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Em cartaz: “Vice”

“Vice”, filme em cartaz e candidato ao Oscar, é uma leitura bem-humorada da vida do polêmico e um tanto oculto, Dick Cheney, que foi chefe de gabinete da Casa Branca, secretário de Estado e vice-presidente dos Estados Unidos, quando ocorreu o ataque às Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001. George W. Bush era o presidente.

Dick Cheney contrariou o figurino dos vice-presidentes americanos, por isso mereceu o filme com jeito de documentário não muito comprometido com os fatos reais. Afinal, a vida de Dick Cheney nunca foi um livro aberto e menos ainda algo de fácil leitura.

Visto com o olhar da estratégia, o filme é uma aula. Nele se vê o objetivo definido – a conquista do poder. Percebe-se também a exploração das oportunidades, o aproveitamento das conquistas, o descarte das ameaças e riscos e a leitura correta das perdas e derrotas para não repetí-las.

O primeiro exemplo está no início do filme. A história começa com um Dick Cheney irresponsável, beberrão e chegado à uma baderna. Um jovem apanhado pela polícia por dirigir bêbado.

Uma mulher, Lynne, mais tarde Lynne Cheney, muda a vida do cara. Para convencer Dick, Lynne coloca diante dele um futuro sombrio, construído em cima de uma realidade igual e demonstrada com facilidade: a vida da mãe dela casada com um beberrão violento. E insere um risco no processo de decisão: Dick perdê-la, porque ele deveria ser, para ela, uma oportunidade de ser feliz e não a ameaça de uma vida ruim.  

No livro Ação Humana, do liberal Ludwig Von Mises, há uma lição importante para quem precisa argumentar em favor de uma mudança de vida: o ser humano só muda de posição na vida diante de duas circunstâncias: ter consciência de que a situação em que se encontra é ruim e a certeza ou, pelo menos uma dúvida razoável, de que a mudança será para melhor. Lynne transportou Dick para o futuro numa carruagem onde ele já estava embarcado, mas indicou que outra carruagem poderia existir.

Lynne aparece no papel de uma mulher decisiva para o sucesso do Dick Cheney. Lê-se, com absoluta facilidade, o sucesso de uma estratégia que use o equilíbrio de gênero como elemento fundamental para alcançar o objetivo escolhido. A sensibilidade feminina de Lynne une-se à frieza de Dick para dar os resultados que o filme apresenta. Os governos brasileiros com machos em maioria e em todos os níveis, não pensam do mesmo modo e, por isso, vão de insucesso em insucesso.

Adiante, Dick Cheney aparece no Congresso Americano, na posição equivalente de um estagiário e identifica uma oportunidade de futuro em alguém que discursa: Donald Rumsfeld, estrategista, membro do governo. Donald é, no filme, a pessoa fundamental na construção da personalidade política de Dick. Para aproximar-se de Rumsfeld – objetivo imediato –  Dick coloca no processo um atributo estratégico: a ênfase. Ele ingressa no partido de Rumsfeld, o Partido Republicano. Dick concentrou-se no objetivo e simplificou a rota.

Uma curiosidade: Donald Rumsfeld também recebeu um documentário sobre ele: “The Unknown Known” (O desconhecido conhecido), que também vale assistir. Um dia, comentarei também com o olhar da estratégia. Por enquanto, fiquemos com o Vice.

Duas situações encerram as minhas considerações, mas o filme todo é o uso da ferramenta que facilita bastante o sucesso de projetos e objetivos, em qualquer campo da atividade humana: a estratégia.  

Dick deixou a política, quando Jimmy Carter derrotou Gerald Ford, governo em que ele foi secretário da Defesa. O filme encena o próprio encerramento de forma tão real que um casal colocado na minha frente chegou a se levantar para ir embora do cinema.  É quando ressurgem na tela Dick e Lynne numa vida confortável, razão do trabalho dele como CEO de uma grande empresa.

Caminha-se, então, para o período final do governo de Bill Clinton, ajeitando-se o governador George W. Bush, o filho, para ser candidato a presidente. Dick recebe sinais da possibilidade de ser convidado para estar na chapa como vice. Lynne e ele discutem a possibilidade e não gostam, porque ser vice e ser quase nada dá no mesmo.

Dick, então, recebeu um convite do governador George W. Bush para uma conversa inicial. Ele vai e saí de lá com uma informação estratégica que irá definir os termos do presença dele na chapa: George W. Bush pretendia ser presidente só com o propósito de crescer no conceito do pai, que já tinha sido. Dick passa esse sentimento para Lynne que, mesmo assim, mantém a posição de Dick não aceitar o convite.

Dick volta ao George W. Bush e a conversa é bem interessante aos olhos da estratégia. Faz parte do trailer do filme.

– Quero que você seja meu vice-presidente. Quero você, é meu vice.
– Bem George, eu sou CEO de uma grande empresa. Já fui secretário da Defesa. Já fui chefe de gabinete da Casa Branca. O cargo de vice-presidente é trabalho simbólico. No entanto, se chegarmos a um acordo, será diferente. Você entende? Se eu puder me encarregar dos trabalhos mais mundanos, supervisionando a burocracia, o exército, a energia e a política exterior
– Certo…Gostei da ideia. E então, topa?
– Eu creio que podemos fazer isso funcionar.

Será que um candidato à presidência da República, com uma candidatura que não fosse só um capricho, abriria mão de tanto poder? Bush e Dick são eleitos e nota-se durante o mandato do Dick a presença, quase como um letreiro em segundo plano, a frase que Lyanne diz na parte inicial da carreira do marido: “Quando você tem poder, as pessoas sempre tentam tirar isso de você…sempre”.

A segunda situação, com a qual encerro minha análise está bem presente nos debates políticos no Brasil. Ela nasce no filme com a cena da chegada de Mary, uma das filhas de Dick e Lynne, em casa. Mary, aos prantos conta aos pais que é gay e tinha brigado com a namorada. Notícia ruim para qualquer família naquele tempo e pior ainda para um político conservador. Numa passagem do filme, Lynne, substituindo Dick num comício, se levanta contra as feministas: “Enquanto elas queimam sutiãs, aqui na minha terra, nós usamos. E tem mais, Dick era um dos mais ferrenhos opositores ao reconhecimento do casamento gay”.

Dick reage com absoluta dignidade e respeito pela filha. Lynne, pelo olhar em cena, nem tanto, mas cede. Surge, então, a decisão estratégica de Dick: ele se afasta da política para preservar Mary. Mais à frente, a segunda filha de Dick e Lynne, candidata a deputada, levanta-se contra o casamento gay e contraria a irmã. Os pais também entendem a decisão da segunda filha, Lyz.

A família estruturada fora uma conquista da dupla Dick e Lynne, base do sucesso de todas as demais decisões. Então, que se conservasse. Mais um elemento que conceitua a estratégia.

Vá ver. Vale a pena, mesmo que você não esteja muito interessado em estratégias. O filme é bom e o desempenho do elenco, excepcional.  

Por Jackson Vasconcelos

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Quem precisa de voto tem medo

A eleição do presidente do Senado Federal foi disputadíssima? Aparentemente, sim. Na realidade, não. Era fatura decidida em favor do vencedor, senador Davi Alcolumbre, desde o primeiro momento da sessão. Os olhos de alguém acostumado à construção e análise de estratégias seria capaz de antecipar o resultado, pela ótica das oportunidades e ameaças apresentadas nas imagens transmitidas pela TV Senado.

O senador Renan Calheiros abriu como candidato preferencial. Imbatível, pelo histórico e por pertencer ao partido com maior número de cadeiras no Senado, o MDB. Abriu-se a sessão de posse dos novos senadores e escolha da Mesa Diretora, que conduzirá o Senado nos próximos dois anos, com direito de reeleição por mais dois.

O senador Davi Alcolumbre usou a função de único remanescente da Mesa Diretora a ser substituída, para assumir a presidência da sessão. Ele está na primeira metade do primeiro mandato, que começou em 2015 e terminará em 2023. Na presidência interina, ele empossou os senadores na nova legislatura e abriu a segunda parte da sessão, destinada à eleição da Mesa Diretora.

Neste momento, Renan Calheiros, de muitos mandatos, reeleito e empossado, entrou em desespero com endereço certo: O senador Davi Alcolumbre. As angústias de um homem experimentado indicam risco, ameaças. Ora, com votos suficientes e garantidos para ser o presidente, Calheiros deixaria a sessão correr. No entanto, ele perdeu o autocontrole e enlouqueceu a aliada senadora Kátia Abreu. O Brasil todo e talvez o mundo inteiro, viram do que ela foi capaz para prestar serviços ao colega Renan.  

Davi Alcolumbre permaneceu frio e firme no comando da sessão. Transmitiu a imagem de segurança dos votos que conquistara na campanha. Vários senadores, de público, registraram a visita que receberam dele nos estados à busca do voto.  Alcolumbre, ainda presidindo a sessão, à deliberação do plenário a eleição por voto aberto. Venceu com o voto de 52 dos 81 senadores. Está dado outro sinal de vitória antecipada.

Novamente, Renan Calheiros perdeu as estribeiras e correu para o STF, com o intuito de anular a decisão do plenário. Ele conseguiu uma liminar do presidente do Tribunal e um reforço para a imagem de homem desesperado. A votação teve início, com senadores, sem receio, declarando o voto para constranger quem não declarasse. Alguém, então, fraudou o processo.

O senador Renan Calheiros precisaria de mais tempo para amedrontar os colegas com a decisão do presidente do STF. Mas, a Mesa, já sob a presidência do senador mais idoso, como manda a regra, decidiu anular a votação e, imediatamente, partir para a próxima. O tempo que Renan queria pra si, ele, na verdade, entregou ao povo, que reforçou a pressão sobre os senadores que insistiram, na primeira votação, em manter o sigilo do voto.

Xeque-Mate. O povo conseguiu.

Em que momento o senador Renan Calheiros perdeu a disputa? No momento em que o povo brasileiro entendeu que é possível sim pressionar e levar. Quem precisa de voto tem medo.

Por Jackson Vasconcelos

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Mentira tem perna curta?

Sugiro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, livro que tem como autor um time de 14 pesquisadores coordenados pelo Al Franken, mestre da sátira política americana. A obra, de 2004, confronta os profissionais da imprensa com as inverdades que constroem para participarem da vida política, tentando o papel de ator principal.

Eu deveria ter feito a sugestão de leitura no tempo das campanhas  eleitorais de 2018, porque elas foram a representação brasileira da obra. Mas, de certo modo continuam sendo, porque os governos eleitos ainda permanecem em campanha e a imprensa faz o mesmo.

O livro age parecido com o que se tenta fazer por aqui com a agência Lupa: checar as informações veiculadas pelos candidatos e mídia.

O livro tem lado político e a agência Lupa claudicou na campanha de 2018, porque adotou a mesma postura.

Já nas primeiras páginas, o livro é bom e engraçado. Ann Coulter, colunista famosa de diversos jornais importantes dos EUA, advogada, mereceu um capítulo do livro. O autor comenta um dos livros escritos pela Ann. Vamos lá:

“Para sustentar sua afirmação de que a grande mídia está nas mãos de esquerdistas, Coulter afirma que o chefe da sucursal da Newsweek em Washington, Evan Thomas, é filho de Norman Thomas, um candidato socialista à presidência em quatro ocasiões. Norman Thomas foi candidato socialista seis vezes… e não era pai de Evan Thomas”.

“Para ser justo com Coulter, esse tipo de pesquisa é difícil de fazer”. Al Franken, simplesmente, ligou para Evan Thomas, e transcreve o telefonema no livro:

– Evan, obrigado por atender à minha ligação.
– Tudo bem, Al. O que deseja?
– Norman Thomas foi seu pai?
– Não.
– Tem certeza?
– Sim.
– E como era o nome do seu pai?
– Evan Thomas. Eu sou Junior
– Ah! E seu pai, Evan Thomas, foi candidato à presidência?
– Não. Ele era editor.
– Tem certeza?
– Sim. Al, isso tem a ver com aquela coisa da Ann Coulter?
– Sim.
– Ouvi falar nisso. Há alguma coisa errada com ela?

É o não é assim, por aqui? A imprensa brasileira não confere, nem pergunta, simplesmente, afirma e quando pergunta, não considera as respostas, a não ser para apresentá-las ao distinto público como deboche.

O livro vale como instrumento de elaboração de estratégias de comunicação para campanhas. Em especial, o capítulo 15: A turma do ‘culpe primeiro o ex-presidente americano’, referindo-se ao 11 de setembro e ao ex-presidente Clinton. Não se culpe, nem se lamente, se no correr da leitura você lembrar do Jornal Nacional, e das imagens do William Bonner e da Ana Paula.

Boa leitura.

Por Jackson Vasconcelos

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A coerência não autoriza irresponsabilidade

Tudo o que diz e faz o presidente Jair Bolsonaro e a família dele pega fogo, pela personalidade incendiária deles e dos adversários. Assim aconteceu com uma frase postada pelo presidente no Twitter, quando o deputado federal Jean Wyllys comunicou a decisão de não retornar ao Brasil após as férias, para assumir um novo mandato de deputado federal.

Criticado, o presidente avisou que não fez referência à decisão do deputado e é mesmo possível, que não tenha feito. Mas, as circunstâncias de relacionamento entre os dois e a personalidade irônica do presidente autorizaram os comentaristas.  

O episódio torna relevante uma questão útil para a estratégia de comunicação neste tempo de quase absoluta transparência. Ela diz que não se deve esperar dos políticos o jeito tradicional de esconder o que pensam ou de evitar as polêmicas, porque os eleitores estão exigentes no quesito coerência. Nisso Jair Bolsonaro se enquadra. O presidente é a configuração exata do cidadão Jair Bolsonaro. Mas, até que ponto essa relação deve permanecer assim?

A estratégia examina o cenário e responde: “Sempre!”. Houve tempo mais fácil para as situações em que as imagens dos políticos não correspondiam à realidade. Hoje é demolidor. O que não quer dizer que o presidente da República está autorizado a agir ou falar por impulso. Ele, mais do que o cidadão comum, precisa refletir e organizar atitudes e palavras, para não precisar se desculpar ou desfazer.

As palavras de um presidente e de um líder levam as pessoas e as empresas a tomarem decisões que, no mundo moderno, são velozes. Isso gera custo. Imagine o que é ter um presidente ou um líder que decida ou fale em zigue-zague.

Jair Bolsonaro é o presidente da república e o que ele diz tem peso de decisão na vida das pessoas, das empresas, e significa muito para a imagem dele como líder de uma nação. E um líder tem necessidade de imagem positiva para o sucesso dos projetos que abraça.

Está bem pertinho de nós ainda o exemplo do ex-presidente Michel Temer. Com um tiquinho de imagem positiva, conquistada no confronto com a imagem extremamente negativa da ex-presidente Dilma (imagem não é valor absoluto), ele conseguiu realizar algumas proezas. Outras não fez, porque Joesley Batista, numa jogada negociada com o Ministério Público Federal,  gravou a conversa que teve com ele no porão do Palácio do Jaburu.

A questão para um presidente ou líder não está no falar ou agir do modo como age ou fala naturalmente, mas no modo como faz e com que propósito faz e diz, para não ter a obrigação de desdizer ou desmentir. O reconhecer um erro é ato humilde, mas produz um prejuízo enorme. É como pisar no calo de alguém: dói e nenhum pedido de desculpas do mundo alivia a dor.

Por Jackson Vasconcelos

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Dario tem um recado para Flavio Bolsonaro

Luis Maurício e Pedro Augusto, netos de Carlos Drummond de Andrade, reuniram textos do avô sobre as Copas do Mundo, de 1954 a 1986 – última dele com vida. Publicaram em 2014, pela Companhia das Letras, com o título “Quando é Dia de Futebol”.

De uma das minhas estantes, a obra andou a me provocar desde meu aniversário de 2017, quando a recebi de presente e lá a coloquei. A espera foi uma grande besteira minha. O livro é magnífico, não só por ser Drummond, mas pela maneira como foi composto pelos netos dele. É futebol na veia, escrito e vivido de um modo que não se tem mais no Brasil, e política, de um jeito que ainda teimamos ter.  

A Copa de 1954 está na abertura, com a frase: “O mérito da derrota consiste em isentar o derrotado de qualquer responsabilidade de vitória”. A frase foi para o resultado da Copa daquele ano, mas cabe como uma luva na eleição do ano passado. No mesmo artigo há outra passagem que me arrancou risos por uma história pessoal e por isso sacrifiquei-a com os meus marcadores de texto:

“Somos fluminenses ou vascos pela necessidade de optar, como somos liberais, socialistas ou reacionários. Apenas, se não é rara a mudança do indivíduo para outro partido, nunca se viu, que eu saiba, torcedor de um clube abandoná-lo em favor de outro”.

Na Copa de 58, o Brasil foi campeão. Drummond comemorou a vitória com “Celebremos”, onde há uma passagem muito atual:

“Não me venham insinuar que o futebol é o único motivo nacional de euforia e que com ele nos consolamos da ineficiência ou da inaptidão nos setores práticos. Essa vitória no estádio tem precisamente o encanto de abrir os olhos de muita gente para as discutidas e negadas capacidades brasileiras de organização, de persistência, de resistência, de espírito associativo e de técnica. Indica valores morais e eugênicos, saúde de corpo e de espírito, poder de adaptação e de superação. Não se trata de esconder nossas carências, mas de mostrar como vêm sendo corrigidas, como se temperam com virtualidades que a educação irá desvendando, e de assinalar o avanço imenso que nossa gente vai alcançando na descoberta de si mesma”.

Em 62, o Brasil conquistou o bicampeonato. João Goulart era Presidente da República de um parlamentarismo de ocasião e andava preocupado com a escolha de ministros. Drummond escreveu “Seleção de Ouro” que, pela qualidade dos atuais jogadores da seleção brasileira, não se pode atualizar.

“Este bi veio na hora H”, escreveu Drummond. “Os políticos procuram um rumo para a nação e não o encontram, ou querem encontrá-lo fora do lugar. A mudança do gabinete, que devia ser caso de rotina, assumiu ares de problema grave, e ninguém sabe como compor a nova equipe dirigente. Ninguém? É exagero. Modestamente vos proponho a equipe ideal, que não é nem pode ser outra senão a equipe detentora da Taça Jules Rimet. O Correio da Manhã pediu um time de ministros tão bem selecionado como o time de futebol; é o próprio…”. E Drummond lista jogadores e posição que cada um poderia ocupar no ministério. Hoje, seguramente, Drummond não correria o risco. Drummond não viveu para sofrer o vexame do 7×1, nem as vergonhas de 2018.

Quem começa a leitura não encerra antes do ponto final da obra toda, que termina com o posfácio do Juca Kfouri: “As palavras mais sublimes do futebol”.

É impossível destacar os melhores momentos de uma obra magnífica. “No Elevador”, é fantástico. Conta a vida de um ascensorista vascaíno. ‘Falou e disse” faz um tratado da frase famosa do Dario, “Não me venha com problemáticas, pois tenho solucionáticas”. Boa colocação que podemos apresentar, como lição de vida prática, ao nobre senador Flávio Bolsonaro, que anda por aí cheio de problemáticas.

“Parlamento da Rua”, é o retrato das discussões estéreis do futebol, como têm sido os debates nos parlamentos do Brasil todo, com a imprensa a ocupar o lugar do espírito de porco, “símbolo de individualismo renitente”. “O latim está vivo” é artigo de humor puro.

No livro há Pelé: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, com Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Há Garrincha, Tostão, Zagallo, Didi, Rivelino. Mas, há também Maluf no “Entre Céu e Terra, a bola”. Escreveu Drummond sobre Maluf: “O dr. Maluf presume-se jogador de qualquer posição, capaz até de, como goleiro, fazer gol ao devolver a bola, mas uma sólida marcação pode travar-lhe o ímpeto”. Demorou, mas travou.

E há Jânio, que “deixou de ser confiável ao abandonar o campo nos primeiros minutos do jogo”. Há também generais, pré-candidatos, que embolarão o meio-campo no afã de ocuparem a mesma área, que não dá para todos”. Uau! Serve bem para o que andam fazendo os generais no governo Bolsonaro!

Encerro, com a observação de Drummond sobre os juízes de futebol, que também tem bom espaço no que anda a acontecer com a política hoje: “A imparcialidade do juiz é um virtude que desejaríamos se voltasse para o nosso lado”.

Leiam. Vocês adorarão, com certeza.

Por Jackson Vasconcelos

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Entrevista do Ministro Sérgio Moro

O Ministro Sérgio Moro saiu-se muito bem na entrevista que concedeu ao Jornal das 10 da Globo News, presentes os jornalistas Heraldo Pereira, Andréia Sadi, Gerson Camarotti, Cristiana Lôbo e Merval Pereira. A primeira imagem do programa passou tensão na fisionomia do Ministro, situação que se desfez, com rapidez, já na primeira palavra dele. Ele cumprimentou todos os jornalistas, um a um, pelo nome, atitude inteligente de aproximação.

Os ensinadores de postura diriam que o Ministro esteve mal colocado na cadeira, porque encostado passando a ideia de tranquilidade. Eu já acho que a postura ajudou a descontrair o ambiente.

A chamada na internet deu ênfase ao tema que teve menor relevância em toda a entrevista, a flexibilização do porte de armas: “Moro diz que não há movimento para flexibilizar porte de armas”.

O assunto mais relevante, pela novidade que apresentou e pelas circunstâncias ocorridas no Ceará foi sobre o Sistema Prisional. Moro reafirmou a criação da Diretoria de Inteligência no âmbito prisional. Resposta concreta com perspectiva de bons resultados para a situação mais aflitiva no momento da entrevista.

Moro aproveitou as respostas a algumas questões para esclarecer os boatos que as mídias sociais e mesmo a imprensa criam vez por outra. A primeira situação surgiu quando o Ministro falou sobre o caso Cesare Battisti:

“Havia… Eu, particularmente, desejaria que ele tivesse vindo ao Brasil primeiro, para depois ser enviado para a Itália… Não porque, como foi dito por aí, por alguns, que seria um troféu… Não tinha nenhuma perspectiva disso, mas seria uma forma de o Brasil demonstrar que não seria mais um refúgio para criminosos de qualquer natureza, especialmente, por questões político-partidárias. Mas, tendo sido optado por outro caminho não teve nenhum problema quanto a isso…”. Ao longo da entrevista, houve ocorrências semelhantes, quando o Ministro aproveitou para alfinetar os boatos.

O caso Queiroz, evidentemente, entrou na pauta. Sérgio Moro deu tratamento técnico ao caso alertando que o ambiente correto para dele tratar é o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que investiga. Deu uma estocada nos ministros da Justiça que assumiam o papel de defensores de presidentes, o que levou o subconsciente dos ouvintes para o ex-ministro José Eduardo Cardozo que assumiu o papel de advogado de defesa da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para sair do caso Queiroz, uma vez que o ministro venceu a pauta, a jornalista Cristiana Lobo fez uma pergunta confusa sobre as atribuições do ministro na relação com o currículo dele.

Eraldo Pereira: “O senhor não deveria ter ido ao Ceará?” Ele, com segurança e elegância respondeu dizendo que fez o que deveria ter feito para devolver a normalidade.

Quando trataram da questão prisional, os jornalistas tentaram colocar o Ministro em saia justa com a lotação dos presídios e maus tratos. Ele, com tranquilidade levou o tema para o questão dos indultos e saiu-se muito bem.

Vale assistir!

Por Jackson Vasconcelos

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Mente na posse ou na campanha?

O que se pode esperar do discurso de posse de um presidente da república? Em que bases ele deve ser construído? Li o que consegui ler e ouvi o que consegui ouvir dos comentários sobre os dois discursos que fez o presidente Jair Bolsonaro no dia da posse. O primeiro, no plenário do Congresso Nacional. O segundo, no parlatório do Palácio do Planalto.

O Estadão se pronunciou em editorial, “A posse de Bolsonaro” com produtos do teclado da jornalista Vera Magalhães. A Folha de São Paulo participou com “Retórica da posse” e com as letras do Ricardo Balthazar, com “Bolsonaro rompe tradição ao ignorar desigualdade do país”. O Globo chegou com o velho hábito de dar uma no cravo e outra na ferradura. No cravo, quando fez meio elogio com “Acenos positivos ao entendimento e ao fim das divisões” e na pena do imortal Merval Pereira com “Duas Vozes”. Na ferradura, criticou os dois discursos com os artigos de Bernardo Mello Franco e Miriam Leitão.

Não fui ainda às páginas das revistas semanais. Mas, ontem, ao retornar de Teresópolis, ouvi Dora Kramer na Band News e alguns outros comentaristas que não consegui identificar, por precisar prestar mais atenção ao que acontecia em torno de mim na estrada. Na Band, Dora e todos os demais criticaram o presidente.

Em todos os veículos que visitei, tanto os críticos como os concordantes curvaram-se à iniciativa da primeira dama, Michelle Bolsonaro que, no parlatório, discursou antes do presidente, em linguagem de libras, interpretada por uma mulher, que a imprensa não nominou, mas qualificou como assessora. Os críticos foram unânimes: “o presidente permanece no palanque!” .

Minha praia é a estratégia, que precisa estar em todas as decisões, principalmente, na comunicação. Daí, eu pergunto: deveria o presidente na posse, falar para o regalo dos jornalistas e comentaristas ou reafirmar ao povo que o elegeu os compromissos que assumiu com ele?

Olhando da areia da minha praia, eu afirmo: o presidente acertou. A posse é o momento do encontro dos eleitores com os eleitos. É o grito mais alto de vitória. Não é hora dedicada aos jornalistas, nem aos políticos, nem aos críticos ou comentaristas. É hora sagrada na relação dos eleitos com os eleitores.

Mais a mais, que discurso poderia fazer o presidente Jair Bolsonaro para ser elogiado pelos comentaristas e críticos? Eles aceitariam bem na fala do presidente, o que cobram na crítica? Algo do tipo: “o que eu falei na campanha, só valeu para a campanha”.

O que esperavam a imprensa e os contrários? Que Jair Bolsonaro tivesse um discurso na campanha e outro no mandato. E se ele fizesse isso? Imaginem o que aconteceria!

A estratégia de comunicação do Presidente surpreendeu na campanha e surpreendeu na posse. Surpreendeu a imprensa, mas agradou os eleitores. Então, venceu!

Por Jackson Vasconcelos

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Do jeitinho que o diabo quer

Para decretar intervenção no Estado do Rio de Janeiro e não ferir o companheiro Pezão, o presidente da República, Michel Temer, inventou a intervenção de malandragem. Ele não nomeou um interventor e deixou que Pezão permanecesse no cargo. Pezão foi preso hoje.

No tempo do segundo impeachment, o Senado Federal, amparado no presidente do Supremo Tribunal Federal, inventou o impeachment de malandragem. Afastou a Dilma Rousseff da presidência da República, mas colocou uma vírgula que não tinha no texto constitucional para permitir que ela fosse candidata ao que quisesse. Ela foi e perdeu, porque o povo não engoliu a conversa-fiada de golpe. E, coisa recente, Dilma aparece denunciada na Lava-Jato, pelas razões que justificaram a prisão do Lula. Então, quem sabe?

O PT deu todos os jeitinhos que podia dar para Lula ser candidato e, se não fosse, ser eleito mesmo assim. O povo entendeu o jogo e deu xeque-mate no Lula.

Tem pouquinho tempo que os ministros do Supremo Tribunal Federal deram um jeitinho para aumentar os salários próprios e tentam outro jeitinho para tirar da cadeia uma porção de ladrões, que passou a vida a acreditar que os jeitinhos com a lei e com a Justiça seriam salvos-condutos para a arte de roubar. Muitos acreditaram nisso e sobreviveram, é bom que se diga, até que o povo cansou.

Cabral, Lula, Pezão e todos os amigos deles e quem sabe daqui a pouco a Dilma, devem estar se convencendo que o diabo existe e tem um jeitinho todo próprio para convencer os que ele apanha pelo caminho. John Milton, no poema “Paraíso Perdido”, diz que o diabo, para justificar o exílio, avisou aos discípulos: “Eu prefiro reinar no inferno do que servir no paraíso”.

Só que, meus caros, no inferno só um reina e não tem jeitinho que resolva a vida daqueles que querem tomar-lhe o lugar.

Por Jackson Vasconcelos

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Diante do espelho

Quem trabalha com estratégia descarta a intuição? Se fizer isso, errará muito. Mas, para não descartar e, ao contrário, trabalhar a intuição como elemento de estratégia, precisa entender o que ela é, exatamente.

Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, autor de “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”, pode ajudar. Logo na introdução à obra ele afirma:

“A psicologia da intuição precisa não envolve mágica alguma. Talvez a melhor declaração sucinta sobre ela seja a do grande Herbert Simon, que estudou mestres enxadristas e mostrou que após milhares de horas praticando eles passam a ver as peças no tabuleiro de modo diferente do resto de nós. Podemos sentir a falta de paciência de Simon com a mitificação da intuição especializada quando escreve: A situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada em sua memória, e a informação fornece a resposta. Intuição não é nada mais, nada menos que reconhecimento”.

Ou seja, a intuição não é adivinhação mística, não é o “eu acho isso ou acho aquilo”, situação bem comum aos pedantes. Para ser intuição, um ato ou decisão precisa estar revestida com a experiência. Algo como: “Eu já vi isso antes”; “Já senti esse cheiro”, ou coisa parecida, que liga, num estalo, o processo de decisão.

Numa campanha eleitoral a intuição poderá produzir boas decisões, para situações que dependem de decisões rápidas. Numa campanha eleitoral, os experientes, depois de tanto praticarem, olham as peças no tabuleiro de modo diferente do resto das pessoas. Por intuição, sabem quando um candidato pode ir bem ou pode quebrar a cara.

A minha intuição diz que quando a imagem do candidato difere daquilo que ele é na realidade, a chance de ele ser um dia descoberto e decepcionar é enorme. Collor, Jânio e há outros exemplos por aí.

Diante do espelho, mas longe dele, as rugas não aparecem. À medida que o personagem se aproxima, aí começa a ter problemas.

Por Jackson Vasconcelos