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“Réquiem de Terror” (Pedro Ernesto). 

“Nada certo, tudo hipótese, dúvidas, pressão, perseguição. Mal estar geral. Réquiem de Terror.”

Domingo, 23 de julho de 2023.

Os comunistas estão no governo federal, fato revelado com vaidade pelo Presidente Lula há poucos dias no Foro de São Paulo e confirmado pela presença da estrela maior da ordem, Senador Flávio Dino,  na pasta da Justiça e Segurança Pública. Eles tentaram chegar lá outras vezes, uma delas – talvez a primeira – na década de 30, quando foram impedidos pelo ditador Getúlio Vargas, que os usou para “extirpar” da política, os adversários que lhe faziam sombra, sendo eles comunistas ou não. O médico Pedro Ernesto, interventor no Rio de Janeiro e depois, prefeito eleito, cidadão não comunista, foi um deles. 

A história é contada com primor pelo escritor Thiago Cavaliere Mourelle, autor do livro “O Brasil a caminho do Estado Novo”, publicado em 2019. Doutor em História Política, Thiago escreveu o livro com base nas cartas que Pedro Ernesto enviou aos filhos, Yolanda e Odilon, durante o tempo em que esteve preso. As cartas foram entregues ao Thiago por uma neta de Pedro Ernesto, Helena Mossé. Na contracapa do livro está o objetivo da obra: “(…) oferecer ao leitor a experiência de tentar compreender todo o sofrimento e ansiedade de uma família que sofreu por mais de um ano com a prisão de seu pai e marido. Tensões, alegrias e tristezas perpassam as linhas das cartas(…).”

O médico Pedro Ernesto começou a lida política como aliado de Getúlio Vargas: “(…)logo estreitou laços com Vargas”, conta Thiago Cavaliere, “tornando-se amigo próximo. Após um acidente automobilístico, Pedro Ernesto salvou a vida de uma das filhas do presidente e, além disso, evitou que dona Darcy, esposa de Getúlio, tivesse uma de suas pernas amputadas – que era a orientação dos demais médicos que a atenderam”. Para colocar Getúlio Vargas na Presidência da República, Pedro Ernesto “foi um dos principais articuladores, na então Capital da República, das ações que derrubaram o presidente Washington Luís” , diz Thiago. 

Diz ainda Cavaliere: “A popularidade de Pedro Ernesto era algo poucas vezes vista na história da cidade do Rio de Janeiro. Com a redemocratização, a criação da Constituinte e a posterior promulgação da Constituição de 1934, o país voltava à normalidade democrática. A lei previa eleições para outubro daquele ano, em que seriam eleitos os legislativos estaduais – incluindo os vereadores do Distrito Federal – o que levou Pedro Ernesto, segundo a mesma praxe de outros governadores, a fundar um novo partido, alinhado aos ideais autointitulados “revolucionários” que pretendiam dar continuidade aos projetos iniciados a partir de 1930″. 

 Nada disso, contudo, facilitou a vida para Pedro Ernesto, quando ele fez sombra sobre Getúlio, que mandou acusá-lo de comunista e deixou que ele fosse preso sem julgamento, sem culpa formada, assim como fez com vários adversários. Tudo fez Getúlio em nome do combate ao comunismo. Uma conversa fiada, confirmada quando, adiante, ele, para permanecer no poder, voltou-se contra os integralistas, força de oposição aos comunistas. 

Sabe-se que dois elementos são essenciais para justificar um ditador: uma causa, que pareça em defesa da democracia e verdugos que lhes cumpram as ordens, pois os ditadores não são capazes de colocar a mão na massa. Eles não prendem, não cassam, não fazem buscas, não torturam nem matam. Mandam que alguém faça. Em havendo alguém que faça munido dos instrumentos certos, pronto, se tem um ditador.  

Para dar legitimidade aos atos de arbítrio, Getúlio Vargas contou com o apoio de um tribunal de exceção, criado por ele com o título de Tribunal de Segurança Nacional. O verdugo Filinto Muller, Chefe de Polícia de Getúlio Vargas, com o respaldo do tal Tribunal fez o diabo com os adversários do ditador. Ele levou à prisão e lá manteve pelo tempo que quis, todos os que o incomodavam. 

O livro relata as várias decisões de Getúlio Vargas e de seus bajuladores, para manter Pedro Ernesto preso, com o objetivo de enfraquecê-lo e obrigá-lo a renunciar ao cargo de Prefeito, que ele mantinha mesmo preso. Mas, tanto mais fizeram, mas a popularidade de Pedro Ernesto cresceu e o apoio dos vereadores e deputados a ele não arrefeceu. Getúlio Vargas, então, tirou a autonomia da Capital com uma intervenção estranha, pois mantinha no cargo o Vice-Prefeito, o padre Olímpio de Mello, seu aliado e autor do desmonte do trabalho que Pedro Ernesto realizou.  

As cartas anunciam Pedro Ernesto, hora enfraquecido, hora possuído de novas energias e esperança, ocasião em que ele era transferido de um canto para o outro, uma e recebia sinais de endurecimento do ambiente com novas prisões. Thiago Cavaliere abre o capítulo “Política e Sofrimento nos primeiros meses de detenção” com uma das cartas de Pedro Ernesto ao filho Odilon: “Meu querido filho, saúde e paz de espírito. Continuo na prisão aguardando a vontade de quem pode, mas felizmente não tive nenhuma fraqueza e garanto-lhe que não terei. (…). Não quero te falar em política porque está me causando muito nojo.(…). Dá um abraço em Odila, lembranças ao Mário e família e um saudoso abraço de teu pai que muito te estima.”

Adiante, há o trecho de uma outra carta do médico, também endereçada ao filho: “Não podes imaginar o que seja uma noite em um cárcere, é de destruir todas as resistências nervosas, líquida com todas as forças que dispomos, eu tenho sido um herói e há momentos que tendo a desanimar, mas felizmente reajo, e estou vencendo”. 

O Tribunal de Segurança Nacional levou mais de um ano para julgar Pedro Ernesto e o condenou mesmo diante de todas as provas e depoimentos que provaram a inocência dele. Ele foi absolvido na segunda instância, pelo Tribunal Militar e voltou à vida política, cheio de energia e vontade, acreditando que a normalidade democrática estava instaurada. Dois candidatos disputavam a Presidência, um pela situação e outro pela oposição, mas o ditador quis continuar no poder, instalou novo regime de exceção e devolveu Pedro Ernesto à prisão. 

Thiago Cavaliere conta: “Depois de um ano e cinco meses preso, por igual período longe da família e do filho exilado, aguardou um julgamento que parecia que nunca seria marcado. Viu alguns de seus adversários políticos tomarem seu lugar na prefeitura e outros atuarem dominantes no cenário nacional. Finalmente solto, quando o pesadelo parecia ter terminado, mais uma vez se viu detido, agora ao lado do filho. Se antes o problema era o Estado de Guerra e o tribunal de exceção, o problema havia tomado uma dimensão ainda mais grave: a partir de 10 de novembro de 1937 havia de fato um governo ditatorial contra o qual não havia meios legais de luta. Era a morte política de Pedro Ernesto.”

O médico faleceu no dia 10 de agosto de 1942, com 57 anos de idade, vítima de um câncer – “o intenso sofrimento, tristeza e decepção sofridos cansaram o corpo e o espírito”. Em Pedro Ernesto vejo sentido numa frase construída por Machado de Assis no Quincas Borba: “Ah, meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão…”

Prisões ilegais, torturas, censura à liberdade de expressão, às\ imprensa; órgãos de imprensa à serviço do ditador, perseguições políticas, tudo isso está no livro de Thiago Cavaliere e justifica o nojo que Ulysses Guimarães disse ter da ditadura: “Ódio e nojo”. O livro do Thiago Cavaliere Mourelle chegou-me num bom momento, quando a coisa não anda boa na política brasileira e, daqui a pouco mais de um ano, estarei com o dever de votar em alguém para ocupar a cadeira que foi de Pedro Ernesto. 

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Salim Mattar tem a receita de um bom governo.

A Petrobrás está, novamente, na berlinda. Agora, pelo aumento do preço dos combustíveis. Lula culpa Bolsonaro, que, para se livrar da culpa, substituiu o Ministro das Minas e Energia. O novo ministro, numa atitude de defesa prévia, promete privatizar a empresa. O Presidente sinaliza que topa, quando nunca topou. Ele diz que quer, porque, desse modo, recupera parte do discurso que fez em 2018, com bom resultado. Mas, no Brasil consciente, sabe-se que, tendo mais 4 anos ou não, o Presidente Jair Bolsonaro não realizará a proeza. A menos que…

Para entender o motivo, voltemos no tempo. Visitemos o dia quatro de janeiro de 2021. Vamos ao “Direto ao Ponto” da Jovem Pan News. Naquele dia, cinco jornalistas entrevistaram Salim Mattar e ele, ao esclarecer a razão de ter deixado o governo, mostrou as causas da enorme dificuldade que tem o projeto de privatização para caminhar minimamente no Brasil. 

Sintetizei as palavras do Salim: falta vontade política e convicção, tanto no Poder Executivo, como e, principalmente, no Congresso Nacional. Também na maioria do povo brasileiro, que não identifica uma relação de causa e consequência, entre o Estado grande e os problemas que enfrenta como sociedade. 

Na entrevista, Salim Mattar dividiu o povo brasileiro em duas categorias distintas: “cidadãos de primeira categoria e cidadãos de segunda”. Entre os de primeira categoria ele citou os 12 milhões de servidores públicos. Entre os de segunda, os 30 milhões com carteira assinada e 14 milhões de desempregados. 

Ora, quarenta e quatro milhões não seriam suficientes para conquistar uma mudança? Sem dúvida, mas ocorre que os cidadãos de primeira categoria  vendem bem o peixe que os alimenta: O ESTADO GORDO! Os que estão classificados na segunda categoria ou não têm quem consiga mostrar-lhes a relação de causa e consequência entre o Estado opressor e a sociedade faminta, ou sustentam-se nos privilégios que recebem dos cidadãos de primeira categoria. 

Falta quem lidere o processo de conscientização no meio do povo que soma maioria suficiente para enquadrar os servidores do Estado Brasileiro, sejam eles eleitos, concursados ou beneficiados com o dom da bajulação. 

Nesse sentido, o discurso do Salim Mattar está pronto. Ele questiona o Congresso Nacional, que pode ser quase totalmente trocado em outubro e defende a elaboração de uma nova Constituição, bandeira que, Salim lembra ser também uma proposta do Modesto Carvalhosa. 

Salim Mattar não deixou dúvida: o presidente pode querer privatizar, o ministro querer mais ainda e, enquanto o Congresso Nacional não quiser, nada acontecerá. Ele deveria dizer isso aos quatro ventos, todos os dias e de todas as formas, para que todos os liberais entendam, por definitivo, que é hora de aproveitar a oportunidade da eleição do Congresso Nacional para enquadrar o Estado Brasileiro. 

A entrevistadora Denise Campos de Toledo, de certo modo, sustentou a afirmação de Salim Mattar, ao citar a vontade política do Congresso Nacional no tempo de Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu proezas na privatização da telefonia, da Vale do Rio Doce e da CSN…”Num tempo”, disse ela, “quando ainda não se tinha toda a aversão às empresas estatais criada pela corrupção desenfreada e pela operação Lava-Jato”. Denise  contrapôs o argumento na relação do Presidente Jair Bolsonaro com a privatização, ao citar o caso CEAGESP, que eu comentei quando ocorreu: https://www.aquitudoepolitica.com.br/?s=CEAGESP 

É horá de falar e pregar em todos os lugares e para todas as pessoas, a importância do voto para a composição do Congresso Nacional. Salim Mattar fez uma previsão que se pode antecipar. Disse ele que em 2026, teremos uma bancada de deputados federais e senadores formada com um número suficiente de liberais para mudar o jogo. É possível fazer isso em 22! Eu acredito! 

Boa semana. 

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Quem serão os eleitos em outubro?

Quem serão os eleitos em outubro? Você sabe? 

Quem serão os deputados federais e estaduais eleitos no Estado do Rio de Janeiro em outubro? Tomando por base a polarização entre Lula e Bolsonaro e as decisões dos eleitores em 2018, ocasião em que a polarização aconteceu entre os mesmos pólos, é possível desenhar os cenários. 

Na eleição passada, Jair Bolsonaro fez no Estado do Rio de Janeiro, barba, cabelo e bigode. Ele elegeu o governador e os dois senadores. Elegeu também 13 deputados federais e 14 estaduais se considerarmos só os eleitos pelo PSL. Mas, sabe-se que muitos outros penduraram-se nele, inclusive a turma do Partido Novo que, no primeiro turno ficou no vai-não vai com o candidato João Amoedo. 

Quando a gente olha os resultados de 2018, cidade a cidade do Estado do Rio, verifica que Jair Bolsonaro venceu o PT em todas elas e com diferenças expressivas. Na capital, por exemplo, no primeiro turno Jair Bolsonaro obteve 1.930.000 votos e Fernando Haddad, 398 mil. 

A minha análise recebeu a ajuda, no domingo passado, de um bom material publicado pela Folha de São Paulo, no Caderno Ilustrada, Ilustríssima, a mim encaminhado por duas fontes: pelo próprio autor, Antonio Lavareda e, no mesmo momento, pelo Rodrigo Bethlem, estudioso da política. Com o título “Barômetros Ideológicos”, o artigo antecipa o lançamento de um livro do Lavareda e Helcimara Telles, “Eleições Municipais na Pandemia”. 

Lavareda revisitou as eleições municipais de 1985 até 2020, e concluiu que as disputas pelos cargos de vereadores e prefeito têm funcionado como barômetros ideológicos das eleições gerais posteriores. Por gráficos presentes na matéria, Lavareda mostra que a campo ideológico da Direita venceu a Esquerda, com larga margem, nas eleições de 2020, para prefeitos e vereadores. 

A polarização teve peso na seleção, que fez o eleitor.

Sabe-se lá como será encerrado o período eleitoral deste ano, mas se o desenho for o de agora até outubro, a polarização entre Lula e Bolsonaro permanecerá a ponto de levar os dois para o segundo turno. Dizem as pesquisas que Lula chegará ao segundo turno à frente do Jair Bolsonaro. É possível, se as causas do voto dado a Jair Bolsonaro em 2018 desapareceram, ou seja, se a onda contra o PT com a força e a rapidez de um Tsunami, virou uma marola ou onda calma. Daí, cabe a pergunta: quem rejeitou o PT – e o PT é Lula e só Lula – estaria disposto a rever a posição e votar nele? 

Lula, para justificar o apoio presente de Geraldo Alckmin, disse que eles dois mudaram o suficiente para revisarem suas posições de 2018. Mas, afirmo: posições de um contra o outro e não com relação ao Jair Bolsonaro. Naquela eleição os dois estiveram do mesmo lado. E, no Estado do Rio de Janeiro, meu objetivo aqui, os votos dados ao Geraldo Alckmin, se somados aos votos do candidato do Lula, Fernando Haddad, no primeiro turno, o resultado final ainda seria favorável ao Jair Bolsonaro. 

Encerro com um ponto: haverá espaço no processo seletivo que leva o eleitor a escolher em que irá votar para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados e mesmo para o Senado Federal e até para o governo do estado, para candidatos que não estejam num dos dois pólos? Acredito que não. Tenho para mim e para quem quiser me ouvir, que a escolha do eleitor para todos os postos terá como base os dois candidatos à presidência, Jair Bolsonaro e Lula. 

O futuro dirá. 

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Sérgio Moro, um elefante em loja de louças.

Só resta ao eleitor, aguardar. 

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro. 

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha. 

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação.  O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.  

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar. 

Sérgio Moro julgou e condenou Lula à prisão e à inelegibilidade, quando instruiu os processos para o julgamento na segunda instância. Se solto e elegível, Lula teria concorrido à presidência em 2018, para ser o adversário principal do candidato Jair Bolsonaro. Os dois teriam ido ao segundo turno, uma vez que o representante do Lula conseguiu. Jair Bolsonaro venceu a eleição e Sérgio Moro tornou-se ministro. Com esse ato, o juiz autorizou a imaginação de os julgamentos terem acontecido com a intenção política para tirar Lula do combate. Pouco tempo depois, o próprio judiciário, na última instância, no Supremo Tribunal Federal, reforçou a imagem quando anulou os processos. 

Sérgio Moro ficou pouco tempo no governo, mas nesse pouco tempo deu apoio incondicional ao presidente, até que começou a perder prestígio. Ele, então, resolveu deixar o ministério e buscar emprego no setor privado, mas numa empresa de consultoria, que atende também casos julgados e condenados por ele. Levantou-se mais uma dúvida sobre a seriedade dos julgamentos. Tudo isso foi-se acumulando na imaginação dos eleitores. 

Após ir e vir, entre o setor público e o setor privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos e esta semana apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil. Armou-se a confusão. Ficou claro, que a filiação dele ao Podemos foi uma decisão precipitada e pelas reações da turma que está no partido para onde ele foi, a nova escolha foi mais precipitada ainda. 

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão. 

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem. 

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso. 

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos. 

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate. 

  1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente? 
  2. “Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?  
  3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente. 
  4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.”  Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato. 
  5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?
  6. “Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância? 
  7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês. 

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato. 

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores. 

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Vidente Allan Richard Way

O vidente Allan Richard Way. 

Você já ouviu alguma coisa sobre um vidente famoso chamado Allan Richard Way? O jornalista Carlos Heitor Cony, um profissional que, enquanto viveu, fez um trabalho muito bom na imprensa brasileira, entrevistou o vidente, num subúrbio de Londres, onde ele residia. 

Segundo Carlos Heitor Cony, a casa do vidente foi construída no estilo Tudor, o mesmo adotado pelas universidades de Oxford e Cambridge. Allan era indiano e estava radicado na Inglaterra há muitos anos. Cony fez várias matérias com as previsões do vidente, no tempo em que estava na revista Manchete, que existiu até o ano 2000, se não me engano. 

Outros jornalistas tentaram entrevistar o vidente, sem sucesso. A TV Globo, por exemplo, pediu à sua diretora da sucursal em Londres para localizar Allan Richard Way e ela só tinha, como indicações, o bairro, a rua e o estilo da residência. Ele nada conseguiu e não convenceu seu chefe da impossibilidade absoluta. Por isso, ela perdeu o emprego e houve quem falasse à boca pequena na imprensa brasileira, que Allan Richard Way já sabia disso antes do fato acontecer. 

Allan Richard Way se tornava famoso a cada nova matéria assinada pelo Carlos Heitor Cony, mais pelo mistério e do que pelas adivinhações, já que acertava pouco ou quase nada. 

Uma vez, Allan Richard Way previu o desmoronamento de uma das pilastras da Ponte Rio-Niterói. Eu me lembro bem desse momento. O governo federal interditou a ponte por quase uma semana, para fazer as revisões nos pilotis. Mesmo depois da verificação técnica exaustiva, as autoridades liberaram o tráfego com muito receio ainda. 

Até que um dia, Carlos Heitor Cony abriu o jogo para dizer que Allan Richard Way era uma grande mentira, uma gozação, assunto que facilitava a vida dele como jornalista obrigado a criar, diariamente, colunas de notícias, para atender o patrão, Adolpho Bloch e evitar aborrecimentos com um chefe de redação que queria tê-lo pelas costas. 

A história do vidente Allan Richard Way é boa para os tempos de agora, quando tem gente que prega com toda a convicção do mundo, que esse tal de Fake News é coisa moderna, criada pela internet. Qual o quê! 

A imprensa do mundo todo tem várias situações, por vezes trágicas, por vezes cômicas e por vezes românticas, de mentiras bem contadas, deixando com o povo o direito ou prerrogativa de descobrir a verdade. Moderno é o mau-humor latente na sociedade brasileira, que perdeu a graça e a capacidade de apreciar  o que é cômico e divertido. Tudo, rigorosamente, tudo, hoje em dia é motivo para brigas, confusões e atritos. O brasileiro perdeu o bom-humor e a paciência. Isso, nem o vidente Allan Richard Way foi capaz de prever. 

Vejam vocês. Hoje, até a Suprema Corte foi provocada para cuidar das notícias que não cheiram bem, porque, o diabo do Estado Brasileiro tem a certeza de que nós, brasileiros e brasileiras, somos impotentes, ignorantes o suficiente para não conseguir avaliar corretamente o que nos falam os políticos. Como isso tem dado certo, daqui a pouco, a Suprema Corte cuidará de dizer o que a imprensa pode ou não comunicar, porque, toda comunicação, segundo os supremos ministros,  precisa ser fidedigna e sem humor, de preferência. 

Portanto, a imprensa que aplaude a censura aos políticos, logo, logo, sentirá o peso da censura. Lula da Silva sonha com o dia em que só se poderá dizer qualquer coisa sobre ele se forem elogios. 

Hoje, Allan Richard Way seria um foragido da Justiça Brasileira residindo em Londres.

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Curiosidades: Eleição no Vaticano

Como Putin chegou ao poder na Rússia? Em 1999, eleito Primeiro-Ministro. Depois, eleito Presidente e é nessa posição que ele decidiu invadir a Ucrânia. Então, posso dizer que Putin cumpre um mandato conferido pelos russos para fazer aquilo que interessa aos russos. Será? Quando a gente trata de eleições, precisa lembrar que elas acontecem até para a escolha de um Papa, num processo parecido com o que acontece em todo canto. Verifique.

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Curiosidades: Eleição em Portugal

A democracia é um ambiente sadio e sábio. É ótimo viver nele, porque, com um título de eleitor nas mãos, a gente consegue dizer como quer que os governos funcionem. Assim foi em Portugal, na eleição antecipada, que ocorreu no domingo. O eleitor decidiu que o Primeiro-Ministro precisa ter liberdade para governar. Os institutos de pesquisas calcularam mal.

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Sérgio Moro no Flow: Uma oportunidade e muitas ameaças

Sérgio Moro cumpriu uma verdadeira maratona no podcast Flow. Ficou lá cinco horas. É, portanto, de se esperar que ele tenha dito tudo o que gostaria de dizer sobre todos os assuntos que lhe foram apresentados. 

Moro tentou ser didático e estava descontraído. Claramente, a metamorfose quase se completou. Ele perdeu a toga e começa a ganhar o colorido de uma nova pele. Os entrevistadores, Monark e Igor, mostraram curiosidades que as pessoas não envolvidas com a política têm. Um treino e tanto para um candidato. 

Moro explicou o contrato dele com a empresa de consultoria para a qual trabalhou depois que deixou o Ministério da Justiça. Disse algo confuso, mas não comprometedor, quando falou sobre receber por um “CNPJ que não é o CNPJ do outro…”, algo assim. 

Algumas passagens mostraram que Moro, se eleito, terá dificuldades para conviver com o Congresso Nacional. Ele denunciou a existência de um pacto no Congresso contra o combate à corrupção, formado pelos “fisiológicos do Centrão, pela turma do PT e por gente do Bolsonaro”. O que sobraria, então, no Congresso? Um discurso bom para a sociedade, mas péssimo para o meio político, onde Moro terá que viver se eleito. E, na mesma linha, disse: “Ah! Ministro da Justiça! Grande porcaria!”

Em seguida, Moro apresentou uma denúncia, sem apresentar o denunciado. Ele disse: “Até tem uma história que é bacana…” e relatou que no tempo da investigação do caso Banestado, ele e um delegado receberam a visita de “um deputado do PT”, que foi pedir para aliviar a vida dos banqueiros que seriam presos. Certamente, na campanha, alguém cobrará dele o nome do cidadão. 

Moro assumiu vários compromissos e um deles será o de acabar com a reeleição para Presidente, mas o modo como disse isso, confirma a dificuldade que ele tem para conviver com a política. Disse ele: “Se o Presidente da República em começo do mandato encaminhar um projeto acabando com a reeleição, inclusive para ele, o Congresso aprova na hora. Os caras não querem você lá de novo depois”. Eis o que ele pensa da relação que o Congresso terá com ele se eleito. Complicado, não? 

Mas, deixei para o final as duas questões que julguei mais delicadas de toda a entrevista. As duas no campo jurídico. A primeira, surgiu na resposta do Moro à pergunta do Igor se ele não poderia ter condenado as pessoas sem precisar quebrar as empresas. Ele disse que as empresas, ao descobrirem o problema, deveriam ter agido. Mas, quem são as empresas? Os sócios, certamente. Sendo isso, eles foram penalizados por saberem e não denunciarem ou por não saberem? 

Eram obrigados a saber? 

Outro ponto diz respeito à condenação do Lula. Moro foi provocado pelo Igor, que fez a pergunta fundamental: “Qual a prova irrefutável?” Moro citou as nomeações que o governo fez de gente que recebeu propina para entregar aos partidos e “Aos políticos, para enriquecimento ilícito”. E disse mais: o sítio era dele, porque ele frequentava o local. Complicado, não? E a frase mais forte foi: “Claro que são percepções, são avaliações”. 

O tema combate às drogas mostrou que Sérgio Moro não consegue sustentar a tese de proibição do uso da maconha. É uma fragilidade. Ele deveria ter mais consistência no tema. O Monark deixou uma montanha de flancos abertos e Moro não soube aproveitar. 

Assistir às cinco horas de entrevista do Moro é algo que os adversários com certeza farão. Duas horas e meia foram só sobre Lava-Jato e vida pessoal. Ele até se saiu bem, mas deixou uma série de fragilidades nos argumentos de defesa de suas decisões na Lava-Jato e nas posições que assumiu com relação aos políticos. E também no campo das propostas que apresentou. 

Por Jackson Vasconcelos

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O que é uma eleição?

Eleição é escolha. O eleitor, colocado diante das informações sobre os candidatos, decide qual deles receberá o seu voto. As campanhas eleitorais têm o propósito de oferecer aos eleitores as informações para que ele decida. Colocada a questão deste modo, a primeira percepção é de ser um processo racional e ele não é. Por isso, os resultados surpreendem até mesmo os institutos de pesquisa a cada eleição. 

No Brasil, muita gente diz que a eleição de 2018 foi um fenômeno, porque os resultados surpreenderam e, para alguns, até assustaram. Para essa gente, existe uma dúvida sobre a próxima eleição: “O fenômeno se repetirá?”. Mas, o que de fato aconteceu em 2018 no Brasil? Pouca coisa de diferente do que aconteceu em outros lugares do mundo: a eleição do inesperado.

Ora, quando se quer analisar o resultado de uma eleição, necessário se faz considerar todos os seus termos e isso só é possível observando-se todas as fases de uma campanha. Em 2018, o resultado é comparável a uma ressaca no mar, que acontece quando fortes ventos entram em contato com a superfície dos oceanos e impulsionam, com força, as águas na direção da orla marítima. 

Os ventos começaram a se formar no Brasil em 2013 com a população nas ruas, descolando-se da política, que segue caindo em descrédito ao longo dos anos. Nas eleições de 2018, os ventos ganharam força e velocidade a ponto de jogar na orla, um número expressivo de candidatos inexpressivos e alguns inesperados. 

A mesma ressaca aconteceu em outros lugares do mundo, em especial nos EUA, com a eleição de Donald Trump. O jornalista francês sediado na Itália, Giuliano da Empoli, identificou o fato e escreveu “Os Engenheiros do Caos”. 

Nele, o autor mostra um descolamento da sociedade do ambiente da política, estimulando movimentos como o “Movimento 5 Estrelas”, na Itália, que deu vida a Giuseppe Conte, como Primeiro-Ministro e elegeu Boris Johnson, Trump, Jair Bolsonaro e outros tais pelo mundo afora. 

As redes sociais criaram novos profissionais de comunicação, gente com capacidade para produzir conteúdo contundente e distribuí-lo com velocidade. Os algoritmos cuidaram de aprisionar  eleitores e candidatos em tribos específicas. É uma seleção prévia. Os candidatos falam só com quem tem interesse de ouví-los e quem os ouve, é levado a odiar gente de outras tribos. 

Quem lê “Os Engenheiros do Caos”, ou outros materiais sobre campanhas eleitorais modernas, pode ser levado a acreditar que, de fato, há um fenômeno totalmente novo na comunicação política. Há novidades, sem dúvida, mas nada totalmente novo. Nova é a velocidade e a fúria com que os conteúdos chegam à orla onde estão os eleitores. 

Faz-se campanhas diferentes. Eleições não. Os eleitores permanecem decidindo as eleições com base nos critérios de sempre. Votam naqueles candidatos que melhor se identificam com eles, que falam o que eles querem ouvir. E não há racionalidade que convença! Emoção, sim. As redes carregam emoções, como fez a imprensa tradicional com exclusividade. 

O eleitor escolhe pela simpatia e rejeita pela antipatia. Na simpatia e na antipatia não estão previstas as qualidades e competência dos candidatos para fazerem o que prometem fazer. 

Será sempre assim? Será, porque assim sempre foi. Nunca foi diferente. As redes só organizam “o cadastro” para colocar cada um no seu quadrado e fazer com que gente de quadrado diferente seja combatido. Deram velocidade e efetividade à comunicação. 

A TV e o rádio perderam poder numa campanha? Não, porque, para não perderem, uniram-se às redes, que repercutem as notícias, para dar-lhes a leitura que interessa a cada tribo. O conteúdo que sai da TV e do rádio é triturado na rede, traduzido na língua de cada tribo para produzir as emoções que conquistam o voto. 

Haverá uma nova ressaca em 2022? Quem sabe? Na vida dos mares já é possível prever quando elas acontecerão pela leitura correta da altura das ondas, da meteorologia, da pressão atmosférica, das correntes marítimas e etc. Com os instrumentos corretos, entregues a bons estrategistas, é possível, sim, prever que o mar estará calmo ou turbulento, mas saber quem será levado por ele até a orla é bem difícil. 

O ser humano, ao contrário dos ventos e das ondas do mar, é sempre imprevisível.

Por Jackson Vasconcelos