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Governo sabatinado

O Ministro Sérgio Moro foi sabatinado durante dez horas pelo Senado Federal. Lá esteve outras vezes. O Ministro Paulo Guedes, outras tantas. Os dois ministros da educação também. A Ministra Damares, idem. A Ministra Tereza Cristina, da mesma forma.

Não aprofundei a minha pesquisa. Mas, certamente todo o primeiro escalão do governo foi sabatinado pelos Senadores e Deputados Federais e participou de longas entrevistas à imprensa em razão das sabatinas nestes poucos meses de um governo de quatro anos.

Algo semelhante tem acontecido, com certeza, com os demais escalões do Poder Executivo.

Todo esse trabalho e retrabalho produziu notícias, debates e opiniões. E o povo brasileiro ganhou o quê com todo esse movimento? Muito, muito pouco… talvez nada.

O compositor Arnaldo Antunes compôs a música “Muito Muito Pouco”. A letra se encaixa direitinho no que tem sido a relação entre os poderes e o povo brasileiro:

“Tem muita gente e muito pouco pão

Tem muito papo e muito pouca ação

Tem muito pouca dúvida e muita razão

Tem muito pouca ideia e muita opinião

Muita pornografia e muito pouco tesão

Muita cerimônia e muito pouca educação”

O tempo gasto pelo governo com explicações no Congresso Nacional, a grande maioria de absoluta inutilidade pelo conteúdo e repetição, seria demais em qualquer lugar do mundo.

Contudo, representa um peso enorme sobre os ombros dos contribuintes brasileiros, pelo grau de dependência que a sociedade tem do Estado e o tamanho da conta que paga em tributos.

Não se fez ainda o cálculo exato do custo de uma sessão no Congresso Nacional, mas, sem o risco de errar, é possível trabalhar na casa do milhão. Estamos, portanto, diante de um problema.

Qual seria a solução? Estaria em se oferecer à opinião pública a informação preciosa do custo e do benefício das vezes em que os membros do Poder Executivo são obrigados a abandonar o trabalho para serem sabatinados pelos membros do Poder Legislativo. A informação envergonharia ou, quando menos, constrangeria os parlamentares na relação deles com o povo, esta sim, com poder suficiente para mudar o rumo da história.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Política pública só funciona com estratégia

A primeira peça essencial numa campanha eleitoral deve ser o discurso, porque ele dirá da razão de ser candidato. Não precisa ser bem elaborado no início no processo, mas precisa ser convincente. Quando se faz campanha para funções de Estado, como é o caso das campanhas para vereador, prefeito, deputados, senadores, governadores e presidente, o discurso precisa estar atrelado às políticas públicas, porque elas é que dão sentido à função pública.

Uma das funções da estratégia é identificar os pontos fortes e fracos de um projeto ou desafio, para dar facilidade à realização deles. Uma das questões críticas para as funções de Estado é o atendimento médico, que forma com a falta de segurança pública a equação do insucesso de um projeto político dos governantes, principalmente no Rio de Janeiro.

Uma situação se comunica diretamente com a outra, porque os crimes lotam os hospitais e a lotação deles dificulta o atendimento à população. Disso, a gente tira uma lição importante sobre administração pública: quer reduzir a pressão sobre os hospitais? Aplique dinheiro e inteligência na prevenção das causas que levam as pessoas ao sistema de saúde.

Se os governos fossem mais atenciosos com a segurança pública – atenciosos e eficazes – o sistema de saúde pública teria algum alívio.

Mas, ao considerar a falta de segurança pública como uma das causas de hospitais e postos de atendimento da saúde estarem lotados e sem condições de atendimento digno, podemos fazer o mesmo com relação a todas as políticas públicas. Por exemplo, a educação e informação. A gravidez precoce que movimenta os hospitais e postos de atendimento poderia ser evitada se as meninas e moças recebessem informação e educação. A falta de cuidado com a natureza, que produz valas negras e áreas sem sol são situações outras que impactam sobre o sistema de saúde.

Em resumo: não é aconselhável pensar política pública sem estratégia de atuação, porque a ausência dela cria a situação que a gente está cansado de conhecer: a tentativa de resolver os problemas pelas conseqüências e não pelas causas. Por isso, os governos acreditam que as dificuldades de atendimento médico estão vinculadas à falta de pessoal adequado, de hospitais, de remédios e exames. Os problemas da política pública de saúde estão muito mais na falta de políticas de prevenção do que no atendimento médico curativo.

Só com a estratégia correta se resolverá o problema da saúde. Eis aí um bom motivo para se preparar um plano de governo para as campanhas eleitorais: pensar a política pública com base em elementos de estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Quero a velha política

“Onde estiver o teu tesouro estará também o teu coração”

Essa advertência bíblica deveria pautar o debate sobre o Fundo Partidário, criado para sustentar os partidos políticos, assim como o caixa dois passou a existir para pagar as campanhas eleitorais, que causam vergonha ou medo aos financiadores. Passou a ser assim, porque a política deixou de apaixonar para ser uma atividade quase criminosa e sem sentido, sendo esta última característica a razão para a fuga das mulheres, que são bem mais pragmáticas que nós homens.

A última eleição é um alento para quem gostaria de ver a política com o perfil de outros tempos. Sim, porque houve época, não muito distante, em que os partidos e a política eram sustentados pelos militantes. Eu me lembro desse tempo.

Em 1982, vim de Brasília, minha residência naquele tempo, para organizar um partido e algumas campanhas no Rio de Janeiro. Cheguei à sede do PFL, na Almirante Barroso, no Centro do Rio, e encontrei um oficial de justiça com um comunicado judicial de obrigação de pagamento em sete dias, dos seis meses de aluguéis atrasados, sob pena de despejo logo em seguida.

Resolvi o problema em cinco dias, com uma campanha relâmpago de arrecadação que animou 816 filiados. Logo depois, providenciei a mudança de endereço para um local mais barato, cumprindo a promessa que fiz na campanha de arrecadação. A paixão dos militantes enchia os auditórios das convenções e eventos, sempre financiados com o dinheiro dos filiados. O débito em conta de mensalidades para o partido era um procedimento de rotina.

A contribuição de pessoas jurídicas era proibida como hoje é. Quando a paixão desapareceu, criou-se, primeiro, a contribuição de pessoas jurídicas e fez-se a ligação entre o financiamento das campanhas e os interesses comerciais das empresas financiadoras. Surgiu o caixa dois, porque, como em pauta estavam os interesses, era preciso preservá-los independente dos resultados de cada eleição. Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.

“Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.”
Ao que parece, o povo cansou de tudo isso e começou a promover mudanças. A paixão volta devagar, numa situação que os desavisados chamam de radicalização.

Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, na autobiografia “Minha Vida”, avisa: “As campanhas presidenciais bem sucedidas exigem três pontos básicos. Primeiro, as pessoas têm de ser capazes de olhar para você e imaginá-lo presidente. Depois, você precisa ter dinheiro e apoio suficientes para se tornar conhecido. Depois disso é uma batalha de ideias, mensagens e questões”.

Nos Estados Unidos, a primeira batalha é pelo financiamento. O candidato que mais arrecada mostra que é capaz de apaixonar, de fazer com que o dinheiro caminhe na direção do coração.

Sei não, mas me parece, ao olhar as últimas eleições, que algo positivo começar a acontecer por aqui. Já tem partido que entendeu que o Fundo Partidário não é bom negócio, porque não qualifica o voto. Quem sabe, não voltará a velha política, aquela em que contribui quem acredita?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Por que Witzel venceu?

É possível vencer uma eleição simplesmente por se estar na hora certa e no lugar certo?  É sim. A eleição do WIlson Witzel para o governo do Rio de Janeiro é um desses casos e existiram outros casos, na eleição de 2018,  outros Brasil afora.

Poderão se repetir nas próximas eleições? Pouco se sabe, porque as disputas eleitorais acontecem no campo das relações humanas, sempre imprevisíveis. Não há sempre. Não há nunca.

Contudo, quando os fatores que produziram o resultado acontecem novamente, a chance do resultado ser repetido é grande. Nisso, caímos num ponto importante da análise da eleição do governador Wilson Witzel: que fatores deram a ele a vitória? Essa leitura é fundamental, para construir um novo cenário de disputa no futuro.

Muita gente – talvez o próprio Witzel – é levada a acreditar que o resultado acompanhou a avalanche nacional provocada pela campanha do Jair Bolsonaro. Não foi. Pelo menos, não só isso. Wilson Witzel foi eleito porque os eleitores não identificaram outro candidato com uma virtude essencial: vínculo com o passado e alguma aparente competência na segurança pública, tema essencial.

Eduardo Paes carregou o vínculo de sua vida política com políticos presos. Indio da Costa, os mesmos vínculos do Eduardo Paes e mais uma ligação estreita com Marcelo Crivella. Romário, idem e sem credencial para dar resposta à expectativa popular essencial: resolver a segurança pública. Márcia Tiburi, o PT. Pedro Fernandes estampou no rosto a conversa fiada. Garotinho ficou pelo caminho, mas com rejeição alta, por ter sido preso duas vezes antes do início da campanha. Sobrou quem? Witzel, pouco importando as ligações dele com Jair Bolsonaro ou com um franqueado da marca, Flávio.

O senador eleito, Arolde de Oliveira, este sim, foi eleito pela marca Bolsonaro. Foi uma eleição com duas vagas para o Senado, a primeira decidida desde o início da campanha pelo franqueado, Flávio. A outra, não se tinha dúvida, seria para quem tivesse a personalidade política da franquia: César Maia e Arolde, que disputaram o segundo voto, palmo a palmo. A Arolde, a novidade, com 8 mandatos de deputado federal e mais de 80 anos de idade, venceu.

Por Jackson Vasconcelos

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“Não cantar vitória antes do tempo. Ser discreto!”

Vê-se que os novos políticos estão deslumbrados, mas todo cuidado é pouco, porque os mandatos só começaram. Tem muita estrada a percorrer. É preciso negociar melhor com a vaidade e com o tempo.

Dias antes do Carnaval, descobri e li com atenção, anotando e marcando as frases e lições relevantes, a carta do diplomata François de Callières ao Rei Luís XIV, o “Rei Sol”.  

Secretário de Gabinete do Rei, François Callières fez para Sua Majestade, um tratado sobre a arte mais antiga da terra, a arte de negociar.

“A obra que tenho a honra de apresentar a Vossa Alteza Real tem por objetivo dar uma ideia das qualidades e dos conhecimentos necessários para formar bons negociadores, indicar os caminhos que devem seguir, as dificuldades que devem evitar e estimular aqueles que se destinam às embaixadas a se tornarem capazes de preencher dignamente empregos tão importantes, e também tão difíceis, antes de se comprometerem”.

A carta está à venda em forma de livro com o título “Negociar – A mais útil das artes” editado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Cebri. É um presente que Guilherme Laager, garimpador do trabalho num sebo em Paris, e José Luiz Alquéres, entregaram à literatura sobre estratégias, numa homenagem póstuma ao Ricardo Augusto dos Reis Velloso, filho do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, que faleceu no dia 19 de fevereiro.

Laager e Alquéres tiveram a feliz iniciativa de, a cada passo dado pelo autor, fazer um resumo da estratégia sugerida por ele. Lá estão, por exemplo:

  • “A informação é o melhor investimento para um negociador”;
  • “Negociar sempre e com antecipação”;
  • “É importante descobrir os segredos do outro lado”;
  • “Firmeza e coragem. Duas qualidades complementares”.

Eu adquiri na Livraria Argumento.

Por Jackson Vasconcelos

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Governar sem dados e sem técnica?

O ministro da Cidadania, deputado federal Osmar Terra, entrevistado pela dupla Edna Simão e Raphael Di Cunto, jornalistas do Valor Econômico, ofereceu provas das causas do insucesso das políticas públicas com relação à população mais dependente das ações do Estado. O governo não sabe, exatamente, porque decide de uma forma ou de outra. Em pauta a mudança no critério de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que dá aos idosos e famílias de pessoas com deficiência um valor mensal.

Atualmente, todos os idosos com idade acima de 65 anos têm acesso ao benefício de um salário mínimo. A proposta do governo é antecipar a idade de acesso para 60 anos, com o valor de R$ 400 até os 70 anos de idade, quando o idoso passará a receber um salário mínimo.

Abaixo, trechos da entrevista e comentários:

-Terra: (…) Se a idade para receber um salário mínimo, pelo BPC ficar em 65 anos, e está se criando uma idade mínima para aposentadoria também de 65 anos, o sujeito com 60 anos que está contribuindo para a Previdência pode parar de pagar porque receberá o mesmo pelo BPC sem precisar contribuir.

Os jornalistas estranham o argumento e perguntam:

-Valor: Mas receber o BPC não é tão simples. A pessoa precisa provar a condição de miserável.

A resposta:

-Terra: O problema é que os que estão contribuindo, eu não sei quantos são, pensariam: “para que vou contribuir se posso chegar a 65 anos e ganhar o mesmo?”

O deputado e ministro não tem as informações essenciais para decidir e nenhuma esperança de que o governo vá exigir a prova de condição de miserável. A resposta à pergunta não parou ali. O Ministro continuou:

-“A partir de 60 anos, a pessoa que ganhava nada passa a ganhar R$ 400. São 900 mil pessoas. Quando chegarem a 65 anos, eles terão ganhado em torno de R$ 25 mil, para ficar num número redondo. Hoje eles não ganham isso”.

É preciso olhar pelo lado correto da equação. Para os idosos com 65 anos em situação de miserabilidade já está assegurado um (1) salário mínimo. Aprovada a proposta do governo eles só terão acesso a um salário mínimo quando chegaram aos 70 anos. Serão cinco anos recebendo menos do que a lei atual garante. Fazer uso do valor acumulado, em se tratando de R$ 400, é forçar o argumento. Situação que os jornalistas reconhecem e usam ao rebater o Ministro:

-Valor: Mas com um valor reduzido a partir dos 65 anos.

-Terra: Se tu somar, sem correção monetária, vai dar R$ 50 mil que ele terá até os 70 anos, a partir daí é um salário mínimo.

Sinto-me dispensado de comentar, por tamanho absurdo. Mas, a resposta o Ministro continua:

-“A diferença está nesse período, de 65 a 69. Em cinco anos, hoje, ele vai ganhar R$ 60 mil. O que eu estou propondo é que seja acrescentado um valor, sair de R$ 400 para R$ 450, R$ 460, aí tem que ver, que chegue aos R$ 60 mil, para ficar igual (a soma do valor que a pessoa receberá hoje)”.

Faz algum sentido? O Ministro propõe R$ 450 ou R$ 460, como poderia propor R$ 430 ou R$ 440 ou R$ 435. Chute, como chutado foi, pela Zélia Cardoso de Mello, o valor de 50 unidades monetárias no Plano Collor, situação que levou muita gente ao suicídio.

-Uma frase do Ministro: “Se você perguntar para quem tem 60 anos se ele gostaria de receber R$ 400,00 agora ou esperar mais cinco anos, tenho certeza que vão preferir a proposta do governo”.

Que tal perguntar a quem recebera, aos 65 anos, um salário mínimo por mês se está feliz em só receber R$ 400 até completar 70 anos? Tenho certeza que vão descartar a proposta do governo. O problema é que os governos não perguntam e respondem.

A próxima, então, é de um primarismo…

-Valor: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu excluir o BPC da reforma porque o ganho fiscal seria pequeno e o desgaste político grande. O senhor concorda que a economia é irrelevante?

-Terra: É preciso calcular. Não sei o número, mas a conta que fazem é que tem perda importante de arrecadação, porque quem paga para se aposentar vai parar de pagar.

A entrevista ocupa uma página. Toca em outros assuntos, Sistema “S”, Bolsa Família e o critério de nomeação para os cargos subordinados aos ministros. O governo, mesmo renovado, ainda acredita que é possível nomear com critérios políticos e ter eficiência, se demarcar as escolhas nas margens da escala de subordinação, no que chamam de escalões de decisão.

-Terra: Lá na ponta, onde é a base dos deputados e tal, há possibilidade de eles darem uma lista de técnicos e, dessa lista, ser escolhido alguém para exercer aquela função…

É uma velha história, ruim do começo ao fim, com uma inversão de valores que só tende a piorar os resultados. Dispensa-se a indicação política para o cargo de ministro e primeiro escalão, mas autoriza-se na ponta, onde o compromisso com a boa técnica, imparcialidade, impessoalidade são mais fundamentais do que na superfície. O gerente do INSS, que faz a concessão da aposentadoria deve cumprir suas tarefas independente de quem seja o governo de plantão. O mesmo em todos os segmentos do setor público.

E há outro aspecto, que me incomoda: porque o parlamento deve indicar funções no Poder Executivo? Não é esse o papel dele. Cabe ao Poder Legislativo fazer leis e fiscalizar a aplicação delas, sendo mais importantes, as leis do orçamento público.

Por que se concede licença a parlamentares para que eles exerçam, como faz o ministro da Cidadania, funções no Poder Executivo? Quer ser ministro, secretário de Estado, secretário municipal? Renuncie ao mandato no parlamento.

Eis aí uma reforma essencial.

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Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, no vácuo!

Numa corrida de Fórmula 1, os carros em alta velocidade provocam na traseira um ambiente sem atrito, que facilita a ultrapassagem de carro que vem colado atrás. É o vácuo. Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro sabem aproveitar o vácuo na política. Jair chegou à Presidência da República e Rodrigo Maia à Presidência da Câmara.

O povo brasileiro conhece o deputado Rodrigo Maia há pouco tempo, numa relação que começou quando o ex-deputado Eduardo Cunha caiu em desgraça. No vácuo, Rodrigo Maia tomou-lhe o lugar na Presidência da Câmara e, depois de passar por mais duas disputas, lá continua.

O desempenho dele surpreendeu cariocas e fluminenses, porque a imagem dele no estado em que faz política, não era a de um político capaz da proeza. Rodrigo Maia foi presidente nacional do Democratas e líder do partido na Câmara, mas passou pelas funções sem expressão. Tinha a marca do pai, César Maia, tão somente isso.

Então, existe quem afirme que a proeza dele de chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, confirmado em três eleições, seja obra do pai. Muito mais, porque duas eleições aconteceram em circunstâncias bem interessantes. Uma para ser a segunda autoridade da República, porque o vice-presidente foi confirmado na Presidência e, a segunda, disputando o voto de deputados em primeiro mandato, numa casa 50% renovada. Duas ocasiões que pediram estratégia, paciência e capacidade absurda de conversar e compor.

Entretanto, quem conhece César Maia sabe que ele cintura não tem e sente fortes dores na coluna, quando precisa dobrá-la. Falou-se também que Rodrigo Maia contou com a experiência e orientação do meio parente Moreira Franco. Quem conhece Moreira não aceita o argumento. Moreira é um Maquiavel com sinal trocado. Ele derruba aliados e ergue ninguém. Moreira só faz pelo Moreira.

Então, que ninguém se canse em formulações. Rodrigo Maia está lá por conta própria. Sabe acelerar no vácuo e com controle do volante, para não sair da pista.

É o que fez novamente, quando o Gustavo Bebianno perdeu o Ministério. Rodrigo estava no vácuo e assumiu a posição do ex-ministro na pista, na liderança do processo de decisão sobre a Reforma da Previdência.

No tempo do Michel Temer, Rodrigo Maia, com habilidade, viu o presidente balançar. Sentiu o vácuo, mas percebeu que não deveria ultrapassar. Bastaria dar o recado de estar colado na traseira.

Michel Temer, imobilizado, assistiu a visita do Rodrigo Maia ao Brazil Institute do Wilson Center, em Washington. Lá, Rodrigo Maia marcou o terreno. PT em desgraça, Rodrigo Maia, com a qualidade de ser o presidente da Câmara, substituto eventual e, naquele tempo, até possível do Michel Temer, mandou o recado:

“O Bolsa Família escraviza. Criar um programa para escravizar as pessoas não é bom propósito. Programa bom é onde você inclui a pessoa e dá a ela as condições para viver na sociedade com as próprias pernas e conseguir um bom emprego. A dependência criada pelo programa atrela as pessoas ao Estado. Como você dá condições para o cidadão pobre, que depende do Bolsa Família, sair dessa dependência? Educação e saúde….”.

Deu o recado: posso ser Presidente da República.

O que na corrida de Fórmula 1 ou na física tem o nome de vácuo, na estratégia responde pelo de oportunidades. Está no conceito. Oportunidade a gente captura e conserva. Sempre será útil.

Por Jackson Vasconcelos

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Pesquisas forçadas

As pesquisas forçadas são usadas para distribuir mentiras sobre os candidatos, principalmente, adversários. O jornalista Al Franken, citado adiante, definiu esse tipo de pesquisa de modo claro: “As pesquisas forçadas são uma forma traiçoeira de disseminar mentiras sobre o adversário, mantendo-se as mãos limpas”.

São diferentes das pesquisas com respostas induzidas e ocorrem com frequência nas campanhas eleitorais, apesar de reprimidas com rigor pelos tribunais nas disputas para as funções de Estado (vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente da república).

As pesquisas forçadas são comuns nas campanhas com menores colégios eleitorais, como é o caso dos clubes de futebol e de outras agremiações, por exemplo, Ordem dos Advogados do Brasil, Federações Esportivas e etc.

As notícias falsas, que a tecnologia moderna facilita a veiculação e chama de fake news, é elemento fundamental para o sucesso das pesquisas forçadas.

Não é nada inteligente e estratégico desconsiderar a prática.

Al Franken, jornalista americano, autor do livro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, trabalho bem interessante sobre o uso das mentiras nas eleições americanas, já indicado por mim aqui, mostra casos e resultados das pesquisas forçadas.

Al Franken registra vários casos. Usarei a título de exemplo, o que está na abertura do capítulo: “Por que alguém pensou que mudaria?”. O fato está na campanha pelas eleições primárias do Partido Republicano, quando disputavam John McCain e George W. Bush, ainda governador do Texas. Diz Al Franken:

“Talvez você lembre que o senador John McCain, que como Bush foi piloto de caça na época do Vietnã (com uma diferença-chave: McCain realmente atuou como piloto no Vietnã) havia derrotado redondamente o governador do Texas em News Hampshire. A “conversa direta” de McCain estava ganhando ímpeto. Algo precisava ser feito.

Em fevereiro de 2000, os felizes eleitores republicanos de Carolina do Sul começaram a receber telefonemas avaliando seus sentimentos sobre uma série de questões importantes. Uma ligação típica começava assim:

– Interlocutor: Olá, estou ligando de uma empresa de pesquisa independente e estava pensando se você teria um minuto para responder à pesquisa.
– Eleitor Desavisado: Hã…está bem.
– Interlocutor: Ótimo! Se você soubesse que o senador John McCain era um trapaceiro, um mentiroso e uma fraude, e que ele era pai de um filho ilegítimo negro, a probabilidade de você votar nele seria maior ou menor?
– Eleitor desavisado: Hum, Provavelmente menor.

Que eu saiba, McCain não é pai de nenhuma criança ilegítima de qualquer raça.

Em 2016, eu, certamente, ainda compunha o quadro de sócios do Fluminense Football Club, apesar de ter pedido meu desligamento em 2014. Recebi uma ligação de um “instituto de pesquisa independente”…Voz feminina. Resumo do diálogo:

– Interlocutora: O senhor votará na próxima eleição para Presidente do Fluminense?
– Eu: Já me desliguei do clube.
– Interlocutora: Mas, se o senhor fosse votar, o senhor votaria no candidato do Presidente Peter Siemsen, que demitiu o Fred e levou o time para a segunda divisão?
– Eu: insisto em dizer que não votarei na próxima eleição. Já me desliguei do clube.
-Interlocutora: Obrigado. Desculpe a insistência.

Percebam que a moça só desistiu depois que me passou a informação que precisaria passar: “Peter Siemsen demitiu o ídolo do clube e com isso levou o Fluminense para a segunda divisão…”. Quem conhece a história da saída do Fred em 2016 e o quase rebaixamento de 2013, sabe o que a informação representava.

Por Jackson Vasconcelos

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Quem precisa de voto tem medo

A eleição do presidente do Senado Federal foi disputadíssima? Aparentemente, sim. Na realidade, não. Era fatura decidida em favor do vencedor, senador Davi Alcolumbre, desde o primeiro momento da sessão. Os olhos de alguém acostumado à construção e análise de estratégias seria capaz de antecipar o resultado, pela ótica das oportunidades e ameaças apresentadas nas imagens transmitidas pela TV Senado.

O senador Renan Calheiros abriu como candidato preferencial. Imbatível, pelo histórico e por pertencer ao partido com maior número de cadeiras no Senado, o MDB. Abriu-se a sessão de posse dos novos senadores e escolha da Mesa Diretora, que conduzirá o Senado nos próximos dois anos, com direito de reeleição por mais dois.

O senador Davi Alcolumbre usou a função de único remanescente da Mesa Diretora a ser substituída, para assumir a presidência da sessão. Ele está na primeira metade do primeiro mandato, que começou em 2015 e terminará em 2023. Na presidência interina, ele empossou os senadores na nova legislatura e abriu a segunda parte da sessão, destinada à eleição da Mesa Diretora.

Neste momento, Renan Calheiros, de muitos mandatos, reeleito e empossado, entrou em desespero com endereço certo: O senador Davi Alcolumbre. As angústias de um homem experimentado indicam risco, ameaças. Ora, com votos suficientes e garantidos para ser o presidente, Calheiros deixaria a sessão correr. No entanto, ele perdeu o autocontrole e enlouqueceu a aliada senadora Kátia Abreu. O Brasil todo e talvez o mundo inteiro, viram do que ela foi capaz para prestar serviços ao colega Renan.  

Davi Alcolumbre permaneceu frio e firme no comando da sessão. Transmitiu a imagem de segurança dos votos que conquistara na campanha. Vários senadores, de público, registraram a visita que receberam dele nos estados à busca do voto.  Alcolumbre, ainda presidindo a sessão, à deliberação do plenário a eleição por voto aberto. Venceu com o voto de 52 dos 81 senadores. Está dado outro sinal de vitória antecipada.

Novamente, Renan Calheiros perdeu as estribeiras e correu para o STF, com o intuito de anular a decisão do plenário. Ele conseguiu uma liminar do presidente do Tribunal e um reforço para a imagem de homem desesperado. A votação teve início, com senadores, sem receio, declarando o voto para constranger quem não declarasse. Alguém, então, fraudou o processo.

O senador Renan Calheiros precisaria de mais tempo para amedrontar os colegas com a decisão do presidente do STF. Mas, a Mesa, já sob a presidência do senador mais idoso, como manda a regra, decidiu anular a votação e, imediatamente, partir para a próxima. O tempo que Renan queria pra si, ele, na verdade, entregou ao povo, que reforçou a pressão sobre os senadores que insistiram, na primeira votação, em manter o sigilo do voto.

Xeque-Mate. O povo conseguiu.

Em que momento o senador Renan Calheiros perdeu a disputa? No momento em que o povo brasileiro entendeu que é possível sim pressionar e levar. Quem precisa de voto tem medo.

Por Jackson Vasconcelos

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Elegeremos um rinoceronte?

Diz a biografia do teatrólogo Eugène Ionesco que ele foi um patafísico. A patafísica, informam os dicionários, é a metafísica das bobagens. Eugène viveu 85 anos. Faleceu em março de 1994. Perdeu a oportunidade de conhecer a evolução de uma doença identificada por ele numa pequena sociedade: “A rinocerontite”.

Eugène levou parte vida considerando o teatro uma arte falsa, artificial: “Para que fingir, também no palco, se fingirmos todos, diariamente? Se a própria vida é um fingimento da natureza cuja única verdade é a morte?”, dizia Eugène. Fácil, fácil, a gente concorda com isso.

Contudo, a dramaturgia terminou por dominá-lo, para bem do teatro. Começou com a “Cantora Careca”, um conjunto de diálogos absurdos, que não contam uma história. A peça está em cartaz há mais de 60 anos no pequeno Théatre de la Huchette, em Paris. Com apresentações diárias.

Eugène escreveu O Rinoceronte: “Num dia irritantemente comum, de uma cidade comum, onde nada acontece, a não ser o diálogo estúpido de homens que não sabem o que fazer de suas vidas, um rinoceronte enche de poeira uma rua. E causa espanto”.

A partir dali as pessoas da cidade vão, pouco a pouco, mas com velocidade, passando por uma metamorfose. Resistem, tentam fugir, mas transformam-se no curso de uma doença que Eugène Ionesco chama de “rinocerontite”, quando o ser humano perde a humanidade, a pele lisa e a fala. Brutaliza-se. Animaliza-se.

Em 1960, Ionesco contou como foi o ponto de partida de O Rinoceronte. Conta ele, que o escritor francês Denis de Rougemont estava em Nüremberg, quando ocorreu uma impressionantes manifestações nazistas de homenagem a Adolf Hitler. Uma multidão imensa postava-se à espera do Führer, que tardava a chegar.

Quando a comitiva de Hitler apareceu, houve uma histeria contagiosa, que o próprio Rougemont se sentiu atingido. Ele já estava prestes a sucumbir à estranha e terrível magia, quando, afastando-se da turba, parou para pensar: “Que espécie de demônio o estava possuindo, para ficar quase seduzido pela ideia de se entregar, como os outros, ao delírio insano?”. O fato inspirou Eugène Ionesco a escrever “O Rinoceronte”.

A campanha para presidente da república no Brasil tornou-se terreno fértil para o vírus da “rinocerontite”. As pessoas substituem a pele pelo casco e a fala pelo bramir. Todos vão, aos poucos, se transformando numa espécie nativa de Rinoceronte, o Bolsonaro.

E a doença já começa a aparecer no candidato Geraldo Alckmin. Vejam se não é verdade: “Porte de armas no campo deve ser ‘facilitado’, diz Geraldo Alckmin”.

Por Jackson Vasconcelos