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Foi isso que eu quis dizer?

A tecnologia criou fones de ouvido para tradução simultânea, uma novidade que encerra com a barreira entre os povos do mundo todo. Os tais fones anunciados com forte argumento de venda tornam possível cada um ouvir na própria língua o que lhe falam os estrangeiros. O milagre de pentecostes se concretiza na tecnologia moderna.

Nada, contudo, se criou para traduzir a conversa entre os candidatos e seus eleitores, porque esse é o tipo de comunicação que não se dá só pela fala, pela escrita, mímica ou imagem, mas por todo esse conjunto com um componente essencial: a identificação, a sintonia. Nós seres humanos temos conveniências e prestamos mais atenção àquilo que nos interessa, àquilo que tem a ver com a nossa vida.

Portanto, a relação entre candidatos e eleitores só é efetiva quando as conveniências se casam, quando existe identidade entre quem emite a mensagem e quem a recebe.

Não é suficiente para realizar o milagre, ir às pesquisas para descobrir o que o eleitor pede, deseja, quer ouvir ou sentir. Até porque as pesquisas são fontes onde todos os candidatos buscam água e isso faz de todas as propostas e discursos algo bem semelhante. Tão semelhante que produz descrédito. O eleitor quer se ver no candidato ou, pelo menos, saber que ele entende, por experiência, o que diz. E só se consegue falar com propriedade sobre aquilo que se conhece ou já se experimentou. 

O discurso político moderno dispensa a sofisticação. Já foi o tempo em que as oratórias brilhantes incompreensíveis eram aplaudidas e motivo para o voto. Hoje vale o discurso direto, sem rodeios, rápido e com identidade com quem o recebe. Os populistas são mestres nessa arte e, por isso, ganharam força e votos nos tempos da comunicação veloz. Francis Fukuyama, na obra “Identidades – a exigência de dignidade e a política do ressentimento”, que surgiu em razão da eleição de Donald Trump, afirma:

“Os líderes populistas procuram usar a legitimidade que lhes é conferida por eleições democráticas para consolidar o seu poder, procuram uma conexão carismática direta com o povo, que muitas vezes é definido em estreitos termos étnicos que excluem grandes segmentos da população. Não gostam de instituições e procuram minar os freios e contrapesos que limitam o poder pessoal do líder numa democracia liberal moderna: tribunais, corpos legislativos, mídia independente e uma burocracia partidária”.

O populista de plantão já temos, falta-nos o líder, verdadeiramente, democrático, que consiga ter identidade com o povo sabendo, com exatidão, as necessidades e expectativas dele.

Eis aí o desafio para os liberais. E só há uma referência possível na relação dos liberais com o povo: o modo como o Estado, em suas diversas representações, no Judiciário, no Legislativo e no Executivo – principalmente neste – funciona. O caminho não está na eterna e cansativa discussão sobre “direita e esquerda”, conceitos que o escritor espanhol Ortega y Gasset define de modo brilhante no livro “A Rebelião das Massas”. Vamos a ele:

“Ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o ser humano pode eleger para ser um imbecil: ambas são, de fato, formas de uma doença moral…hoje as direitas prometem revoluções e as esquerdas propõem tiranias”.

Em suma: sejamos práticos: O Estado Brasileiro não nos serve. Nem a quem afirma estar à direita ou à esquerda e menos ainda no centro. Ele serve à quem está inserido nele e ponto final.

O povo é, portanto, liberal no que diz respeito à relação que gostaria de ter com o Estado. E nesse ponto, volto a Ortega: “A vida pública não é somente política, mas também e primeiro, intelectual, moral, econômica, religiosa; abarca todos os costumes coletivos, incluindo os modos de vestir e de ter prazer”.

Numa noite qualquer da campanha de 2014, como eu sempre fazia, liguei a TV para acompanhar o debate entre os candidatos à Presidência da República. Marina Silva defendeu autonomia para o Banco Central, no conjunto da crítica que fez à presidente Dilma Rousseff, sua adversária. Eu me perguntei: o que isso muda na vida dos eleitores? Mas, ela não se deu ao trabalho de explicar. Então, o seu adversário explicou. Afinal de contas, uma campanha eleitoral é um ambiente de disputa pelo voto, numa situação em que, mesmo que o candidato não leve o voto que o adversário perdeu, isso já é um grande feito para o opositor. 

No dia seguinte ao do debate, a propaganda eleitoral do PT apresentou na TV a imagem de um grupo de engravatados em volta de uma mesa, para passar a ideia de um conluio de banqueiros contra o povo. Um narrador com voz grave informou: ” Marina tem dito que, se eleita, vai fazer a autonomia do Banco Central. Parece algo distante da vida da gente, né? Parece, mas não é…”.

Neste momento, troca-se a imagem para a de uma família na mesa na hora do jantar. O narrador continuou: “Isso significaria entregar aos banqueiros o grande poder de decisão sobre a sua vida e da sua família. Os juros que você paga, o seu emprego, preços e até salários. Ou seja, os bancos assumem um poder que é do Presidente e do Congresso eleitos pelo povo. Você quer dar a eles esse poder?”

Quando entraram na tela as palavras  “juros” e “salários”, o prato do dono da casa ficou vazio. Nada mais se disse, enquanto Marina e equipe tentavam responder sem ter resposta.

Felizmente, a proposta de tornar o Banco Central do Brasil uma organização de Estado, com autonomia para tomar decisões com relação à moeda e ao crédito, não ficou com a Marina Silva, mas ressurgiu na campanha de 2018, na voz do Jair Bolsonaro que, nos assuntos da economia é o boneco do ventríloquo Paulo Guedes.

A moeda e o crédito são os motores da economia. Quando entregues ao poder político, exclusivamente, produzem inflação e tiram do povo, aí sim, o emprego, o salário e a comida do prazo. Sem identidade com o povo, um candidato torna-se boneco de um ventríloquo dos institutos de pesquisa e o eleitor percebe.

*Livros que me inspiraram:
A Rebelião das Massas, de José Ortega Y Gasset.
Identidades, a Exigência de Dignidade e a Política do Ressentimento, de Francis Fukuyama.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Game over? No! It’s still on!

No início da semana, o presidente Donald Trump mostrou que permanece no jogo. Não como candidato reeleito, porque esse é um assunto resolvido, mas como provável candidato em 2024, uma vez que a Seção I, da Emenda XXII da Constituição Americana dá aos nascidos nos EUA, a prerrogativa de eleição para dois mandatos presidenciais, consecutivos ou não. Donald Trump encerrará o primeiro em janeiro. Poderá, portanto, ser candidato adiante. 

Quando tudo parecia calmo, depois que o Colégio Eleitoral confirmou a eleição do Democrata Joe Biden, Donald Trump emergiu com o salto de uma baleia Jubarte. Ele fez um duro discurso para denunciar o Congresso Nacional – os Democratas em especial – de desviarem o dinheiro do contribuinte para causas estranhas ao povo americano, com o disfarce de ajuda para as consequências econômicas do Covid. 

“Durante todo o verão, os Democratas bloquearam cruelmente a legislação de socorro pelos danos econômicos do Covid, num esforço enorme para avançar com uma agenda da extrema esquerda e influenciar as eleições. Só há alguns meses, o Congresso iniciou as negociações sobre uma nova proposta, para substituir a que foi encaminhada pela Casa Branca. As negociações foram longas, mas o projeto que planejam enviar de volta à minha mesa é muito diferente daquele previsto e é, realmente, uma vergonha!

Por exemplo, entre as mais de 5.000 páginas do projeto de lei, que eu acredito, ninguém no Congresso leu, pelo tempo curto e complexidade, o projeto chamado de Projeto de Lei de Socorro Covid, nada ou quase nada tem com o assunto previsto. Oitenta e cinco milhões de dólares estão destinados à assistência ao Camboja; US $134 bilhões, para a Birmânia, US $1,3 bilhão, para o Egito e para os militares egípcios comprarem armamento produzido na Rússia. US $25 milhões estão designados para os programas de democracia e políticas de gênero no Paquistão, e US $505 milhões para Belize, na Costa Rica. Sete milhões de dólares para gerenciamento de programas de peixes recitais…” O Presidente prosseguiu com uma lista grande, onde cita até os imigrantes ilegais como favorecidos. 

Em seguida, Donald Trump ressalta que, “apesar de todos esses gastos, o pacote de US $900 bilhões destina aos trabalhadores americanos, contribuintes, apenas US $600 para cada um e dinheiro insuficiente para pequenas empresas. O Congresso encontrou muito dinheiro para países estrangeiros, lobistas e interesses estranhos, mas envia muito pouco aos americanos”. 

Donald Trump encerrou o discurso com um pedido irônico ao Congresso. “Estou pedindo ao Congresso que altere o projeto de lei para aumentar os US $600 ridiculamente baixos para US $2.000 por americano ou US $4.000 por casal. E peço também que o Congresso se livre, imediatamente, dos itens que desperdiçam o dinheiro do contribuinte americano e que envie, de volta, à Casa Branca, para exame do próximo presidente, que poderei ser eu (provocação), algo melhor e mais justo”. 

Com certeza, o povo americano não gostou nada, nada, de saber o que se tenta fazer com o dinheiro dele. Ponto para Donald Trump. Problema para Joe Biden e para os Democratas, que não terão como derrubar o veto certo do presidente. Esse é o estrategista Trump. Ele calou durante todo o trâmite do projeto para,  no momento certo, colocar uma camisa de força nos Democratas e no sucessor. 

Dois outros fatos recentes na vida de Trump mostram que ele não brinca em serviço. No dia 29 de setembro, ele participou de um debate com Joe Biden e se saiu mal. Esse seria o assunto de uma semana pelo menos, se o presidente não tivesse sido internado com Covid. O povo esqueceu as gafes do debate e orou pelo presidente. 

Derrotado na eleição, Donald Trump poderia ter seguido a tradição, para reconhecer a vitória do adversário e cumprimentá-lo. Se tivesse agido assim, sairia de cena. Trump mandou às favas a tradição, criou as notícias de fraude, levantou a insegurança e incerteza para ocupar completamente o espaço político.

Eleição é uma disputa entre imagens, onde a estratégia é elemento fundamental para a vitória, mas também para conseguir alguma vantagem para as situações de derrota. A estratégia é a garantia de que o jogo político nunca termina.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Podcast 21: Discurso e saúde

Já repararam que nos discursos políticos, quando o tema saúde é levantado, só se fala na doença? Os discursos deveriam falar da saúde dos cidadãos, isso quer dizer, da prevenção às doenças, de prevenir para que elas não aconteçam.

Esse é o tema do podcast da semana!

 

Por Jackson Vasconcelos

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O Sermão do Bom Ladrão

Fico mais atento às relações dos agentes do Estado Brasileiro com a sociedade  no tempo das eleições, porque elas representam a chance de haver mudança numa relação que é, ainda hoje, de vassalagem.  

Vejo nisso ocasião para trazer à memória um dos sermões do Padre Vieira, o Sermão do Bom Ladrão, aqui colocado como lição e nunca como provocação. 

Acredito que todos já conheçam o Padre Vieira, mas quero apresentá-lo com a beleza da cena de abertura do filme Palavra e Utopia, de Manoel de Oliveira, onde Lima Duarte dá aos Sermões a mesma eloquência que, certamente, lhes deu o Padre. 

A cena de apresentação de Vieira está num julgamento. O juiz determina ao réu: “Levante-se e diga quem é”.  O réu obedece e diz:  “Sou Padre Antônio Vieira, religioso professor da Companhia de Jesus, teólogo, pregador régio e assistente do colégio desta cidade.  Nascido em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608, filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria Azevedo, ainda vivos na Bahia, com meu irmão, Gonçalves Ravasco de Albuquerque e família, para onde fomos em 1614, e onde fui educado no Colégio dos Jesuítas, entrei no noviciado e me ordenei”. 

Fico por aqui na narrativa do filme, que vale a pena assistir por completo. Ele está disponível no Youtube. Apresentado o autor, vamos ao Sermão, antes, porém, dizendo o motivo de usá-lo como lição aos eleitores na campanha que está à porta. 

Tenho visto por aí candidatos esforçando-se para voltar ou permanecer no poder. Ato legítimo. 

Entretanto,  alguns já nos causaram prejuízos e, em alguns casos, a morte de pessoas. Para fugirem à responsabilidade por esses atos, os candidatos apontam o dedo para os auxiliares, que eles mesmos escolheram. Mas, seria somente dos auxiliares a responsabilidade? Afinal, quem nomeou tais pessoas e quem deixou de observá-las de perto como deveria? Por certo, não fomos nós contribuintes. Mas, seremos, contudo, chamados, no final da linha, a pagar a conta, situação resultante da relação desigual que há entre os agentes públicos e o povo. 

O voto é ato de confiança, que se estende à liberdade que têm os eleitos para escolher com quem trabalham e para cuidar do dinheiro, que entregamos ao Estado para que ele cumpra as funções em razão das quais existe. 

Quem não foi digno da confiança uma vez, por certo, não será novamente. Cheguei, então, ao elo que liga o presente assunto ao Sermão do Padre Vieira. Nele está relatado, entre muitos exemplos de ladrões pobres e ladrões ricos, o perdão de Cristo a Zaqueu, um agente público, coletor de impostos. 

Diz o Padre Vieira: “Entrou, pois o Salvador em casa de Zaqueu, e aqui parece que cabia bem o dizer-lhe, que então entrara a salvação em sua casa; mas nem isto nem outra palavra disse o Senhor…”. 

Continua o Padre Vieira, dizendo ao Cristo: “E este homem na vossa pessoa vos está servindo com tantos obséquios, e na dos pobres com tantos empenhos, (…), e a sua salvação é a importância que vos trouxe à sua casa, se o chamastes, e acudiu com tanta diligência, se lhe dissestes que se apressasse e ele se não deteve um momento, por que dilatais tanto a mesma graça que lhe desejais fazer? Por que não acabais de o absolver, por que não lhe assegura a salvação?” 

A resposta indica um caminho para o perdão e salvação: 

“Porque este mesmo Zaqueu, como cabeça de publicanos roubou a muitos, e rico como era, tinha com que restituir o que roubara. Enquanto estava devedor e não restituiu o alheio, por mais boas obras que fizesse, nem o mesmo Cristo o podia absolver(…). Eram todas obras muito louváveis; mas, enquanto não chegava a fazer a da restituição, Zaqueu não merecia a salvação. Restitua, e logo será salvo. E no mesmo ponto que o Senhor, que até ali tinha calado, desfechou os tesouros de sua graça e lhe anunciou a salvação. De sorte que, ainda que entrou o Salvador em casa de Zaqueu, a salvação ficou de fora, porque, enquanto não saiu da mesma casa a restituição, não podia entrar nela a salvação. A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se pode perdoar sem restituir o roubado”. 

Está dito. Sirvamos-nos, portanto, do exemplo para ter uma boa prática na relação dos agentes públicos com a cidadania. Se alguém deseja ter, novamente, o voto do cidadão, e no passado, por negligência ou ação direta, permitiu que ele fosse roubado ou mutilado, arranje um jeito de o ressarcir do prejuízo. Caso contrário, o pedido de voto será, com justo motivo, considerado um ato de cinismo e a confirmação da confiança uma atitude estúpida que aplaudirá a irresponsabilidade.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Linguagem: Agente de persuasão

A comunicação dos políticos com o povo deve persuadir, convencer e, nas épocas das campanhas, converter a expectativa dos eleitores em voto. Não é algo fácil de fazer. 

Harold Lasswell, apelidado de “pai da psicologia política” escreveu “A Linguagem da Política”, obra muito útil para quem queira se enveredar pelos caminhos da comunicação dos políticos com o povo. Lasswell faleceu em 1978, com 76 anos. É dele a definição da comunicação política como a linguagem do poder, agente de persuasão, que uso no título. 

Quando trata do estilo, ele diz que o pensamento e a fala são inseparáveis. Mas, alguns políticos conseguem fazer a magia da não conversão. Dizem o que não pensam e pensam o que não falam. 

Com os eleitores acontece o mesmo, afinal, todos somos seres humanos e em todos nós há um mecanismo que traduz palavras e atitudes em lógica. Isso faz com que os eleitores digam coisas que no pensamento se processam de outra forma, a depender do que recebem do emissário das mensagens. Olham, observam, ouvem, por vezes, não movem um músculo, mas no subconsciente registram a emoção negativa ou positiva. 

Com as redes digitais e o poder que elas deram às pessoas de produzirem conteúdos para seus canais de vídeo, voz e texto, os políticos ganharam linhas de comunicação direta com os eleitores. Mas, perderam a liberdade para falar o que, verdadeiramente, não pensam e de agir de forma diferente do que orientam os outros a agirem. Os políticos que estão nos governos ordenam que fiquemos em casa, mas fazem isso fora de casa. Um pequeno exemplo. 

Há quem acredite que com pesquisas de opinião, resolve-se a dúvida sobre o que vai na cabeça do eleitor. Resolve-se não. É preciso mais. É preciso aprofundar, conversar com o povo para, com paciência, ouvir e perceber o que vai no consciente dele. 

Tenho visto no instagram programas diários ao vivo de candidatos às prefeituras. Os tempos de agora são duríssimos para a população, mas os candidatos cuidam deles mesmos, com os discursos e falatórios de sempre. Falam para ninguém. 

A falta de interação é outro problema. O político convida você para estar no espaço dele e lá ele fala, fala, gesticula, conta história, e nenhuma das perguntas ou opiniões que recebe, ele responde. Entregam o que querem dizer e caem fora.  Sem interação, não há fidelidade e sem fidelidade, não há voto. 

No livro “Que raios de eleição é essa?”, dediquei o espaço da 15ª estratégia para o cuidado de ouvir o eleitor. Falei sobre duas derrotas eleitorais provocadas porque as pesquisas ouviram o eleitor superficialmente, só naquilo que ele não gostaria de ser ouvido. Com interação, o resultado seria, certamente, diferente.  

Abri o texto com Lasswell e encerro com ele: “A arma que mais se parece com a linguagem, do ponto de vista funcional, é o projétil, pois, tanto quanto a palavra, é capaz de causar dano à distância”. E, hoje, com a internet, põe distância nisso.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um convite para morrer

Trago à análise hoje a entrevista do Ciro Gomes ao Broadcast do Estadão, para mostrar a vocês um discurso que não deve fazer quem deseja ser candidato a presidente de um país de gente em desespero à busca de esperança. Não é por acaso ou falta de sorte que Ciro Gomes já foi candidato a Presidente da República três vezes e todas elas derrotado. A razão: o discurso equivocado.

Entrevistado por duas jovens jornalistas, Ciro discorre sobre o desejo de punir os parlamentares do PDT que votaram a favor da reforma da previdência, principalmente, a jovem deputada Tábata do Amaral. Age com arrogância quando chama para ele a exclusividade de ter lido as sessenta e tantas páginas do projeto. E chega à pergunta sobre o futuro político dele: 

Pergunta: O Bolsonaro fez questão de se colocar ali como candidato à reeleição, para que não haja confusão sobre quem será o nome do governo. O senhor já se coloca como alternativa da oposição ao Bolsonaro? Como está sendo esse trabalho dentro do PDT? 

Resposta (um convite ao suicídio coletivo): 

“Com a experiência que eu tenho, devo dizer uma coisa a vocês, que vai ficar aqui documentada. O Brasil vai passar por tanta confusão, por tanto desmantelo, por tanta frustração, que haverá aí uma convulsão na política muito forte. Espero que isso não descambe para a violência pura e simples, porque as energias estão se acumulando pra isso”, e segue…

“O dissídio nacional está sendo… porque na medida em que a população… imagine um jovem da periferia de São Paulo… qual é a expectativa de pertencimento que ele tem nessa ficção em que está se transformando esse negócio chamado Brasil? Sabe qual é o futuro desse garoto que está estimulado pelo compre, compre, compre sem ter dinheiro? A morte ou a cadeia. E ele sabe disso. Está vendo os coleguinhas dele sumirem pela morte e pela cadeia, numa estúpida guerra contra as drogas que já está perdida”, tem mais…

“E a elite branca e prepotente querendo fazer do sonho dela uma casa em Miami. Isso está por aí para acontecer. Então a minha compulsão é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira. Cumprindo a minha obrigação. Se isso vai virar um não uma candidatura é evidente que não vou andar mentindo. Já fui candidato três vezes. É evidente que eu gostaria de ser presidente do Brasil. Mas, será que vale à pena ainda? Será que restará um país governável se essa gente destruir as portas da industrialização perdida do país, entregando a EMBRAER pra Boeing e fechando a porta do Complexo Industrial Militar como potencial de progresso do Brasil? Isso é trivial. O Brasil está esquartejando a Petrobrás…”.

O diálogo está no tempo entre 19:17 e 21.48. Daí eu pergunto: caberia ali a crítica, sim, mas com uma mensagem de esperança, não?

Por Jackson Vasconcelos

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O discurso é uma música

O ano era 2016. Tempo de campanha para presidente dos Estados Unidos. Na disputa, Hillary Clinton e Donald Trump. O escritor americano Michael Moore apareceu no principal reduto do Trump, Ohio, para pedir votos para Hillary. O que ele disse e, do modo como disse, merece registro como uma peça importante da campanha. 

Usando de forma perfeita a retórica, a entonação, e a encenação, Michael Moore é didático, como poucos oradores políticos são. Mas, na didática, ele separa Hillary e Obama com uma dura crítica ao Obamacare. Eu vi isso como um problema, numa sociedade que tem fidelidade quase absoluta aos partidos. 

Para nós, brasileiros, a peça tem significado maior, pela proximidade dos argumentos do Michael Moore com as razões do voto, aqui, no Bolsonaro. Palavras para se pensar. 

Vamos ao principal trecho, mas o discurso todo, disponível no YouTube, é muito bom: 

“Porque eu conheço um monte de pessoas em Michigan que pensam votar no Trump e eles não gostam dele, necessariamente tanto, para isso. E, necessariamente não concordam com ele. São só pessoas decentes, bastante desesperadas. Depois de falar com alguns deles, eu separei algumas coisas para dizer para eles. 

Donald Trump veio para o CLube Econômico de Detroit e ficou na frente dos executivos da Ford e avisou: – se vocês fecharem as fábricas em Detroit para transferi-las para o México, eu colocarei uma tarifa de 35% para a importação dos carros produzidos por vocês lá e trazidos para cá. Vocês não conseguirão vendê-los. 

Foi uma coisa incrível de se ver. Nenhum político republicano ou democrata tinha dito nada parecido e isso foi música para os ouvidos de pessoas em Michigan. Ohio, Pensilvânia, Wisconsin.  Você mora aqui em Ohio. Você sabe do que estou falando. 

Mas, o que Trump significa é irrelevante, porque ele está dizendo coisas para as pessoas que estão feridas emocionalmente. É por isso que cada pessoa deprimida, sem nome, esquecida trabalhando duro, que costumava ser parte do que foi chamado de classe média, ama Trump. Ele é o coquetel molotov humano que as pessoas estavam esperando. A granada de mão humana que pode, legalmente, jogar no sistema, que roubou a vida das pessoas. 

No dia 8 de novembro, dia da eleição, apesar das suas contas nos bancos terem sido fechadas. Em seguida, veio o divórcio, a esposa e os filhos se foram, o carro foi confiscado, eles não tiveram férias de verdade em anos. Eles estão presos com uma merda de um plano de saúde Bronze do Obamacare, onde você não pode mesmo tratar uma simples dor de cabeça ou uma caganeira. Eles, essencialmente, perderam tudo o que tinham, exceto uma coisa. A única coisa que não lhes custa um centavo e é garantido pela Constituição Americana – o direito ao voto. 

Eles podem estar sem dinheiro, eles podem estar sem teto. Eles podem estar ferrados. Não importa, porque um milionário tem o mesmo número de votos que a pessoa sem emprego. E há mais da digna classe média do que há na classe milionária. Assim, no dia 8 de novembro, dia da eleição, o revoltado vai caminhar para a cabine de votação, pegar uma cédula, fechar a cortina e com uma caneta colocar um X bem grande no nome do seu candidato, que ameaça derrubar o próprio sistema, que arruinou suas vidas….

A eleição do Trump será o seu grito de foda-se o sistema. O maldito sistema. E todos se sentirão bem…por um dia, por uma semana…por um mês. E então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”.

Por Jackson Vasconcelos

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Sincericídio ou sincerivida?

Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos

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Mente na posse ou na campanha?

O que se pode esperar do discurso de posse de um presidente da república? Em que bases ele deve ser construído? Li o que consegui ler e ouvi o que consegui ouvir dos comentários sobre os dois discursos que fez o presidente Jair Bolsonaro no dia da posse. O primeiro, no plenário do Congresso Nacional. O segundo, no parlatório do Palácio do Planalto.

O Estadão se pronunciou em editorial, “A posse de Bolsonaro” com produtos do teclado da jornalista Vera Magalhães. A Folha de São Paulo participou com “Retórica da posse” e com as letras do Ricardo Balthazar, com “Bolsonaro rompe tradição ao ignorar desigualdade do país”. O Globo chegou com o velho hábito de dar uma no cravo e outra na ferradura. No cravo, quando fez meio elogio com “Acenos positivos ao entendimento e ao fim das divisões” e na pena do imortal Merval Pereira com “Duas Vozes”. Na ferradura, criticou os dois discursos com os artigos de Bernardo Mello Franco e Miriam Leitão.

Não fui ainda às páginas das revistas semanais. Mas, ontem, ao retornar de Teresópolis, ouvi Dora Kramer na Band News e alguns outros comentaristas que não consegui identificar, por precisar prestar mais atenção ao que acontecia em torno de mim na estrada. Na Band, Dora e todos os demais criticaram o presidente.

Em todos os veículos que visitei, tanto os críticos como os concordantes curvaram-se à iniciativa da primeira dama, Michelle Bolsonaro que, no parlatório, discursou antes do presidente, em linguagem de libras, interpretada por uma mulher, que a imprensa não nominou, mas qualificou como assessora. Os críticos foram unânimes: “o presidente permanece no palanque!” .

Minha praia é a estratégia, que precisa estar em todas as decisões, principalmente, na comunicação. Daí, eu pergunto: deveria o presidente na posse, falar para o regalo dos jornalistas e comentaristas ou reafirmar ao povo que o elegeu os compromissos que assumiu com ele?

Olhando da areia da minha praia, eu afirmo: o presidente acertou. A posse é o momento do encontro dos eleitores com os eleitos. É o grito mais alto de vitória. Não é hora dedicada aos jornalistas, nem aos políticos, nem aos críticos ou comentaristas. É hora sagrada na relação dos eleitos com os eleitores.

Mais a mais, que discurso poderia fazer o presidente Jair Bolsonaro para ser elogiado pelos comentaristas e críticos? Eles aceitariam bem na fala do presidente, o que cobram na crítica? Algo do tipo: “o que eu falei na campanha, só valeu para a campanha”.

O que esperavam a imprensa e os contrários? Que Jair Bolsonaro tivesse um discurso na campanha e outro no mandato. E se ele fizesse isso? Imaginem o que aconteceria!

A estratégia de comunicação do Presidente surpreendeu na campanha e surpreendeu na posse. Surpreendeu a imprensa, mas agradou os eleitores. Então, venceu!

Por Jackson Vasconcelos