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Por que o povo nas ruas?

Durante a semana, a deputada federal Joice Cristina Hasselmann apresentou-se na CPMI das Fake News. A Comissão Parlamentar Mista (formada por senadores e deputados federais) de Inquérito foi criada com uma finalidade demagógica ou ambiciosa demais.

No ato formal de criação está dito: “Finalidade: Investigar os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018; a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. 

Mas, se sabe que, no fundo, o que se pretende ali é deslegitimar a eleição do Presidente da República. O resto é, simplesmente, o resto onde não se chegará a conclusão alguma. Assim têm sido as Comissões Parlamentares de Inquérito – a grande maioria delas – no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. 

Quem se deu ao trabalho de assistir a atuação da deputada e dos colegas que a inquiriram participou de um espetáculo de agressões mútuas e auto-elogios. O “eu sou”,  o “você é que é” prevaleceu todo o tempo. Um deputado federal pelo Paraná, Felipe Barros, do PSL, chamou o conjunto de “Tribunal Leninista, que se pode resumir numa frase: Xingue-os do que você é e acuse-os do que você faz”. Daí, aos palavrões, foi um pulo. 

Contudo, o espetáculo ruim não foi singular, nem ato exclusivo do Congresso Nacional, mas algo que temos visto acontecer em vários parlamentos no Brasil e mundo afora. Resultado de uma das questões mais relevantes do tempo moderno, a baixa qualidade da representação política, motivo que tem levado o povo às ruas no mundo todo. 

Muitos dirão que a causa do povo nas ruas não é a falta de representação política. Para aqueles que se dizem de esquerda, os liberais nos governos são a resposta. Para quem se coloca do outro lado, no lado oposto está o argumento. De qualquer modo, cai-se no chavão de “direita e esquerda”, que Ortega Y Gasset, no livro “A Rebelião das Massas”  define sem paciência: “Ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o homem (o ser humano) pode eleger para ser um imbecil: ambas são, de fato, formas de hemiplegia moral”. 

Ao não se sentir representado, o povo vai às ruas, volta a Ágora, para exigir, de viva-voz e com toda força e risco, o que quer dos governos. Faz isso, porque quem tem a obrigação de representá-lo, de defender os interesses dele, cuida de si mesmo e dos seus mais próximos. 

A deputada Joice Cristina Hasselmann abriu a apresentação dela com uma frase que tem significado no conceito da falta de compromisso com a representação. Disse ela: “Senhor presidente, senhora relatora, eu passei a investigar os crimes cometidos na internet, quando fui atingida por eles”. Mas, onde ficou, até ali, o interesse dos mais de um milhão de eleitores dela? E se ela não tivesse sido atingida? 

A representação é a essência da democracia. O Dicionário de Política, obra assinada por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Giafranco Pasquino, esgota a definição de Democracia na teoria política contemporânea, num elenco “mais ou menos amplo, de regras de jogo ou, como também se diz, de procedimentos universais”. O dicionário cita nove, todos eles vinculados à representação originada em eleições, “onde todos os eleitores devem ter voto igual e serem livres para votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional”. 

A imagem do Congresso Nacional é ruim. Seria melhor, bem melhor, se os deputados e os senadores conseguissem compreender que o papel deles é substituir os seus eleitores para estar no lugar deles no Parlamento. Mas, eles, visivelmente, preferem o uso de outro significado para a palavra representação. Escolheram a encenação, a teatralidade, o espetáculo e, como não são bons atores, têm-se o que se teve na CPMI das Fake News, no dia da estreia da deputada federal Joice Hasselmann no palco. 

Mesmo correndo o risco de ser longo demais, eu encerro dizendo que, como órgão de representação política, a CPMI teria como finalidade única aquela que tem por acessório: “Investigar a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódios e suicídio”. Algo que, com certeza, não será objeto de muita atenção.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Imagem real ou virtual?

O governador do Estado do Rio de Janeiro invadiu o campo no jogo final da Taça Libertadores, ajoelhou-se diante de um dos jogadores e beijou-lhe a mão. O governador tinha uma faixa em torno do pescoço e uma camisa por baixo do paletó, ambas do Flamengo. O jogador tratou o governador com desdém. A imagem do ato correu o mundo criticada. 

Teve gente que disse sentir “vergonha alheia”, mas também pessoas que não se incomodaram com isso, porque nada nos políticos as surpreende mais. Houve, do mesmo modo, quem, de boa memória, recordasse que  o governador, no início da campanha eleitoral, deixou claro e com orgulho o fato de ser torcedor do Corinthians. A declaração está na entrevista que ele concedeu ao repórter Alexandre Araújo, do Lance!. Ele disse literalmente: “Sou, desde criancinha, corintiano. Vivi o Corinthians na Era do Sócrates, por isso sou um grande democrata…”. 

A cena do gesto do governador diante do jogador do Flamengo acendeu em mim a lembrança de uma passagem do livro “1808”, do historiador Laurentino Gomes, que, recentemente, entregou aos leitores outra boa obra, “Escravidão”, que comecei a ler. 

Laurentino descreve no 1808, por citações, o ritual do “beija-mão”  na Corte de D. João VI. “Esse ritual”, diz ele, “Muito antigo, já tinha sido abolido havia bastante tempo pelas demais cortes européias, mas ainda era praticado em Portugal e pelos vice-reis no Brasil colônia”. 

Laurentino transcreve dois depoimentos sobre a solenidade. Escolhi um deles, o do cônsul inglês James Henderson: “As estradas que vinham da Cidade Nova, Catumbi e Mata Porcos ficavam repletas de oficiais e pessoas comuns, que pra lá se dirigiam em cabriolets, na garupa de cavalos ou a pé, todos à caça de alguma graça real. Quando as portas do palácio se abrem, acontece uma corrida promíscua para diante… Eles avançam numa mesma formação em direção ao andar superior, onde Sua Majestade está sentada, acompanhado de seus fidalgos (…). Era uma cerimônia que punha o monarca em contato direto com o vassalo, que lhe apresentava as devidas vênias e suplicava por alguma mercê”. 

Temos ali a imagem de um vassalo diante de um semelhante, que ele, no entanto,  julga ser seu soberano, alguém capaz de merecer todas as vênias e súplicas. Algo que passa longe das concepções de “um grande democrata da Era Sócrates”, porque alguém com tal concepção não aceitaria o papel de vassalo e menos ainda o de soberano. 

Somada a outras imagens que o governador tem produzido no mandato, aquela dele diante do soberano Gabigol, fecha o quebra-cabeças, de uma estratégia de comunicação. Garoto, eu gostava dos jogos de quebra-cabeças, onde você está obrigado a criar uma imagem completa juntando os pedaços dela embaralhados. É desse modo que se forma, na imaginação de todos, a imagem completa de alguém. 

Sem dúvida, o governador Witzel quer ser a imagem de representação da torcida do Flamengo na política. Como quis, por pouco tempo, ser a do Corinthians, pela figuração mental conveniente de ser um “grande democrata”. Cabe aqui, um desvio curto, para dizer que democratas não há pequenos ou grandes. Somos ou não somos. 

Para ser o flamenguista padrão que chegou ao Governo do Estado por méritos próprios, o governador beijou a mão de Gabigol e, antes, em outros jogos, tem sido visto em atos alucinados, como fez ao tentar, do campo, invadir a área dos torcedores em comemoração a uma vitória. 

No propósito de ser um flamenguista de sucesso na política, o governador não está sozinho, nem agora, nem no passado. Quase todo mundo gosta de tirar uma casquinha no sucesso dos outros. É vício da humanidade. 

Mas, ser somente líder político da maior torcida do planeta, não parece suficiente para o governador Witzel. Ele quer também a imagem de justiceiro, num estado em que o crime predomina.  Daí o vídeo da euforia no momento em que um atirador de elite matou o doente mental, que sequestrou um ônibus. Isso, também não parece suficiente, porque Witzel quer também a imagem do carioca apaixonado pelo carnaval. 

Ele tem conseguido o objetivo que persegue? A estratégia está correta? 

Isso é fato que precisa ser medido, mas a minha percepção é que não, por conta da ausência de um elemento fundamental na formação das imagens que perduram: a legitimidade de uma história pregressa, de um presente leal ao passado. 

Faltam ao governador as imagens de um passado que confirmem a imagem que ele quer ter no presente. Por exemplo, a imagem do torcedor de sempre do Flamengo, do carnavalesco de todos os carnavais e do combatente implacável contra o crime. Sem esses complementos será inútil o esforço do governador para alcançar a imagem que deseja. 

Sem legitimidade e fidelidade com o passado, a imagem de um político torna-se ato de puro oportunismo. Essa é outra lição importante da estratégia de formação de uma imagem na cabeça do eleitor: os pontos fortes são confirmados pela história, os pontos fracos são, muitas das vezes, aqueles dados como positivos por astúcia. Já se fez isso o suficiente para ensinar o eleitor a não ser enganado. Por isso, na política, os oportunistas estão deixando seus lugares vagos para aqueles que são autênticos, gostemos deles ou não. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade

Por Jackson Vasconcelos

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O impeachment de uns e de outros

Ora, o pouco caso com os partidos políticos é quase unanimidade. Seria ele, a motivação popular para expulsar um presidente? A lógica diz que não. Então, alguma coisa está mal explicada. E, está mesmo.

Os registros da história recente do Brasil comprovam que o ex-presidente Fernando Collor afastou os partidos para entregar as posições de governo ao crivo do ex-tesoureiro da campanha dele que, em razão do que fez com o privilégio que recebeu, provocou o impeachment. Não me parece ser essa a situação de agora.

Semelhança existe, isso sim, entre as causas do pedido de impeachment do Presidente dos EUA, Donald Trump, e, em 1974, do ex-presidente Richard Nixon. Os resultados, no final do processo, no entanto, poderão ser diferentes.

Na origem do problema está a estratégia comum dos dois presidentes republicanos de enfraquecer os adversários pela espionagem. Mas, a leitura dos cenários – atributo de uma estratégia – indica que o resultado final do pedido de impeachment do presidente Trump tem tudo para ser diferente do ocorrido com ex-presidente Nixon.

Trump está no final do primeiro mandato, já em ritmo de campanha para a reeleição. Nixon estava no início do segundo mandato, situação que garantia aos republicanos a permanência no poder, por um mandato inteiro, mesmo com o impeachment de seu presidente, como, de fato, aconteceu.

Entregar a cabeça do presidente Trump neste momento, significará, para os republicanos, com maioria no Senado, a transferência de sua agenda de campanha para os democratas, situação bem difícil de imaginar.

No ponto limite, se a opinião pública forçar uma decisão drástica, os republicanos, substituirão Trump por outro nome na disputa do próximo ano. Até lá manterão o poder seguro nas mãos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade

Por Jackson Vasconcelos

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Liberdade de expressão ou libertinagem informativa?

Depois de caminhar por um atalho, retorno, como prometi, à caminhada iniciada no artigo publicado no dia 4 de novembro. Nele defendi que na relação da imprensa com a política, os jornalistas são agentes posicionados quase sempre na oposição. Mas, de vez em quando, meio envergonhados, sutis, ao lado dos governos. São agentes políticos! Sendo assim, não se deve esperar que os jornalistas cumpram a norma de bem informar e como estamos na era do espetacular, eles fazem de tudo para transformar as informações em notícias sensacionais.

Vargas Llosa, numa obra que abre as chaves do mundo moderno, “A Civilização do Espetáculo”, afirma: “A fronteira que tradicionalmente separava o jornalismo sério do sensacionalista e marrom foi perdendo nitidez, enchendo-se de buracos, até se evaporar em muitos casos, a tal ponto que em nossos dias é difícil estabelecer diferença nos vários meios de informação”.

“O que faz um jornalista?” Maurício Dias, que reputo um dos melhores jornalistas, respondeu, numa entrevista concedida em dezembro de 2012 e que está no Youtube: “Essencialmente, investiga. É redundante chamar um ramo do jornalismo de investigativo, porque toda reportagem é uma pergunta e toda notícia responde a uma pergunta”.

O jornalista Gerardo Reyes Copello, prêmio Pulitzer, escreveu “Periodismo de Investigación” e lá ele afirma: “Uma caracterização mais ampla do jornalismo de investigação concebe o repórter como um eficiente armador de quebra-cabeças, cujas peças estão dispersas e alguém trata de manter ocultas…”.

Reúno os conceitos de Maurício Dias aos de Reyes para concluir que todos os jornalistas são investigativos, eficientes armadores de quebra-cabeças, onde as peças (os fatos) estão colocadas à priori. Um dos melhores exemplos disponíveis da relação entre a imprensa e a política, é o caso Watergate, que Maurício Dias citou na entrevista indicada por mim. Maurício lembra que, o “Garganta Profunda”, informante que bem mais tarde se soube ser Mark Felt, do FBI, não passou uma só informação aos jornalistas Bob Wooward e Carl Berntein. Passou pistas, que os jornalistas saíam a investigar para transformar em informações e notícias.

Sobre o caso Watergate há pelo menos dois livros muito bons, “Todos os homens do Presidente” e “A Vida do Garganta Profunda”. É um caso exemplar de fidelidade canina à fonte e à investigação minuciosa antes de noticiar.

O tempo presente, contudo, é o da comunicação relâmpago e concorrência feroz pelo furo de reportagem online, situação que faz com que a imprensa, ao receber pistas ou informações, primeiro faça de tudo isso notícia, para depois, a depender dos efeitos, buscar a verdade. Se estragos houve, eles são resolvidos com um pedido de desculpas, no rabicho do telejornal ou numa nota de pé de página, e a vida segue.

Quem está na política deve compreender, quando traçar as estratégias de trabalho, que esse comportamento da imprensa veio pra ficar, é definitivo e não adianta espernear. Contudo, não precisa se conformar.

Em outros tempos sim, não tinha jeito, a reputação não sobrevivia aos impactos da imprensa. Hoje não, porque existem os canais diretos de comunicação do político e, de toda gente, com o povo, novidade que deveria levar os jornalistas a uma reflexão mais profunda sobre o papel que desempenham e a um tempo bom para aplicar o ofício de bem informar. Mas, mesmo que isso aconteça, e será difícil acontecer, a relação da política com comunicação dispensa, cada dia mais, a imprensa como intermediário na entrega da notícia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Lula solto. Bolsonaro livre?

Meu compromisso seria retomar a rota iniciada no artigo da semana passada, quando tratei da relação da imprensa com a política e firmei a minha opinião sobre o papel dos jornalistas como agentes políticos, que não conseguem, ainda que queiram, agir com isenção.

Contudo, preciso mudar o rumo da conversa, porque Lula voltou às ruas com base numa decisão do Supremo Tribunal Federal, fato que desejo comentar sob a ótica da imagem e dos conceitos da estratégia, ferramenta que avalia oportunidades, ameaças, pontos fortes e frágeis e cria mecanismos para que se conservem as conquistas.

O STF saiu com a imagem arranhada? Muito, apesar dos ministros, terem dado, no passado, uma no cravo e agora, outra na ferradura. Somos uma nação rachada ao meio desde 2014. Então, era de se esperar que, ao agradarem uma parte do povo com a prisão em 2ª instância e a outra parte, agora, com uma sentença inversa, os ministros tivessem zerado o jogo. Não zeraram, porque com relação à imagem, os ministros, na verdade, abriram uma segunda cicatriz na face.

O Supremo Tribunal Federal é, por definição, o guardião da Constituição e ao decidir sobre a aplicação dela não deveria ter dúvida. E, certamente, não tem. As decisões que contrariam decisões anteriores têm outro motivo. A Corte, como a imprensa, é formada por homens e mulheres com histórias de vida, simpatias e antipatias próprias, que se comunicam numa linguagem também muito própria. Ela lhes permite dizer a mesma coisa de modos mil vezes diferentes e coisas diferentes de mil modos iguais. O Supremo tem, além desses, outro argumento para as decisões controversas: o legislador brasileiro faz leis com jeitinho.

Há algum mal nesse modo do Supremo se relacionar com as leis e com a população? Se há, ele vem do início da nossa história, tempo suficiente para a gente aceitar o fato como tradição e ter menos aborrecimentos. Os livros “Tanques e Togas” e “Os Onze, o STF, seus bastidores e suas crises” dão boa mostra de como os ministros da Corte são humanos comuns com vigor político. No capítulo que comenta as consequências da morte do Ministro Teori Zavascki, “Os Onze” registra uma declaração do ex-ministro Sepúlveda Pertence sobre o STF. Diz ele: “O Supremo é um arquipélago de onze ilhas incomunicáveis”.

Para mostrar que o modelo não é exclusivo do Brasil, o livro continua a definição com a declaração do juiz da Suprema Corte americana, Oliver Wendell Holmes sobre o tribunal dele: “Nove escorpiões numa garrafa”. “Tanques e Togas” e “Os Onze foram escritos pelo jornalista Felipe Recondo, o segundo em parceria com Luiz Weber, jornalista e mestre em Ciência Política.

Nesse contexto, alguns perguntam: “Onde estará a segurança jurídica?”. Está em sabermos que as leis e decisões judiciais, em nossa terra, funcionam ao sabor dos ventos da política.

Antes que termine meu espaço, pulemos algumas casas para chegar ao Lula nas ruas. É o caso de se perguntar: E agora, para onde irá a política? Irá, com mais velocidade, para os extremos, dando ao centro, o destino que Cristo deu à igreja em Laodicéia: “…Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16).

E a batalha entre os extremos, quem vencerá? É cedo para saber, mas com Lula solto, Bolsonaro perde a liberdade para fazer o que anda a fazer por aí se quiser conquistar outro mandato. Mas, ele ganha a oportunidade de receber de volta os apoios que vem perdendo de antigos eleitores e aliados e tudo deveria fazer para conservá-los porque, na vida, não há insubstituíveis.

Para não termos o PT de volta ao poder, nós substituiremos Bolsonaro se ele não for a garantia que precisamos. Os liberais, certamente, têm bons personagens.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Bolsonaro: “Vivendo e aprendendo a jogar”

Não espere do jornalismo mais do que ele é e tem sido, aqui e no mundo. Isso pode levar você a conclusões precipitadas sobre o papel da imprensa. E se você lidar com a política, poderá ter dores de cabeça.

O jornalista e professor Eugênio Bucci publicou há tempos o livro “Ética e Imprensa” e na introdução afirmou: “O jornalista não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público; ele não tem autorização ética para perseguir outros fins que não este. Além disso, é cada vez mais chamado a pensar nas consequências do que faz…”

Será?

Em todos os tempos e lugares, o jornalista tem sido um profissional, que age para fazer, sem isenção pessoal, da notícia um instrumento de ação política. Eugênio Bucci admite isso no primeiro capítulo do livro, mas dá aos fatos que narra, todos sobre o Jornal Nacional, o caráter de exceção recriminada. Quando não são.

Na semana passada, o Jornal Nacional aproximou a imagem do presidente Jair Bolsonaro do assassinato da vereadora Mariele e do motorista dela. O presidente soltou os cachorros!

Pelo modo como as informações se organizaram, se a intenção do Jornal Nacional fosse “obter resultados que não sejam o de bem informar o público”, a confusão não teria acontecido. O fato não seria notícia, se o editor colocasse frente a frente as duas informações que recebeu. Uma dizia que Jair Bolsonaro, de viva-voz, ele próprio, teria autorizado a entrada no condomínio onde residia, de um dos assassinos da vereadora, para que ele se encontrasse com o outro, residente no mesmo condomínio e, de lá, os dois saíssem para cometer o crime. Isso faria do Jair Bolsonaro, cúmplice no assassinato.

A outra informação obtida pelo Jornal Nacional mostrava, com provas irrefutáveis, a impossibilidade de ser verdade o primeiro dado, porque Jair Bolsonaro, no mesmo dia e hora, estava em Brasília. Um editor preocupado em “bem informar o público, sem autorização ética para perseguir outros fins”, teria dado à notícia uma conotação diferente a favor do presidente, porque essa era a notícia, ou teria encerrado o caso ou, ainda, solicitado uma investigação mais profunda, para melhor calçado voltar à estrada. Nada disso ele fez e o Jornal Nacional veiculou a notícia com a sutil intenção de levantar dúvidas sobre o presidente.

Mas, a atitude não é exclusiva do sistema Globo, como muita gente quer crer, inclusive, Eugênio Bucci, com os exemplos que apresenta no livro.

Al Franken é um comediante americano, autor de um bestseller, “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam – Uma visão imparcial e equilibrada da direita”. Vale ler. Nela estão citados, entre os grandes do jornalismo, nada menos que Washington Post, New York Times e CNN com exemplos comprovados de distorções transformadas em notícias para uso político, na relação da imprensa com as eleições americanas.

Eu elaboro estratégias de ação política, identifico oportunidades e ameaças aos projetos que me são colocados. A expectativa errada do político com relação ao papel dos jornalistas é uma ameaça aos projetos dele. Na relação da imprensa com a política, eu desconheço (pode ser ignorância), casos em que sobreviveu o interesse de bem informar à intenção de criar imagens que, verdadeiras ou falsas, construam a decisão do eleitor.

O tema é extenso. Voltarei a ele na próxima semana.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Mais soluções, menos burocracias

Fala-se por aí em reforma administrativa. Seria boa providência, porque o Estado é fundamental prestador de serviços para a população toda e, em especial, para a população pobre e para a classe média. E sabe-se que a qualidade do serviço público no Brasil é das piores. Resta saber como será a reforma, tema muito antigo na pauta nacional. Outras vezes já se tentou fazê-la e nada de concreto se conseguiu porque, no fim da linha, as corporações venceram. 

Dê no que der a reforma, o serviço prestado ao público pelo Estado Brasileiro já poderia ser melhor, pela simples adoção de práticas administrativas e uso adequado de uma tecnologia que o mercado já oferece. O Estado opera pouco com aplicativos e nesse campo há muito a explorar. Na campanha para a Prefeitura do Rio, em 2016, Indio da Costa, candidato, navegou bastante pelo tema, que por um erro de comunicação do candidato com o público e ação nociva dos adversários, virou chacota. 

Sabe-se que é possível sim, com o uso de aplicativos, reduzir barbaramente a burocracia, organizar as filas de atendimento, enquanto elas existirem e acabar com a velha prática de criar dificuldades para vender facilidades .

Outro campo em que o Estado que pode melhorar muito é o da comunicação dos seus agentes com o público e nesse sentido faz bem ler a matéria: “Discurso afinado”, da revista Meio & Mensagem, de 28 de outubro. A matéria está assinada por Karina Balan Julio. Nela está uma nova abordagem das empresas de RP (relações públicas) no trabalho com o pessoal das empresas, que fala com o público. 

Um dos motivos da reputação ruim dos servidores públicos é a maneira como eles se comunicam com o público externo e com o público interno. Nesse ponto, a matéria da Karina mostra um caminho novo adotado pelo setor privado, que eu entendo, caberia muito bem no setor público.

O primeiro ponto é a escolha dos porta-vozes. A matéria do Meio & Mensagem alerta que as empresas de comunicação têm aplicado treinamentos de interlocução em todos os níveis funcionais das empresas. 

“Não bastava que apenas a diretoria carregasse o discurso, todos na empresa precisavam entender e falar sobre inovação. Antes quem falava para fora era apenas o diretor ou presidente, mas hoje estamos capacitando diferentes pessoas para falar”, avisou Sabrina Sciama, diretora de relações corporativas da Visa. 

Helena Bertho, gerente de comunicação da Coca-Cola, foi na mesma linha: “Os porta-vozes eram tradicionalmente treinados hierarquicamente, primeiro os vice-presidentes, depois diretores e, então, gerentes sênior. Com o passar do tempo, entendemos que seria interessante ter mais especialistas falando sobre temas de interesse da companhia”. 

Na administração pública a principal voz é da liderança política, escolhida pelo voto popular, mas todos os agentes públicos são cobrados para falar e falam distribuindo confusão. O treinamento amplo ajudaria bastante melhorar a reputação do setor público. 

Outro ponto é o uso da linguagem adequada. É preciso acabar com o discurso excessivamente formal e impessoal e confuso. Diz a matéria: A linguagem direta e orgânica, característica da era digital estimula que porta-vozes adotem um novo tomo diante de consumidores, colaboradores e demais stakeholders. 

“Temos visto uma mudança de linguagem gritante. O mundo em que vivemos hoje é cada vez menos intermediado e, por isso, as pessoas querem se comunicar de maneira mais direta” (Eduardo Vieira, do Grupo Ideal).

Por fim, há a questão dos canais. O setor público ainda vive o formato da relação com a imprensa, mas a comunicação hoje se dá nas redes, canais que o setor público utiliza pouco, mas que mostra, a cada dia, maior poder de convencimento.

Por Jackson Vasconcelos

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Estado: paizão de poucos, padrasto de muitos

“Quem tem padrinho não morre pagão” – e melhor padrinho não se pode ter no Brasil que o Estado Brasileiro. Ele é gigantesco, tem peso e relevância na vida de todas as pessoas. Quando ele não é seu padrinho, será seu padrasto. Nunca lhe será indiferente. Certamente, lhe causará problemas e fará da sua vida um inferno. Sem controvérsias.

Poderia o Estado Brasileiro ser padrinho de todos os brasileiros? Evidente que não, porque lhe faltariam os recursos para isso. Então, ele seleciona quem apadrinha e o resultado dessa seleção se vê, com facilidade, na desigualdade social, tema que vai e volta ao debate nacional por anos a fio sem solução.

A Fundação Getúlio Vargas publicou, há pouco tempo, o estudo “A Escalada da Desigualdade”, com dados que demonstram um crescimento continuado da concentração de renda no Brasil nos últimos anos. Lá está dito que, do quarto trimestre de 2014 até hoje, a metade mais pobre do país viu a renda própria diminuir 17,1% e a classe média, 4,16% . Nas outras pontas, onde estão os 10% considerados ricos, a renda cresceu 2,55% e na faixa do 1% considerado bem mais rico, cresceu 10,11%.

Os especialistas em análise atribuem o fato ao desemprego. Entretanto, seja em tempos de bom ou ruim número de empregos, a desigualdade no Brasil é constante e crescente. Não sofre abalos e desse modo tem boa serventia para os discursos políticos.

Para privilegiar seus apadrinhados, o Estado concentra renda quando tributa. A preferência dele pelos impostos indiretos faz com que os ricos e os bem mais ricos paguem menos impostos do que os pobres. E mesmo nos impostos diretos, caso do imposto de renda, os ricos pagam menos impostos do que a população da classe média. A tabela é bem pensada para o objetivo.

Em 1976, doze anos antes da Assembleia Nacional Constituinte, a Comissão de Economia da Câmara dos Deputados promoveu um Seminário sobre Reforma Tributária. Eu compareci, com a empolgação de um jovem estudante de Economia com apenas 23 anos de idade. O Professor Carlos Lessa fez, na minha avaliação, a melhor apresentação do seminário com uma exposição minuciosa e didática sobre os defeitos do sistema tributário nacional. Lá estava, na cabeça da lista, a preferência do legislador pelos impostos indiretos, situação que o Professor Carlos Lessa chamou de “absurda e injusta desigualdade de tratamento”. Hoje, 43 anos depois, ainda se diz que haverá uma reforma para dar um jeito nisso. Duvido.

O Estado concentra renda também quando gasta. Concentra na entrada e na saída dos impostos.

O poder e influência que as corporações e os ricos têm sobre os orçamentos públicos anulam uma das mais elementares funções do Estado: a criação de oportunidades para que os pobres possam evoluir para além da pobreza. Os ricos se viram bem com a educação própria e dos filhos, resolvem muito bem os problemas com a saúde, segurança e transportes. O pobre, no entanto, precisa do Estado para acessar esses serviços essenciais à redução das desigualdades. Sem o Estado, os pobres não conseguem sair da pobreza e quando a exceção surge é só para confirmar a norma.

Ocorre que nem todas as fortunas são resultado do esforço pessoal ou, simplesmente, do trabalho dedicado de quem enriqueceu. São, sim, muitas vezes, dádivas do padrinho, porque na raiz da fortuna estão os subsídios concedidos pelo Estado e a facilidade oferecida a alguns para a solução de problemas que a burocracia cria para todos.

Somem-se a tudo isso os gastos que o Estado tem com ele próprio e se terá mais um elemento a confirmar o apadrinhamento da desigualdade. O fosso amplia-se na concessão de mordomias, de prerrogativas de função, salários absurdamente altos, férias de muitos meses, situação que cria novos ricos e mantém antigos pobres.

No Brasil, só se terá redução da desigualdade social quando o Estado for devolvido ao lugar que lhe cabe por obrigação: o equalizador das oportunidades.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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PSL: “Nada há de novo debaixo do sol”

Essa confusão no PSL é uma coisa muito feia! Mas não é coisa nova. Em dezembro de 2015, dois Leonardos se enfrentaram pela cadeira de líder do PMDB na Câmara dos Deputados, numa disputa fora de época, igualzinha à que acontece no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo naquele tempo era a composição de uma comissão especial para analisar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado federal Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara, quis indicar para compor a comissão colegas contra o impeachment. Os a favor, liderados pelo correligionário Eduardo Cunha, não gostaram, assinaram uma lista, destituíram Picciani e nomearam Quintão. Picciani reagiu, convocou deputados federais licenciados e conseguiu recuperar a cadeira.

A imprensa teve com o que se ocupar um bom tempo e a história conta o resto. O destino de cada personagem mostrou que uns foram para um lado, os demais para outro, mas nenhum deles retornou ao mandato.

A briga no PSL tem outros motivos, ainda não se sabe exatamente quais, mas a razão, é possível assegurar, é a mesma da briga no PMDB em 2015. Encontrei-a num livro que li há muitos anos e ao qual voltei recentemente, motivado pela crise política no Peru.

No Peru, a confusão de hoje começou na década de 90, quando Alberto Fujimori, a novidade, o puro, derrotou, com a ajuda dos evangélicos, o escritor Mário Vargas Llosa na disputa pela Presidência da República. O escritor nobel da literatura contou a experiência dele com a política na campanha presidencial no livro de memórias “Peixe na Água”.

Num dos melhores trechos, que tem uma absurda serventia para avaliar os movimentos da política em todo o mundo moderno, Mário Vargas Llosa registra:

“Já dentro da fogueira, fiz uma descoberta deprimente no decorrer daquelas reuniões tripartites (momento em que ele construía as alianças políticas). “A política real…”, disse ele, “não aquela que se lê e se escreve, se pensa e se imagina – a única que conheci -, mas a que se vive e se pratica no dia-a-dia, tem pouco a ver com as ideias, os valores e a imaginação, com as visões teleológicas – a sociedade ideal que gostaríamos de construir – e, para falar com crueza, com a generosidade, a solidariedade e o idealismo. Ela é composta, quase exclusivamente de manobras, intrigas, conspirações, pactos, paranóias, traições, muito cálculo, uma dose não negligenciável de cinismo e todo tipo de tramóia. Porque o que efetivamente mobiliza, excita e mantém em atividade o político profissional, seja ele de centro, de esquerda ou de direita, é o poder: chegar a ele, manter-se nele ou voltar a ocupá-lo o mais depressa possível. Há exceções, claro, mas que são isso mesmo, exceções. No início, muitos políticos são movidos por sentimentos altruístas – mudar a sociedade, obter justiça, impulsionar o desenvolvimento, moralizar a vida pública – mas, na prática miúda e comezinha que é a política cotidiana, esses belos objetivos vão deixar de sê-lo para transformar-se em simples tópicos de discursos e declarações – dessa persona pública que adquirem e que acaba por torná-los quase indiferenciáveis entre si – e, no fim, o que prevalece neles é o apetite cru e às vezes incomensurável pelo poder. Quem não é capaz de sentir essa atração obsessiva, quase física, pelo poder, dificilmente chega a ter êxito na política”.

Santo Deus! Como isso é verdade! Li o “Peixe na Água” em janeiro de 1996, num raro momento de lazer com os filhos no Hotel Fazenda Caluje, em Engenheiro Paulo de Frontin. Achei o trecho poético e marquei-o. Depois, sem voltar ao livro, passei por várias experiências eleitorais, como operador de campanhas.

Voltei a lê-lo, recentemente, quando comecei a ouvir gente dizendo que a eleição do Jair Bolsonaro, no Brasil, do Trump, nos Estados Unidos ou do governador Witzel no Estado do Rio de Janeiro são coisas novas, coisas que nunca se viu. Mas eu sabia que já tinha visto algo bem parecido e muito antigo. E vi mesmo.

O povo do Peru derrotou Vargas Llosa porque ele organizou uma chapa com políticos tradicionais e não se curvou a uma agenda conservadora nos costumes. Assumiu ser agnóstico e defendeu que “as crenças religiosas, tal como as amizades e a vida sexual e sentimental, pertencem ao domínio privado, devem ser rigorosamente respeitadas e em caso algum transformadas em matéria de debate público”.

O que seria o Peru com a vitória do Vargas Llosa é hoje puro exercício da imaginação; mas o que conseguiu ser ao eleger Fujimori, se sabe.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O calcanhar de Aquiles do Estado Brasileiro

“Até aqui você só me apresentou os argumentos a favor de você. Nenhum a favor da empresa. Então, meu caro, a minha decisão está tomada. Você ficará, exatamente, onde está e me agradeça por isso, porque eu poderia tirá-lo da subgerência, por sua postura. Quando você pensar um pouco mais na empresa, retorne, e eu darei a você a nomeação que você quer”. O autor da frase, Admon Ganem, era Diretor de Recursos Humanos do Banco do Brasil, no final da década de 70, início dos anos 80.

A resposta à pergunta que fez Admon Ganem ao subgerente de uma das agências de Mato Grosso, que gostaria de ser gerente em Barra do Piraí, sua terra natal, onde ele tinha casa própria e residia perto dos pais, é o calcanhar de Aquiles da administração pública e não há Páris que, com uma flecha certeira, consiga ferí-lo.

Com que objetivo são nomeadas as pessoas que ocupam cargos de confiança no Estado Brasileiro? Passei por alguns deles.

Ao nomear, por exemplo, um diretor para um hospital público, ou o superintendente que cuida da limpeza urbana ou da fiscalização do transporte público, ou ainda o chefe do posto de atendimento do DETRAN, o que deles espera quem os nomeou?

Se, sinceros fossem todos os nomeadores, certamente, diriam que o objetivo é vencer eleições ou recompensar os que ajudaram a vencê-las antes. Por isso, os serviços públicos no Brasil são o que são em qualidade.

Visitei o Congresso dos Estados Unidos em 2017. No Capitólio, conversei com o chefe de gabinete de um deputado federal por Ohio. Perguntei a ele se ele tinha participado da campanha do chefe. “What???” O cara respondeu meio estarrecido: fui escolhido como todos os que servem aos gabinetes dos parlamentares por aqui, através de um processo de seleção coordenado por uma empresa de headhunter.

Para diminuir o dano das nomeações de critério pessoal, que chamam político, criou-se o concurso público e acreditou-se que, pronto, por aí, seria menor o dano.

Qual o quê? O modelo quase nada adiantou para melhorar o serviço público, porque os cargos de chefia – elite do serviço público – permanecem com o critério de nomeação discricionária. Então, os concursados, se quiserem ir ao topo da carreira, que se submetam ao poder político que, sempre tem no foco, as disputas eleitorais.

Sim, mas existem os que não se interessam por isso e acomodam-se. A comodidade está no centro da questão levantada pelo Admon Ganem. Uma pessoa acomodada, que conta o tempo, também não se incomoda com quem defende dos serviços dela.

Adam Smith identificou que os homens e mulheres produzem mais quando recebem a recompensa tanto da diligência ou inteligência como as penalidades da indolência. E, sinceramente, não há quem, protegido por qualquer ideologia, consiga contestar a verificação de Smith.

Entretanto, como se pode punir ou premiar num ambiente de estabilidade legal do emprego e onde não há um sistema de avaliação do desempenho desenvolvido com boa técnica? Não tem como.

Por isso, para o servidor público concursado ou indicado pelas preferências eleitorais, tanto faz como tanto fez a satisfação do consumidor do serviço público. Cada um que cuide de si.

Por isso, o Brasil precisa de transformações na estrutura do serviço público, tanto quanto precisa de reformas na previdência, no modelo de tributação e no sistema político. No conceito de estratégia, o serviço público no Brasil é uma ameaça permanente ao crescimento econômico, mas que pode ser transformada numa oportunidade incrível para se ter um Estado eficiente e mais barato.

O Brasil tem enfrentado a desonestidade com muita convicção. Precisa vencer a ineficiência do Estado com a mesma força. Afinal, a desonestidade e a incompetência produzem os mesmos resultados na vida da população.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos