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Um bandido, um estúpido ou um vulnerável?

Carlo Cipolla, historiador da economia italiana e professor, escreveu “As leis fundamentais da estupidez humana”, um livro que pode nos ajudar a definir o voto. Ele classifica os seres humanos em quatro categorias, que ele diz, básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido. E ilustra os conceitos com a relação entre dois personagens: Tom e Dick. 

  1. Se Tom empreende uma ação para obter uma vantagem e produz uma vantagem também para Dick, Tom é uma pessoa inteligente. 
  2. Se Tom faz algo que lhe dá vantagem e provoca uma perda para Dick, Tom é um bandido.
  3. Se Tom ao agir, perder alguma coisa, mas produzir ganhos para Dick, Tom será alguém vulnerável. 
  4. Se Tom age e ao agir provoca perdas para Dick e para ele mesmo, aí teremos o Tom estúpido. 

Se, ao fazer a escolha você se deparar com um embate entre um estúpido e um bandido, fique com a quinta lei de Carlo Copolla: 

“Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa, por isso, uma pessoa estúpida é mais perigosa do que um bandido”. 

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BOLSONARO SABE O QUE FAZER?

A campanha presidencial deste ano começou em 2014, quando Jair Bolsonaro, após vencer a eleição para deputado federal, a sétima, saiu Brasil adentro reunindo multidões e distribuindo as imagens dos encontros nas redes, para demonstrar que era competitivo numa campanha que poderia levá-lo à vitória, por mais improvável que isso fosse.  

E, de fato, ele venceu a eleição em 2018, tomou posse em 2019 ainda convalescendo do atentado à faca que sofreu, mas não parou a campanha. O presidente assumiu o mandato no momento em que a economia esfacelada pela presidente Dilma Rousseff deu sinais de recuperação com Michel Temer e continuou num bom caminho com Paulo Guedes. O único adversário competitivo permanecia preso e assim deveria ficar um bom tempo ainda. O cenário era favorável à reeleição. 

Tudo corria bem no figurino das campanhas de Jair Bolsonaro, que nunca dispensaram as polêmicas. Como a imprensa está sempre à disposição delas, o presidente tem feito bom uso dos veículos tradicionais. E se o que ele diz e faz irrita os emissários, tanto melhor, porque a notícia terá o peso essencial para insuflar as massas, tanto aquelas a favor dele como as contrárias. 

Em 2020, apareceu a pandemia e deu um tranco no projeto de reeleição, porque tirou do Presidente os seus mais valiosos instrumentos de campanha: o contato pessoal e o resultado econômico do Brasil. O Presidente ficou tonto no início, mas reagiu rápido e nadou contra a maré, porque a favor dela não produziria polêmica. Só que isso gasta uma energia e tanto do bem maior de um político, a sua imagem.

A oposição viu nas reações do Presidente à pandemia uma brecha para interromper o projeto dele de reeleição e instalou a CPI do COVID-19. A imprensa passou, nesse caso, a ter duas agendas: a CPI e o Presidente e uma pauta só: as polêmicas criadas pelo confronto entre um e outro. Jair Bolsonaro permaneceu, por conseguinte, com todo o espaço de visibilidade. Ninguém além dele tinha voz a não ser para falar dele, fosse bem ou fosse mal. 

De qualquer forma, a exposição negativa abalou a imagem do Presidente e a situação levou alguns aliados a acreditar que seria o fim do projeto de reeleição. Eles resolveram, consequentemente, disputar. 

João Amoedo levantou a bandeira do impeachment, mas o partido dele rasgou a bandeira e deu-lhe um passa fora. Luiz Henrique Mandetta ergueu a voz contra o tratamento precoce e o presidente mandou que ele calasse. Ele não calou, foi demitido e teve alguns dias e algumas horas de glória, quando veio a notícia de ele ter saído com 76% de aprovação. Quando isso deixou de ser novidade, Mandetta perdeu o fôlego e voltou para Mato Grosso do Sul, onde as pesquisas indicam que perderá a eleição para o Senado. Teresa Cristina, aliada de Jair Bolsonaro, deverá vencer. 

As candidaturas de João Dória, Rodrigo Pacheco e Sérgio Moro viveram na sina das marés. Cresceram em alto mar para morrer na praia. Ciro Gomes seria o adversário e isso não era relevante para Jair Bolsonaro, porque Ciro poderia ser vencido pelo próprio Ciro como sempre foi.  

Tudo caminhava assim, quando no ano de 2021, um Ministro do Supremo Tribunal Federal entendeu que Lula deveria deixar a prisão, recuperar os direitos políticos e concorrer. E assim decidiu. 

Na linguagem da aviação, formou-se no céu, no trajeto do jato do presidente à caminho da reeleição, um CB, uma nuvem carregada com raios e granizos, capaz de derrubar o avião se o piloto não tiver o cuidado de desviar a rota escolhendo o lado correto por onde sair, o barlavento, ou contar com uma aeronave possante. 

Afinal, Lula preso alcançou, no segundo turno de 2018, mais de 40 milhões de votos, de gente que, certamente, não teve dúvidas sobre a participação dele nos negócios condenados pela Lava-Jato. Pessoas que não terão nenhuma dificuldade para votar num político condenado por atos de corrupção. Para esse público, pouco importa que a nulidade dos processos represente ou não absolvição. Portanto, gastar tempo com isso é uma baita bobagem. 

Para atravessar a turbulência, uma vez que desviar dela é impossível, Jair Bolsonaro reforçou a aeronave com a adesão de partidos com os quais não contou em 2018 e passa, com as multidões que reúne em todo o mundo, a imagem de vitória, para garantir que aqueles que abandonaram o projeto de reeleição no caminho, retornem mesmo, que constrangidos. 

A campanha de 2022 é, portanto, a campanha do século. Uma magnífica aula de estratégia política.  Voltarei a ela na próxima semana. Até lá. 

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MADUREIRA CHOROU!

Fui a Madureira durante a semana. Lá não ia desde de a campanha para Prefeitura do Rio em 2020. A situação de Madureira dá dó. As lojas na Edgard Romero estão com avisos de “Vende-se” de “Aluga-se”. As que restam para o comércio local, aquelas não entregues às grandes lojas e aos bancos, estão em péssimo estado. Uma delas, não. Essa está por conta  da campanha do deputado Dionísio Lins, que representa o bairro há “ séculos”. Ele foi vereador e no presente é deputado estadual. A esposa dele é a vereadora Vera Lins. Vereadora com alguns mandatos. 

As “valas” do BRT, criadas por Eduardo Paes, que vi em Madureira, combinam com a qualidade dos ônibus e das estações. Madureira parece que viveu uma guerra. Mas, não está sozinha. A cidade, quase toda, está meio largada e, como sempre, a Zona Norte, mais largada que todo o resto. A impressão que se tem é que não há governo em alguns locais e em outros pouco governo. 

Contudo, a gente pode ter esperança na possibilidade de melhora, porque o Prefeito Eduardo Paes conhece a cidade e tem experiência. É verdade que ele anda meio ocupado com outras tarefas. Ele esteve fora da Prefeitura por quatro anos e fora do Brasil quase todo esse tempo.  Ao voltar, deparou-se com uma pandemia que suspendeu o carnaval, que é uma das paixões dele. O chapéu panamá ficou guardado tempo demais. 

Quando a vida na cidade começou a voltar ao normal, Eduardo Paes precisou dar uma arrumada no PSD para abrigar os amigos e colaboradores que quisessem ser candidatos este ano. O partido, como a cidade,  estava meio largado, porque o Senador Arolde de Oliveira, Presidente Regional, faleceu e o suplente, Carlos Portinho, assumiu o mandato, arrumou as malas e mudou para o PL. 

Logo depois, começou o período que o bom humor dos legisladores brasileiros chamam de pré-campanha. Aí Eduardo Paes abraçou a candidatura de um velho amigo ao governo do estado, o advogado Felipe Santa Cruz. E tinha ainda o Presidente do Senado, que o Presidente Nacional do PSD, mestre Kassab, inventou de lançar candidato a Presidente da República e entregou o embrulho ao Eduardo Paes. Imaginem a trabalheira! Até a convenção de pré-lançamento do Senador Rodrigo Pacheco, Eduardo Paes organizou. 

Para nada, porque Felipe Santa Cruz não saiu do lugar e o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mineiro cuidadoso, fugiu da raia. Mas, Eduardo Paes é diligente. Ele não desistiu e não se  abateu. Agarrou a candidatura do ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves e entrou de cabeça na campanha do ex-presidente Lula.  

No meio de tudo isso, os  secretários da prefeitura precisavam sair para disputar as vagas de deputado estadual e federal. E aí não dá pra brincar. Trata-se de amigos. Eduardo Paes, então, partiu para as campanhas. Nada mais justo como gesto de lealdade.

Tenho certeza que quando tudo isso terminar, Eduardo Paes voltará a cuidar da cidade e aí, gente, não tem quem o segure. Com a disposição que ele tem, Santo Deus! O Rio de Janeiro voltará a ser um local onde valha a pena morar e visitar. 

Eduardo tem disposição e experiência. Ele foi prefeito oito anos ininterruptos e está de volta faz dois.  E tem mais: César Maia governou 12. Eduardo Paes esteve nos 12. Então, Eduardo Paes sabe o que fazer. 

Agora, é só a gente esperar passar a eleição. E nem precisa que os candidatos do Eduardo Paes ao governo do estado e à presidência sejam eleitos, porque ele é jeitoso e sabe conviver bem com todo mundo. 

Madureira um dia chorou pela belíssima Zaquia Jorge, que as praias da Barra levaram daqui. Mas, se Madureira hoje chora porque está em completo abandono, será um choro por pouco tempo. Logo, logo, Eduardo Paes olhará para lá. 

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Socorro!

Sou eleitor e você que, certamente, também deve ser, compreenderá o meu pedido de socorro. Deixe-me explicar. A Justiça Brasileira informou aos eleitores que o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, cometeu uma série de crimes e, por isso, foi condenado a uma longa pena de prisão. A Justiça deixou claro para os eleitores brasileiros, que ao cidadão condenado foram assegurados todos os recursos e o direito à defesa e ele, mesmo assim, não conseguiu provar inocência. A lei, instrumento principal de trabalho da Justiça, determina que em casos como esse, o cidadão torna-se inelegível. 

No entanto, com o ex-presidente ainda preso, a instância maior da Justiça informou aos eleitores que houve um erro com relação ao processo do ex-presidente, porque ele não poderia ter sido julgado pelo juiz que o julgou na primeira instância. Sendo assim, concluiu-se que o juiz julgador em primeira instância prejudicou o entendimento de todas as demais e os processos foram anulados. Com a decisão, o ex-presidente saiu da prisão e readquiriu os direitos políticos, o principal deles, o de votar e ser votado.   

Contudo, a Justiça, em nenhuma de suas instâncias, afirmou que o ex-presidente não merecia a condenação. Só avisou que quem o condenou a primeira vez decidiu sem poder decidir e não encaminhou o assunto para quem poderia. Vejam vocês a bomba que largaram no colo dos eleitores.  

E o problema não para por aí. A Justiça Eleitoral pune o fato de o eleitor ser induzido ao erro na hora do voto, em razão de informações inverídicas que receba de qualquer fonte. A isso os comunicadores pátrios pobres no uso da nossa língua, chamam de “fake news”. 

Mas, o candidato sobre o qual pairam dúvidas, diz que foi absolvido. Foi mesmo? Caso não tenha sido, ele divulga uma “fake news”. Como ele poderia ter sido absolvido se os processos foram anulados pelo único motivo de terem sido julgados por um juiz que não poderia ter feito isso? Absolvição não houve. Condenação, sim. No caso de um novo julgamento, poderia haver absolvição? Poderia, claro, mas ela ainda não ocorreu. A quem cabe a obrigação de esclarecer o eleitor antes que ele vá às urnas? Alguém dirá que esse é um papel a ser desempenhado pelos adversários do candidato em questão. Ora, não são eles elementos suspeitos, uma vez que desejam derrotar o candidato que afirma ter sido absolvido? 

Puxa vida! Em nome da boa informação como suporte para a decisão sobre que destino dar ao voto, a Justiça Eleitoral poderia ajudar muito ao se pronunciar para esclarecer se o ex-presidente foi mesmo absolvido ou se, simplesmente, ainda não foi julgado por quem deveria ter sido. E, no conjunto, dizer que pena pagará o juiz que criou tamanha confusão na cabeça do eleitor é uma tremenda injustiça para uma pessoa condenada, que deveria ter sido absolvida.   

Sem os esclarecimentos, o eleitor decidirá no escuro e isso não é nada bom para o exercício de uma democracia que a mesma Justiça diz tanto defender. 

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Aqui mora um otário.

Tem gente que vende o voto. Sabemos que tem e fala-se que o voto tem sido comprado por algo em torno de R $50,00 ou R $60,00. É pouco ou é muito? 

Só se saberá se o preço pago é o preço justo, conhecendo-se o benefício que o voto entrega para quem o compra. 

Vamos lá. Um voto para deputado estadual, deputado federal e senador dará ao eleito o acesso a um emprego seguro por quatro anos ou oito anos, com um salário que está acima dos R $30.000,00 reais. Dará ao eleito um excelente plano de saúde, transporte em carro próprio ou oficial com todas as despesas de locomoção pagas . E, além do salário, o eleito terá, durante 4 ou 8 anos, a liberdade para nomear quem ele quiser para compor o gabinete de trabalho. Os escolhidos podem ser parentes, amigos, correligionários ou alguns eleitores, nunca todos, porque as vagas não chegam aos milhares. Ficam nas dezenas. Então, certamente, quem vendeu o voto não terá lugar nos gabinetes, porque já recebeu a paga pelo bem que entregou. 

Está claro, portanto, que um voto comprado por R $50,00 ou R $60,00 dará acesso ao comprador à fortuna resultando da soma de todos os salários e vantagens que ele terá por 4 ou 8 anos. E como o cidadão ou cidadã eleitos já pagaram pelo que receberam, poderão curtir os benefícios sem prestarem contas. 

Como se resolverá essa relação entre os benefícios que o voto representa para o eleito e o valor dele para os eleitores? Dispensando-se o candidato de pagar em dinheiro pelo voto e exigir dele que pague em serviços. 

O eleitor pode exigir do candidato que ele coloque à disposição de seus eleitores toda a estrutura que recebe quando eleito e todas as prerrogativas também. A prerrogativa de votar os orçamentos públicos, por exemplo. A prerrogativa de fiscalizar os atos e decisões de governadores, secretários, ministros e presidente da república. A prerrogativa de passar férias na Disneylândia com a família.   

Mas, isso feito, como cobrar? Ora, deve-se cobrar todos os dias e horas possíveis, utilizando-se os canais de cobrança que a tecnologia colocou à disposição dos eleitores.  Deve-se cobrar quando o eleito retornar para pedir o voto novamente. Deve-se cobrar avisando aos desatentos sobre o que andam a fazer os eleitos. 

Agindo-se desse modo, o voto entregue ao candidato terá um valor bem maior do que o recebido pelo eleito. O voto será o melhor investimento que um eleitor poderá fazer para que ele tenha os governos a serviço dele. 

Quem vende o voto pelo preço em dinheiro que os candidatos oferecem fique à vontade para colocar um cartaz ou uma tabuleta na porta de frente de sua casa com os dizeres: “Aqui mora um otário com sua família”. Isso facilitará o trabalho dos candidatos compradores de votos, quando eles estiverem nas ruas em campanha. E eles já estão, para uma eleição que acontecerá logo, logo. 

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Sete de Setembro.

Uma parte do povo brasileiro foi às ruas no Dia da Independência. Cantou o Hino Nacional, vestiu verde-amarelo e aplaudiu o Presidente Jair Bolsonaro. Há muitos anos não se via no Brasil comemorações de fato, comemorações de verdade e festiva no Sete de Setembro. A bandeira nacional estava nos carros, nas janelas e vestia o povo. O povo fez um mar verde e amarelo nas ruas. 

Outra parte do povo criticou. Estava irritada pela captura do dia para a campanha de reeleição do Presidente da República. Lula chegou a dizer nas redes que esse negócio de usar verde e amarelo é uma bobagem. 

Vá lá que os eleitores do Presidente da República usem a bandeira e o hino nacional, a cor verde-amarela e camisas com a marca da Seleção Brasileira de Futebol para fazer campanha. Que problema isso causa? Nenhum. Faz tempo, que Jair Bolsonaro levou para si os símbolos nacionais, uma atitude facilitada pelo fato do outro polo ter como marca a cor vermelha. 

A contrariedade e a ignorância de alguns agentes públicos, que julgam ser o Estado o proprietário dos símbolos nacionais e do povo, chegou ao ponto de ter juízes com decisões para proibir o uso das cores da bandeira e da própria bandeira na campanha eleitoral. Ora, ora. Essa gente! 

A democracia dói quando toca nos agentes do Estado Brasileiro. Dói uma dor doída. Temos vivido tanto tempo sob o julgo do Estado que viciamos seus agentes, mesmo aqueles eleitos pelo povo. A pessoa coloca um crachá no peito, um certificado na parede e já se julga proprietária da vontade dos outros. 

Não gosto dos socialistas, porque detesto o Estado opressor, o Estado que se acha dono da vontade do povo. Ora, se o dia é o Dia da Independência, firmado sobre um slogan que vincula a falta de liberdade à morte, então, que se deixe o povo comemorar. Quem sabe não será este o último dia alegre de comemoração da Independência? Poderá ser se em outubro, o outro lado do povo que estava nas ruas vencer a eleição. Queira Deus que não. 

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Um debate de dar sono.

O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República aconteceu no domingo, 28 de agosto, por iniciativa da TV Bandeirantes. Seis candidatos participaram, entre os onze que registraram candidatura. Foi um debate frio, que se tornou chato à medida que acontecia. A minha percepção foi de resultado nulo, para a intenção de cada um de conquistar votos. A vantagem deles foi que nenhum deles perdeu o que tinha quando chegou à emissora. 

Os encontros dos candidatos Jair Bolsonaro e Lula com os âncoras do Jornal Nacional criaram expectativas com relação ao desempenho deles no debate. Lá, Jair Bolsonaro segurou como pode a ira com os âncoras. Lula saiu-se como um lorde, aproveitando-se do ambiente favorável a ele. Até colinha ele recebeu. 

No debate, a jornalista Vera Magalhães tirou Jair Bolsonaro do sério e ele e Ciro Gomes provocaram o mesmo efeito no Lula. Mas, nada que criasse um impacto estridente. No ambiente paralelo, aconteceu o que sempre acontece. Editado, o debate foi utilizado como mensagem para os eleitores de cada um. Alguns comentários nas redes indicaram a frustração de potenciais eleitores da senadora Simone Tebet com ela. Houve declaração de troca de preferência para Ciro Gomes, mas nada relevante. 

Esperei melhor desempenho do candidato Luiz Felipe D’avila, porque, entre todas e todos, ele é o único com a bandeira de não intromissão dos agentes do Estado Brasileiro na vida das pessoas. Dávilla apelou para um discurso estridente contra o Fundo Eleitoral, bandeira que não faz o menor sentido com o argumento de não uso do dinheiro do povo nas campanhas, já que ele e o partido dele utilizam, sem constrangimento, os horários eleitorais na TV e no rádio financiados pela mesma fonte. 

A Senadora Soraya surgiu como novidade no cenário, mas sabe-se que ela só está na disputa pela Presidência, pela dificuldade que o partido dela, União Brasil, encontrou para compor com os pólos. Se o partido acertasse com Lula, deixaria Sérgio Moro numa situação bem pior do que ele já está, e o acerto do partido União Brasil com Jair Bolsonaro se tornou complicado, depois que o Presidente do Partido, Luciano Bivar, tomou um passa fora do Presidente da República no início do mandato. 

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Deu confusão, de “Novo”

Político mineiro não gosta de confusão, por isso, decide tudo e qualquer coisa antes das reuniões marcadas para decidir. 

O político mineiro é bom de conversa nos bastidores e só sobe no palanque depois de combinar os discursos que fará. Em algumas oportunidades, até mesmo com os adversários. 

O político mineiro não surpreende os pares, para poder, com segurança, surpreender o público e buscar, pela surpresa, a imagem de gente decidida. 

Por ter essa personalidade, os políticos mineiros ocuparam a vice-presidência de quase todos os presidentes militares. José Maria Alckmin foi Vice-Presidente de Castelo Branco. Pedro Aleixo, de Costa e Silva e Aureliano Chaves de Figueiredo. Pedro Aleixo, quando escanteado pelo triunvirato soberbo, ficou em silêncio até a morte e Tancredo conduziu, com segurança e nos bastidores, a travessia do mar vermelho de sangue. 

Mas, a polarização das campanhas presidenciais tirou do sério até os mineiros. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema, um quadro do Partido Novo, aprontou confusão. 

Primeiro, em casa e depois na casa dos outros. Em casa, por causa da aliança que fez com o Partido Progressista, que, a nível nacional tem uma história confusa e apoia a reeleição de Jair Bolsonaro. João Amoedo e a vereadora Cris Monteiro, de São Paulo, gritaram. O Boletim da Liberdade noticiou. 

Na casa do Partido Cidadania e do PSDB, Romeu Zema também criou confusão, quando sugeriu que o jornalista Eduardo Costa assinasse a ficha de filiação no Cidadania para ser candidato a vice na chapa dele. 

O Cidadania acertou com o PSDB e Eduardo Costa pulou fora. Romeu Zema tentou acalmar os ânimos. 

Aos trancos o partido Novo segue amadurecendo, por ser formado com gente de fora da política tradicional, que, com convicção e boa-fé, vê nos políticos algo inescrupuloso e longe do povo. 

Mas, devagar a turma percebe que ideologias e boa vontade sem poder são peças de oratória e poesia. 

Sabe-se, no mundo democrático, que as alianças acontecem para que os governos funcionem, depois que os partidos, na disputa eleitoral, demonstram ter tamanho nos parlamentos para impor ou travar o trabalho do Executivo. Firma-se o respeito pela representação das minorias nos votos votados. 

A novidade está nas composições de quem disputa o Poder Executivo, antes mesmo do pronunciamento dos eleitores. Daí, quando chega o tempo de compor os governos, as alianças eleitorais ficam para trás e se transformam no jogo de chantagens que se tem conhecimento. 

O partido Novo pode construir um modelo diferente de composições, no lugar de, exclusivamente, abominá-las. Pode levar os filiados que chegaram ao poder à compreensão de que as alianças fazem sentido para governar e não para vencer eleições. Quando se faz alianças antes do pronunciamento das urnas, corre-se o risco de comprar gato por lebre. 

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O futuro, a quem pertence?

Diz o ditado que o futuro a Deus pertence. Então, somos deuses porque, nos dias 2 e 30 de outubro, diremos como será o futuro, ao serem escolhidos por nós os deputados federais, deputados estaduais, os senadores, os governadores e o presidente da república. E essa gente, a partir do próximo ano, tomará decisões com impacto sobre o futuro do Estado do Rio de Janeiro e do país. 

Para conversar sobre as campanhas deste ano, criamos, Mário Marques e eu, um canal na rede, o “podcastdaseleicoes”. Na segunda-feira, o programa foi ao ar às 10 horas da manhã, ao vivo, com a presença do Quintino Gomes Freire. Em pauta, a pesquisa mais recente feita pela Prefab com os eleitores do Estado do Rio de Janeiro. Henrique Serra, diretor da Prefab, orientou as nossas análises. Foi uma conversa excelente, que está disponível no nosso canal. 

A pesquisa indicou a inversão do resultado para a Presidência da República no Estado do Rio. O Presidente Jair Bolsonaro ultrapassou o ex-presidente Lula, que na pesquisa Prefab anterior vinha bem na frente. Os demais candidatos à presidência estão do mesmo tamanho e nas mesmas posições. Eu ressaltei o meu entendimento: se Simone Tebet e Ciro cresceram, reduzirão os percentuais do Lula. Jair Bolsonaro conseguiu evitar Sérgio Moro e Dória ou teve a sorte de o destino ajudar.  A campanha permanece polarizada. 

Para o governo do estado, Cláudio Castro mantém vantagem sobre os demais candidatos, em especial, sobre Marcelo Freixo. Mas, permanece abaixo dos 30% com um número grande de indecisos, situação que leva a eleição para o governo do estado para o campo aberto.  Qualquer resultado é possível. Quintino comentou o potencial de crescimento do Rodrigo Neves e fez bons comentários sobre a eleição para o senado. 

Falamos sobre o bom desempenho do Paulo Ganime, candidato do NOVO, no debate patrocinado pela Band. Ganime pareceu bem treinado. Estava preparado para o debate. Soube ocupar o espaço e usar bem as oportunidades. Ocorre que a campanha dele nas redes é ruim. Bem ruim. Certos posts sequer fazem sentido. Isso esvazia a vantagem obtida por ele no debate. 

Enfim. A campanha só começou e curta como é, logo estará encerrada. É uma corrida de obstáculos. O peso político do Prefeito Eduardo Paes esteve fora das nossas considerações, embora tenha sido opinião comum que o governo dele nada mal das pernas. Eduardo tenta maquiar a realidade, mas a população carioca já aprendeu que esse jeito é o pior jeito de fazer administração pública. 

Os candidatos estão em campanha. Agora é a vez do eleitor falar e ele dirá, em outubro, o que achou da campanha de cada um. 

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Uma Carta? É só isso mesmo?

Temos agora uma Carta-Manifesto em favor da Democracia. Mas, de que tipo de democracia estamos a defender e que autoridade têm os missivistas ? Antes de avançar com as minhas considerações sobre o tema do momento – uma carta – sugiro que os meus leitores, gente que tem, com certeza, paciência infinita comigo, leiam a entrevista que Vargas Llosa concedeu à Folha de São Paulo no final de semana. Destaco duas passagens, numa ele sintetiza a opção pelo liberalismo e na outra, provocado pelo entrevistador, Vargas Llosa me lembrou uma passagem na entrevista que Catarina Rochamonte concedeu ao canal do Boletim da Liberdade. 

Sobre a conversão de Vargas Llosa ao liberalismo: “Isso foi uma experiência que tive nos anos que vivi na Inglaterra, nos anos de Margareth Thatcher (1979-1990). Impressionou-me muito a maneira como a Inglaterra, que havia entrado em decadência gradual, se levantava com grande energia, convertendo-se no primeiro país europeu…”

Sobre o que nos disse Catarina Rochamonte: É um grande erro, disse Vargas Llosa, “tomar o liberalismo como desenvolvimento econômico e não ter em conta os problemas que existem em cada sociedade. Isso o liberalismo mostra de maneira maravilhosa – cada sociedade tem uma problemática que deve resolver. A resolução demanda um conjunto de medidas”. 

Bem, vamos à tal Carta em Defesa da Democracia. 

Com 11 anos de idade, eu soube que o Presidente da República tinha sido apeado do poder, por uma declaração simples do Presidente do Senado Federal, Senador Auro de Moura Andrade. Achei aquilo um absurdo, mas meu pai me disse: “O povo quer assim. Esse é o preço da democracia. Quando o povo quer alguma coisa, o Poder tem que ceder”. 

E, de fato, o povo parecia querer aquilo. A imprensa falou em mais de 1 milhão de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas e as rádios clamavam por uma “Rede pela Democracia”. 

O povo foi para as ruas pedir que o Exército tomasse o poder, antes que o Comunismo o fizesse. Aquilo tudo me parecia confuso, porque o Presidente João Goulart estava no poder pelo fato de ser vice-presidente da república, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou. Mas, não era um vice-presidente desses que temos hoje que são eleitos na garupa do Presidente. Era um Vice-Presidente eleito pelo povo para, quando houvesse necessidade – e houve – assumisse, em nome do povo, a Presidência da República. Eu olhava tudo aquilo e pensava:  será que esse povo não sabe exatamente o que quer? 

Eu tive a resposta antes de completar 12 anos de idade. O povo serviu de degrau para a mais dura ditadura depois de Getúlio e precisamos atravessar um deserto, sem Deus no comando. Não houve quem do céu fizesse chover o pão. A “Marcha da Família com Deus pela liberdade”, perdeu a companhia de Deus e a liberdade. 

A travessia foi difícil e dolorosa e muitos ficaram pelo caminho. Com muita luta, o povo obteve de volta a prerrogativa, que ele mesmo, de vontade própria, entregou aos verdugos.  

É o que acontece agora com esse monstrengo que as elites brasileiras vangloriam-se de assinar, lideradas por um ex-presidente que ainda deve explicações ao povo brasileiro. A Carta é um Manifesto que se diz a favor da democracia, mas ela não contém um parágrafo, uma palavra sequer que indique a necessidade de aprimorar as conquistas obtidas a duras penas para nos livrar das consequências do golpe que, em 1964, defenestrou um Presidente eleito pelo povo. 

Na verdade, a Carta é um libelo político construído pela oposição ao Presidente da República e tem como argumento as dúvidas que ele levanta sobre a segurança das urnas eletrônicas. E, por ser uma manifestação de vontade de uma parte do povo, a Carta deixa de ser um ato a favor da democracia. É, simplesmente, um panfleto de campanha. 

No Brasil fala-se e ouve-se de tudo sobre as urnas eletrônicas. O que se precisa resolver, na verdade, é se o Tribunal Eleitoral pode permanecer com a prerrogativa que o sistema de votação lhe dá, de ser o fiscal dos resultados em nome do povo, porque é desse modo que o modelo funciona. O eleitor vai à urna, indica suas preferências, o Tribunal apura e diz que o resultado é a fiel manifestação da vontade do eleitor. Mas, não é disso que a Carta trata. 

Outros modelos levam os partidos para a ponta da conferência da vontade dos eleitores, como já aconteceu no Brasil, antes da existência das urnas eletrônicas. Houve uma enxurrada de fraudes, isso é verdade, mas, novamente, o povo brasileiro optou por resolver seus problemas pelas consequências e não pelas causas. 

Eu tenho certeza que o povo, esse elemento esquecido pelas elites políticas e culturais, se consultado, saberia responder se confirma ou não a prerrogativa que está dada ao Tribunal Eleitoral. Simples, não? É ouvir o povo, ato essencial para se conceituar um sistema como democrático.