Publicado em Deixe um comentário

Quero a velha política

“Onde estiver o teu tesouro estará também o teu coração”

Essa advertência bíblica deveria pautar o debate sobre o Fundo Partidário, criado para sustentar os partidos políticos, assim como o caixa dois passou a existir para pagar as campanhas eleitorais, que causam vergonha ou medo aos financiadores. Passou a ser assim, porque a política deixou de apaixonar para ser uma atividade quase criminosa e sem sentido, sendo esta última característica a razão para a fuga das mulheres, que são bem mais pragmáticas que nós homens.

A última eleição é um alento para quem gostaria de ver a política com o perfil de outros tempos. Sim, porque houve época, não muito distante, em que os partidos e a política eram sustentados pelos militantes. Eu me lembro desse tempo.

Em 1982, vim de Brasília, minha residência naquele tempo, para organizar um partido e algumas campanhas no Rio de Janeiro. Cheguei à sede do PFL, na Almirante Barroso, no Centro do Rio, e encontrei um oficial de justiça com um comunicado judicial de obrigação de pagamento em sete dias, dos seis meses de aluguéis atrasados, sob pena de despejo logo em seguida.

Resolvi o problema em cinco dias, com uma campanha relâmpago de arrecadação que animou 816 filiados. Logo depois, providenciei a mudança de endereço para um local mais barato, cumprindo a promessa que fiz na campanha de arrecadação. A paixão dos militantes enchia os auditórios das convenções e eventos, sempre financiados com o dinheiro dos filiados. O débito em conta de mensalidades para o partido era um procedimento de rotina.

A contribuição de pessoas jurídicas era proibida como hoje é. Quando a paixão desapareceu, criou-se, primeiro, a contribuição de pessoas jurídicas e fez-se a ligação entre o financiamento das campanhas e os interesses comerciais das empresas financiadoras. Surgiu o caixa dois, porque, como em pauta estavam os interesses, era preciso preservá-los independente dos resultados de cada eleição. Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.

“Misturou-se a política com os interesses comerciais, a corrupção cresceu e, para escondê-la. surgiu o Fundo Partidário.”
Ao que parece, o povo cansou de tudo isso e começou a promover mudanças. A paixão volta devagar, numa situação que os desavisados chamam de radicalização.

Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, na autobiografia “Minha Vida”, avisa: “As campanhas presidenciais bem sucedidas exigem três pontos básicos. Primeiro, as pessoas têm de ser capazes de olhar para você e imaginá-lo presidente. Depois, você precisa ter dinheiro e apoio suficientes para se tornar conhecido. Depois disso é uma batalha de ideias, mensagens e questões”.

Nos Estados Unidos, a primeira batalha é pelo financiamento. O candidato que mais arrecada mostra que é capaz de apaixonar, de fazer com que o dinheiro caminhe na direção do coração.

Sei não, mas me parece, ao olhar as últimas eleições, que algo positivo começar a acontecer por aqui. Já tem partido que entendeu que o Fundo Partidário não é bom negócio, porque não qualifica o voto. Quem sabe, não voltará a velha política, aquela em que contribui quem acredita?

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Por que Witzel venceu?

É possível vencer uma eleição simplesmente por se estar na hora certa e no lugar certo?  É sim. A eleição do WIlson Witzel para o governo do Rio de Janeiro é um desses casos e existiram outros casos, na eleição de 2018,  outros Brasil afora.

Poderão se repetir nas próximas eleições? Pouco se sabe, porque as disputas eleitorais acontecem no campo das relações humanas, sempre imprevisíveis. Não há sempre. Não há nunca.

Contudo, quando os fatores que produziram o resultado acontecem novamente, a chance do resultado ser repetido é grande. Nisso, caímos num ponto importante da análise da eleição do governador Wilson Witzel: que fatores deram a ele a vitória? Essa leitura é fundamental, para construir um novo cenário de disputa no futuro.

Muita gente – talvez o próprio Witzel – é levada a acreditar que o resultado acompanhou a avalanche nacional provocada pela campanha do Jair Bolsonaro. Não foi. Pelo menos, não só isso. Wilson Witzel foi eleito porque os eleitores não identificaram outro candidato com uma virtude essencial: vínculo com o passado e alguma aparente competência na segurança pública, tema essencial.

Eduardo Paes carregou o vínculo de sua vida política com políticos presos. Indio da Costa, os mesmos vínculos do Eduardo Paes e mais uma ligação estreita com Marcelo Crivella. Romário, idem e sem credencial para dar resposta à expectativa popular essencial: resolver a segurança pública. Márcia Tiburi, o PT. Pedro Fernandes estampou no rosto a conversa fiada. Garotinho ficou pelo caminho, mas com rejeição alta, por ter sido preso duas vezes antes do início da campanha. Sobrou quem? Witzel, pouco importando as ligações dele com Jair Bolsonaro ou com um franqueado da marca, Flávio.

O senador eleito, Arolde de Oliveira, este sim, foi eleito pela marca Bolsonaro. Foi uma eleição com duas vagas para o Senado, a primeira decidida desde o início da campanha pelo franqueado, Flávio. A outra, não se tinha dúvida, seria para quem tivesse a personalidade política da franquia: César Maia e Arolde, que disputaram o segundo voto, palmo a palmo. A Arolde, a novidade, com 8 mandatos de deputado federal e mais de 80 anos de idade, venceu.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

“Não cantar vitória antes do tempo. Ser discreto!”

Vê-se que os novos políticos estão deslumbrados, mas todo cuidado é pouco, porque os mandatos só começaram. Tem muita estrada a percorrer. É preciso negociar melhor com a vaidade e com o tempo.

Dias antes do Carnaval, descobri e li com atenção, anotando e marcando as frases e lições relevantes, a carta do diplomata François de Callières ao Rei Luís XIV, o “Rei Sol”.  

Secretário de Gabinete do Rei, François Callières fez para Sua Majestade, um tratado sobre a arte mais antiga da terra, a arte de negociar.

“A obra que tenho a honra de apresentar a Vossa Alteza Real tem por objetivo dar uma ideia das qualidades e dos conhecimentos necessários para formar bons negociadores, indicar os caminhos que devem seguir, as dificuldades que devem evitar e estimular aqueles que se destinam às embaixadas a se tornarem capazes de preencher dignamente empregos tão importantes, e também tão difíceis, antes de se comprometerem”.

A carta está à venda em forma de livro com o título “Negociar – A mais útil das artes” editado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Cebri. É um presente que Guilherme Laager, garimpador do trabalho num sebo em Paris, e José Luiz Alquéres, entregaram à literatura sobre estratégias, numa homenagem póstuma ao Ricardo Augusto dos Reis Velloso, filho do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, que faleceu no dia 19 de fevereiro.

Laager e Alquéres tiveram a feliz iniciativa de, a cada passo dado pelo autor, fazer um resumo da estratégia sugerida por ele. Lá estão, por exemplo:

  • “A informação é o melhor investimento para um negociador”;
  • “Negociar sempre e com antecipação”;
  • “É importante descobrir os segredos do outro lado”;
  • “Firmeza e coragem. Duas qualidades complementares”.

Eu adquiri na Livraria Argumento.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Governar sem dados e sem técnica?

O ministro da Cidadania, deputado federal Osmar Terra, entrevistado pela dupla Edna Simão e Raphael Di Cunto, jornalistas do Valor Econômico, ofereceu provas das causas do insucesso das políticas públicas com relação à população mais dependente das ações do Estado. O governo não sabe, exatamente, porque decide de uma forma ou de outra. Em pauta a mudança no critério de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que dá aos idosos e famílias de pessoas com deficiência um valor mensal.

Atualmente, todos os idosos com idade acima de 65 anos têm acesso ao benefício de um salário mínimo. A proposta do governo é antecipar a idade de acesso para 60 anos, com o valor de R$ 400 até os 70 anos de idade, quando o idoso passará a receber um salário mínimo.

Abaixo, trechos da entrevista e comentários:

-Terra: (…) Se a idade para receber um salário mínimo, pelo BPC ficar em 65 anos, e está se criando uma idade mínima para aposentadoria também de 65 anos, o sujeito com 60 anos que está contribuindo para a Previdência pode parar de pagar porque receberá o mesmo pelo BPC sem precisar contribuir.

Os jornalistas estranham o argumento e perguntam:

-Valor: Mas receber o BPC não é tão simples. A pessoa precisa provar a condição de miserável.

A resposta:

-Terra: O problema é que os que estão contribuindo, eu não sei quantos são, pensariam: “para que vou contribuir se posso chegar a 65 anos e ganhar o mesmo?”

O deputado e ministro não tem as informações essenciais para decidir e nenhuma esperança de que o governo vá exigir a prova de condição de miserável. A resposta à pergunta não parou ali. O Ministro continuou:

-“A partir de 60 anos, a pessoa que ganhava nada passa a ganhar R$ 400. São 900 mil pessoas. Quando chegarem a 65 anos, eles terão ganhado em torno de R$ 25 mil, para ficar num número redondo. Hoje eles não ganham isso”.

É preciso olhar pelo lado correto da equação. Para os idosos com 65 anos em situação de miserabilidade já está assegurado um (1) salário mínimo. Aprovada a proposta do governo eles só terão acesso a um salário mínimo quando chegaram aos 70 anos. Serão cinco anos recebendo menos do que a lei atual garante. Fazer uso do valor acumulado, em se tratando de R$ 400, é forçar o argumento. Situação que os jornalistas reconhecem e usam ao rebater o Ministro:

-Valor: Mas com um valor reduzido a partir dos 65 anos.

-Terra: Se tu somar, sem correção monetária, vai dar R$ 50 mil que ele terá até os 70 anos, a partir daí é um salário mínimo.

Sinto-me dispensado de comentar, por tamanho absurdo. Mas, a resposta o Ministro continua:

-“A diferença está nesse período, de 65 a 69. Em cinco anos, hoje, ele vai ganhar R$ 60 mil. O que eu estou propondo é que seja acrescentado um valor, sair de R$ 400 para R$ 450, R$ 460, aí tem que ver, que chegue aos R$ 60 mil, para ficar igual (a soma do valor que a pessoa receberá hoje)”.

Faz algum sentido? O Ministro propõe R$ 450 ou R$ 460, como poderia propor R$ 430 ou R$ 440 ou R$ 435. Chute, como chutado foi, pela Zélia Cardoso de Mello, o valor de 50 unidades monetárias no Plano Collor, situação que levou muita gente ao suicídio.

-Uma frase do Ministro: “Se você perguntar para quem tem 60 anos se ele gostaria de receber R$ 400,00 agora ou esperar mais cinco anos, tenho certeza que vão preferir a proposta do governo”.

Que tal perguntar a quem recebera, aos 65 anos, um salário mínimo por mês se está feliz em só receber R$ 400 até completar 70 anos? Tenho certeza que vão descartar a proposta do governo. O problema é que os governos não perguntam e respondem.

A próxima, então, é de um primarismo…

-Valor: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu excluir o BPC da reforma porque o ganho fiscal seria pequeno e o desgaste político grande. O senhor concorda que a economia é irrelevante?

-Terra: É preciso calcular. Não sei o número, mas a conta que fazem é que tem perda importante de arrecadação, porque quem paga para se aposentar vai parar de pagar.

A entrevista ocupa uma página. Toca em outros assuntos, Sistema “S”, Bolsa Família e o critério de nomeação para os cargos subordinados aos ministros. O governo, mesmo renovado, ainda acredita que é possível nomear com critérios políticos e ter eficiência, se demarcar as escolhas nas margens da escala de subordinação, no que chamam de escalões de decisão.

-Terra: Lá na ponta, onde é a base dos deputados e tal, há possibilidade de eles darem uma lista de técnicos e, dessa lista, ser escolhido alguém para exercer aquela função…

É uma velha história, ruim do começo ao fim, com uma inversão de valores que só tende a piorar os resultados. Dispensa-se a indicação política para o cargo de ministro e primeiro escalão, mas autoriza-se na ponta, onde o compromisso com a boa técnica, imparcialidade, impessoalidade são mais fundamentais do que na superfície. O gerente do INSS, que faz a concessão da aposentadoria deve cumprir suas tarefas independente de quem seja o governo de plantão. O mesmo em todos os segmentos do setor público.

E há outro aspecto, que me incomoda: porque o parlamento deve indicar funções no Poder Executivo? Não é esse o papel dele. Cabe ao Poder Legislativo fazer leis e fiscalizar a aplicação delas, sendo mais importantes, as leis do orçamento público.

Por que se concede licença a parlamentares para que eles exerçam, como faz o ministro da Cidadania, funções no Poder Executivo? Quer ser ministro, secretário de Estado, secretário municipal? Renuncie ao mandato no parlamento.

Eis aí uma reforma essencial.

Publicado em Deixe um comentário

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, no vácuo!

Numa corrida de Fórmula 1, os carros em alta velocidade provocam na traseira um ambiente sem atrito, que facilita a ultrapassagem de carro que vem colado atrás. É o vácuo. Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro sabem aproveitar o vácuo na política. Jair chegou à Presidência da República e Rodrigo Maia à Presidência da Câmara.

O povo brasileiro conhece o deputado Rodrigo Maia há pouco tempo, numa relação que começou quando o ex-deputado Eduardo Cunha caiu em desgraça. No vácuo, Rodrigo Maia tomou-lhe o lugar na Presidência da Câmara e, depois de passar por mais duas disputas, lá continua.

O desempenho dele surpreendeu cariocas e fluminenses, porque a imagem dele no estado em que faz política, não era a de um político capaz da proeza. Rodrigo Maia foi presidente nacional do Democratas e líder do partido na Câmara, mas passou pelas funções sem expressão. Tinha a marca do pai, César Maia, tão somente isso.

Então, existe quem afirme que a proeza dele de chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, confirmado em três eleições, seja obra do pai. Muito mais, porque duas eleições aconteceram em circunstâncias bem interessantes. Uma para ser a segunda autoridade da República, porque o vice-presidente foi confirmado na Presidência e, a segunda, disputando o voto de deputados em primeiro mandato, numa casa 50% renovada. Duas ocasiões que pediram estratégia, paciência e capacidade absurda de conversar e compor.

Entretanto, quem conhece César Maia sabe que ele cintura não tem e sente fortes dores na coluna, quando precisa dobrá-la. Falou-se também que Rodrigo Maia contou com a experiência e orientação do meio parente Moreira Franco. Quem conhece Moreira não aceita o argumento. Moreira é um Maquiavel com sinal trocado. Ele derruba aliados e ergue ninguém. Moreira só faz pelo Moreira.

Então, que ninguém se canse em formulações. Rodrigo Maia está lá por conta própria. Sabe acelerar no vácuo e com controle do volante, para não sair da pista.

É o que fez novamente, quando o Gustavo Bebianno perdeu o Ministério. Rodrigo estava no vácuo e assumiu a posição do ex-ministro na pista, na liderança do processo de decisão sobre a Reforma da Previdência.

No tempo do Michel Temer, Rodrigo Maia, com habilidade, viu o presidente balançar. Sentiu o vácuo, mas percebeu que não deveria ultrapassar. Bastaria dar o recado de estar colado na traseira.

Michel Temer, imobilizado, assistiu a visita do Rodrigo Maia ao Brazil Institute do Wilson Center, em Washington. Lá, Rodrigo Maia marcou o terreno. PT em desgraça, Rodrigo Maia, com a qualidade de ser o presidente da Câmara, substituto eventual e, naquele tempo, até possível do Michel Temer, mandou o recado:

“O Bolsa Família escraviza. Criar um programa para escravizar as pessoas não é bom propósito. Programa bom é onde você inclui a pessoa e dá a ela as condições para viver na sociedade com as próprias pernas e conseguir um bom emprego. A dependência criada pelo programa atrela as pessoas ao Estado. Como você dá condições para o cidadão pobre, que depende do Bolsa Família, sair dessa dependência? Educação e saúde….”.

Deu o recado: posso ser Presidente da República.

O que na corrida de Fórmula 1 ou na física tem o nome de vácuo, na estratégia responde pelo de oportunidades. Está no conceito. Oportunidade a gente captura e conserva. Sempre será útil.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

“Brasil – Nova realidade”

Encontrei um exemplar do jornalzinho criado pelo Presidente da FESO – Fundação Educacional Serra dos Órgãos (Faculdades de Teresópolis), uma edição de maio de 1989. Nele há um artigo publicado por mim, a convite do Irineu Dias da Rosa, em razão de uma palestra que fiz lá antes da visita do Collor em campanha. Como nesse artigo defendo as mesmas posições que defendo hoje, decidi compartilhar por aqui.

“Brasil – Nova realidade”

“Tudo leva mais tempo do que se espera”
“Tudo é mais difícil do que se pensa”
“Tudo o que pode não dar certo, não dará certo”

(Leis do Rei Murphy – Irlanda)

Desanimar não resolve! Vive o Brasil momentos de angústia e expectação. Todos os valores estão sendo questionados. A procura de caminhos novos não é contudo exclusividade nossa. O mundo procura uma saída nova!

Cada fato novo registrado no noticiário político e econômico do país, mais me convence que a solução está na revisão do nosso modelo econômico fundado na estatização  e intervenção estatal na vida da sociedade.

E neste momento a universidade tem grande importância, pois que qualquer solução deve ser fruto de muita imaginação e debate. A ideia de cada um deve ser discutida e avaliada e é com esta disposição que faço algumas colocações sobre o problema brasileiro.

A inflação, instrumento desorganizado da economia, desestimulador de investimentos e incentivador de especulação indolente, reflete a arrogância e o gigantismo do Estado brasileiro. É o exato retrato do intervencionismo estatal, parte integrante de nossa história – talvez por vício de origem – já que os portugueses sempre foram mercantilistas.

Sempre se tocou o desenvolvimento a partir dos investimentos estatais e aplicação de incentivos fiscais, subsídios e juros negativos. Por outro lado, seguindo o “ethos militar de segurança nacional” – instituíram-se monopólios estatais e intervenções em setores econômicos importantes.

Como tais incentivos e subsídios deveriam ser distribuídos “com toda justiça”, toda e qualquer atividade econômica passou a depender de licenças e autorizações oficiais. Comprar ou vender aço, trigo, açúcar, álcool, petróleo, passou a ser atividade autorizada pelo executivo.

Tal comportamento veio, durante anos criança privilégios, distorcendo o mercado e induzindo comportamentos.

O burocrata do Estado acredita sempre ser um pequeno Deus que tudo sabe e tudo pode.

A sociedade toda, empresários, empregados, políticos, etc…, passou a viver uma triste ilusão: a de que o Estado cria recursos. Ledo engano. Quando se administra privilégios através de subsídios ou incentivos alguém paga – ou com impostos ou com inflação – o mais injusto deles.

Em resumo: todo o sacrifício imposto à sociedade brasileira tem sido para manter privilegiados e por vezes parasitas do Estado.

Uma revisão se impõe de forma urgente: implantar a liberdade econômica ao lado da liberdade política, sem constrangimentos.

A concorrência livre, característica que só o mercado contém, estimula a eficiência e empurra o progresso, permitindo a todos aqueles que se dedicam e trabalham duro, a certeza do lucro do seu trabalho, distribuindo empregos justos e satisfação pessoal.

Daí o liberalismo como instrumento de fundamental importância num país onde o Estado decide desde o preço do pão ao preço do automóvel, do salário do trabalhador ao lucro do empresário, do preço do dinheiro ao risco da aplicação.

Interessante notar que enquanto Estado Brasileiro possui os melhores bancos, a única empresa de petróleo, os melhores de aço a sociedade nunca conheceu piores serviços de saúde, educação e saneamento.

“É liberal a ideia de que o homem tem liberdade de escolher sua vida, os seus objetivos e de que o governo não pode negar essa liberdade” (Vicente Barretto).

Quem deve efetivamente decidir o que é melhor para si e para sua família deve ser o próprio indivíduo: a partir desta decisão pressionar o mercado, e aqueles que prontamente atenderem ao apelo serão mais ricos e poderosos. Ao Estado caberá criar regras, a partir do poder de coesão, que não permitam distorções e que garantam a liberdade de cada um. Os sistemas políticos devem ser a garantia de nossa liberdade e não de nossos privilégios!

“O ESTADO É A GRANDE FICÇÃO PELA QUAL TODAS AS PESSOAS TENTAM VIVER ÀS CUSTAS DAS OUTROS” (Frederic Bastiak)

Não será fácil a mudança. Contudo é ela a garantia de um país mais justo para todos e por isso deve começar em nós. Em nossa vida particular e profissional devemos estender o debate, conscientizando a sociedade, principalmente no ano em que escolheremos o novo Presidente da República. Precisamos criar a consciência de cobrar propostas séries não espalhafatosas nem demagógicas.

Será conveniente ao Brasil eleger propostas mais estatizantes? Será patriótico e justo continuar administrando privilégios?

O país precisa de trabalho, eficiência e liberdade para agir. A nação brasileira vem amadurecendo muito pelas  decepções que o Estado centralizador e intervencionista provocou.

Está na hora de agir e com consciência.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Quem precisa de voto tem medo

A eleição do presidente do Senado Federal foi disputadíssima? Aparentemente, sim. Na realidade, não. Era fatura decidida em favor do vencedor, senador Davi Alcolumbre, desde o primeiro momento da sessão. Os olhos de alguém acostumado à construção e análise de estratégias seria capaz de antecipar o resultado, pela ótica das oportunidades e ameaças apresentadas nas imagens transmitidas pela TV Senado.

O senador Renan Calheiros abriu como candidato preferencial. Imbatível, pelo histórico e por pertencer ao partido com maior número de cadeiras no Senado, o MDB. Abriu-se a sessão de posse dos novos senadores e escolha da Mesa Diretora, que conduzirá o Senado nos próximos dois anos, com direito de reeleição por mais dois.

O senador Davi Alcolumbre usou a função de único remanescente da Mesa Diretora a ser substituída, para assumir a presidência da sessão. Ele está na primeira metade do primeiro mandato, que começou em 2015 e terminará em 2023. Na presidência interina, ele empossou os senadores na nova legislatura e abriu a segunda parte da sessão, destinada à eleição da Mesa Diretora.

Neste momento, Renan Calheiros, de muitos mandatos, reeleito e empossado, entrou em desespero com endereço certo: O senador Davi Alcolumbre. As angústias de um homem experimentado indicam risco, ameaças. Ora, com votos suficientes e garantidos para ser o presidente, Calheiros deixaria a sessão correr. No entanto, ele perdeu o autocontrole e enlouqueceu a aliada senadora Kátia Abreu. O Brasil todo e talvez o mundo inteiro, viram do que ela foi capaz para prestar serviços ao colega Renan.  

Davi Alcolumbre permaneceu frio e firme no comando da sessão. Transmitiu a imagem de segurança dos votos que conquistara na campanha. Vários senadores, de público, registraram a visita que receberam dele nos estados à busca do voto.  Alcolumbre, ainda presidindo a sessão, à deliberação do plenário a eleição por voto aberto. Venceu com o voto de 52 dos 81 senadores. Está dado outro sinal de vitória antecipada.

Novamente, Renan Calheiros perdeu as estribeiras e correu para o STF, com o intuito de anular a decisão do plenário. Ele conseguiu uma liminar do presidente do Tribunal e um reforço para a imagem de homem desesperado. A votação teve início, com senadores, sem receio, declarando o voto para constranger quem não declarasse. Alguém, então, fraudou o processo.

O senador Renan Calheiros precisaria de mais tempo para amedrontar os colegas com a decisão do presidente do STF. Mas, a Mesa, já sob a presidência do senador mais idoso, como manda a regra, decidiu anular a votação e, imediatamente, partir para a próxima. O tempo que Renan queria pra si, ele, na verdade, entregou ao povo, que reforçou a pressão sobre os senadores que insistiram, na primeira votação, em manter o sigilo do voto.

Xeque-Mate. O povo conseguiu.

Em que momento o senador Renan Calheiros perdeu a disputa? No momento em que o povo brasileiro entendeu que é possível sim pressionar e levar. Quem precisa de voto tem medo.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Mentira tem perna curta?

Sugiro “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam”, livro que tem como autor um time de 14 pesquisadores coordenados pelo Al Franken, mestre da sátira política americana. A obra, de 2004, confronta os profissionais da imprensa com as inverdades que constroem para participarem da vida política, tentando o papel de ator principal.

Eu deveria ter feito a sugestão de leitura no tempo das campanhas  eleitorais de 2018, porque elas foram a representação brasileira da obra. Mas, de certo modo continuam sendo, porque os governos eleitos ainda permanecem em campanha e a imprensa faz o mesmo.

O livro age parecido com o que se tenta fazer por aqui com a agência Lupa: checar as informações veiculadas pelos candidatos e mídia.

O livro tem lado político e a agência Lupa claudicou na campanha de 2018, porque adotou a mesma postura.

Já nas primeiras páginas, o livro é bom e engraçado. Ann Coulter, colunista famosa de diversos jornais importantes dos EUA, advogada, mereceu um capítulo do livro. O autor comenta um dos livros escritos pela Ann. Vamos lá:

“Para sustentar sua afirmação de que a grande mídia está nas mãos de esquerdistas, Coulter afirma que o chefe da sucursal da Newsweek em Washington, Evan Thomas, é filho de Norman Thomas, um candidato socialista à presidência em quatro ocasiões. Norman Thomas foi candidato socialista seis vezes… e não era pai de Evan Thomas”.

“Para ser justo com Coulter, esse tipo de pesquisa é difícil de fazer”. Al Franken, simplesmente, ligou para Evan Thomas, e transcreve o telefonema no livro:

– Evan, obrigado por atender à minha ligação.
– Tudo bem, Al. O que deseja?
– Norman Thomas foi seu pai?
– Não.
– Tem certeza?
– Sim.
– E como era o nome do seu pai?
– Evan Thomas. Eu sou Junior
– Ah! E seu pai, Evan Thomas, foi candidato à presidência?
– Não. Ele era editor.
– Tem certeza?
– Sim. Al, isso tem a ver com aquela coisa da Ann Coulter?
– Sim.
– Ouvi falar nisso. Há alguma coisa errada com ela?

É o não é assim, por aqui? A imprensa brasileira não confere, nem pergunta, simplesmente, afirma e quando pergunta, não considera as respostas, a não ser para apresentá-las ao distinto público como deboche.

O livro vale como instrumento de elaboração de estratégias de comunicação para campanhas. Em especial, o capítulo 15: A turma do ‘culpe primeiro o ex-presidente americano’, referindo-se ao 11 de setembro e ao ex-presidente Clinton. Não se culpe, nem se lamente, se no correr da leitura você lembrar do Jornal Nacional, e das imagens do William Bonner e da Ana Paula.

Boa leitura.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

A coerência não autoriza irresponsabilidade

Tudo o que diz e faz o presidente Jair Bolsonaro e a família dele pega fogo, pela personalidade incendiária deles e dos adversários. Assim aconteceu com uma frase postada pelo presidente no Twitter, quando o deputado federal Jean Wyllys comunicou a decisão de não retornar ao Brasil após as férias, para assumir um novo mandato de deputado federal.

Criticado, o presidente avisou que não fez referência à decisão do deputado e é mesmo possível, que não tenha feito. Mas, as circunstâncias de relacionamento entre os dois e a personalidade irônica do presidente autorizaram os comentaristas.  

O episódio torna relevante uma questão útil para a estratégia de comunicação neste tempo de quase absoluta transparência. Ela diz que não se deve esperar dos políticos o jeito tradicional de esconder o que pensam ou de evitar as polêmicas, porque os eleitores estão exigentes no quesito coerência. Nisso Jair Bolsonaro se enquadra. O presidente é a configuração exata do cidadão Jair Bolsonaro. Mas, até que ponto essa relação deve permanecer assim?

A estratégia examina o cenário e responde: “Sempre!”. Houve tempo mais fácil para as situações em que as imagens dos políticos não correspondiam à realidade. Hoje é demolidor. O que não quer dizer que o presidente da República está autorizado a agir ou falar por impulso. Ele, mais do que o cidadão comum, precisa refletir e organizar atitudes e palavras, para não precisar se desculpar ou desfazer.

As palavras de um presidente e de um líder levam as pessoas e as empresas a tomarem decisões que, no mundo moderno, são velozes. Isso gera custo. Imagine o que é ter um presidente ou um líder que decida ou fale em zigue-zague.

Jair Bolsonaro é o presidente da república e o que ele diz tem peso de decisão na vida das pessoas, das empresas, e significa muito para a imagem dele como líder de uma nação. E um líder tem necessidade de imagem positiva para o sucesso dos projetos que abraça.

Está bem pertinho de nós ainda o exemplo do ex-presidente Michel Temer. Com um tiquinho de imagem positiva, conquistada no confronto com a imagem extremamente negativa da ex-presidente Dilma (imagem não é valor absoluto), ele conseguiu realizar algumas proezas. Outras não fez, porque Joesley Batista, numa jogada negociada com o Ministério Público Federal,  gravou a conversa que teve com ele no porão do Palácio do Jaburu.

A questão para um presidente ou líder não está no falar ou agir do modo como age ou fala naturalmente, mas no modo como faz e com que propósito faz e diz, para não ter a obrigação de desdizer ou desmentir. O reconhecer um erro é ato humilde, mas produz um prejuízo enorme. É como pisar no calo de alguém: dói e nenhum pedido de desculpas do mundo alivia a dor.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Dario tem um recado para Flavio Bolsonaro

Luis Maurício e Pedro Augusto, netos de Carlos Drummond de Andrade, reuniram textos do avô sobre as Copas do Mundo, de 1954 a 1986 – última dele com vida. Publicaram em 2014, pela Companhia das Letras, com o título “Quando é Dia de Futebol”.

De uma das minhas estantes, a obra andou a me provocar desde meu aniversário de 2017, quando a recebi de presente e lá a coloquei. A espera foi uma grande besteira minha. O livro é magnífico, não só por ser Drummond, mas pela maneira como foi composto pelos netos dele. É futebol na veia, escrito e vivido de um modo que não se tem mais no Brasil, e política, de um jeito que ainda teimamos ter.  

A Copa de 1954 está na abertura, com a frase: “O mérito da derrota consiste em isentar o derrotado de qualquer responsabilidade de vitória”. A frase foi para o resultado da Copa daquele ano, mas cabe como uma luva na eleição do ano passado. No mesmo artigo há outra passagem que me arrancou risos por uma história pessoal e por isso sacrifiquei-a com os meus marcadores de texto:

“Somos fluminenses ou vascos pela necessidade de optar, como somos liberais, socialistas ou reacionários. Apenas, se não é rara a mudança do indivíduo para outro partido, nunca se viu, que eu saiba, torcedor de um clube abandoná-lo em favor de outro”.

Na Copa de 58, o Brasil foi campeão. Drummond comemorou a vitória com “Celebremos”, onde há uma passagem muito atual:

“Não me venham insinuar que o futebol é o único motivo nacional de euforia e que com ele nos consolamos da ineficiência ou da inaptidão nos setores práticos. Essa vitória no estádio tem precisamente o encanto de abrir os olhos de muita gente para as discutidas e negadas capacidades brasileiras de organização, de persistência, de resistência, de espírito associativo e de técnica. Indica valores morais e eugênicos, saúde de corpo e de espírito, poder de adaptação e de superação. Não se trata de esconder nossas carências, mas de mostrar como vêm sendo corrigidas, como se temperam com virtualidades que a educação irá desvendando, e de assinalar o avanço imenso que nossa gente vai alcançando na descoberta de si mesma”.

Em 62, o Brasil conquistou o bicampeonato. João Goulart era Presidente da República de um parlamentarismo de ocasião e andava preocupado com a escolha de ministros. Drummond escreveu “Seleção de Ouro” que, pela qualidade dos atuais jogadores da seleção brasileira, não se pode atualizar.

“Este bi veio na hora H”, escreveu Drummond. “Os políticos procuram um rumo para a nação e não o encontram, ou querem encontrá-lo fora do lugar. A mudança do gabinete, que devia ser caso de rotina, assumiu ares de problema grave, e ninguém sabe como compor a nova equipe dirigente. Ninguém? É exagero. Modestamente vos proponho a equipe ideal, que não é nem pode ser outra senão a equipe detentora da Taça Jules Rimet. O Correio da Manhã pediu um time de ministros tão bem selecionado como o time de futebol; é o próprio…”. E Drummond lista jogadores e posição que cada um poderia ocupar no ministério. Hoje, seguramente, Drummond não correria o risco. Drummond não viveu para sofrer o vexame do 7×1, nem as vergonhas de 2018.

Quem começa a leitura não encerra antes do ponto final da obra toda, que termina com o posfácio do Juca Kfouri: “As palavras mais sublimes do futebol”.

É impossível destacar os melhores momentos de uma obra magnífica. “No Elevador”, é fantástico. Conta a vida de um ascensorista vascaíno. ‘Falou e disse” faz um tratado da frase famosa do Dario, “Não me venha com problemáticas, pois tenho solucionáticas”. Boa colocação que podemos apresentar, como lição de vida prática, ao nobre senador Flávio Bolsonaro, que anda por aí cheio de problemáticas.

“Parlamento da Rua”, é o retrato das discussões estéreis do futebol, como têm sido os debates nos parlamentos do Brasil todo, com a imprensa a ocupar o lugar do espírito de porco, “símbolo de individualismo renitente”. “O latim está vivo” é artigo de humor puro.

No livro há Pelé: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, com Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Há Garrincha, Tostão, Zagallo, Didi, Rivelino. Mas, há também Maluf no “Entre Céu e Terra, a bola”. Escreveu Drummond sobre Maluf: “O dr. Maluf presume-se jogador de qualquer posição, capaz até de, como goleiro, fazer gol ao devolver a bola, mas uma sólida marcação pode travar-lhe o ímpeto”. Demorou, mas travou.

E há Jânio, que “deixou de ser confiável ao abandonar o campo nos primeiros minutos do jogo”. Há também generais, pré-candidatos, que embolarão o meio-campo no afã de ocuparem a mesma área, que não dá para todos”. Uau! Serve bem para o que andam fazendo os generais no governo Bolsonaro!

Encerro, com a observação de Drummond sobre os juízes de futebol, que também tem bom espaço no que anda a acontecer com a política hoje: “A imparcialidade do juiz é um virtude que desejaríamos se voltasse para o nosso lado”.

Leiam. Vocês adorarão, com certeza.

Por Jackson Vasconcelos