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Guedes, o “João Bobo”

Guedes versus Bolsonaro é a luta do século. Na plateia, estão os apostadores da esquerda e os liberais. Está sendo uma luta e tanto! No mercado infantil há “João-Bobo” para todos os gostos. A brincadeira consiste em bater no boneco e ele, por mais que seja inclinado ou leve pancadas, voltará a ficar de pé. 

Na semana passada, Guedes tomou outra porretada do presidente, mas continua de pé. Jair Bolsonaro, de público, como gosta de fazer, repreendeu o presidente do Banco do Brasil, porque o cara resolveu presidir o banco. Afinal, entende Bolsonaro que para presidir qualquer coisa no Brasil, só há uma pessoa: ele. 

O que fez o presidente do Banco do Brasil de tamanha gravidade? Resolveu reduzir o quadro de funcionários e agências num mundo de alta tecnologia como, aliás, a empresa fez várias vezes e numa delas, eu aproveitei para sair. Definitivamente, eu não suporto o Estado Brasileiro. Isso, contudo, é uma outra questão. 

Jair Bolsonaro sentiu o cheiro de uma privatização e é alérgico. O mesmo aconteceu no caso CEAGESP, que já comentei aqui. E, acontecerá sempre nas medidas que possam levar à privatização das empresas e corte dos tentáculos do Estado Brasileiro. Empresas que a esquerda diz pertencerem ao povo, para continuarem a usufruir delas sem o povo. Mesmo conceito usado por Jair Bolsonaro. 

A decisão do Presidente da República agradou, imediatamente, ao desejo dos funcionários do Banco (tomara que nem de todos) e os sindicatos, territórios do PT e do PSOL. Agora, se sabe que são, também, dos sem partido, como acontece com o Presidente da República. 

Jair Bolsonaro sofre de “saudades”. Ele incorpora, sempre que pode, o Brasil grandioso dos generais, que nem mais generais são. As decisões do Presidente da República são um aviso para os liberais: “Encontrem outro presidente, se vocês quiserem mesmo um país para o povo e não para as corporações”. Está, portanto, lançado o desafio. 

Já sem muitos argumentos para defender o “mito dos liberais”, seus defensores andam a se socorrer do passado. Tenho ouvido demais a frase: “Você preferia ter Fernando Haddad ou Lula?”. Respondo de pronto: “De jeito nenhum”, mas quem anda pra trás é caranguejo, irmão,  e eu não sou um deles. Posso avançar para além de Jair Bolsonaro. Só preciso de um nome. 

Será, porventura, um candidato dessa tal coalizão que andam a falar por aí? Até pode ser, mas que não seja um dos nomes que na coalizão já estão. Maia, Fernando Henrique Cardoso, Serra, Luciano Huck e outros tais são iguaizinhos a Bolsonaro quando o tema é a sobrevivência das corporações e do tamanho do Estado. Quero alguém que compreenda que o Brasil precisa sair das amarras do Estado ineficiente, arrogante e caro, para seguir em frente. 

Eu ainda não sei se fiz o certo, mas filiei-me ao Partido Novo, porque me aproximei dele na campanha do Fred Luz para a Prefeitura do Rio e senti o perfume dos liberais. Se eu estiver errado, o meu coração já está acostumado aos erros de avaliação. Paciência! O PFL, aquele partido que morreu em nome do projeto político dos Maias e Kassabs, tinha me parecido um bom caminho. Deixou de ser e mudou de nome e para enganar os menos avisados. Agora são Democratas e Partido Social Democrático (PSD). 

É hora de os liberais buscarem  nomes e isso é urgente. Com a licença de vocês, dou um corte, conveniente para as minhas alegações, num parágrafo longo do livro  “A rebelião das massas, de Ortega e Gasset:

O característico do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem a audácia de afirmar o direito à vulgaridade e o impõe em toda parte. A massa sufoca tudo que é diferente, magnânimo, individual, qualificado e seleto. Quem não for como todo o mundo, quem não pensar como todo o mundo, corre o risco de ser eliminado. E está claro que esse “todo o mundo” não é “todo o mundo”. “Todo o mundo” era, normalmente, uma unidade complexa de massa e minorias discrepantes, especiais. Agora, “todo o mundo” é tão somente a massa. 

Para situar, o livro é de 1930. E para que a gente não se deprima, estamos numa democracia onde o voto pode valer mais se os nomes certos chegarem à disputa. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Borgen

O que Birgitte Nyborg tem a nos ensinar sobre comunicação política? Uma análise da série Borgen, disponível na Netflix.

Na nova temporada do podcast “Aqui tudo é política”, Jackson Vasconcelos e Livia Andrade analisam peças como séries, filmes, livros, músicas, sempre pelo ponto de vista da comunicação política.

*Áudio disponível também no canal “Aqui tudo é política” no Spotify.

 

 

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Viva a liberdade!

Eu gostei do que houve em Washington. Não gostei do que fez o imperador Zuckerberg. Em Washington, o povo americano mostrou o quanto evoluiu a relação da polícia com a população. Zuckerberg reafirmou que não tem essa de liberdade de expressão nas redes dele, que nós, muitas vezes, julgamos serem nossas – meu facebook, meus faceamigos, meu Twitter ou meu Instagram. Tudo isso pertence a uma só pessoa, ao senhor Mark Elliot Zuckerberg. Ele é o dono, decide com quem você fala o que fala. 

Você, certamente, viu as cenas da invasão do Capitólio e ouviu os repórteres e comentaristas sobre a ocorrência. Para completar o conjunto, há a matéria de Ernesto Neves na VEJA da semana, que mereceu capa e um box de memória assinado por Monica Weinberg. No box está a entrevista do Presidente Trump às Amarelas em 2014. A chamada tem tudo a ver com a gente: “Brasileiros, me aguardem”. Nós aguardamos e ele aqui chegou em 2018. Se estamos a gostar disso ou não, cada um tem liberdade para sentir e dizer. 

O trabalho do Ernesto Neves tem uma passagem – um trecho curto – que dá  a dimensão do conhecimento que ele tem da História. Está escrito: “Foi como se – numa comparação exagerada, mas didática e necessária – Roma fosse tomada pelos bárbaros. Numa palavra: vergonhoso”.  A comparação não é exagerada, menos ainda didática, ela é equivocada, porque bárbaros eram povos não romanos e vergonhoso era o comportamento dos imperadores. Nos tumultos em Washington, os americanos fizeram todo barulho. Enfim, é a imprensa que temos. 

Adiante! Sugiro que você, minha cara leitora, meu caro leitor, com os olhos nisso tudo assista – se você ainda não assistiu – “The Trial of the Chicago 7” – no Brasil, “Os 7 de Chicago”, disponível no NETFLIX. Assista, mesmo que você conheça plenamente o caso ou tenha lido Battleground Chicago. O filme é a reprodução no cinema do julgamento de um grupo de jovens ativistas, que foi ao Lincoln Park em Chicago para protestar contra a Guerra do Vietnã. Escolheram Chicago pela visibilidade que a Convenção Nacional dos Democratas daria ao evento – “o mundo todo está nos vendo”. Afinal, o Democrata Lyndon B. Johnson estava na Presidência dos EUA e tinha autorizado a ida de mais 500 mil soldados americanos para a guerra. 

O mundo ferveu em 68 e nos EUA o calor se fez maior, com o assassinato de Martin Luther King e Robert Kennedy. 

O filme, tanto para quem sabe a história real como para quem não sabe, é um bom exercício para se conhecer o comportamento da polícia em 1968 e agora. Por todos os motivos de pressão popular, a polícia nos EUA me pareceu um tanto melhor. E, se melhorou de fato, isso se deve a uma questão fundamental: o povo reage sempre às violências da polícia, seja contra negros, seja contra brancos. Um povo que não reage a elas e as aceita como inevitáveis, um dia será a vítima. 

Outro ponto relevante: as cenas do julgamento dos jovens ativistas, um deles negro, agridem quem tem a exata noção do que é a liberdade de expressão e nesse ponto, entro com o mago Zuckerberg. 

No julgamento dos sete de Chicago, que foram durante um tempo, oito, o Juiz Julius Hoffmann manda amordaçar e amarrar na cadeira o réu negro, Bobby Seale, para impedir que ele continuasse a pedir a presença de um advogado ou a ter o direito a fazer a própria defesa. O juiz negou-lhe o advogado e a defesa pessoal e também negou ao júri o depoimento essencial de uma testemunha apresentada pela defesa. 

Quando o Facebook, o Twitter, o Instagram e etc amordaçam quem os contraria, nos dão uma notícia: os espaços que usamos têm dono e não somos nós, assim como acontece e sempre aconteceu com a imprensa tradicional. O acesso é selecionado pela opinião. Por isso, às vezes o povo prefere ir gritar nas ruas, não importa quem seja o déspota. O  ser humano nasceu para a liberdade. Imaginem o que acontecerá ao senhor Zuckerberg se os usuários dos espaços dele resolverem buscar outro caminho. Será a aplicação melhor de uma regra básica do mercado: é dono quem paga pela propriedade. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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“Um ninho de ratos”

A minha ignorância ainda me causará problemas sérios. Mas, vou peleando mesmo com ela. Vejam vocês agora o caso da Ceagesp. Ela é uma empresa gigante. É o maior conjunto de armazéns da América Latina e eu não sabia disso. Santo Deus! Quanta informação importante eu perdi até o dia em que parei para ouvir os discursos do capitão Jair Bolsonaro, Presidente da República e do Coronel PM, Mello Araújo, nomeado pelo capitão, presidente da empresa. Eles falaram bonito que só, na sede da Ceagesp. 

Eu tinha a obrigação de conhecer a empresa, afinal ela está arrolada como patrimônio do povo brasileiro e eu sou parte dele. Ela é, segundo o Coronel PM, “uma potência do agronegócio”.  “O maior entreposto da América Latina!”. E eu não me sentia dono de tudo isso. 

A Ceagesp atende a 1.500 municípios brasileiros e a 22 países diferentes. Por ela, transitam, por dia, 50 mil pessoas, que fazem do negócio uma empreitada de 11 bilhões de reais por ano. Quatro mil toneladas de alimentos passam por lá antes de chegarem à mesa das brasileiras e brasileiros. De chegarem à minha mesa! Olhem que coisa! 

O lugar onde está a Ceagesp é tão importante que tem uma torre de identificação. A torre precisava de reformas e elas aconteceram finalmente. A placa de bronze na entrada da torre teria o nome do capitão Bolsonaro gravado, mas a cruel lei brasileira não permite homenagem à gente viva. O presidente da Ceagesp, então, optou por uma gratidão sútil: mandou cunhar na placa de bronze, a imagem da cicatriz que o presidente carrega no abdômen, consequência da facada que ele recebeu na campanha. 

A Ceagesp que é minha e sua também, faz caridade. Isso eu não sabia e acredito que você de igual modo.  Por decisão do coronel nomeado pelo capitão, a empresa não desperdiça mais alimentos e com a sobra deles, em apenas 50 dias, 51 toneladas foram entregues, de graça, aos pobres e foi desenvolvida uma vitamina que o Presidente da República experimentou no palanque, como prêmio pelo discurso duro e sagaz. O capitão viril quis saber sobre a presença de “aditivos” na composição da vitamina. Foi engraçado! O capitão tem bom humor. 

Ao saber de tudo isso, fiquei feliz com o discurso do Presidente da República, na parte em que ele afirmou: “E aqui, quando se fala em privatização…quero deixar bem claro…enquanto eu for presidente da república, essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso aqui pra privatizar pros amigos. Não tem espaço pra isso aqui. Deixo bem claro”. 

Mas, calma lá. Quando o presidente fala que a Ceagesp é a “casa de vocês”, eu estou incluído? Sacudi a cabeça para expulsar o mal pensamento e continuei a ouvir o Presidente. Ele disse mais. “Aqui é um ninho de ratos. Aqui extorquem e achacam os mais humildes. Aqui existem máfias. A máfia de roubo de caixotes, a máfia dos boxes, a máfia da limpeza e a máfia do lixo”. E gritou bem alto: “É inadmissível um entreposto como esse estar nas mãos de político que se usa disso…” Aplaudi de pé! 

Antes de ouvir o presidente, ouvi o Coronel PM. Depois de me emocionar com o capitão, voltei ao Coronel. Fiquei num ir e vir extasiado! Ele, coronel,  disse:   “A Ceageap era uma cidade judiada ao longo dos anos. A corrupção imperava, o errado era o certo e a honestidade foi esquecida”. 

Onde eu estava com a cabeça, enquanto destruíram a minha empresa e acumularam, em meu nome, 60 milhões de reais em dívida crescente? Aprendi a lição e agora estou tranquilo, porque o capitão e o coronel estão de olho nas máfias e nos políticos que tomaram a Ceagesp de assalto. 

Peraí! E quando o capitão não for mais o presidente e o coronel, leal a ele, não estiver mais lá. Quem tomará conta daquilo? Eu não terei tempo pra isso. Posso até ajudar, quando for votar para presidente, mas será que ele fará o que eu quero? Não é essa a rotina. 

Eu paro e penso. Paro, penso e faço um apelo ao meu presidente capitão: Não me saia daí sem vender essa minha empresa. Pelo menos essa. Se tiver tempo, venda outras, mas, caso não, venda pelo menos essa. 

Por favor, presidente, peça – peça não – dê uma ordem clara ao Ministro Guedes, esse cara que não vende uma agulha do governo, para vender a Ceagesp. Ele não precisa me mandar a minha parte. O senhor pode usá-la como quiser, só não a utilize na compra de outra empresa, porque são poucos os coronéis com disposição para colocar ordem nas empresas que o governo domina e diz que são minhas. 

Bem gente, se queremos que o processo de privatização saia do papel, é hora de colocar algumas pessoas numa sala de aula e num quadro negro expor, um por um, todos os motivos que justificam as vendas. Um deles está no final do discurso que o presidente capitão fez na Ceagesp. Ele disse, num tom de campanha: “O Brasil é nosso! A Ceagesp é de vocês”. Ou seja: os donos do Brasil somos todos nós brasileiras e brasileiros, mas a Ceagesp nem de todos nós é. Se for necessário ser mais claro, pedirei ao presidente que desenhe. 

É hora de partir pra dentro das privatizações antes que os capitães e coronéis bonzinhos saiam do poder. Concordam? 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Nova Esquerda?!

Mônica Weinberg e Sofia Cerqueira entrevistaram João Campos, prefeito eleito do Recife. Ele está nas cobiçadas Páginas Amarelas da Veja, com o título nobre de jovem representante de uma nova esquerda no Brasil. Uma frase dele está usada como Manchete: “Precisamos nos unir”, numa referência à campanha raivosa que aconteceu entre ele e a prima Marília Arraes, no segundo turno. 

Se existe uma “Nova Esquerda”, onde ficou ou está a velha? Pode ser que as entrevistadoras tenham se encorajado a dar o título ao João Campos, em razão da idade dele, 27 anos. Mas, tudo o que elas viram – a juventude do entrevistado – é tudo o que há de novo no conceito de esquerda na entrevista. 

Em “Rápido e Devagar – Duas formas de pensar”, uma obra que não canso de indicar para quem tem as relações humanas como profissão, Daniel Kahneman, Nobel de Economia disserta sobre conclusões precipitadas e é dele a frase “O que você vê é tudo o que há”. 

Pode ser estupidez e teimosia, mas eu só consigo compreender os conceitos de esquerda tendo o Estado como referência. Para se ter uma “nova esquerda” é preciso que exista a defendê-la quem acredite na possibilidade de um Estado diferente daquele que temos. Um Estado que pode tudo em nome de quem, em tese, nada pode fazer por si mesmo por incapacidade ou preguiça. 

Como o Estado é subjetivo, está representado por seus agentes, estes tidos por eles mesmos como seres especiais, dotados de genialidade. 

O que diz João Campos sobre a esquerda? “Essa esquerda, que não é mais aquela encabeçada pelo PT, está ainda em construção e abrange um leque bem variado. Eu, pessoalmente, me defino como integrante de um centro-esquerda progressista, que quer atacar a desigualdade social e não se volta para conceitos antigos, para Karl Marx, mas olha para a frente sem radicalismos, sem o discurso da polarização.” Está entendido? 

Como eu não consegui entender bem, sigo adiante na conversa. João Campos prossegue: “O que precisamos é fazer política com objetividade e conversa, muita conversa mesmo. Só assim a centro-esquerda poderá vencer as eleições em 2022 e as outras que virão”. Ou seja, conversando a gente se entende. O papo não resistiu à continuidade da conversa. As entrevistadoras perguntaram: 

“O senhor acha que há alas à esquerda que não estão dispostas a conversar?” Ele, de pronto, respondeu: “Todo mundo diz que quer conversar, mas quando se senta à mesa não demonstra a flexibilidade necessária. O PT escolheu lançar candidaturas próprias nas eleições municipais, uma clara postura de quem, na prática, trata a coisa na base de “Ok, converso com você, mas desde que eu tenha tudo”. Cadê, o verdadeiro exercício do diálogo?”. 

João Campos continuou a entrevista elaborando em torno do que ele chama de centro-esquerda. Quem não leu e deseja acompanhar todo o raciocínio do “jovem representante da Nova Esquerda”, a entrevista está na revista. Não vou me estender aqui, porque, seria andar em círculo.

O jovem João Campos é um prodígio, que aos 27 anos já concluiu o curso de Engenharia Civil que começou com 17 anos. Sua vida jovem está impregnada com o Estado Brasileiro. Seu pai, outro talento, começou a vida profissional como Chefe de Gabinete do avô Arraes. Com 26 anos e apoio do avô, elegeu-se deputado estadual, depois federal e, sob a luz de Arraes, elegeu-se governador, foi Ministro e candidato à Presidência da República. 

A família Arraes, em Pernambuco, esteve e está o tempo todo à serviço do Estado e, portanto, remunerada por ele. O que se pode esperar de gente que vive do Estado e pelo Estado, a não ser a defesa do Estado, situação que torna confortável a localização dela na esquerda ou no centro-esquerda, um conceito que João Campos não conseguiu definir na entrevista nem fora dela. Eu assisti a todos os debates e entrevistas dele e da prima no segundo turno. 

Ótimo, porque, como canta Benito: “Tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus”. O problema é que essa esquerda de longo tempo, de Arraes, de Brizola, de Ciro e de outros tantos que andam pelo poder há muitos e muitos anos, não tem resolvido os problemas do povo brasileiro. É uma esquerda perdulária, sem projeto e que, na falta do que dizer, se auto-intitula progressista. Quanto mais ouço essa turma e vejo o que ela faz, mais me torno um liberal.

*Artigo pulicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Beremiz e os camelos

A Veja da semana traz uma reportagem de Thiago Bronzatto sobre privatizações com o título “Para onde vai o seu dinheiro”. A matéria tem desenhado um mapa do Brasil onde estão registrados alguns números, que já não surpreendem quem acompanha o tema. Lá está indicado que existem no Brasil 46 empresas estatais controladas diretamente pela União, 19 delas operam com prejuízo e já acumulam perdas de R$ 22 bilhões. O Tesouro Nacional (o contribuinte em primeira instância) já gastou R$ 71 bilhões em 4 anos para cobrir os déficits dessas empresas com a finalidade de mantê-las existindo. 

Saliento que a matéria faz referência só as empresas onde a União tem participação. Faltam ainda as outras sem número espalhadas pelo Brasil em nome de governos estaduais e prefeituras. 

Como sempre, procuram-se os culpados pelo fato. A matéria coloca o problema no colo do Congresso Nacional, dá uma cutucada no Presidente da República e no Ministro da Economia. Ouvido foi o Secretário Especial de Desestatização do Ministério da Economia, um jovem com nome de super-herói ou supervilão (dúvida legítima em razão do tema), Diogo Mac Cord. Ele ficou meio lá e meio cá, na defesa da privatização. 

As promessas não realizadas de privatização são recorrentes. Todo candidato promete fazer e não faz ou faz um tiquinho só e com um sorriso meio envergonhado. Quando tentam fazer pra valer, o pau come como aconteceu nos governos Collor e FHC. É natural que assim seja, porque retirar do Estado, sem que ele esperneie,  empresas onde ele alimenta a opulência, a arrogância e a própria sobrevivência ineficiente, de fato, não é fácil. Por isso, fui buscar o matemático Beremiz, o homem que calculava, criação magistral do heterônimo, Malba Tahan.

Beremiz e Malba Tahan seguiam viagem para Bagdá no dorso de um camelo. Deparam-se com três irmãos que brigavam pela partilha da herança deixada pelo pai: 35 camelos. Um dos irmãos, o mais velho, deveria receber a metade, o outro uma terça parte e o mais moço a nona parte. Os três brigavam porque a divisão não se resolvia. Beremiz juntou à conta e à partilha o camelo que ele e o amigo usavam para seguir para Bagdá. O amigo não gostou nada da ideia até o encerramento da divisão. 

Ao final das contas feitas pelo Beremiz, todos os irmãos foram atendidos de acordo com a vontade do pai e Beremiz ainda conseguiu para si um camelo e devolveu ao companheiro aquele que ele lhe tinha cedido. Quem não sabe como se fez a divisão, que visite a obra de Malba Tahan, mas que faça isso por inteiro, porque é divertidíssima. O Homem que Calculava é obra para se ler num final de semana com um copo de arak com água e gelo. 

Eu não sou Beremiz e não tenho a menor ideia de como dividir as estatais que os não liberais dizem serem patrimônios dos brasileiros e brasileiras. Não tenho a menor ideia de como fazer isso. Prefiro então pensar em outra saída e ela está na entrevista que a Veja publicou com o moço com nome de super-herói ou supervilão. Mac Cord diz: 

“Quando uma empresa privada tem prejuízo, ela acaba, morre. Mas, quando uma empresa pública tem prejuízo, ela recebe mais dinheiro e isso não faz sentido”. Não faz mesmo, meu caro Mac Cord. 

Então se queremos encerrar esse capítulo da história econômica brasileira, basta que o Tesouro Nacional deixe de repassar para as empresas deficitárias a grana que transfere todos os anos. As que sobreviverem por conta própria, que sigam caminho. As que não, que deixem de existir. Simples assim. 

O Estado Brasileiro será mais leve e ágil quando os elefantes estatais tiveram o destino dado aos mamutes pela natureza. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Oportunidades para os liberais

Em São Paulo, terra que venera o trabalho e a propriedade privada, um candidato sem trabalho e sem propriedade chegou ao segundo turno. Fez tremer e suar as mãos do poder constituído lá. Foi resultado da convicção de 2.168.009 eleitores ou um recado deles? Entregue-se isso aos analistas de plantão nos canais de TV, imprensa e bar da esquina e teremos todas as explicações. 

No Rio de Janeiro, terra que não venera tanto o trabalho quando olha as praias e gosta da propriedade privada conquistada por proximidade com o Estado, o prefeito odiado por todos, recebeu menos 786.330 dos votos obtidos na eleição anterior. Convicção ou um recado dos eleitores? Também temos comentários para todos os gostos. 

Em Porto Alegre, dá pra fazer o mesmo exercício. Lá, Sebastião Melo venceu com 360.550 votos e Manuela D’Ávila, a comunista que odeia o comunismo, ficou pra trás com 307.745 votos, uma barbaridade de votos, tchê! 

O Partido NOVO fez um prefeito, o Adriano Silva. O contraponto absoluto do NOVO, o PSOL, venceu em Belém, onde Edmilson Rodrigues teve a ousadia vencer um delegado federal, que conquistou 364.095 votos. 

Em Goiânia, o eleitor escolheu um candidato na UTI com Covid-19. E tivemos um prefeito eleito com 95 anos de idade, para um mandato de quatro anos e que já pensa em reeleição. 

Assim, gente, é o Brasil. Em cada lugar, o eleitor decide de acordo com a sua realidade e com as informações que recebeu durante a campanha, que é cada vez mais curta e menos informação oferece.  

Mas, se no Rio, as razões do voto foram diferentes ou idênticas às de São Paulo e de Porto Alegre e se em Belém, o PSOL fincou uma estaca e o NOVO outra em Joinville, houve um tipo de eleitor que é maioria esmagadora: o eleitor do “não voto”. 

Esse fica fora de todas as análises, porque a legislação brasileira considera-os donos de votos inválidos. Em São Paulo, foram invalidados 3.649.457 votos, num contraponto curioso com o vencedor, que obteve 3.169.121. No Rio de Janeiro, 2.308.868 eleitores escolheram nenhum dos candidatos, e o vencedor, o repetente, Eduardo Paes, alcançou 1.629.314 votos. 

Prá lá e mais prá cá, isso aconteceu nas cidades que citei e, certamente, em várias outras. 

Se há dúvida sobre as razões do voto, convicção ou recado, no caso dos “não votos”, eu não tenho dúvida: é um recado. A cada nova eleição, um grupo grande de eleitores, mesmo obrigados a ir às zonas eleitorais, não vai e um número também expressivo comparece para dizer: nenhum deles ou delas me serve. Onde está a convergência da decisão? Eu dúvida alguma tenho: no Estado Brasileiro, que é a referência para qualquer eleição no mundo todo. Quero mais Estado ou menos Estado? O Estado não me atende e não corresponde às minhas expectativas,então, não me interessa mais escolher gente para ocupar funções no Estado. 

Boulos, em SP, propôs mais Estado. Covas, um pouquinho menos, mas mesmo assim, um trambolho suficiente para manter seus aliados no poder. No Rio, pior ainda. Por isso, vejo no “não voto”, uma oportunidade enorme para os liberais, porque está claro, claríssimo que o Estado Brasileiro não corresponde e só incomoda. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Debater pra quê?

Quantos bairros há na cidade do Rio de Janeiro? Quantas ruas e avenidas? Se tornamos por base o debate entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella durante a semana na Band, concluiremos que, seja qual for o número, Cesário de Mello é a mais importante avenida da cidade, porque com ela, Eduardo Paes abriu o confronto direto com Crivella. Nenhuma outra avenida ou rua da cidade mereceu tamanha honra. 

Sem a ironia, o que sobra do fato? 

A consideração sobre a estratégia adotada pelos dois candidatos no debate e na campanha: aniquilar o adversário, para vencer a eleição por exclusão. Eles escolheram a única estratégia possível, porque para serem marcadas por propostas, ideias ou até mesmo pela retórica de princípios e valores, as campanhas dos dois candidatos precisam ter, neste campo, diferenças, pelo menos, algumas. Não têm! 

Crivella e Eduardo ou Eduardo e Crivella, tanto faz. Eles são representantes de uma mesma maneira de fazer política e governo. Os dois acreditam que a prefeitura tem recursos infindáveis e não importa serem desperdiçados com projetos políticos individuais e favores aos aliados. Nem Eduardo governou para o cidadão carioca, nem Crivella para a igreja dele como o acusa o adversário. Os dois governaram todo o tempo para os aliados políticos. 

Insisto que o ponto fundamental em qualquer debate político no Brasil, no momento, deveria ser a cidadania e a relação dela com o Estado Brasileiro, em suas diversas representações, entre elas, as prefeituras. Mas, essa discussão passa longe do debate político nas campanhas. Elas cumprem uma estratégia de comunicação traçada com base em pesquisas bem simples onde o eleitor é chamado para responder às questões tiradas da cabeça dos pesquisadores. As deste ano inseriram o termo “gestor”, porque, afinal de contas, a cidade está uma bagunça. “O povo quer um gestor”, dizem os leitores de pesquisas. 

Vá lá que seja mesmo isso, mas um gestor para gerenciar o quê e de que forma? Do que precisa o cidadão carioca? De que recursos dispõe a prefeitura para atendê-lo? São recursos suficientes? Isso pouco importa, porque as pesquisas indicam que não é bom um candidato falar em aumentar impostos, cortar despesas ou mesmo colocar a turma de servidores para trabalhar pra valer e atender o cidadão. Então, fiquemos com a proposta de aniquilar o adversário, porque no mais, diferença não há. 

Sobre política, debates e ideologias, sugiro a vocês a série Borgen, que a NETFLIX está exibindo. Borgen é a redução do nome do local onde, na Dinamarca, estão situados os três poderes da monarquia. É uma ficção sobre a política dinamarquesa. 

No primeiro episódio, há a cena de um debate eleitoral entre vários candidatos, entre eles, Birgitte Nyborg, personagem principal. Ela foi preparada para o debate por seu assessor de imprensa e instruída, por ele, de como deveria se vestir. Os dois minutos dados a ela para falar criam, na equipe, tensão, medo e, no fim, euforia. Birgitte abandonou o texto combinado e deu o motivo de não estar com o traje sugerido pelo assessor: “o que acontece é que o blazer não coube porque engordei um pouco”. 

O discurso é brilhante…

“Todos aqui somos muito profissionais. Vemos as perguntas antes do debate, formuladas pela mídia. Todos seguimos os roteiros para sermos perfeitos. Agora mesmo, o meu assessor está nos bastidores me xingando, por não seguir o discurso. E ficou bravo por eu não usar a roupa que combinamos..”. E ela segue, até chegar ao final, para dizer: 

“Se quisermos uma nova Dinamarca criada por nós, temos que inventar uma nova forma de nos comunicarmos com o povo e encontrar uma nova forma de fazer política. É possível que palavras como socialismo, liberalismo e solidariedade (partidos presentes ao debate) sejam palavras que descrevam o mundo de ontem, não de amanhã. Um mundo moderno e variado como nossa democracia deve ser”. 

Quem puder não perca. Quem já assistiu, certamente, tem simpatia pela política e gostou. Sobre a estratégia de aniquilar um adversário há também exemplos, que a cultura diferente da nossa deu destino melhor. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um balanço da eleição

O establishment sobreviveu para dar, mais uma vez, vitórias à ineficiência e à preguiça, vícios do Estado Brasileiro.  Os socialistas venceram novamente. Às 17h, antes ainda do resultado final da eleição municipal, que demorou como há muito tempo não demorava, a convite do Ronaldo Gomlevsky, participei de uma roda de conversa na internet com um grupo excelente de comentaristas. 

Nossa conversa se fez, inicialmente, com base na pesquisa  na boca da urna e prosseguiu quando surgiram os primeiros resultados oficiais. Alguém levantou uma questão sobre a derrota da esquerda no Rio de Janeiro, com Benedita da Silva e Martha Rocha. Ousei discordar, para mostrar que, desde 1982, no Rio de Janeiro, em especial na Capital, os socialistas estão poder, e pertencentes à mesma raiz: Leonel de Moura Brizola. De Jamil Haddad a Eduardo Paes, por afinidade ideológica e história. Marcelo Crivella, por costume.  

Os socialistas são o Estado ineficiente e preguiçoso, por isso, caro e opulento. É um distribuidor de favores e benefícios, agente da caridade com o chapéu alheio no lugar de garantidor dos direitos do cidadão. 

Ainda não foi dessa vez. O “establishment” é socialista e está sólido e sabe como sobreviver. Uma das frentes é a legislação eleitoral. Ela inibe as campanhas e não faz isso por mero acaso ou estupidez. Nada disso! É estratégia de sobrevivência. Sem campanhas ou com campanhas financiadas com o dinheiro público e direção determinada pelos partidos que pertencem ao “establishment”, vencê-lo será uma pedreira! Não será de uma vez só, nem no tranco. O processo exigirá paciência e estratégia. Uma paciência que João Amoedo parece ter perdido, quando responde sobre o desempenho do partido Novo, que é caminho criado por ele para vencer o “establishment”. 

Mas, se a mudança não acontecer por bem, haverá por mal, quando chegar o dia em que o Rio de Janeiro estará completamente vencido pelo crime e desastre econômico. Para quem gosta de ter esperança, percebo esse tempo bem próximo.  

Já fiz menção aqui neste espaço a uma das melhores obras políticas escritas em estilo de romance, a Revolta de Atlas. A autora, Ayn Rand, nasceu na Rússia e sofreu as consequências da Revolução de lá, quando o Estado quebrou o negócio do pai e levou toda a família à miséria. O livro é uma aula de Brasil. Acreditem. Nele está o elemento motivador da decisão do prefeito Marcelo Crivella com relação à Linha Amarela e exemplos também de empresários que enriquecem rápido, só pela influência que têm nos governos, como se viu ocorrer no tempo dito de ouro, das grandes obras e eventos internacionais. 

O tempo dirá a até quando irá a paciência de que empreende e só precisa do Estado para obter o que ele não oferece: segurança pessoal e jurídica.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Eleição nos EUA: Uma resposta a Michael Moore

Bem, Joe Biden está eleito. Donald J. Trump esperneia, mas voltará para casa. Assim é a democracia. 

Trump venceu Hillary em 2016. Após a eleição, por aqui, em 2018, reservei um tempo para visitar os discursos daquela campanha e encontrei um muito especial. Michael Moore fez. Em estilo de palestra, na jaula do leão Trump, Ohio, em defesa da candidatura da senadora Hillary Clinton. 

Moore é escritor crítico, ele tem todo o jeitão de jornalista e é um orador fantástico. Li muita coisa dele e já devo ter assistido todos os documentários feitos por ele. Em novembro de 2019, eu comentei o discurso/palestra do Moore em Ohio, a favor da Hillary. Algo sensacional. 

Volto a ele, depois da derrota de Donald Trump, para complementar o trecho que transcrevi no meu espaço com o título “O discurso é uma música”. Aquele, de fato, foi. Teve melodia, harmonia e ritmo, como gostava Rubem Alves, outro escritor excelente. Já falecido. 

No meu blog com cara de site, compartilhei o discurso completo do Moore, que está disponível no YouTube. O trecho que transcrevi, encerrei com a seguinte passagem: “A eleição do Trump será o seu grito de “Foda-se o sistema. O maldito sistema. E todos se sentirão bem… por um dia, por uma semana, por um mês. E , então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”. 

Na continuação, Michael Moore errou na previsão. Disse ele: “Querem uma nova eleição? Isso não vai acontecer…

Quando as pessoas irritadas de Ohio ou Michigan, Pensilvânia e Wisconsin descobrirem depois de alguns meses no cargo, que o presidente Trump não fez qualquer coisa por eles, será tarde demais para fazer algo sobre isso. Mas, eu entendo. Você tinha a sua ira e raiva justificáveis. Você só acabou elegendo o último presidente dos EUA.”

Errou, Moore! Ainda há democracia na América! 

Tiranos existem em todos os lugares do mundo e sob quaisquer circunstâncias. Mas, contra eles, a democracia criou as leis chanceladas pelo povo, que sustentam instituições consistentes e elas asseguram ao povo a liberdade para mudar o que não gostou de fazer. 

Há quem veja, na eleição de Joe Biden, a antecipação da derrota do presidente Jair Bolsonaro, pelas semelhanças que acreditam existir entre os dois. Bobagem pura. Pode ser que sim, como pode ser que não, se por aqui surgir um Joe Biden e partidos, que entreguem aos filiados e ao povo, via primárias, o direito de escolherem os candidatos que disputarão a Presidência. 

Entre nossa história republicana e a história da república nos Estados Unidos há uma distância enorme. Somos ainda uma democracia com partidos políticos com donos, muito dinheiro do povo e nenhuma democracia interna. 

Lembrem-se, os que conhecem a história política nacional e a americana, que houve um tempo em que as eleições presidenciais nos EUA e no Brasil aconteciam no mesmo período e em 1960, o Brasil elegeu Jânio Quadros. Os EUA, John Kennedy. 

Com certeza, temos gente melhor para a disputa pela Presidência da República. Mas, essa gente não passa pelos partidos que, por aqui, têm donos e são financiados por quem não gosta deles.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos