Publicado em

A DEMOCRACIA CONVENIENTE

Jackson.  09 de setembro de 2024

O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou à Avenida Paulista, em 7 de setembro, com o propósito de sempre queixar-se do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, dando ao evento o apelido de ato em defesa da democracia. Jair Bolsonaro discursava quando alguém, ao longe, provavelmente na mesma avenida, começou a gritar palavras de ordem. Jair Bolsonaro bradou: “Se for possível parar esse som, a gente agradece, ou então eu peço para alguém sabotar; arrancar o cabo da bateria desse carro. Se esse picareta quiser fazer um evento, anuncie, convoque o povo e faça. Não atrapalhe pessoas que estão lutando por algo muito sério em nosso país.”

O “chato” continuou. Jair Bolsonaro também: “Desculpe. Eu não sou o governador, mas eu peço a PM: arranquem o cabo da bateria desse carro. Essa é uma atitude canalha. Vagabundo, que não tem compromisso com o seu país. Quer fazer política, vá fazer em outro lugar”. O cara não parou. Jair Bolsonaro afastou o microfone para dizer: “É foda, cara, é foda!” Ao lado dele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, falava ao telefone, certamente, homologando o comando antecipado pelo ex-presidente.

Moral da história: Para bastante gente, a democracia ideal é a democracia sem o contraditório. Mas, nisso, esbarramos numa questão: é certo definir como democracia um regime onde não se autoriza o contraditório?

Publicado em

APOSTO NA POLÍTICA.

21.05.2024

Google proibiu que campanhas políticas sejam impulsionadas pela ferramenta de anúncios Google Ads, o que implica também a suspensão da distribuição paga de conteúdos postados no Youtube. Essa é a resposta do Google às imposições da Justiça Eleitoral, uma delas, a obrigação das plataformas de manter um banco de dados com os conteúdos impulsionados pelos candidatos e partidos políticos.  As normas demonstram, uma vez mais, o grau de desprezo da Justiça Eleitoral pela política, representado pelas restrições à liberdade para se fazer campanhas eleitorais. 

Em razão desse sentimento dos magistrados e correlatos, tenho recebido sugestões para retirar toda a menção à política dos espaços onde publico conteúdos. Jamais farei isso, pois é preciso insistir na defesa da política, tanto quanto se faz a defesa da democracia, uma vez que a política é o único instrumento à disposição do ser humano capaz de tornar possível a convivência pacífica entre as pessoas. Por abolir a política, a raça humana torna-se cada vez mais um conjunto de bestas-feras, fato comprovado pela radicalização e fanatismo. 

É o caso de se perguntar: “É possível uma democracia sem política?” É, e essa situação está representada no populismo. Portanto, quando se toma a abominação à política por parte de quem diz defender a democracia com unhas e dentes e com todos os argumentos disponíveis, inclusive, o uso da força, fica-se com o sentimento de que, para essas pessoas, o populismo é bem-vindo. Ocorre que os populistas apegam-se ao poder a ponto de impedir o revezamento, a alternância, elemento essencial para definir a democracia. 

Quem por aqui anda a defender a democracia com o mesmo furor com que combate a política deveria ler com especial atenção, numa leitura compassada e anotada, o livro do filósofo basco, Daniel Innerarity, “A Política em tempos de indignação – A Frustração popular e os riscos para a democracia”. Como aperitivo, deixo aqui o registro da parte final do capítulo “A Condição Política”: “ O sucesso e o fracasso não são algo absoluto…O horizonte a partir do qual se avalia o sucesso ou o fracasso é diferente porque aquilo que é politicamente possível em cada momento está em constante mutação. Além disso, o êxito não é determinado pelos resultados imediatos; há muitos exemplos de derrotas que foram vitórias no longo prazo, do mesmo modo que há demissões que são, implicitamente, uma vitória. Claro que faz parte da arte da política intuir um estado de opinião do eleitorado, antecipar-se e corresponder ‘às suas expectativas, mas isso não basta para definir, com suficiência, uma política bem-sucedida, já que nesse caso o seu melhor exemplo seria o populista com menos escrúpulos. O sucesso na política e o sucesso político não são, necessariamente, idênticos. 

Numa sociedade estão sendo feitos, constantemente, juízos políticos no curto prazo (pesquisas, opinião nos meios de comunicação, eleições, etc.), mas cada uma dessas avaliações tem um prazo de validade próprio. As avaliações potencialmente duradouras exigem certo distanciamento. Aquilo que parece um êxito visto de perto pode ser um fracasso contemplado a partir de longe. (…) A agitação midiática, o ciclo eleitoral e o juízo da história são regidos por registros temporais diferentes e é quase impossível jogar bem em todos os terrenos. Aos grandes assuntos políticos, apenas a posteridade é que pode julgá-los com rigor, algo que sem dúvida deixará insatisfeito o político que os cidadão julgaram, pensa ele, com muito rigor…O que mostra bem que a política é uma tarefa tão difícil quanto pouco rigorosa.”

Publicado em

CADÊ O SIVAM? 

20.05.2024

Está na primeira página do Estadão de ontem: “Amazônia tem onda de saques a embarcações por “piratas de rio”. R$100 milhões é o prejuízo anual causado pelos piratas ao transporte de cargas no Rio Amazonas, diz o Instituto de Combustível Legal”. A matéria cita a atuação de duas facções, uma local e o Comando Vermelho, quando a cocaína entra na pauta. A matéria cita o uso de tecnologias contra o crime, inclusive, uma desenvolvida por Elon Musk, celebridade desses tempos de polarização. O Brasil é mesmo um hospício fiscal: torram fortunas com um projeto de monitoramento da Amazônia, aprovado com fortes polêmicas, e não se tem notícias dele, nem nas queimadas, nem agora na pirataria. O Sivam deve ter a mesma utilidade que têm as câmeras nas cidades: divertimento para os usuários da internet. Os agentes de segurança pública 

ODEIAM investigação, pois dá trabalho e queima a cabeça.

Publicado em

ELES SÃO UNS INTROMETIDOS. 

18.05.2024 

Os agentes do Estado Brasileiro, eleitos, concursados ou nomeados por apadrinhamento, acreditam saber mais do que as outras pessoas, o que é melhor para elas. Eis mais um exemplo: 

O Ministro Paulo Pimenta, agora Ministro Extraordinário,  informou ao distinto público em entrevista à TV (Record): 

“Senhor e senhora que está lá no abrigo me ouvindo agora: Sua casa está debaixo d’água e a senhora sabe que não vai voltar para lã. Tem gente que quer voltar e reformar a casa. A gente tem que considerar também essa hipótese. Ele vai encontrar o imóvel. Não precisa ser na cidade em que ele está.  Nós vamos comprar esse imóvel pra ele. Segunda situação. Nós vamos comprar todos os imóveis – PRESTA ATENÇÃO, SAMUEL – que estão a leilão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal e que estão desocupados…O Governo Federal vai comprar todos os imóveis que estão em leilão. E vamos colocar eles nesse programa.”  

Vejam que não passa por eles a possibilidade – nem de longe – de devolverem às vítimas o que elas pagaram de impostos ao governo federal ou deverão pagar nos próximos anos, para que elas, por si mesmas, resolvam onde e como morar.

Publicado em

NO DIA EM QUE DEUS SE ARREPENDEU…

Domingo de Páscoa de 2024. 

“Viu o Senhor  que a maldade do ser humano se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, arrependeu-se o Senhor de ter feio o ser humano na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e os animais…( Gênesis 6:5). Por Noé existir, Deus resolveu, com Moisés começar de novo. 

Um segundo de meditação, de pouca atenção que seja com os fatos criados pela humanidade é suficiente para entender a razão do arrependimento de Deus. 

Alexei Navalni, opositor de Putin, assassinado pelo tirano, declarou diante do tribunal o condenou: “Deus lhes deu a vida e é assim que vocês escolhem vivê-la?”

Não há tiranos sem a ajuda dos covardes que cumprem as suas ordens. 

Na sexta, no sábado e no domingo, falou-se sobre a cruz em que Cristo foi crucificado, ferido e morto, depois de ser esvaziado de todo o sangue e ser exposto aos escárnios da multidão que o condenou. 

Deus, claramente, desistiu de fazer desaparecer a humanidade da face da terra. Ele deixou a tarefa com o próprio ser humano, que tem feito uma obra irretocável a começar pela criação do Estado, lugar onde os tiranos estão abrigados, protegidos pelos covardes. 

Publicado em

A OMISSÃO. 

19 de março 2024. 

“Todo poder emana do povo e em nome dele será exercido, diretamente ou através de seus representantes, nos termos desta Constituição”. Isso está posto no parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal. Mas, há quem diga que no Brasil o exercício do poder não se dá desse modo nem por essa gente. Discordo. 

O voto é o instrumento principal para o exercício do poder, seja diretamente, seja pela escolha de representantes. Na última eleição para Presidente da República, 118 milhões de eleitores votaram. Eu posso, então, afirmar que exerceram o poder – agiram para exercer o poder. No entanto, 31 milhões não votaram. Não deram as caras na zona eleitoral. Esses exercerão o poder por omissão deliberada. Naquele eleição, dois candidatos foram ao segundo turno, Lula e Bolsonaro. Lula venceu pois obteve 2 milhões de votos a mais. O resultado seria o mesmo se os 31 milhões de omissos tivessem votado? É possível. 

Estamos a caminho de mais uma eleição, agora para escolher vereadores e prefeitos. Novamente, o povo exercerá o poder, alguns por ação outros por omissão. Os resultados obtidos serão, portanto, fruto da decisão de todos. Tanto dos que agirão como dos que irão se omitir. 

Publicado em

PESQUISAR O ÓBVIO PARA CRIAR FAKE NEWS. 

01.03.2024. 

O Sistema Globo calculou 185 mil pessoas, o Governo do Estado de São Paulo chegou aos 850 mil presentes. O Estadão, a Folha de São Paulo e outros adivinhadores apresentaram cálculos diversos sobre o evento ocorrido no domingo passado em São Paulo, na Avenida Paulista. 

Mas lamento dizer que a quantidade exata de pessoas não tem importância, pois quando a gente fala sobre disputas políticas, vale a imagem, a percepção e jamais a realidade. Eis aí uma lição da estratégia de comunicação. Isso dito, fica claro que a imagem apresentada do evento mostrou um número quase infinito de pessoas na Avenida Paulista, gente que compôs num campo vestido de verde e amarelo. 

Jair Bolsonaro, o astro, o mito, o cara, o doido, o marido de Michele, pai do destrambelhado Carlos, fez um discurso ameno e pediu pacificação. Vejam vocês! É possível que até ele, mestre de confusões, tenha se cansado das brigas. Será? Na linha da pacificação, Jair Bolsonaro pediu que o Congresso Nacional anistie os brasileiros punidos pela Suprema (com todo o poder que tem a palavra) Corte, por terem participado da mobilização de 8 de janeiro do ano passado. 

Após o evento na Paulista, o Instituto de Pesquisa Genial Quaest entregou à imprensa uma pesquisa com a avaliação de 2 mil pessoas sobre o acontecimento. Duas mil pessoas residentes em 120 cidades. O que diz a pesquisa? Vamos lá. Prepare o seu espírito para algo curioso. 

  1. Você acha que a manifestação foi grande, média ou pequena? 46% dos eleitores do Lula acharam-na grande e 13% pequena. E os eleitores do Bolsonaro, hein? 89% disseram que ela foi grande. Nossa! 
  2. A manifestação esteve dentro dos limites da lei? 51% dos eleitores do Lula disseram não. 87% dos eleitores do Bolsonaro disseram sim. 

Tem mais. Calma! 

  1. Bolsonaro está sofrendo uma perseguição? 75% dos eleitores do Lula disseram que sim, mas 72% dos eleitores do Bolsonaro disseram que não. Que novidade, hein? 
  2. Seria justo ou injusto prender Bolsonaro? Adivinhem o que deu. 79% dos eleitores do Lula acham justo, mas 82% dos eleitores do Bolsonaro acham injusto. 

Só mais uma para não encher a paciência de vocês. Vamos lá: 

  1. A Justiça acertou ou errou ao tornar Bolsonaro inelegível? A turma do Lula: acertou! Os eleitores do Bolsonaro: errou!

Apurou-se o óbvio, para se oferecer à imprensa assuntos para ocupar a pauta. O noticiário concluiu: “Metade dos brasileiros defende a prisão de Bolsonaro” (Revista Veja). “Para 47%, Bolsonaro participou de plano de golpe e 40% acham que não”. 

Cabe lembrar que Lula venceu a eleição com 50,9% dos votos. Jair Bolsonaro obteve 49,10%. Precisa dizer mais? Por isso, é preciso cuidado quando se lê pesquisas e notícias, para que não se seja enganado. 

Publicado em

O “CARA” É UM SÁDICO IMBECIL. 

19.02.2024. 

No encontro dos países do G-20 em 2017, Barack Obama, naquele tempo, presidente dos Estados Unidos, referiu-se a Lula, presidente do Brasil, numa roda de chefes de Estado, do seguinte modo: “Esse é o cara! Eu adoro esse cara! Ele é o político mais popular da Terra”. Lembrei-me da passagem, quando me deparei, hoje, com a declaração desse “cara” sobre Gaza, Genocídio, Hitler e Judeus. 

Pedi socorro ao escritor Amós Oz. Ele disse, na palestra que fez na manhã do dia seguinte aos ataques terroristas em Paris, no ano de 2015: “Tenho mantido uma discussão amarga com um compatriota muito famoso e meu correligionário judeu, Jesus Cristo, que diz: “Perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem”. Às vezes concordo com a primeira parte da sentença, a parte do perdão, mas eu rejeito energicamente a segunda parte, que implica que devamos ser todos, ou a maioria de nós, perdoamos porque somos moralmente imbecis. Não somos. Sabemos o que significa a dor. Sabemos que é errado infringir a dor. Toda e cada vez que infligimos dor aos outros, sabemos o que estamos fazendo”. 

Lamentavelmente, o “cara”, razão do apreço do Presidente Obama é hoje, comprovadamente um imbecil sádico. Em que ponto da história do Lula se deu a transformação? 

Publicado em

A DEMOCRACIA E O GOLPE. 

Carnaval de 2024. 

O último capítulo do livro “Sexta-feira, 13 – os últimos dias do governo João Goulart”, o autor Abelardo Jurema, Ministro da Justiça de Goulart, dedicou ao que ele chamou de Diálogos. Reproduzo o trecho que define a democracia. 

Palavras do Ministro Jurema:

A Democracia que, na sua essência, vive da convivência dos contrários, jamais poderá subsistir no monólogo que a definhará até a morte. Sua consistência se apura no debate, na controvérsia, no entrechoque das teses e ideias. Qualquer outra modalidade que se lhe aplique, não apenas porá em curso o processo de distorção do seu conteúdo moral e político, como se alterará toda a sua significação através da história da humanidade. Toda a sua história é de lutas, de sangue, de sacrifícios, de suor e lágrimas. 

Por isso mesmo é que grandes vultos, na história de todos os povos, que surgiram para salvá-la, no delírio do Poder se perderam, e, ainda em seu nome, por algum tempo a exerceram, deformada e deturpada, até à queda fatal. Há monumentos, nas praças públicas, de reconhecimento pelo que representaram nas lutas libertárias, mas nunca pelo que praticaram do alto, pensando, sem dúvida, em servi-la”. 

Publicado em

CAMPEONATO TRAGICÔMICO. 

Começou o Campeonato Carioca de Futebol, um evento sem sentido para o esporte. Todos os anos, os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro, Fluminense, Flamengo, Vasco e Botafogo, disputam o título entre eles, mas obrigados a entrar em campo contra clubes sem expressão, que existem, exclusivamente, para manter o poder na Federação nas mãos do feudo político, hoje – e desde de 2006 – representado pelo senhor Rubem Lopes. A Federação existe há 45 anos e em todo esse tempo só três homens passaram pela presidência e nenhum deles tem vínculo anterior com o futebol. 

Quando os quatro grandes clubes jogam contra os “sem expressão”, gastam dinheiro, colocam em risco o preparo físico de seus jogadores e ainda se aborrecem com as bizarrices patrocinadas pelo presidente da Federação. Tudo em razão de vaidades. Cá entre nós, qual o sentido de manter um campeonato disputado, hoje, por nove clubes, quando se sabe, antecipadamente, que só quatro são competitivos. E, olha que, fora os quatro maiores, 23 outros clubes já participaram do campeonato carioca. Bangu foi campeão em 1966 e nunca mais. O América acumulou sete vitórias, a última delas, em 1960. A Federação nem existia. Ela foi criada em 1976. 

Vi de perto, de bem perto, como funciona essa geringonça e lutei contra ela. Do final do ano de 2010 a abril ou maio de 2013, fui Diretor-Executivo do Fluminense. Misericórdia! O que se gastava de dinheiro caro com a participação do clube no campeonato carioca, principalmente, pela obrigação de jogar contra clubes inexpressivos que só existem no calendário da FERJ para garantir a presidência da Federação nas mãos de um mesmo cara. 

Enfim, fazer o quê, num país onde as coisas funcionam de ponta-cabeça e num estado onde a coisa toda é pior? Bem pior. O torcedor iludido torce por seus times, mesmo sabendo que os jogos estariam melhor se realizados cobertos por uma lona de circo.