Sabe-se que as ondas do mar são formadas pelo encontro dos ventos com as águas e também que o tamanho das ondas depende da força e duração dos ventos na superfície. Esse fenômeno explica o que se viu no plenário da Câmara dos Deputados, na hora em que se votou a reforma da Previdência.
Num ambiente de águas agitadas, uma enorme onda se formou, rapidamente, em razão dos ventos da articulação política acontecida entre o presidente da casa, Rodrigo Maia, e os líderes dos partidos da base de sustentação. A onda deu um capote na oposição.
Eu estive lá na terça e na quarta-feira e percebi os movimentos. Rodrigo Maia só compareceu ao plenário para presidir as sessões quando os votos para obstruir a obstrução e aprovar a reforma estavam contados e certos. O processo de votação, pelas normas legislativas, se dá em duas fases, uma de discussão e outra de votação.
A primeira aparição do deputado Rodrigo Maia no plenário aconteceu às 21h de terça-feira e com o objetivo de acelerar a etapa de discussão da matéria, para entrar na fase de votação.
Quando assumiu a presidência – entrou no cenário –, Rodrigo Maia encontrou uma oposição cansada pelas horas intensas de debate sobre um assunto completamente irrelevante: as vaquejadas. A sessão das vaquejadas, maçante, provocou o discurso revoltado de um dos deputados, às 20h, que bradou ao microfone: “Estou aqui desde cedo para votar a reforma e nada acontece. Isso é um absurdo”.
A estratégia do deputado Rodrigo Maia e dos líderes da base funcionou. Em poucas horas, exausta, a oposição viu entrar a madrugada e encerrar-se o período de discussão da reforma da Previdência.
No dia seguinte, quarta-feira, encerrada a discussão, se teria a votação do texto base. O deputado Rodrigo Maia repetiu a dose. Ele deixou o plenário cansar com homenagens à Igreja Universal e discussões estéreis sobre a reforma, mas sem impactos no processo deliberativo. Assim ele levou a coisa toda até perto das 17h.
Com a oposição rouca de tanto esbravejar, o deputado Rodrigo Maia chegou ao plenário, pouco antes das 17h, assumiu a presidência dos trabalhos e, com mão e pulso firmes, respaldado nos acordos feitos durante todo o dia com os líderes da base de sustentação, tocou o processo de votação. Os ventos fortes das negociações nos bastidores bateram na superfície do plenário e formaram um tsunami que arrastou a oposição para uma derrota e tanto!
O passo seguinte seria a votação dos destaques (emendas que podem modificar o texto original), mas o deputado Rodrigo Maia percebeu que a situação começava a ficar fora de controle. Então, imediatamente, suspendeu a sessão e voltou às articulações nos bastidores para buscar jogo.
A limitação férrea de acesso de não parlamentares às áreas próximas do plenário da Câmara foi outra providência inteligente, porque deixou que as conversas entre deputados e deputadas, nos corredores, acontecessem sem constrangimentos.
Fiquei quase todo o tempo sediado na liderança do PSD. A sintonia dos líderes dos partidos da base aliada com o presidente da Câmara era tão ajustada que eles tiveram o controle absoluto sobre a hora exata de cada um dos passos que o presidente daria.
Quem se der ao trabalho de conhecer a história das duas Casas do Congresso Nacional confirmará um fato relevante: os momentos mais intensos de produção legislativa foram todos sob a batuta de presidentes de pulso forte na Câmara dos Deputados.
*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.
Por Jackson Vasconcelos