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Vencer eleição pra quê?

Estamos no mês de setembro, a caminho de outubro, décimo mês após a posse dos governadores e do presidente da República. Há pela frente três anos e três meses de mandato. Era de se esperar, pelo tamanho das dificuldades de fazer a máquina pública funcionar no Brasil e magnitude dos problemas nacionais, que o presidente e os governadores estivessem ocupados até o último fio do cabelo com as tarefas que prometeram cumprir. Não é o caso. Eles estão em campanha novamente.

Os governadores do Rio e de São Paulo, por exemplo, querem a presidência e o presidente pretende continuar lá por mais quatro anos. Ele não pretendia, mas quando lá chegou, gostou do lugar e quer ficar. Tomara que só por mais quatro anos.

Os três, então, entraram em rota de colisão. No meio disso, há as campanhas para as prefeituras e câmaras municipais numa eleição que acontecerá em outubro do próximo ano. O presidente terá seus candidatos e os governadores também.

Evidentemente, em razão da disputa pela presidência das República, os candidatos do presidente às prefeituras não serão a preferência dos governadores de São Paulo e Rio. Eis aí outro campo de cisão. No Rio de Janeiro, o partido do presidente rompeu com o governador que o presidente elegeu, porque o cara resolveu ser presidente no lugar do chefe e os dois não podem partir juntos na eleição municipal.

Os movimentos não param aí, porque há senadores e deputados federais e estaduais apresentando-se como candidatos a prefeito. Eles assumiram os mandatos nos parlamentos há apenas oito meses.

Onde fica o povo nisso tudo?

Uma parte dele até gosta. Quem está na imprensa, por exemplo, porque tem assunto sem muito trabalho. Quem está na política e vive dela, também, porque as campanhas empolgam mais e cobram menos serviço do que as políticas públicas.

No entanto, se juntarmos toda essa gente, que está feliz com o processo, teremos uma gota no oceano da população brasileira que, por costume, depende em quase tudo do Estado Brasileiro e espera por providências que lhe dificultem menos a vida.

Temos aí, claramente, um desencontro de interesses. E isso penaliza a sociedade brasileira com uma qualidade ruim dos serviços públicos e uma agenda sempre repetida e sem solução na saúde, na educação, na segurança pública, na autonomia para empreender, na ordem pública.

Como se poderá resolver isso? Porventura, acabando-se com as eleições, para não se ter mais campanhas? Tirando a democracia do caminho, como deseja Carlos Bolsonaro, com o argumento que com ela as soluções se tornam mais difíceis?

Nunca, porque aqui e em outros lugares do mundo já se tentou esse caminho e o final da história não valeu a pena.

A solução está onde está o problema. O povo deve decidir o destino do voto com base nos resultados efetivos dos serviços oferecidos pelos governos e do trabalho feito pelos representantes que escolheu. E, cá entre nós, começou a ser assim, só que muitos políticos, candidatos profissionais, ainda não perceberam e dão para os resultados das últimas eleições todo tipo de argumento. Dizem, por exemplo, que os chutes nos traseiros foram uma onda renovadora provocada pelas mídias sociais. Então, correm para elas. Os que se elegeram pensam do mesmo modo e, como estavam nas mídias sociais, reforçam o time e o jogo pesado.

Podem acreditar que a resposta correta é: apesar de sermos uma democracia muito jovem, nossa gente já aprendeu que com um clique na tela de um computador específico, a urna eletrônica, ele pode demitir quem não correspondeu. O povo brasileiro aprendeu que vale a pena arriscar em algo que ele não conhece, quando o que ele conhece não lhe serve mais.

Quem, nesse momento, estiver pensando em campanhas, que pense direito, para não se frustrar e andar por aí à busca de argumentos que não sustentam a tese.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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A sociedade será esmagada?

Lembremos do Vinicius de Moraes, por um segundo, para aliviar essa espinhosa tarefa de trabalhar com a estratégia como tema e a política como campo de operação. Vinicius compôs “A Casa”, que “era uma coisa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela, não, porque na casa não tinha chão”.

O Orçamento da União, diferente da Casa do Vinícius, tem um teto determinado pela inflação do ano anterior, conforme determina a Emenda à Constituição 95, coisa recente criada pelo intenso, mas curto, governo do presidente Michel Temer.

Durante e após o processo de aprovação da emenda, estabeleceu-se a polêmica entre gente que defende o teto, gente que aceita um teto para algumas rubricas, outras não, e gente que não quer ouvir, de forma nenhuma, falar em teto.

O debate esteve morno durante algum tempo, porque o orçamento da União acomodou-se com a repatriação de capitais, ocorrida em 2016, ocorrência que produziu receitas adicionais no valor de R$ 46,8 bilhões. E, também, vejam que coisa curiosa, com o crescimento da inflação provocado pela greve dos caminhoneiros.

Em 2019, sem receitas adicionais, inflação mais baixa no ano passado e gastos com a previdência sempre crescentes, as discussões sobre o teto dos gastos retornaram com força. Com teto fixo e piso móvel, fica fácil imaginar o que acontece com quem está no ambiente enquanto o chão se aproxima do teto: risco de esmagamento.

Como os governos têm uma dificuldade imensa de reduzir despesas (piso), o teto passa a ser um risco, porque, mantido, ele esmagará todo o sistema de contas públicas. Por isso, há muitos que defendem um novo teto ou teto nenhum.

Mas minha questão fundamental vai em outra direção: o risco de se ter tetos de gastos para nenhuma qualidade ou qualidade ruim das despesas, fato importante, quando chegamos à vizinhança das campanhas para prefeitos e vereadores, elementos que definem os orçamentos municipais.

De nada adianta definir quanto do orçamento se destinará, por exemplo, para a saúde e educação, se tais gastos não estiverem vinculados a algum compromisso com o desempenho dessas políticas públicas. E isso vale para todas as rubricas dos orçamentos. Houve tempo em que a obrigação seria quase impossível de se determinar, por falta de indicadores. Hoje, não! O Brasil tem indicadores para medir o desempenho de qualquer política pública. Medir e avaliar.

Eu me lembro que a ex-deputada federal Denise Frossard, consciente do problema, chegou a propor ao Congresso Nacional amarrar o orçamento da União aos resultados dos gastos públicos. Isso sim seria uma maravilha. Evidentemente, o governo fez ouvidos moucos para a proposta. Mas ainda é tempo.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um truque de jornalista

No início da última segunda-feira (2/9), entrou na tela do meu celular uma notícia da Folha de São Paulo: “Se a eleição fosse hoje, Haddad venceria Bolsonaro por 42% a 36%, indica Datafolha”.

A matéria estava sustentada na demonstração de queda no percentual de votos dados ao presidente, de 55,13% para 36%, e queda também do percentual de votos dados ao Fernando Haddad de 44,87% para 42%. Como o percentual de 36% é menor do que 42%, a conclusão da notícia está na manchete.

A confiança na fonte atendeu bem ao desejo dos arrependidos pela escolha que fizeram na eleição e dos contrariados por terem escolhido o derrotado. Imediatamente, travou-se a batalha, já de rotina na comunicação. Um lado desacreditou a pesquisa e o outro deu-lhe crédito absoluto.

Mas, apartando os lados, não assumindo nenhum deles, há um problema no ambiente e ele não está na pesquisa, mas na notícia. Sobre a pesquisa não existe causa para contestar os resultados. Contudo, eles não são elementos suficientes para garantir a matéria, quando ela afirma que, se a eleição fosse hoje, Haddad venceria. Falta um elemento nessa proposição: o que fez os votos de Bolsonaro migrarem?

Descendo um pouco mais para os detalhes, o Datafolha identifica mudança de posição em 24% dos eleitores que votaram no Bolsonaro: 10% votariam no Haddad; 13%, branco ou nulo. Com relação ao Haddad, 88% dos eleitores que votaram nele manteriam o voto hoje. Portanto, 12% não; 4% mudariam o voto para Bolsonaro e 6% votariam nulo e branco. Dos votos brancos e nulos dados na eleição, 68% manteriam a opção, 21% mudariam para Haddad e 6% para Bolsonaro.

Uma só situação explica o fato: o desempenho do candidato Jair Bolsonaro como Presidente da República. Não há outra informação disponível nem razoável.

Ora, se em teste está o desempenho do presidente, a pesquisa para sustentar a notícia, deveria considerar todo o período do mandato dele. Não é o caso. Ou, deveria medir, por justo, as reações dos eleitores do Haddad às decisões e atitudes dele como presidente da república. Impraticável, porque isso não aconteceu. E, se tivesse acontecido? Quem sabe, a matéria não teria sinal invertido? Ao assim: “Se a eleição fosse hoje, Bolsonaro venceria Haddad por…”.

Como não há eleição para a Presidência da República prevista para “hoje”, a notícia trazida pelo Instituto Datafolha é, tão somente, o aborrecimento de 24% dos eleitores do Bolsonaro com ele e a decisão de 10% deles de voltar no tempo – ato impossível – e escolher o Haddad.

Imaginemos a situação transportada para um jogo de futebol. Temos um time em campo jogando e outro na arquibancada assistindo o jogo e se levanta uma questão com os que assistem o jogo? Quem cometeu mais faltas em campo?

Antes de encerrar, talvez por legítima defesa antecipada num ambiente aguerrido como está o campo do debate político, quero dividir com os leitores e leitoras, as palavras da Monja Cohen, na obra que dividiu com o filósofo e professor Clóvis de Barros Filho, “A Monja e o Professor – reflexões sobre ética, preceitos e valores”.

Diz ela: “Estive num encontro de professores muito bonito no Paraná. Um professor que viera de Portugal deu este exemplo: se você for fazer uma compra, haverá uma troca. Você pode dar dinheiro, e eu, um objeto. Você ficará com uma coisa, e eu, com outra. Mas, se eu der uma ideia e você tiver uma ideia diferente, teremos duas ideias. Você ficou rica e eu também. Nós nos enriquecemos com ideias. Então, mudou de ideia? Sim, mudei, porque eu não tinha percebido, não tinha pensado dessa forma”.

Enfim. Toda informação terá sempre uma segunda leitura e esse é um cuidado que estrategistas precisam ter.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Temos o nosso Macron?

Vejo um Emmanuel Macron em formação por aqui. Se o presidente Jair Bolsonaro não entender isso logo, em 2022, será tarde demais.

Minha bússola de estratégia política é Dick Morris, estrategista conhecido pelo sucesso das campanhas dos Clinton. Ele está presente na mídia social, com um canal de Youtube, dickmorrisreports que, por estratégia de comunicação, oferece pílulas dos comentários dele com continuação no site, dickmorris.com.

O livro mais recente dele é “50 shades of politics” (50 tons de política), sem tradução para o português. A melhor obra, contudo, é “Jogos de Poder”, inspiração modesta para o livro “Que raios de eleição é essa”, que escrevi há dois anos, quando a onda Bolsonaro começou a aparecer no horizonte e alguns surfistas foram estimulados a prepararem-se para aproveitá-la.

Dick Morris, no início do “Jogos do Poder”, na página 12, alerta: “Qualquer pessoa que queira fazer carreira na política tem de compreender que outros vieram antes, e que um estudo da história pode evitar muita dor de cabeça no caminho”. Uma tese facilmente comprovada com uma passagem de olhos pela história da política.

Seja como farsa, seja como tragédia (do modo como Marx construiu uma paráfrase a partir de Hegel), ou seja como for, a verdade é que há semelhanças entre os fatos políticos e personagens ao longo da história.

Bolsonaro repete Jânio, uma tragédia que construiu Collor, a farsa. Na prefeitura do Rio, César Maia, nem farsa nem tragédia, mas um administrador público bem sucedido, refez a memória de Lacerda, uma tragédia como político e nunca uma farsa como administrador público. Em São Paulo, Erundina foi a tragédia que antecedeu a farsa Suplicy.

Enfim. É assim que os fatos e personagens acontecem na política. Com esse alerta, prestemos atenção à história do Emmanuel Macron, ministro da Economia do presidente François Hollande e façamos isso com atenção para as semelhanças por aqui.

Macron assumiu o Ministério com a esperança de colocar em prática as propostas que tinha para a França. Encontrou enormes dificuldades pelo caminho, conforme relata na autobiografia “Emmanuel Macron Revolução”. Diz ele ali: “Quanto à minha ação como ministro, ela era travada pelo acúmulo dos erros de análise, incompetências técnicas e de segundas intenções pessoais”.

Mais adiante, Macron justifica o afastamento dele do presidente que lhe deu o Ministério mais importante da França: “Quando dizem que eu deveria ter obedecido ao presidente como um robô, que deveria renunciar às minhas ideias, acorrentar ao destino dele a realização do que acredito ser justo, simplesmente porque ele me havia nomeado ministro, o que estão dizendo? Que a ideia do bem público deve desaparecer diante da do serviço prestado. Fiquei impressionado ao ver a ingenuidade daqueles que queriam me acusar confessando que, para eles, no fundo, a política obedecia à regra do grupo social: à regra da submissão na esperança de uma recompensa pessoal… O Presidente me dera a oportunidade de servir ao meu país ao lado dele e, depois, como membro do governo. Mas, a minha fidelidade se dirige apenas ao meu país, não a um partido, a uma função ou a um homem. Só aceitei as funções que tive porque elas me permitiam servir à França”.

O presidente Jair Bolsonaro deveria aproveitar as encrencas que criou com o presidente francês para entender por quais caminhos ele chegou lá, porque, por aqui, há algo bem semelhante em andamento. O Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, enfrenta toda sorte de dificuldades para colocar em prática as medidas que estimularam nele a decisão de deixar para trás a toga e abraçar as causas que o Presidente defendeu em praça pública.

Ou a história e a foto do Macron e do Moro serão meras coincidências sem importância para a recomendação de Dick Morris: “Outros vieram antes. Um estudo da história pode evitar muita dor de cabeça no caminho”.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Com que autoridade abusam?

A proposta de uma lei para coibir o abuso de autoridade é o exemplo mais recente do espaço que o debate democrático perdeu no Brasil. Quem pede a lei é considerado cúmplice da corrupção e quem não a deseja é a favor do combate firme e determinado à ela. Não há meio-termo.

No ringue, como atores principais, estão, de um lado, os políticos e, de outro, delegados, promotores e juízes. Na plateia, estão os torcedores de uns e de outros.

É assim sobre qualquer assunto, porque os ouvidos estão surdos para as opiniões contrárias e a paciência é nenhuma com os argumentos alheios. O Brasil está transformado num grande mosaico de torcedores.

O debate aberto, com disposição para ouvir e considerar as opiniões contrárias, seria a melhor estratégia de reconstrução do Brasil, depois da avalanche que a corrupção provocou.

Como cidadão brasileiro, que passou um bom pedaço da vida profissional em cargos na máquina pública e hoje foge delas, eu aviso, de pronto, que sou favorável à existência uma lei que coíba, de fato, os abusos de autoridade, porque sei que eles existem e duvido que os contrários à lei também não saibam.

Se há algo que no Brasil temos de sobra esse algo é o abuso de autoridade. Um distintivo e uma capa preta têm um poder incrível de transformação de personalidades afáveis em verdugos autoritários.

Os ouvidos estão surdos para as opiniões contrárias e a paciência é nenhuma com os argumentos alheios. O Brasil está transformado num grande mosaico de torcedores.
Mas, não desperdiçarei o espaço de nossa conversa com considerações jurídicas sobre a lei, até porque, nesta seara, sou um mero leigo curioso.

Quero cuidar do tema sobre o aspecto da estratégia de defesa da imagem pessoal e de comunicação dos agentes públicos, para dizer que tem sido difícil ou quase impossível para as pessoas de bem exercer funções públicas, porque sobre elas cai sempre o vírus da desconfiança com poder de corroer a imagem pessoal.

Pode a autoridade policial ou o Ministério Público investigar qualquer agente público por pura cisma ou denúncia e sem indício de crime? A lei em discussão diz que não. Mas, a gente sabe que nenhuma lei irá impedir que isso aconteça. O problema está no modo como a autoridade usa a prerrogativa de investigar os agentes públicos, a qualquer tempo e por qualquer tempo que lhe seja conveniente. A autoridade inicia a investigação e a imprensa é a primeira a saber do fato, antes mesmo dos investigados e ainda que a investigação se dê sob sigilo por determinação judicial.

Ora, sabe-se, por experiência, que a imprensa é o poder judiciário de última instância com uma agilidade impressionante para tocar os processos a ela submetidos e fazê-los transitar logo em julgado. Com rapidez, a imprensa julga e condena, nunca absolve.

Pode a autoridade policial e o Ministério Público investigarem pelo tempo que quiserem e bem entenderem? Podem passar uma vida inteira a investigar uma pessoa qualquer?

A lei já diz que não há muito tempo e determina prazos, mas, a gente sabe que as autoridades sempre encontram um caminho para estender o tempo. O problema está, novamente, no uso que a autoridade faz da prerrogativa.

Ela inicia a investigação, avisa ao distinto público que iniciou, o processo ganha ares de condenação e se estende no tempo por prazo indeterminado. Que loucura! Dali por diante, culpado ou inocente, o cidadão carregará pelo tempo que durará a investigação, uma espada sobre a cabeça. Evidentemente, com um prejuízo enorme para os inocentes.

A questão, quando se discute uma lei para o abuso de autoridade, está situada, portanto, no campo do sigilo e do direito que o cidadão tem à presunção de inocência. Fosse isso respeitado, eu tenho certeza que o abuso de autoridade não seria o tema a infernizar as discussões.

E, já que estamos a considerar o abuso de autoridade, que tal parar por um momento para lembrar que 41,5% dos presos no Brasil não foram a julgamento ainda e quase todos eles estão na cadeia por tempo maior do que a condenação total prevista para os crimes de que são acusados? O dado é do Conselho Nacional de Justiça e mostra quanto estão distantes da realidade brasileira os temas colocados em debate apaixonado na arena política.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O que é “earned creative”?

Temos nos batido numa questão: as campanhas eleitorais e de imagem dos políticos não levam em consideração os conceitos modernos de comunicação. Por isso, elas têm gerado pouco resultado na conversão da mensagem em voto. Pensando nisso, me chamou a atenção a entrevista da Judy John, ao Meio & Mensagem de 29 de julho. Canadense, ela criou uma campanha de sucesso sobre igualdade de gênero, a “Like a Girl”, para inverter uma expressão pejorativa. O trabalho é muito bom mesmo.

Retirei da entrevista da Judy um pequeno trecho, útil para a elaboração de estratégias de comunicação, portanto, para o nosso trabalho. Ela define e esclarece o “earned creative”, a comunicação social pelo design.

“Eu sou”, diz ela, “totalmente a favor disso, porque se pensarmos em como interagimos com a mídia, tudo está no celular, no computador, ninguém assiste a programas ao vivo na televisão, talvez a jogos esportivos… mas no Instagram, a pessoa fica rolando o feed e de repente para porque viu algo interessante. Ou está no computador e assiste a um vídeo porque alguém enviou. Todo o resto não é interessante. Precisa ser algo que ganhe o tempo da pessoa”.

Em seguida, Isabella Lessa, entrevistadora, pergunta: “É uma concorrência pelo tempo e não mais entre marcas…”. Judy respondeu: É. Nossas marcas estão competindo com o trailer de um filme, com o cachorro e o menino comendo espaguete. Com esses vídeos engraçados que as pessoas veem porque entretém”.

Eis aí um bom caminho para se criar campanhas mais criativas e efetivas para conquistar o voto e a reputação.

Por Jackson Vasconcelos

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E as mulheres, hein?

A situação que dificulta a participação da mulher na política e cria as imagens e fotos masculinas do poder no Brasil é, portanto, e em resumo, a falta de democracia e mérito na disputa pelo poder nos partidos políticos. Uma situação que nem a cota obrigatória resolveu, porque, por obrigação não se faz política.

Há uma passagem na vida política da Denise Frossard que gosto de lembrar, quando a participação da mulher é o tema:

No plenário da Câmara dos Deputados, numa sessão comemorativa do Dia Internacional da Mulher, com a Mesa Diretora composta, Denise foi ao microfone de apartes e, com voz firme, avisou: “Enquanto sobreviver a imagem que vejo daqui, de uma Mesa Diretora só de homens, não há o que comemorar. Existe sim, razão para permanecer na luta por espaços no poder desta Casa, um poder que não pode ser concedido, mas conquistado pelo voto, essência da existência deste Poder”.

Nas palavras da Denise estava uma questão conceitual relevante, quando ela marcou a diferença entre espaço concedido e espaço de poder conquistado no voto, porque numa representação ainda minoritária da mulher nos parlamentos e governos está outra questão de fundo: algumas lá estão por herança paterna ou por representação de seus maridos.

O Brasil é um país de democracia recente. Voltamos a eleger prefeitos para as capitais e “áreas de segurança” (isso existiu) há pouco mais de 30 anos, governadores há pouco mais de 35 e presidente da república há 30. A “Constituição Cidadã” tem apenas 31 anos e com adaptações constantes.

Posso afirmar que somos uma democracia em construção e boa medida será perseguir o equilíbrio de gênero na composição do poder. Um bom caminho para isso é uma reforma no sistema político para estabelecer o respeito às regras da democracia na disputa do comando dos partidos. É neles que se aprende a participação política. É por eles que devemos começar o amadurecimento.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um convite para morrer

Trago à análise hoje a entrevista do Ciro Gomes ao Broadcast do Estadão, para mostrar a vocês um discurso que não deve fazer quem deseja ser candidato a presidente de um país de gente em desespero à busca de esperança. Não é por acaso ou falta de sorte que Ciro Gomes já foi candidato a Presidente da República três vezes e todas elas derrotado. A razão: o discurso equivocado.

Entrevistado por duas jovens jornalistas, Ciro discorre sobre o desejo de punir os parlamentares do PDT que votaram a favor da reforma da previdência, principalmente, a jovem deputada Tábata do Amaral. Age com arrogância quando chama para ele a exclusividade de ter lido as sessenta e tantas páginas do projeto. E chega à pergunta sobre o futuro político dele: 

Pergunta: O Bolsonaro fez questão de se colocar ali como candidato à reeleição, para que não haja confusão sobre quem será o nome do governo. O senhor já se coloca como alternativa da oposição ao Bolsonaro? Como está sendo esse trabalho dentro do PDT? 

Resposta (um convite ao suicídio coletivo): 

“Com a experiência que eu tenho, devo dizer uma coisa a vocês, que vai ficar aqui documentada. O Brasil vai passar por tanta confusão, por tanto desmantelo, por tanta frustração, que haverá aí uma convulsão na política muito forte. Espero que isso não descambe para a violência pura e simples, porque as energias estão se acumulando pra isso”, e segue…

“O dissídio nacional está sendo… porque na medida em que a população… imagine um jovem da periferia de São Paulo… qual é a expectativa de pertencimento que ele tem nessa ficção em que está se transformando esse negócio chamado Brasil? Sabe qual é o futuro desse garoto que está estimulado pelo compre, compre, compre sem ter dinheiro? A morte ou a cadeia. E ele sabe disso. Está vendo os coleguinhas dele sumirem pela morte e pela cadeia, numa estúpida guerra contra as drogas que já está perdida”, tem mais…

“E a elite branca e prepotente querendo fazer do sonho dela uma casa em Miami. Isso está por aí para acontecer. Então a minha compulsão é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira. Cumprindo a minha obrigação. Se isso vai virar um não uma candidatura é evidente que não vou andar mentindo. Já fui candidato três vezes. É evidente que eu gostaria de ser presidente do Brasil. Mas, será que vale à pena ainda? Será que restará um país governável se essa gente destruir as portas da industrialização perdida do país, entregando a EMBRAER pra Boeing e fechando a porta do Complexo Industrial Militar como potencial de progresso do Brasil? Isso é trivial. O Brasil está esquartejando a Petrobrás…”.

O diálogo está no tempo entre 19:17 e 21.48. Daí eu pergunto: caberia ali a crítica, sim, mas com uma mensagem de esperança, não?

Por Jackson Vasconcelos

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Sincericídio ou sincerivida?

Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos

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A reforma essencial

A reforma essencial não é a da previdência que, sem dúvida necessária e urgente, acontecerá mesmo como remendo, se o sistema de capitalização não substituir o de repartição. A reforma essencial é a da legislação, que ordena o sistema político, causador de todos os males, inclusive daqueles que obrigam a população brasileira a rever a Previdência Social.

O sistema político brasileiro justifica, por exemplo, as ocorrências recentes entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Câmara Municipal, prática comum no relacionamento entre os poderes da República em todos os níveis da federação.

Em janeiro de 2018, os vereadores do Rio de Janeiro, desconfiados com o prefeito, que demonstrava certa independência com relação a eles, enxertaram um deles no sistema administrativo da Prefeitura: o vereador Paulo Messina foi nomeado Chefe da Casa Civil e se colocou, rapidamente, no papel de um “primeiro-ministro”.

Tudo andou bem, até que a expansão dos poderes do Chefe da Casa Civil mexeu com os brios do prefeito. Momento em que Paulo Messina começou a ser tolhido.

Os vereadores, então, assessorados pela Casa Civil, criaram os argumentos para processos de impeachment do prefeito e Paulo Messina retornou à Câmara com a alegação, no primeiro momento, de defender o prefeito. Estava dada a mensagem de captura integral da prefeitura pela Câmara. A partir daí, o prefeito ampliou o número de secretarias, remanejou funções e entregou os cargos aos vereadores. Tudo isso porque a legislação brasileira autoriza que membros do Poder Legislativo, sem perderem os mandatos originais, exerçam funções administrativas no Poder Executivo, um dos defeitos do nosso modelo.

Isso acontece na relação entre a Câmara Municipal e a Prefeitura do Rio, como acontece na relação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo no Brasil todo e em todos os níveis e cria a situação complicada de gente eleita para aprovar os orçamentos públicos e fiscalizar a aplicação deles, exercendo o papel de também executá-los. Muita gente para gastar, quase ninguém para fiscalizar.

A reforma essencial é de reorganização do sistema, para arrumar a bagunça que os vícios fizeram e têm feito.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos