momento do encontro dos eleitores com os eleitos. É o grito mais alto de vitória. Não é hora dedicada aos jornalistas, nem aos políticos, nem aos críticos ou comentaristas. É hora sagrada na relação dos eleitos com os eleitores.

Mais a mais, que discurso poderia fazer o presidente Jair Bolsonaro para ser elogiado pelos comentaristas e críticos? Eles aceitariam bem na fala do presidente, o que cobram na crítica? Algo do tipo: “o que eu falei na campanha, só valeu para a campanha”.

O que esperavam a imprensa e os contrários? Que Jair Bolsonaro tivesse um discurso na campanha e outro no mandato. E se ele fizesse isso? Imaginem o que aconteceria!

A estratégia de comunicação do Presidente surpreendeu na campanha e surpreendeu na posse. Surpreendeu a imprensa, mas agradou os eleitores. Então, venceu!

Por Jackson Vasconcelos

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Existe candidato honesto?

Existe candidato honesto? Existe sim e, no momento, um deles – talvez o melhor – faz sucesso no cinema. Eu fui conhecer o cara de perto, olho no olho. Gostei uma enormidade!

Resolvi fazer isso no meio da noite de sábado, para me livrar das tensões provocadas por um dia inteiro de pressões de alguns candidatos a deputado federal e estadual do PSD, que querem porque querem alguns grãos de segundos de aparição nas telas de TV. E querem também porque querem algum dinheiro. Qualquer milionésimo de real serve.

O ” João ladrão, que roubou meu coração” é uma das boas representações do Hassum. Para mim uma das melhores.

São ricos os diálogos dele com Isabel, a esposa dentuça, representada pela atriz Flávia Garrafa e com o vampiro Ivan Pires, cópia perfeita do Presidente Michel Temer. Perfeita na fisionomia, nos atos e no jeito torpe de ser.

O filme retrata a política nacional, mas lembra bem a política que se faz no Estado do Rio de Janeiro. João Ernesto ficaria bem na pele do Sérgio Cabral. O vampiro Ivan Pires, na de Jorge Picciani. Marcelinho, o assessor que topa o vale-tudo da política tem a cara, os trejeitos e até o jeitão de falar de um personagem ainda pouco conhecido no Brasil, mas que, se eleito, será, certamente, personagem nacional. O cidadão deputado André Corrêa.

Se você, cara leitora, caro leitor, tiver oportunidade e não assistiu ainda, não perca e se puder faça isso antes da próxima eleição, porque o filme poderá livrar você de uma fria.

Por Jackson Vasconcelos