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Política pública só funciona com estratégia

A primeira peça essencial numa campanha eleitoral deve ser o discurso, porque ele dirá da razão de ser candidato. Não precisa ser bem elaborado no início no processo, mas precisa ser convincente. Quando se faz campanha para funções de Estado, como é o caso das campanhas para vereador, prefeito, deputados, senadores, governadores e presidente, o discurso precisa estar atrelado às políticas públicas, porque elas é que dão sentido à função pública.

Uma das funções da estratégia é identificar os pontos fortes e fracos de um projeto ou desafio, para dar facilidade à realização deles. Uma das questões críticas para as funções de Estado é o atendimento médico, que forma com a falta de segurança pública a equação do insucesso de um projeto político dos governantes, principalmente no Rio de Janeiro.

Uma situação se comunica diretamente com a outra, porque os crimes lotam os hospitais e a lotação deles dificulta o atendimento à população. Disso, a gente tira uma lição importante sobre administração pública: quer reduzir a pressão sobre os hospitais? Aplique dinheiro e inteligência na prevenção das causas que levam as pessoas ao sistema de saúde.

Se os governos fossem mais atenciosos com a segurança pública – atenciosos e eficazes – o sistema de saúde pública teria algum alívio.

Mas, ao considerar a falta de segurança pública como uma das causas de hospitais e postos de atendimento da saúde estarem lotados e sem condições de atendimento digno, podemos fazer o mesmo com relação a todas as políticas públicas. Por exemplo, a educação e informação. A gravidez precoce que movimenta os hospitais e postos de atendimento poderia ser evitada se as meninas e moças recebessem informação e educação. A falta de cuidado com a natureza, que produz valas negras e áreas sem sol são situações outras que impactam sobre o sistema de saúde.

Em resumo: não é aconselhável pensar política pública sem estratégia de atuação, porque a ausência dela cria a situação que a gente está cansado de conhecer: a tentativa de resolver os problemas pelas conseqüências e não pelas causas. Por isso, os governos acreditam que as dificuldades de atendimento médico estão vinculadas à falta de pessoal adequado, de hospitais, de remédios e exames. Os problemas da política pública de saúde estão muito mais na falta de políticas de prevenção do que no atendimento médico curativo.

Só com a estratégia correta se resolverá o problema da saúde. Eis aí um bom motivo para se preparar um plano de governo para as campanhas eleitorais: pensar a política pública com base em elementos de estratégia.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Quero a velha política

“Onde estiver o teu tesouro estará também o teu coração”

Essa advertência bíblica deveria pautar o debate sobre o Fundo Partidário, criado para sustentar os partidos políticos, assim como o caixa dois passou a existir para pagar as campanhas eleitorais, que causam vergonha ou medo aos financiadores. Passou a ser assim, porque a política deixou de apaixonar para ser uma atividade quase criminosa e sem sentido, sendo esta última característica a razão para a fuga das mulheres, que são bem mais pragmáticas que nós homens.

A última eleição é um alento para quem gostaria de ver a política com o perfil de outros tempos. Sim, porque houve época, não muito distante, em que os partidos e a política eram sustentados pelos militantes. Eu me lembro desse tempo.

Em 1982, vim de Brasília, minha residência naquele tempo, para organizar um partido e algumas campanhas no Rio de Janeiro. Cheguei à sede do PFL, na Almirante Barroso, no Centro do Rio, e encontrei um oficial de justiça com um comunicado judicial de obrigação de pagamento em sete dias, dos seis meses de aluguéis atrasados, sob pena de despejo logo em seguida.

Resolvi o problema em cinco dias, com uma campanha relâmpago de arrecadação que animou 816 filiados. Logo depois, providenciei a mudança de endereço para um local mais barato, cumprindo a promessa que fiz na campanha de arrecadação. A paixão dos militantes enchia os auditórios das convenções e eventos, sempre financiados com o dinheiro dos filiados. O débito em conta de mensalidades para o partido era um procedimento de rotina.

A contribuição de pessoas jurídicas era proibida como hoje é. Quando a paixão desapareceu, criou-se, primeiro, a contribuição de pessoas jurídicas e fez-se a ligação entre o financiamento das campanhas e os interesses comerciais das empresas financiadoras. Surgiu o caixa dois, porque, como em pauta estavam os interesses, era preciso preservá-los independente dos resultados de cada eleição. Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.

“Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.”
Ao que parece, o povo cansou de tudo isso e começou a promover mudanças. A paixão volta devagar, numa situação que os desavisados chamam de radicalização.

Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, na autobiografia “Minha Vida”, avisa: “As campanhas presidenciais bem sucedidas exigem três pontos básicos. Primeiro, as pessoas têm de ser capazes de olhar para você e imaginá-lo presidente. Depois, você precisa ter dinheiro e apoio suficientes para se tornar conhecido. Depois disso é uma batalha de ideias, mensagens e questões”.

Nos Estados Unidos, a primeira batalha é pelo financiamento. O candidato que mais arrecada mostra que é capaz de apaixonar, de fazer com que o dinheiro caminhe na direção do coração.

Sei não, mas me parece, ao olhar as últimas eleições, que algo positivo começar a acontecer por aqui. Já tem partido que entendeu que o Fundo Partidário não é bom negócio, porque não qualifica o voto. Quem sabe, não voltará a velha política, aquela em que contribui quem acredita?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Por que Witzel venceu?

É possível vencer uma eleição simplesmente por se estar na hora certa e no lugar certo?  É sim. A eleição do WIlson Witzel para o governo do Rio de Janeiro é um desses casos e existiram outros casos, na eleição de 2018,  outros Brasil afora.

Poderão se repetir nas próximas eleições? Pouco se sabe, porque as disputas eleitorais acontecem no campo das relações humanas, sempre imprevisíveis. Não há sempre. Não há nunca.

Contudo, quando os fatores que produziram o resultado acontecem novamente, a chance do resultado ser repetido é grande. Nisso, caímos num ponto importante da análise da eleição do governador Wilson Witzel: que fatores deram a ele a vitória? Essa leitura é fundamental, para construir um novo cenário de disputa no futuro.

Muita gente – talvez o próprio Witzel – é levada a acreditar que o resultado acompanhou a avalanche nacional provocada pela campanha do Jair Bolsonaro. Não foi. Pelo menos, não só isso. Wilson Witzel foi eleito porque os eleitores não identificaram outro candidato com uma virtude essencial: vínculo com o passado e alguma aparente competência na segurança pública, tema essencial.

Eduardo Paes carregou o vínculo de sua vida política com políticos presos. Indio da Costa, os mesmos vínculos do Eduardo Paes e mais uma ligação estreita com Marcelo Crivella. Romário, idem e sem credencial para dar resposta à expectativa popular essencial: resolver a segurança pública. Márcia Tiburi, o PT. Pedro Fernandes estampou no rosto a conversa fiada. Garotinho ficou pelo caminho, mas com rejeição alta, por ter sido preso duas vezes antes do início da campanha. Sobrou quem? Witzel, pouco importando as ligações dele com Jair Bolsonaro ou com um franqueado da marca, Flávio.

O senador eleito, Arolde de Oliveira, este sim, foi eleito pela marca Bolsonaro. Foi uma eleição com duas vagas para o Senado, a primeira decidida desde o início da campanha pelo franqueado, Flávio. A outra, não se tinha dúvida, seria para quem tivesse a personalidade política da franquia: César Maia e Arolde, que disputaram o segundo voto, palmo a palmo. A Arolde, a novidade, com 8 mandatos de deputado federal e mais de 80 anos de idade, venceu.

Por Jackson Vasconcelos

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“Não cantar vitória antes do tempo. Ser discreto!”

Vê-se que os novos políticos estão deslumbrados, mas todo cuidado é pouco, porque os mandatos só começaram. Tem muita estrada a percorrer. É preciso negociar melhor com a vaidade e com o tempo.

Dias antes do Carnaval, descobri e li com atenção, anotando e marcando as frases e lições relevantes, a carta do diplomata François de Callières ao Rei Luís XIV, o “Rei Sol”.  

Secretário de Gabinete do Rei, François Callières fez para Sua Majestade, um tratado sobre a arte mais antiga da terra, a arte de negociar.

“A obra que tenho a honra de apresentar a Vossa Alteza Real tem por objetivo dar uma ideia das qualidades e dos conhecimentos necessários para formar bons negociadores, indicar os caminhos que devem seguir, as dificuldades que devem evitar e estimular aqueles que se destinam às embaixadas a se tornarem capazes de preencher dignamente empregos tão importantes, e também tão difíceis, antes de se comprometerem”.

A carta está à venda em forma de livro com o título “Negociar – A mais útil das artes” editado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Cebri. É um presente que Guilherme Laager, garimpador do trabalho num sebo em Paris, e José Luiz Alquéres, entregaram à literatura sobre estratégias, numa homenagem póstuma ao Ricardo Augusto dos Reis Velloso, filho do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, que faleceu no dia 19 de fevereiro.

Laager e Alquéres tiveram a feliz iniciativa de, a cada passo dado pelo autor, fazer um resumo da estratégia sugerida por ele. Lá estão, por exemplo:

  • “A informação é o melhor investimento para um negociador”;
  • “Negociar sempre e com antecipação”;
  • “É importante descobrir os segredos do outro lado”;
  • “Firmeza e coragem. Duas qualidades complementares”.

Eu adquiri na Livraria Argumento.

Por Jackson Vasconcelos

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Governar sem dados e sem técnica?

O ministro da Cidadania, deputado federal Osmar Terra, entrevistado pela dupla Edna Simão e Raphael Di Cunto, jornalistas do Valor Econômico, ofereceu provas das causas do insucesso das políticas públicas com relação à população mais dependente das ações do Estado. O governo não sabe, exatamente, porque decide de uma forma ou de outra. Em pauta a mudança no critério de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que dá aos idosos e famílias de pessoas com deficiência um valor mensal.

Atualmente, todos os idosos com idade acima de 65 anos têm acesso ao benefício de um salário mínimo. A proposta do governo é antecipar a idade de acesso para 60 anos, com o valor de R$ 400 até os 70 anos de idade, quando o idoso passará a receber um salário mínimo.

Abaixo, trechos da entrevista e comentários:

-Terra: (…) Se a idade para receber um salário mínimo, pelo BPC ficar em 65 anos, e está se criando uma idade mínima para aposentadoria também de 65 anos, o sujeito com 60 anos que está contribuindo para a Previdência pode parar de pagar porque receberá o mesmo pelo BPC sem precisar contribuir.

Os jornalistas estranham o argumento e perguntam:

-Valor: Mas receber o BPC não é tão simples. A pessoa precisa provar a condição de miserável.

A resposta:

-Terra: O problema é que os que estão contribuindo, eu não sei quantos são, pensariam: “para que vou contribuir se posso chegar a 65 anos e ganhar o mesmo?”

O deputado e ministro não tem as informações essenciais para decidir e nenhuma esperança de que o governo vá exigir a prova de condição de miserável. A resposta à pergunta não parou ali. O Ministro continuou:

-“A partir de 60 anos, a pessoa que ganhava nada passa a ganhar R$ 400. São 900 mil pessoas. Quando chegarem a 65 anos, eles terão ganhado em torno de R$ 25 mil, para ficar num número redondo. Hoje eles não ganham isso”.

É preciso olhar pelo lado correto da equação. Para os idosos com 65 anos em situação de miserabilidade já está assegurado um (1) salário mínimo. Aprovada a proposta do governo eles só terão acesso a um salário mínimo quando chegaram aos 70 anos. Serão cinco anos recebendo menos do que a lei atual garante. Fazer uso do valor acumulado, em se tratando de R$ 400, é forçar o argumento. Situação que os jornalistas reconhecem e usam ao rebater o Ministro:

-Valor: Mas com um valor reduzido a partir dos 65 anos.

-Terra: Se tu somar, sem correção monetária, vai dar R$ 50 mil que ele terá até os 70 anos, a partir daí é um salário mínimo.

Sinto-me dispensado de comentar, por tamanho absurdo. Mas, a resposta o Ministro continua:

-“A diferença está nesse período, de 65 a 69. Em cinco anos, hoje, ele vai ganhar R$ 60 mil. O que eu estou propondo é que seja acrescentado um valor, sair de R$ 400 para R$ 450, R$ 460, aí tem que ver, que chegue aos R$ 60 mil, para ficar igual (a soma do valor que a pessoa receberá hoje)”.

Faz algum sentido? O Ministro propõe R$ 450 ou R$ 460, como poderia propor R$ 430 ou R$ 440 ou R$ 435. Chute, como chutado foi, pela Zélia Cardoso de Mello, o valor de 50 unidades monetárias no Plano Collor, situação que levou muita gente ao suicídio.

-Uma frase do Ministro: “Se você perguntar para quem tem 60 anos se ele gostaria de receber R$ 400,00 agora ou esperar mais cinco anos, tenho certeza que vão preferir a proposta do governo”.

Que tal perguntar a quem recebera, aos 65 anos, um salário mínimo por mês se está feliz em só receber R$ 400 até completar 70 anos? Tenho certeza que vão descartar a proposta do governo. O problema é que os governos não perguntam e respondem.

A próxima, então, é de um primarismo…

-Valor: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu excluir o BPC da reforma porque o ganho fiscal seria pequeno e o desgaste político grande. O senhor concorda que a economia é irrelevante?

-Terra: É preciso calcular. Não sei o número, mas a conta que fazem é que tem perda importante de arrecadação, porque quem paga para se aposentar vai parar de pagar.

A entrevista ocupa uma página. Toca em outros assuntos, Sistema “S”, Bolsa Família e o critério de nomeação para os cargos subordinados aos ministros. O governo, mesmo renovado, ainda acredita que é possível nomear com critérios políticos e ter eficiência, se demarcar as escolhas nas margens da escala de subordinação, no que chamam de escalões de decisão.

-Terra: Lá na ponta, onde é a base dos deputados e tal, há possibilidade de eles darem uma lista de técnicos e, dessa lista, ser escolhido alguém para exercer aquela função…

É uma velha história, ruim do começo ao fim, com uma inversão de valores que só tende a piorar os resultados. Dispensa-se a indicação política para o cargo de ministro e primeiro escalão, mas autoriza-se na ponta, onde o compromisso com a boa técnica, imparcialidade, impessoalidade são mais fundamentais do que na superfície. O gerente do INSS, que faz a concessão da aposentadoria deve cumprir suas tarefas independente de quem seja o governo de plantão. O mesmo em todos os segmentos do setor público.

E há outro aspecto, que me incomoda: porque o parlamento deve indicar funções no Poder Executivo? Não é esse o papel dele. Cabe ao Poder Legislativo fazer leis e fiscalizar a aplicação delas, sendo mais importantes, as leis do orçamento público.

Por que se concede licença a parlamentares para que eles exerçam, como faz o ministro da Cidadania, funções no Poder Executivo? Quer ser ministro, secretário de Estado, secretário municipal? Renuncie ao mandato no parlamento.

Eis aí uma reforma essencial.

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Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, no vácuo!

Numa corrida de Fórmula 1, os carros em alta velocidade provocam na traseira um ambiente sem atrito, que facilita a ultrapassagem de carro que vem colado atrás. É o vácuo. Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro sabem aproveitar o vácuo na política. Jair chegou à Presidência da República e Rodrigo Maia à Presidência da Câmara.

O povo brasileiro conhece o deputado Rodrigo Maia há pouco tempo, numa relação que começou quando o ex-deputado Eduardo Cunha caiu em desgraça. No vácuo, Rodrigo Maia tomou-lhe o lugar na Presidência da Câmara e, depois de passar por mais duas disputas, lá continua.

O desempenho dele surpreendeu cariocas e fluminenses, porque a imagem dele no estado em que faz política, não era a de um político capaz da proeza. Rodrigo Maia foi presidente nacional do Democratas e líder do partido na Câmara, mas passou pelas funções sem expressão. Tinha a marca do pai, César Maia, tão somente isso.

Então, existe quem afirme que a proeza dele de chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, confirmado em três eleições, seja obra do pai. Muito mais, porque duas eleições aconteceram em circunstâncias bem interessantes. Uma para ser a segunda autoridade da República, porque o vice-presidente foi confirmado na Presidência e, a segunda, disputando o voto de deputados em primeiro mandato, numa casa 50% renovada. Duas ocasiões que pediram estratégia, paciência e capacidade absurda de conversar e compor.

Entretanto, quem conhece César Maia sabe que ele cintura não tem e sente fortes dores na coluna, quando precisa dobrá-la. Falou-se também que Rodrigo Maia contou com a experiência e orientação do meio parente Moreira Franco. Quem conhece Moreira não aceita o argumento. Moreira é um Maquiavel com sinal trocado. Ele derruba aliados e ergue ninguém. Moreira só faz pelo Moreira.

Então, que ninguém se canse em formulações. Rodrigo Maia está lá por conta própria. Sabe acelerar no vácuo e com controle do volante, para não sair da pista.

É o que fez novamente, quando o Gustavo Bebianno perdeu o Ministério. Rodrigo estava no vácuo e assumiu a posição do ex-ministro na pista, na liderança do processo de decisão sobre a Reforma da Previdência.

No tempo do Michel Temer, Rodrigo Maia, com habilidade, viu o presidente balançar. Sentiu o vácuo, mas percebeu que não deveria ultrapassar. Bastaria dar o recado de estar colado na traseira.

Michel Temer, imobilizado, assistiu a visita do Rodrigo Maia ao Brazil Institute do Wilson Center, em Washington. Lá, Rodrigo Maia marcou o terreno. PT em desgraça, Rodrigo Maia, com a qualidade de ser o presidente da Câmara, substituto eventual e, naquele tempo, até possível do Michel Temer, mandou o recado:

“O Bolsa Família escraviza. Criar um programa para escravizar as pessoas não é bom propósito. Programa bom é onde você inclui a pessoa e dá a ela as condições para viver na sociedade com as próprias pernas e conseguir um bom emprego. A dependência criada pelo programa atrela as pessoas ao Estado. Como você dá condições para o cidadão pobre, que depende do Bolsa Família, sair dessa dependência? Educação e saúde….”.

Deu o recado: posso ser Presidente da República.

O que na corrida de Fórmula 1 ou na física tem o nome de vácuo, na estratégia responde pelo de oportunidades. Está no conceito. Oportunidade a gente captura e conserva. Sempre será útil.

Por Jackson Vasconcelos

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Pesquisas forçadas

As pesquisas forçadas são usadas para distribuir mentiras sobre os candidatos, principalmente, adversários. O jornalista Al Franken, citado adiante, definiu esse tipo de pesquisa de modo claro: “As pesquisas forçadas são uma forma traiçoeira de disseminar mentiras sobre o adversário, mantendo-se as mãos limpas”.

São diferentes das pesquisas com respostas induzidas e ocorrem com frequência nas campanhas eleitorais, apesar de reprimidas com rigor pelos tribunais nas disputas para as funções de Estado (vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente da república).

As pesquisas forçadas são comuns nas campanhas com menores colégios eleitorais, como é o caso dos clubes de futebol e de outras agremiações, por exemplo, Ordem dos Advogados do Brasil, Federações Esportivas e etc.

As notícias falsas, que a tecnologia moderna facilita a veiculação e chama de fake news, é elemento fundamental para o sucesso das pesquisas forçadas.

Não é nada inteligente e estratégico desconsiderar a prática.

Al Franken, jornalista americano, autor do livro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, trabalho bem interessante sobre o uso das mentiras nas eleições americanas, já indicado por mim aqui, mostra casos e resultados das pesquisas forçadas.

Al Franken registra vários casos. Usarei a título de exemplo, o que está na abertura do capítulo: “Por que alguém pensou que mudaria?”. O fato está na campanha pelas eleições primárias do Partido Republicano, quando disputavam John McCain e George W. Bush, ainda governador do Texas. Diz Al Franken:

“Talvez você lembre que o senador John McCain, que como Bush foi piloto de caça na época do Vietnã (com uma diferença-chave: McCain realmente atuou como piloto no Vietnã) havia derrotado redondamente o governador do Texas em News Hampshire. A “conversa direta” de McCain estava ganhando ímpeto. Algo precisava ser feito.

Em fevereiro de 2000, os felizes eleitores republicanos de Carolina do Sul começaram a receber telefonemas avaliando seus sentimentos sobre uma série de questões importantes. Uma ligação típica começava assim:

– Interlocutor: Olá, estou ligando de uma empresa de pesquisa independente e estava pensando se você teria um minuto para responder à pesquisa.
– Eleitor Desavisado: Hã…está bem.
– Interlocutor: Ótimo! Se você soubesse que o senador John McCain era um trapaceiro, um mentiroso e uma fraude, e que ele era pai de um filho ilegítimo negro, a probabilidade de você votar nele seria maior ou menor?
– Eleitor desavisado: Hum, Provavelmente menor.

Que eu saiba, McCain não é pai de nenhuma criança ilegítima de qualquer raça.

Em 2016, eu, certamente, ainda compunha o quadro de sócios do Fluminense Football Club, apesar de ter pedido meu desligamento em 2014. Recebi uma ligação de um “instituto de pesquisa independente”…Voz feminina. Resumo do diálogo:

– Interlocutora: O senhor votará na próxima eleição para Presidente do Fluminense?
– Eu: Já me desliguei do clube.
– Interlocutora: Mas, se o senhor fosse votar, o senhor votaria no candidato do Presidente Peter Siemsen, que demitiu o Fred e levou o time para a segunda divisão?
– Eu: insisto em dizer que não votarei na próxima eleição. Já me desliguei do clube.
-Interlocutora: Obrigado. Desculpe a insistência.

Percebam que a moça só desistiu depois que me passou a informação que precisaria passar: “Peter Siemsen demitiu o ídolo do clube e com isso levou o Fluminense para a segunda divisão…”. Quem conhece a história da saída do Fred em 2016 e o quase rebaixamento de 2013, sabe o que a informação representava.

Por Jackson Vasconcelos

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Delfim, mestre em estratégia

Eu assisti à entrevista do Delfim Netto ao canal do Bonfá no youtube e gostei. Delfim me ajudou a ter um pouco mais de paciência e ainda alguma esperança com relação ao governo Jair Bolsonaro que, no quesito comunicação, anda confuso. Delfim está com 90 anos de idade. Ele foi ministro em tempos diferentes, de três pastas, Fazenda, Agricultura e Planejamento. As passagens por elas foram um exemplo de estratégia.

Delfim Netto assumiu o Ministério da Fazenda, em 1967. Era presidente o general Costa e Silva, que morreu no governo. Delfim permaneceu. Falecido o presidente, uma Junta Militar formada por três ministros das Forças Armadas afastou o vice-presidente, um mineiro civil, e assumiu o governo até entregá-lo ao general Emílio Médici, que governou até 1974. O conjunto pertencia à linha-dura do regime. Os moderados voltaram ao poder com o general Ernesto Geisel. Tinham saído quando o Marechal Castelo Branco deixou o governo.

Geisel não tinha simpatia por Delfim Netto. Enviou o ministro para um exílio em Paris, como Embaixador do Brasil.

O general João Figueiredo chegou à Presidência. Híbrido, nem linha-dura, nem moderado, mas com simpatia por Delfim Netto, Figueiredo colocou Delfim na única pasta autorizada pelo antecessor: Ministério da Agricultura. Geisel impôs ao Figueiredo a equipe econômica e o chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva. No Ministério do Planejamento, Geisel autorizou Mário Henrique Simonsen. Na Fazenda, o presidente do Banco do Brasil no tempo dele, Karlos Rischbieter e etc.

Desesperado para voltar ao Brasil, Delfim aceitou a sina. Assim que assumiu, iniciou o processo para substituir a turma do Geisel. O enfrentamento com Simonsen e Rischbieter se deu no Conselho Monetário Nacional. O Orçamento da União foi a espada da batalha.

Delfim acomodou no Banco do Brasil, um diretor de Crédito Rural, Aléssio Vaz Primo, com quem trabalhei. E danou a gastar no financiamento à agricultura. Para ter imagem forte com o presidente da República, Delfim criou uma campanha publicitária: “Plante que o João garante”. A campanha foi um sucesso e a popularidade do presidente cresceu.

Ou seja, aos olhos da estratégia, Delfim conquistou o Ministério da Agricultura e dele fez uma oportunidade para avançar. Ao estourar o orçamento do Banco do Brasil, Delfim irritou o guardião Simonsen, que contava com o ministro da Fazenda, para segurar o Banco do Brasil.

Delfim convenceu o Ministro da Fazenda a ser aliado dele. Simonsen sentiu o golpe e deixou o governo. Delfim assumiu o Ministério do Planejamento. Então, chegou a hora de livrar-se do ministro da Fazenda, que já cumprira o papel essencial de ajudar à expulsão do ministro Simonsen.

Delfim organizou-se com os demais ministros e, em pouco tempo, Rischbieter jogou a toalha. Delfim colocou na Fazenda de um aliado fiel, Ernane Galvêas. Em pouco tempo, Delfim voltou a dominar o governo como fez primeira vez em que foi ministro da Fazenda. Acabado o governo dos generais, houve a Assembleia Nacional Constituinte. Delfim foi eleito deputado federal por São Paulo e teve uma atuação fundamental.  

O cara é brilhante. Sempre foi. Diversas vezes eu estive nos escalões inferiores de comando do Delfim, mas ele irradiava lições de estratégia. Quando ele foi ministro da Agricultura, eu estava na Diretoria de Crédito Rural do Banco do Brasil. O diretor, Alessio Vaz Primo era um dos braços do Delfim.

Ministro do Planejamento, Delfim nomeou o Ministro da Fazenda, Ernane Galvêas. Eu ocupava uma das assessorias do Secretário-Geral, Maílson da Nóbrega.

Delfim na Constituinte, membro do Centrão. Eu participei de quase todas as reuniões, cedido pelo Banco do Brasil, para prestar informações e assessorar os deputados. Cheguei a visitá-lo no escritório dele em São Paulo.

Aprendi bastante. Não o suficiente, porque, quando o assunto é estratégia, nenhuma aula é suficiente.

A seguir, o vídeo:

Por Jackson Vasconcelos

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“Brasil – Nova realidade”

Encontrei um exemplar do jornalzinho criado pelo Presidente da FESO – Fundação Educacional Serra dos Órgãos (Faculdades de Teresópolis), uma edição de maio de 1989. Nele há um artigo publicado por mim, a convite do Irineu Dias da Rosa, em razão de uma palestra que fiz lá antes da visita do Collor em campanha. Como nesse artigo defendo as mesmas posições que defendo hoje, decidi compartilhar por aqui.

“Brasil – Nova realidade”

“Tudo leva mais tempo do que se espera”
“Tudo é mais difícil do que se pensa”
“Tudo o que pode não dar certo, não dará certo”

(Leis do Rei Murphy – Irlanda)

Desanimar não resolve! Vive o Brasil momentos de angústia e expectação. Todos os valores estão sendo questionados. A procura de caminhos novos não é contudo exclusividade nossa. O mundo procura uma saída nova!

Cada fato novo registrado no noticiário político e econômico do país, mais me convence que a solução está na revisão do nosso modelo econômico fundado na estatização  e intervenção estatal na vida da sociedade.

E neste momento a universidade tem grande importância, pois que qualquer solução deve ser fruto de muita imaginação e debate. A ideia de cada um deve ser discutida e avaliada e é com esta disposição que faço algumas colocações sobre o problema brasileiro.

A inflação, instrumento desorganizado da economia, desestimulador de investimentos e incentivador de especulação indolente, reflete a arrogância e o gigantismo do Estado brasileiro. É o exato retrato do intervencionismo estatal, parte integrante de nossa história – talvez por vício de origem – já que os portugueses sempre foram mercantilistas.

Sempre se tocou o desenvolvimento a partir dos investimentos estatais e aplicação de incentivos fiscais, subsídios e juros negativos. Por outro lado, seguindo o “ethos militar de segurança nacional” – instituíram-se monopólios estatais e intervenções em setores econômicos importantes.

Como tais incentivos e subsídios deveriam ser distribuídos “com toda justiça”, toda e qualquer atividade econômica passou a depender de licenças e autorizações oficiais. Comprar ou vender aço, trigo, açúcar, álcool, petróleo, passou a ser atividade autorizada pelo executivo.

Tal comportamento veio, durante anos criança privilégios, distorcendo o mercado e induzindo comportamentos.

O burocrata do Estado acredita sempre ser um pequeno Deus que tudo sabe e tudo pode.

A sociedade toda, empresários, empregados, políticos, etc…, passou a viver uma triste ilusão: a de que o Estado cria recursos. Ledo engano. Quando se administra privilégios através de subsídios ou incentivos alguém paga – ou com impostos ou com inflação – o mais injusto deles.

Em resumo: todo o sacrifício imposto à sociedade brasileira tem sido para manter privilegiados e por vezes parasitas do Estado.

Uma revisão se impõe de forma urgente: implantar a liberdade econômica ao lado da liberdade política, sem constrangimentos.

A concorrência livre, característica que só o mercado contém, estimula a eficiência e empurra o progresso, permitindo a todos aqueles que se dedicam e trabalham duro, a certeza do lucro do seu trabalho, distribuindo empregos justos e satisfação pessoal.

Daí o liberalismo como instrumento de fundamental importância num país onde o Estado decide desde o preço do pão ao preço do automóvel, do salário do trabalhador ao lucro do empresário, do preço do dinheiro ao risco da aplicação.

Interessante notar que enquanto Estado Brasileiro possui os melhores bancos, a única empresa de petróleo, os melhores de aço a sociedade nunca conheceu piores serviços de saúde, educação e saneamento.

“É liberal a ideia de que o homem tem liberdade de escolher sua vida, os seus objetivos e de que o governo não pode negar essa liberdade” (Vicente Barretto).

Quem deve efetivamente decidir o que é melhor para si e para sua família deve ser o próprio indivíduo: a partir desta decisão pressionar o mercado, e aqueles que prontamente atenderem ao apelo serão mais ricos e poderosos. Ao Estado caberá criar regras, a partir do poder de coesão, que não permitam distorções e que garantam a liberdade de cada um. Os sistemas políticos devem ser a garantia de nossa liberdade e não de nossos privilégios!

“O ESTADO É A GRANDE FICÇÃO PELA QUAL TODAS AS PESSOAS TENTAM VIVER ÀS CUSTAS DAS OUTROS” (Frederic Bastiak)

Não será fácil a mudança. Contudo é ela a garantia de um país mais justo para todos e por isso deve começar em nós. Em nossa vida particular e profissional devemos estender o debate, conscientizando a sociedade, principalmente no ano em que escolheremos o novo Presidente da República. Precisamos criar a consciência de cobrar propostas séries não espalhafatosas nem demagógicas.

Será conveniente ao Brasil eleger propostas mais estatizantes? Será patriótico e justo continuar administrando privilégios?

O país precisa de trabalho, eficiência e liberdade para agir. A nação brasileira vem amadurecendo muito pelas  decepções que o Estado centralizador e intervencionista provocou.

Está na hora de agir e com consciência.

Por Jackson Vasconcelos

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Em cartaz: “Vice”

“Vice”, filme em cartaz e candidato ao Oscar, é uma leitura bem-humorada da vida do polêmico e um tanto oculto, Dick Cheney, que foi chefe de gabinete da Casa Branca, secretário de Estado e vice-presidente dos Estados Unidos, quando ocorreu o ataque às Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001. George W. Bush era o presidente.

Dick Cheney contrariou o figurino dos vice-presidentes americanos, por isso mereceu o filme com jeito de documentário não muito comprometido com os fatos reais. Afinal, a vida de Dick Cheney nunca foi um livro aberto e menos ainda algo de fácil leitura.

Visto com o olhar da estratégia, o filme é uma aula. Nele se vê o objetivo definido – a conquista do poder. Percebe-se também a exploração das oportunidades, o aproveitamento das conquistas, o descarte das ameaças e riscos e a leitura correta das perdas e derrotas para não repetí-las.

O primeiro exemplo está no início do filme. A história começa com um Dick Cheney irresponsável, beberrão e chegado à uma baderna. Um jovem apanhado pela polícia por dirigir bêbado.

Uma mulher, Lynne, mais tarde Lynne Cheney, muda a vida do cara. Para convencer Dick, Lynne coloca diante dele um futuro sombrio, construído em cima de uma realidade igual e demonstrada com facilidade: a vida da mãe dela casada com um beberrão violento. E insere um risco no processo de decisão: Dick perdê-la, porque ele deveria ser, para ela, uma oportunidade de ser feliz e não a ameaça de uma vida ruim.  

No livro Ação Humana, do liberal Ludwig Von Mises, há uma lição importante para quem precisa argumentar em favor de uma mudança de vida: o ser humano só muda de posição na vida diante de duas circunstâncias: ter consciência de que a situação em que se encontra é ruim e a certeza ou, pelo menos uma dúvida razoável, de que a mudança será para melhor. Lynne transportou Dick para o futuro numa carruagem onde ele já estava embarcado, mas indicou que outra carruagem poderia existir.

Lynne aparece no papel de uma mulher decisiva para o sucesso do Dick Cheney. Lê-se, com absoluta facilidade, o sucesso de uma estratégia que use o equilíbrio de gênero como elemento fundamental para alcançar o objetivo escolhido. A sensibilidade feminina de Lynne une-se à frieza de Dick para dar os resultados que o filme apresenta. Os governos brasileiros com machos em maioria e em todos os níveis, não pensam do mesmo modo e, por isso, vão de insucesso em insucesso.

Adiante, Dick Cheney aparece no Congresso Americano, na posição equivalente de um estagiário e identifica uma oportunidade de futuro em alguém que discursa: Donald Rumsfeld, estrategista, membro do governo. Donald é, no filme, a pessoa fundamental na construção da personalidade política de Dick. Para aproximar-se de Rumsfeld – objetivo imediato –  Dick coloca no processo um atributo estratégico: a ênfase. Ele ingressa no partido de Rumsfeld, o Partido Republicano. Dick concentrou-se no objetivo e simplificou a rota.

Uma curiosidade: Donald Rumsfeld também recebeu um documentário sobre ele: “The Unknown Known” (O desconhecido conhecido), que também vale assistir. Um dia, comentarei também com o olhar da estratégia. Por enquanto, fiquemos com o Vice.

Duas situações encerram as minhas considerações, mas o filme todo é o uso da ferramenta que facilita bastante o sucesso de projetos e objetivos, em qualquer campo da atividade humana: a estratégia.  

Dick deixou a política, quando Jimmy Carter derrotou Gerald Ford, governo em que ele foi secretário da Defesa. O filme encena o próprio encerramento de forma tão real que um casal colocado na minha frente chegou a se levantar para ir embora do cinema.  É quando ressurgem na tela Dick e Lynne numa vida confortável, razão do trabalho dele como CEO de uma grande empresa.

Caminha-se, então, para o período final do governo de Bill Clinton, ajeitando-se o governador George W. Bush, o filho, para ser candidato a presidente. Dick recebe sinais da possibilidade de ser convidado para estar na chapa como vice. Lynne e ele discutem a possibilidade e não gostam, porque ser vice e ser quase nada dá no mesmo.

Dick, então, recebeu um convite do governador George W. Bush para uma conversa inicial. Ele vai e saí de lá com uma informação estratégica que irá definir os termos do presença dele na chapa: George W. Bush pretendia ser presidente só com o propósito de crescer no conceito do pai, que já tinha sido. Dick passa esse sentimento para Lynne que, mesmo assim, mantém a posição de Dick não aceitar o convite.

Dick volta ao George W. Bush e a conversa é bem interessante aos olhos da estratégia. Faz parte do trailer do filme.

– Quero que você seja meu vice-presidente. Quero você, é meu vice.
– Bem George, eu sou CEO de uma grande empresa. Já fui secretário da Defesa. Já fui chefe de gabinete da Casa Branca. O cargo de vice-presidente é trabalho simbólico. No entanto, se chegarmos a um acordo, será diferente. Você entende? Se eu puder me encarregar dos trabalhos mais mundanos, supervisionando a burocracia, o exército, a energia e a política exterior
– Certo…Gostei da ideia. E então, topa?
– Eu creio que podemos fazer isso funcionar.

Será que um candidato à presidência da República, com uma candidatura que não fosse só um capricho, abriria mão de tanto poder? Bush e Dick são eleitos e nota-se durante o mandato do Dick a presença, quase como um letreiro em segundo plano, a frase que Lyanne diz na parte inicial da carreira do marido: “Quando você tem poder, as pessoas sempre tentam tirar isso de você…sempre”.

A segunda situação, com a qual encerro minha análise está bem presente nos debates políticos no Brasil. Ela nasce no filme com a cena da chegada de Mary, uma das filhas de Dick e Lynne, em casa. Mary, aos prantos conta aos pais que é gay e tinha brigado com a namorada. Notícia ruim para qualquer família naquele tempo e pior ainda para um político conservador. Numa passagem do filme, Lynne, substituindo Dick num comício, se levanta contra as feministas: “Enquanto elas queimam sutiãs, aqui na minha terra, nós usamos. E tem mais, Dick era um dos mais ferrenhos opositores ao reconhecimento do casamento gay”.

Dick reage com absoluta dignidade e respeito pela filha. Lynne, pelo olhar em cena, nem tanto, mas cede. Surge, então, a decisão estratégica de Dick: ele se afasta da política para preservar Mary. Mais à frente, a segunda filha de Dick e Lynne, candidata a deputada, levanta-se contra o casamento gay e contraria a irmã. Os pais também entendem a decisão da segunda filha, Lyz.

A família estruturada fora uma conquista da dupla Dick e Lynne, base do sucesso de todas as demais decisões. Então, que se conservasse. Mais um elemento que conceitua a estratégia.

Vá ver. Vale a pena, mesmo que você não esteja muito interessado em estratégias. O filme é bom e o desempenho do elenco, excepcional.  

Por Jackson Vasconcelos