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E o financiamento das campanhas hein?

O povo deve mesmo custear as campanhas eleitorais com dinheiro dos impostos? Deve, mas em outros termos. Os gastos com as campanhas eleitorais é tema que reaparece vez por outra e, ultimamente, está sendo alimentado pelo Partido Novo, que critica o uso do dinheiro do contribuinte nos partidos, Fundo Partidário, e nas campanhas, Fundo Eleitoral.

Faz todo sentido o financiamento público para as campanhas eleitorais, porque está provado que quem financia as campanhas compra as decisões dos eleitos e captura as estruturas do Estado brasileiro. Não faz sentido, o contribuinte pagar as despesas de funcionamento dos partidos, porque os partidos atendem aos desejos e aos interesses dos filiados.

É bom registrar, a bem do debate, que o financiamento público das campanhas eleitorais não é algo novo no Brasil, onde o povo desde sempre paga as despesas de veiculação das propagandas eleitorais no rádio e na TV, via renúncia fiscal e banca o funcionamento da Justiça Eleitoral.

O Fundo Eleitoral, dinheiro gasto nas campanhas, tem a falha de deixar com os dirigentes partidários a distribuição do dinheiro entre os candidatos e numa situação em que as deliberações nos partidos são autoritárias e aplicadas no interesse exclusivo de suas lideranças.

Ora, se o dinheiro é público, a distribuição dele deveria obedecer critérios de seleção transparentes, uma delas, a exigência de existir no estatuto do partido o respeito às regras democráticas de deliberação. E isso deveria valer também para a veiculação gratuita das propagandas no rádio e TV, fato que, me parece, foge à questão do Partido Novo.

O partido que não quisesse o dinheiro do contribuinte, estaria liberado dos critérios de distribuição, mas as contribuições para a campanha dos seus candidatos viriam, exclusivamente, dos filiados. Quem não tivessem filiação não poderia financiar as campanhas. Dessas amarras estariam livres os candidatos avulsos, uma autorização que a Constituição poderia conceder.

De outro modo se daria o custeio dos partidos representado hoje pelo Fundo Partidário. Quem quiser pertencer a um partido, que pague as despesas dele. E se esse partido quiser disputar eleições, que se enquadre às normas previstas para as despesas: ou dinheiro do contribuinte com regras claras de distribuição, inclusive da veiculação das propagandas, ou dinheiro dos filiados.

Gente muito jovem talvez não saiba, mas no Brasil os partidos políticos já foram financiados pelos filiados e as campanhas, exclusivamente, pelas pessoas físicas, só que sem a obrigação de filiação dos doadores, situação que criou uma correnteza estupenda de “caixa dois”.

Naquele tempo, os filiados estavam sujeitos à uma contribuição mensal para o partido e os candidatos eleitos tinham a obrigação de pagar um valor maior. Método justo, que a imprensa chamou de usurpação e o PT, depois, estendeu a todos os filiados que exerciam cargos por indicação por partido. Ser tesoureiro de um partido era uma dificuldade enorme, porque quando o partido se fechava para os filiados e, na cabeça, tomava decisões autoritárias, o caixa sentia logo o resultado.

Quando o Fundo Partidário virou a festa que é hoje, o número de partidos cresceu, a suntuosidade aumentou nas sedes e a briga pelo comando ficou feia.

Tenho certeza que, desse modo, será possível usar o financiamento das campanhas e dos partidos políticos como elemento estratégico para melhorar o modelo de representação política. O Brasil merece a chance.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O que é “earned creative”?

Temos nos batido numa questão: as campanhas eleitorais e de imagem dos políticos não levam em consideração os conceitos modernos de comunicação. Por isso, elas têm gerado pouco resultado na conversão da mensagem em voto. Pensando nisso, me chamou a atenção a entrevista da Judy John, ao Meio & Mensagem de 29 de julho. Canadense, ela criou uma campanha de sucesso sobre igualdade de gênero, a “Like a Girl”, para inverter uma expressão pejorativa. O trabalho é muito bom mesmo.

Retirei da entrevista da Judy um pequeno trecho, útil para a elaboração de estratégias de comunicação, portanto, para o nosso trabalho. Ela define e esclarece o “earned creative”, a comunicação social pelo design.

“Eu sou”, diz ela, “totalmente a favor disso, porque se pensarmos em como interagimos com a mídia, tudo está no celular, no computador, ninguém assiste a programas ao vivo na televisão, talvez a jogos esportivos… mas no Instagram, a pessoa fica rolando o feed e de repente para porque viu algo interessante. Ou está no computador e assiste a um vídeo porque alguém enviou. Todo o resto não é interessante. Precisa ser algo que ganhe o tempo da pessoa”.

Em seguida, Isabella Lessa, entrevistadora, pergunta: “É uma concorrência pelo tempo e não mais entre marcas…”. Judy respondeu: É. Nossas marcas estão competindo com o trailer de um filme, com o cachorro e o menino comendo espaguete. Com esses vídeos engraçados que as pessoas veem porque entretém”.

Eis aí um bom caminho para se criar campanhas mais criativas e efetivas para conquistar o voto e a reputação.

Por Jackson Vasconcelos

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E as mulheres, hein?

A situação que dificulta a participação da mulher na política e cria as imagens e fotos masculinas do poder no Brasil é, portanto, e em resumo, a falta de democracia e mérito na disputa pelo poder nos partidos políticos. Uma situação que nem a cota obrigatória resolveu, porque, por obrigação não se faz política.

Há uma passagem na vida política da Denise Frossard que gosto de lembrar, quando a participação da mulher é o tema:

No plenário da Câmara dos Deputados, numa sessão comemorativa do Dia Internacional da Mulher, com a Mesa Diretora composta, Denise foi ao microfone de apartes e, com voz firme, avisou: “Enquanto sobreviver a imagem que vejo daqui, de uma Mesa Diretora só de homens, não há o que comemorar. Existe sim, razão para permanecer na luta por espaços no poder desta Casa, um poder que não pode ser concedido, mas conquistado pelo voto, essência da existência deste Poder”.

Nas palavras da Denise estava uma questão conceitual relevante, quando ela marcou a diferença entre espaço concedido e espaço de poder conquistado no voto, porque numa representação ainda minoritária da mulher nos parlamentos e governos está outra questão de fundo: algumas lá estão por herança paterna ou por representação de seus maridos.

O Brasil é um país de democracia recente. Voltamos a eleger prefeitos para as capitais e “áreas de segurança” (isso existiu) há pouco mais de 30 anos, governadores há pouco mais de 35 e presidente da república há 30. A “Constituição Cidadã” tem apenas 31 anos e com adaptações constantes.

Posso afirmar que somos uma democracia em construção e boa medida será perseguir o equilíbrio de gênero na composição do poder. Um bom caminho para isso é uma reforma no sistema político para estabelecer o respeito às regras da democracia na disputa do comando dos partidos. É neles que se aprende a participação política. É por eles que devemos começar o amadurecimento.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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A estratégia de Greta Thunberg

Para onde olho vejo estratégia. A menina Greta Thunberg está nas páginas amarelas da VEJA. Em muitos pontos, vê-se alguns conceitos de estratégia, mas num caso específico ela está bem presente.

A pergunta da revista foi: “A síndrome de Asperger teve influência em sua decisão de se envolver na militância?”. Na resposta, ela mostra a transformação de uma ameaça ao projeto de vida dela, numa oportunidade:

“Meu diagnóstico faz de mim uma pessoa diferente. Em minha opinião, ser diferente é uma dádiva. Isso exerce um papel no meu interesse pelas questões da sustentabilidade. Parecia que ao meu redor ninguém queria saber das mudanças climáticas e da destruição. Isso me chamou a atenção. Quem tem Asperger possui um superfoco. Consegue se concentrar bastante em um tema. Posso passar horas, dias, fazendo apenas uma coisa. Direcionei minha dedicação a me sentar, ler, compreender. Se fosse igual aos outros, com maiores habilidades sociais, provavelmente, eu teria me organizado em uma associação, um movimento único, algo assim. Mas isso não é meu tipo de coisa porque não gosto de estar com outras pessoas e socializar. Então, decidi agir sozinha e, daí, surgiram as greves pelo clima. A partir dessa ação individual é que o assunto ganhou a atenção do mundo”.

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E os evangélicos, hein?

Os resultados das eleições para todos os níveis no Brasil, inclusive para presidente da República, mostram que é inútil refletir sobre as campanhas no Brasil sem considerar a influência dos evangélicos, principalmente pentecostais – e não só pela vitória dos fiéis, mas também pelo discurso conservador que, em grande escala e velocidade, faz adeptos nos vários segmentos da política.

A estratégia de quem disputa eleições no Brasil precisa considerar esse fato. É uma falácia dizer que as campanhas ou os partidos não debatem ideologia. Debatem sim, com aridez e cada vez com mais raiva e ódio, no estilo de um fundamentalismo religioso. E não é de hoje.

Os evangélicos são conservadores extremados nos costumes, favoráveis radicais ao enfrentamento com violência na política de segurança pública (83% dos parlamentares evangélicos votaram a favor da redução da maioridade penal e a maioria defende liberdade para comprar e portar armas) e liberais na economia, porque as igrejas precisam de novos empreendedores entre os mais pobres, seu maior público contribuinte com dízimos e ofertas.

Esse conjunto ideológico tem dado base para o discurso político no Brasil há pelo menos 40 anos, tempo que coincide com a existência da Igreja Universal do Reino de Deus. Edir Macedo quebrou o tabu da participação política dos evangélicos para proteger sua igreja e o canal de TV que multiplicou sua capacidade de expansão. E fez escola! A acelerada expansão pentecostal acontece nos trilhos de um eficaz proselitismo praticado por um número cada vez maior de fiéis, na maioria, mulheres.

Antes do Edir Macedo, casos raros existiram de atuação das igrejas evangélicas na política de modo direto e influência forte. As igrejas tradicionais não entregavam os púlpitos aos políticos em tempo de campanha e quando pediam votos para os seus – nunca para os outros – isso acontecia de maneira sutil. As exceções, poucas, ficavam com as Igrejas Assembleias de Deus.

Edir, por interesses localizados, quebrou o tabu e as igrejas evangélicas, em especial, as pentecostais, foram de um extremo ao outro. Nasceu o slogan: “irmão vota em irmão”. O slogan aprimorou-se para uma situação de o irmão votar em quem eu pedir para votar e, recentemente, avançou para o conselho de irmão só votar em quem, mesmo não sendo irmão, vota em quem pensa como ele.

No livro “Política e Religião – A participação dos evangélicos nas eleições”, obra de excelência sobre o tema, a autora Maria das Dores Campos Machado afirma: “O tema da politização do pentecostalismo entrou na agenda dos pesquisadores brasileiros no final da década de 1980 e início dos anos 90 como resultado da atuação dos parlamentares evangélicos no Congresso Nacional e do apoio das comunidades pentecostais a Fernando Collor de Mello na eleição para presidente de 1992”.

Não foi diferente com as campanhas de todos os outros presidentes desde Collor. Lula perdeu satanizado pelos evangélicos e católicos carismáticos em 1992; mas adiante cedeu às pressões ideológicas e entregou à Igreja Universal o lugar de vice para o empresário José Alencar. Depois, Dilma quase sucumbiu pela presença do aborto na agenda de debates.

Jair Bolsonaro e os agregados dele no Brasil todo foram eleitos com a agenda conservadora nos costumes, radical e violenta no combate ao crime e liberal na economia. As atitudes e manifestações do presidente e dos agregados continuam com eles depois da campanha no exercício dos mandatos, para deixar claro que a agenda que cindiu a sociedade brasileira não será conciliadora.

As campanhas eleitorais são oportunidades para o debate de vários assuntos e de convencimento dos eleitores. Estamos aí no ano de véspera da campanha para as prefeituras e câmaras municipais, nível de poder mais relevante na estrutura do Estado Brasileiro, porque está com os prefeitos e vereadores a atribuição de oferecer os primeiros serviços de educação (primeira idade e fundamental), saúde e cultura. O significado principal de qualidade de vida está nas cidades, sob a responsabilidade dos prefeitos e vereadores.

Estejam certos os candidatos que a agenda conservadora (costumes) e de direita (combate ao crime com violência) e liberdade econômica para produzir terá prioridade no processo de seleção. Tem sido assim.

Mas vencerão só os que convergirem? Evidentemente que não, mas os vencedores serão selecionados pela posição ideológica que assumirem, antes de comprovarem-se prontos para o exercício institucional dos cargos que disputam. Os candidatos não terão como fugir, porque, infelizmente, a sociedade está num racha ideológico profundo.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Um convite para morrer

Trago à análise hoje a entrevista do Ciro Gomes ao Broadcast do Estadão, para mostrar a vocês um discurso que não deve fazer quem deseja ser candidato a presidente de um país de gente em desespero à busca de esperança. Não é por acaso ou falta de sorte que Ciro Gomes já foi candidato a Presidente da República três vezes e todas elas derrotado. A razão: o discurso equivocado.

Entrevistado por duas jovens jornalistas, Ciro discorre sobre o desejo de punir os parlamentares do PDT que votaram a favor da reforma da previdência, principalmente, a jovem deputada Tábata do Amaral. Age com arrogância quando chama para ele a exclusividade de ter lido as sessenta e tantas páginas do projeto. E chega à pergunta sobre o futuro político dele: 

Pergunta: O Bolsonaro fez questão de se colocar ali como candidato à reeleição, para que não haja confusão sobre quem será o nome do governo. O senhor já se coloca como alternativa da oposição ao Bolsonaro? Como está sendo esse trabalho dentro do PDT? 

Resposta (um convite ao suicídio coletivo): 

“Com a experiência que eu tenho, devo dizer uma coisa a vocês, que vai ficar aqui documentada. O Brasil vai passar por tanta confusão, por tanto desmantelo, por tanta frustração, que haverá aí uma convulsão na política muito forte. Espero que isso não descambe para a violência pura e simples, porque as energias estão se acumulando pra isso”, e segue…

“O dissídio nacional está sendo… porque na medida em que a população… imagine um jovem da periferia de São Paulo… qual é a expectativa de pertencimento que ele tem nessa ficção em que está se transformando esse negócio chamado Brasil? Sabe qual é o futuro desse garoto que está estimulado pelo compre, compre, compre sem ter dinheiro? A morte ou a cadeia. E ele sabe disso. Está vendo os coleguinhas dele sumirem pela morte e pela cadeia, numa estúpida guerra contra as drogas que já está perdida”, tem mais…

“E a elite branca e prepotente querendo fazer do sonho dela uma casa em Miami. Isso está por aí para acontecer. Então a minha compulsão é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira. Cumprindo a minha obrigação. Se isso vai virar um não uma candidatura é evidente que não vou andar mentindo. Já fui candidato três vezes. É evidente que eu gostaria de ser presidente do Brasil. Mas, será que vale à pena ainda? Será que restará um país governável se essa gente destruir as portas da industrialização perdida do país, entregando a EMBRAER pra Boeing e fechando a porta do Complexo Industrial Militar como potencial de progresso do Brasil? Isso é trivial. O Brasil está esquartejando a Petrobrás…”.

O diálogo está no tempo entre 19:17 e 21.48. Daí eu pergunto: caberia ali a crítica, sim, mas com uma mensagem de esperança, não?

Por Jackson Vasconcelos

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E os partidos, hein?

Quem manda num partido político manda mesmo. Nenhum problema essa atitude teria para a democracia, se as deliberações tivessem alicerce num conjunto de normas, em um estatuto criado e aprovado pelos filiados, e se as convenções de delegados valessem. Não é assim. Nas deliberações partidárias prevalece a vontade de quem dirige o partido que, quase sempre, tem mando perpétuo.

Os problemas acontecidos na relação da deputada federal Tábata Amaral com o PDT, do deputado federal Aécio Neves com o PSDB e dos dirigentes regionais desse partido no estado do Rio de Janeiro com a intervenção federal, que fez do suplente de senador Paulo Marinho presidente local, são exemplos recentes do modelo. Mas a história dos partidos está repleta de casos iguais ou semelhantes.

Outra causa não houve para o passeio do político Ciro Gomes e de muitos líderes políticos por vários partidos. Também não existiu para Lula ter criado o PT, Brizola, o PDT, os dissidentes do MDB, o PSDB, e Marina Silva ter queimado energia para criar a Rede. A lista de projetos políticos que precisaram de novo abrigo partidário é extensa.

Os partidos políticos deixaram de ser o ambiente onde o debate é esclarecedor, onde a deliberação pelo voto é resultado do discurso capaz de convencer. Nos partidos, quem pensa diferente de quem dirige não perde tempo com a arte de convencer. Sabe que não adianta o esforço e cai fora, para criar um partido para chamar de seu e, curiosamente, nele faz valer a regra que lhe causou problemas.

Quando incharam o fundo partidário, a vontade de comer encontrou a fome. Sem identidade ideológica e entregues ao pragmatismo dos dirigentes, os partidos tornaram-se um mercado para bons negócios, parte de um processo iniciado com o poder dos dirigentes de distribuírem, discricionariamente, tempo de TV e rádio. O fim do financiamento das campanhas por pessoas jurídicas fez crescer o poder dos dirigentes dos partidos, porque com eles está, com quase exclusividade, o poder de financiar as campanhas.

Chegamos, então, à situação presente. Alguém, para ser candidato, precisa estar filiado a um partido e ser reconhecido como tal pelos dirigentes. Para ter dinheiro para a campanha, necessita da boa vontade dos mesmos dirigentes, porque com eles está o poder de distribuir o dinheiro do fundo eleitoral.

Para ter acesso à TV e ao rádio, nos tempos de campanha, está submetido à deliberação dos dirigentes. A liberdade que viria com a vitória é uma ilusão para quem exercerá um mandato originado numa eleição proporcional (vereador, deputado estadual e deputado federal). Se o sujeito contrariar os dirigentes do seu partido será punido, porque o mandato pertence ao partido e como o partido é dos dirigentes, a conclusão é óbvia.

Se os problemas criados pelos partidos ficassem limitados às eleições, a questão que levanto seria grave. Torna-se gravíssima quando eu amplio o foco sobre o tema para verificar que são eles, os partidos, instrumentos de exercício do poder nos governos e o caminho de legitimação da alternância no poder. Eles, em última instância, controlam o aparelho do Estado que presta os serviços à população. É muito poder para estar sempre nas mãos de meia dúzia e a serviço do capricho do jogo político.

Por isso tudo, a política empobreceu e os governos, idem. Afinal, os partidos estão aí para serem o padrão da política, o ambiente para o debate e disputa democrática pelo poder. Deveria ser nos partidos, a primeira lição de um político sobre a conquista e conservação do poder e do reconhecimento da alternância como um santo remédio para a democracia.

Para tornar melhor a política, está claro, que alguma coisa precisa acontecer com relação aos partidos. Eu nenhuma dúvida tenho que o caminho seria uma reforma na base deles, para obrigá-los a democratizar as deliberações, para que as decisões ocorram pelo voto dos delegados convencionais e, quando o assunto produzir impacto nas questões programáticas, pelo voto da maioria dos filiados.

Há propostas na mesa.

Contudo, como somos um povo viciado a buscar solução nas consequências dos problemas e não nas causas, andam por aí alguns a brigar contra os fundos partidário e eleitoral e a advogar candidaturas avulsas. Que sigam em frente, mas que se lembrem que somos uma sociedade de poucos milionários e temos um modelo de governo que faria dos candidatos avulsos, eleitos sem alma.

Estamos em boa hora para rever o modelo.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O discurso é uma música

O ano era 2016. Tempo de campanha para presidente dos Estados Unidos. Na disputa, Hillary Clinton e Donald Trump. O escritor americano Michael Moore apareceu no principal reduto do Trump, Ohio, para pedir votos para Hillary. O que ele disse e, do modo como disse, merece registro como uma peça importante da campanha. 

Usando de forma perfeita a retórica, a entonação, e a encenação, Michael Moore é didático, como poucos oradores políticos são. Mas, na didática, ele separa Hillary e Obama com uma dura crítica ao Obamacare. Eu vi isso como um problema, numa sociedade que tem fidelidade quase absoluta aos partidos. 

Para nós, brasileiros, a peça tem significado maior, pela proximidade dos argumentos do Michael Moore com as razões do voto, aqui, no Bolsonaro. Palavras para se pensar. 

Vamos ao principal trecho, mas o discurso todo, disponível no YouTube, é muito bom: 

“Porque eu conheço um monte de pessoas em Michigan que pensam votar no Trump e eles não gostam dele, necessariamente tanto, para isso. E, necessariamente não concordam com ele. São só pessoas decentes, bastante desesperadas. Depois de falar com alguns deles, eu separei algumas coisas para dizer para eles. 

Donald Trump veio para o CLube Econômico de Detroit e ficou na frente dos executivos da Ford e avisou: – se vocês fecharem as fábricas em Detroit para transferi-las para o México, eu colocarei uma tarifa de 35% para a importação dos carros produzidos por vocês lá e trazidos para cá. Vocês não conseguirão vendê-los. 

Foi uma coisa incrível de se ver. Nenhum político republicano ou democrata tinha dito nada parecido e isso foi música para os ouvidos de pessoas em Michigan. Ohio, Pensilvânia, Wisconsin.  Você mora aqui em Ohio. Você sabe do que estou falando. 

Mas, o que Trump significa é irrelevante, porque ele está dizendo coisas para as pessoas que estão feridas emocionalmente. É por isso que cada pessoa deprimida, sem nome, esquecida trabalhando duro, que costumava ser parte do que foi chamado de classe média, ama Trump. Ele é o coquetel molotov humano que as pessoas estavam esperando. A granada de mão humana que pode, legalmente, jogar no sistema, que roubou a vida das pessoas. 

No dia 8 de novembro, dia da eleição, apesar das suas contas nos bancos terem sido fechadas. Em seguida, veio o divórcio, a esposa e os filhos se foram, o carro foi confiscado, eles não tiveram férias de verdade em anos. Eles estão presos com uma merda de um plano de saúde Bronze do Obamacare, onde você não pode mesmo tratar uma simples dor de cabeça ou uma caganeira. Eles, essencialmente, perderam tudo o que tinham, exceto uma coisa. A única coisa que não lhes custa um centavo e é garantido pela Constituição Americana – o direito ao voto. 

Eles podem estar sem dinheiro, eles podem estar sem teto. Eles podem estar ferrados. Não importa, porque um milionário tem o mesmo número de votos que a pessoa sem emprego. E há mais da digna classe média do que há na classe milionária. Assim, no dia 8 de novembro, dia da eleição, o revoltado vai caminhar para a cabine de votação, pegar uma cédula, fechar a cortina e com uma caneta colocar um X bem grande no nome do seu candidato, que ameaça derrubar o próprio sistema, que arruinou suas vidas….

A eleição do Trump será o seu grito de foda-se o sistema. O maldito sistema. E todos se sentirão bem…por um dia, por uma semana…por um mês. E então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”.

Por Jackson Vasconcelos

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Um tsunami atropelou a oposição na Previdência

Sabe-se que as ondas do mar são formadas pelo encontro dos ventos com as águas e também que o tamanho das ondas depende da força e duração dos ventos na superfície. Esse fenômeno explica o que se viu no plenário da Câmara dos Deputados, na hora em que se votou a reforma da Previdência.

Num ambiente de águas agitadas, uma enorme onda se formou, rapidamente, em razão dos ventos da articulação política acontecida entre o presidente da casa, Rodrigo Maia, e os líderes dos partidos da base de sustentação. A onda deu um capote na oposição.

Eu estive lá na terça e na quarta-feira e percebi os movimentos. Rodrigo Maia só compareceu ao plenário para presidir as sessões quando os votos para obstruir a obstrução e aprovar a reforma estavam contados e certos. O processo de votação, pelas normas legislativas, se dá em duas fases, uma de discussão e outra de votação.

A primeira aparição do deputado Rodrigo Maia no plenário aconteceu às 21h de terça-feira e com o objetivo de acelerar a etapa de discussão da matéria, para entrar na fase de votação.

Quando assumiu a presidência – entrou no cenário –, Rodrigo Maia encontrou uma oposição cansada pelas horas intensas de debate sobre um assunto completamente irrelevante: as vaquejadas. A sessão das vaquejadas, maçante, provocou o discurso revoltado de um dos deputados, às 20h, que bradou ao microfone: “Estou aqui desde cedo para votar a reforma e nada acontece. Isso é um absurdo”.

A estratégia do deputado Rodrigo Maia e dos líderes da base funcionou. Em poucas horas, exausta, a oposição viu entrar a madrugada e encerrar-se o período de discussão da reforma da Previdência.

No dia seguinte, quarta-feira, encerrada a discussão, se teria a votação do texto base. O deputado Rodrigo Maia repetiu a dose. Ele deixou o plenário cansar com homenagens à Igreja Universal e discussões estéreis sobre a reforma, mas sem impactos no processo deliberativo. Assim ele levou a coisa toda até perto das 17h.

Com a oposição rouca de tanto esbravejar, o deputado Rodrigo Maia chegou ao plenário, pouco antes das 17h, assumiu a presidência dos trabalhos e, com mão e pulso firmes, respaldado nos acordos feitos durante todo o dia com os líderes da base de sustentação, tocou o processo de votação. Os ventos fortes das negociações nos bastidores bateram na superfície do plenário e formaram um tsunami que arrastou a oposição para uma derrota e tanto!

O passo seguinte seria a votação dos destaques (emendas que podem modificar o texto original), mas o deputado Rodrigo Maia percebeu que a situação começava a ficar fora de controle. Então, imediatamente, suspendeu a sessão e voltou às articulações nos bastidores para buscar jogo.

A limitação férrea de acesso de não parlamentares às áreas próximas do plenário da Câmara foi outra providência inteligente, porque deixou que as conversas entre deputados e deputadas, nos corredores, acontecessem sem constrangimentos.

Fiquei quase todo o tempo sediado na liderança do PSD. A sintonia dos líderes dos partidos da base aliada com o presidente da Câmara era tão ajustada que eles tiveram o controle absoluto sobre a hora exata de cada um dos passos que o presidente daria.

Quem se der ao trabalho de conhecer a história das duas Casas do Congresso Nacional confirmará um fato relevante: os momentos mais intensos de produção legislativa foram todos sob a batuta de presidentes de pulso forte na Câmara dos Deputados.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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Sincericídio ou sincerivida?

Diz Denise Frossard que os políticos usam as palavras para esconder os pensamentos. Confirmo, com um adendo ousado: “Eles e elas, mas eles do que elas, na política, usam as palavras para esconderem os pensamentos”. É a elegância verbal a favor de quem não queira qualificar os políticos – eles e elas – como hipócritas. 

A hipocrisia tem sido tão fundamental na comunicação política, que se criou uma sentença: o “sincericídio”. Político sincero morre como peixe, pela boca. 

Entretanto, há algo diferente no ambiente da comunicação política, que poderá ser útil na análise do comportamento: Jair Bolsonaro. O cara usa as palavras para dizer o que pensa. O problema dele com a imprensa e com os adversários não está, portanto, no que ele diz, mas no que ele pensa, que é exatamente o que ele diz. 

O caso é boa oportunidade para quem lida com a comunicação política entender  que rumos ela terá a partir da experiência da sociedade com Jair Bolsonaro, que venceu a eleição para a presidência usando as palavras para expor o pensamento e governa com a mesma atitude. 

Juan Carlos Ortiz, orientador da campanha vitoriosa de Iván Duque à Presidência da Colômbia, integrante do Fórum Econômico Mundial de Davos, numa entrevista ao Meio & Mensagem – edição de 3 de junho – dá um indicativo sobre o que confere credibilidade à comunicação no mundo hoje: 

“Quando as pessoas compartilham conteúdo, a credibilidade salta. Os modelos de credibilidade mudaram. Antes os meios tradicionais davam credibilidade. Hoje, não é assim. A credibilidade vem com as pessoas compartilhando. Eu denomino a situação de efeito cardume. Nos movemos como um cardume e acreditamos no peixe ao lado para nos mover. Você nunca vê um cardume mobilizando-se com um peixe líder. Simplesmente é a confiança e a credibilidade do peixe ao lado que nos move”. 

E eu complemento: É impossível ser hipócrita por muito tempo com o “peixe ao lado”, porque, por experiência própria e semelhança conosco, ele saberá sempre se o que eu digo é o que penso e se o que penso é exatamente o que ele também pensa. 

Eis o retrato fiel da comunicação praticada pelo Jair Bolsonaro. 

Mas, quero aproveitar um pouco mais a possibilidade de compartilhar com vocês o que disse Ortiz ao Meio & Mensagem: 

“Classifico as marcas como bípedes. Um pé é storytelling emocional e o outro tecnologia. Para ganhar você tem que ser bípede”. O que são os políticos? Uma marca, que tem uma história de vida, que precisa de correias de transmissão para que a história que contam, cheguem às pessoas que precisam ouví-la. 

A moderna comunicação dá vida à sinceridade – algo como “sincerivida”. 

Por Jackson Vasconcelos