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Para cada ditador, pelo menos um covarde.

Quando observo a experiência das nações com a ditadura, concluo que para existir um ditador é essencial, extremamente necessário que exista pelo menos um covarde, pois os ditadores não cumprem ordens nem da própria consciência. 

Sadam Hussein, Hitler, Chavez, Fidel, Geisel, Médici conseguiriam ser o que foram sem contar com uma porção de covardes que cumprissem as ordens deles? Eles mesmos, sozinhos, teriam força para colocar alguém nas cadeias, torturar, matar, silenciar ou exilar? Com certeza, não. Então, quando se deseja acabar com uma ditadura ou se demite o ditador ou seus obedientes covardes, concorda? 

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“DIGA AO POVO QUE MARCHE”.

“Diga ao povo que marche!”

Domingo será o dia da decisão sobre quem estará na Presidência da República nos próximos quatro anos, para administrar um governo que está colocado sobre um território que tem mais de oito milhões de quilômetros quadrados, a quinta maior extensão territorial do planeta. Um lugar onde habitam 215 milhões, 278 mil e 233 pessoas, um número que, por óbvio, aumenta a cada momento, porque se sabe que nasce mais gente do que morre a cada dia. 

Cada uma dessas pessoas influencia a vida de todas as demais. Quem acredite que isso seja um exagero, ou, por egoísmo, previra fugir do assunto, que lembre da pandemia, um troço que apareceu na China e alcançou pessoas no mundo todo. E que lembre também que no meio da confusão criada pelo vírus, alguém parou para encontrar a solução e nisso está o segredo da sobrevivência da humanidade na Terra.  Então, o seu voto, no domingo, terá influência direta sobre a vida de mais de duzentos milhões de pessoas. O voto não é um ato egoísta. 

Quando a gente olha o Brasil com base nos números, consegue entender o poder que tem um presidente por aqui. Então, escolher com responsabilidade não é um só um ato de confirmação de apreço por um e ódio ou antipatia pelo outro. Tem mais coisa em jogo. 

O Brasil é nossa casa, é o nosso lugar. É a nossa pátria! Aqui convivemos com nossa gente, falamos uma só língua e quem deseje saber o valor que isso tem, olhe para os povos que fogem de seus lugares, porque neles se tornaram escravos dos governos e sempre com a promessa dos governos de lhes darem uma vida maravilhosa. 

Neste momento, dois candidatos disputam a vaga de Presidente do Brasil e eles também não nos ajudam a decidir, porque o que dizem está coberto por interesses pessoais e de seus grupos. Que encruzilhada! Mas, nas encruzilhadas, duas alternativas se colocam: seguir em frente ou voltar. 

Existe um GPS antigo, bem antigo, à disposição de toda a humanidade para os momentos em que ela precisa tomar decisões. Um GPS que mostra, a partir da história dos povos, que todo sacrifício vale a pena para se viver num território que é nosso com um povo que é o nosso e com governos constituídos por nós. 

Houve um povo que se sentia bem, muito bem, numa terra que não era a sua e submetido a um governo que não foi escolhido por ele e dado a ele como se tivesse sido selecionado por um deus qualquer, um deus que também não era o dele. Até que descobriu que esse governo que não era o de sua escolha estava, na verdade, escravizando-o e colocando-o para trabalhar duro e pagar impostos para sustentar o dono da casa. 

Ao descobrir que, naquela terra, era escravo e não só estrangeiro, o povo pediu que Deus, o verdadeiro Deus, o seu Deus, o ajudasse a trocar aquele lugar por um que fosse seu e onde ele pudesse, ao seu modo próprio, decidir quem estaria no governo. 

Deus atendeu e como Ele não é mágico, o povo precisou caminhar até o novo território e no caminho muita coisa aconteceu. Várias vezes o  povo arrependeu-se de ter saído do lugar onde era escravo e quis voltar. Numa das ocasiões, o povo se viu de costas para o Mar Vermelho e de frente para o exército que tinha ido buscá-lo para devolvê-lo à escravidão. O povo murmurou. Era a encruzilhada. A gente volta ou segue em frente? Deus disse, em frente, “Marchem!” O mar se abriu. 

A pior orientação que se pode dar a um povo com relação à sua História é que volte ao passado, mesmo que exista um mar a transpor no caminho adiante. 

Uma das mais belas poesias que conheci no tempo em que o PT governava o país foi escrita e declamada por Ana Carolina: 

“Meu coração está aos pulos! 

Quantas vezes minha esperança será posta à prova? 

Por quantas provas terá ela que passar? 

Tudo isso que está aí no ar. Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. 

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? 

É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. 

Meu coração tá no escuro. 

A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam. 

  • Não roubarás! 
  • Devolva o lápis do coleguinha!
  • Esse apontador não é seu, minha filha!

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. 

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: Mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem! 

Dirão. 

  • Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba . 

Eu vou dizer. 

  • Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. 

Dirão. 

  • É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. 

E eu direi.

  • Não admito! Minha esperança é imortal!

E eu repito, ouviram? 

Imortal! 

Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!”

Diga ao povo que Marche. Voltar não vale a pena. 

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Roberto e o ódio.

Segunda-feira, 6 de junho de 2005. A Folha de São Paulo publicou a entrevista que a jornalista Renata Lo Prete fez com o deputado federal Roberto Jefferson, ao que se sabe, a pedido dele. Naquele momento, Pandora desobedeceu a ordem de Zeus e abriu a caixa que trouxe do Olimpo para a Terra. A política brasileira ingressou com Dante e Virgílio, no inferno, onde a esperança não vai.

O depoimento de Roberto Jefferson a Renata Lo Prete produziu três Comissões Parlamentares de Inquérito e quase levou Lula ao impeachment. Mas, as consequências do que ele divulgou não ficaram por ali. Veio depois a operação Lava-Jato e todo o resto. Muita gente brilhou sob os holofotes dos casos, em especial ,os ministros do Supremo Tribunal Federal que subiram à ribalta. Mas, outros tantos queimaram quando colocados sob o calor das mesmas luzes.

 A pergunta no ar naquele momento de 2005 foi: “o que levou Roberto Jefferson a fazer as denúncias?” Seria arrependimento? Pode ser, pois ele participou de todas as situações que ele mesmo denunciou. Mas, se fosse arrependimento! Roberto Jefferson teria dito um futuro melhor. Ao que me parece, o ódio motivou Roberto e nenhuma dúvida se poderia ter disso depois de se ouvir o que ele disse ao colega José Dirceu na Comissão de Ética: “Tenho medo de Vossa Excelência, porque Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos”.

Roberto Jefferson teve o mandato de deputado federal cassado, cumpriu pena de prisão e voltou ao convívio com a sociedade, mas o ódio permaneceu com ele, mesmo depois que José Dirceu deixou de ser relevante. Sem Dirceu, o ódio presente em Roberto Jefferson buscou outros alvos e aninhou-se até na religião que ele passou a professar. Roberto Jefferson tem um ódio cego, que não lhe dá descanso. Não lhe dá paz. E esse ódio poderá matá-lo.

Quando passou a dar abrigo ao ódio, Roberto Jefferson deixou de ser político, porque a política não comunga com o ódio. Nunca. Em nenhum lugar. A política não está nas guerras, mas nos tratados de paz. Quando as guerras acontecem, a política perdeu. O que se vê neste momento no Brasil, tem mais de ódio do que de política.

Que pena o ódio esteja presente, como está, na campanha deste ano para a presidência da república. Sem o ódio, a disputa seria sadia. Dante viu na porta do inferno dizeres que muitos usam como retórica: “Deixai toda a esperança, vós que entrais”. Nos umbrais da política se pode ler o contrário – exatamente o contrário: “Trazei a esperança, vós que entrais”.

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RIO, O ELEITOR É O PROBLEMA.

O Rio, de Janeiro a Janeiro. 

Atribui-se o esvaziamento econômico e político do Rio de Janeiro, estado e cidade, à transferência da Capital da República para Brasília e ao desaparecimento do estado da Guanabara, pela fusão da cidade com o estado. A rebeldia de quem entende o processo desse modo fez nascer o enredo de decisões tomadas à revelia dos representantes da cidade, fato que a história não confirma. 

Sabe-se que a transferência da Capital foi inserida na Constituição Federal por proposta de um senador fluminense, Quintino Bocaiúva e lá ficou diante dos olhos dos parlamentares que representavam o povo da Cidade do Rio de Janeiro, até que o presidente Juscelino Kubitschek transformou-a em realidade. Poucos se insurgiram. 

Dizem que o Rio não foi recompensado ou indenizado por perder a qualidade de Capital da República. Não é verdade, uma vez que, transformado numa cidade-estado, passou a arrecadar os impostos de competência de duas unidades federativas. O povo carioca, antes governado por governadores indicados pelo Presidente da República, ganhou autonomia para elegê-los. Elegeu Carlos Lacerda e seu opositor, Negrão de Lima. Carlos Lacerda deixou uma conta alta para Negrão pagar, nela inseridos quatro meses de salários atrasado e obras por terminar. O Túnel Rebouças foi inaugurado por Lacerda, às pressas, ainda não asfaltado, para que representasse um legado no currículo de um governador que gostaria de ser presidente. Lacerda criou empresas estatais para confrontar o governo federal, a quem se opunha.  

Depois, em 1974, a Guanabara desapareceu e a Cidade do Rio de Janeiro foi incorporada ao estado para ser a sua capital. Os críticos insistem até hoje, que, de igual modo, a decisão deu prejuízos à Cidade sem recompensa. E, novamente, tentam emplacar a imagem de uma decisão à revelia dos políticos locais. Contudo, a fusão foi proposta por um deputado federal eleito pela Guanabara, Célio Borja, ao Presidente da República, Ernesto Geisel. Célio, certamente, quis ser governador da nova unidade federativa. Não conseguiu, porque o Presidente Geisel nomeou o Almirante Faria Lima para tirá-lo da Presidência da Petrobras. 

A Cidade do Rio de Janeiro, ao ser incorporada como capital ao Estado do Rio, passou a compor um território bem mais vasto e viu ampliado o litoral, hoje o terceiro maior do Brasil, com potencial para a indústria da pesca, esportes aquáticos e turismo. 

O Rio ganhou o caráter de capital de um estado onde estavam a Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Refinaria da Petrobrás e outros patrimônios com enorme potencial econômico. Além disso, poucos meses antes da fusão, o governo federal entregou ao estado e à cidade, a ponte Rio-Niterói, que deu impulso à indústria da construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, elemento multiplicador exponencial de trabalho, renda e impostos, não só em razão da construção da ponte, mas pelo canteiro de obras que se instalou em Niterói para novas moradias e empresas. 

Então, as lamentações pela perda da condição de Capital da República e fusão da Cidade do Rio de Janeiro com o Estado do Rio, não fazem sentido. É choro sem motivo de um povo que não soube aproveitar as oportunidades econômicas que a transferência da Capital e depois a fusão ofereceram. Durante muito tempo, tudo o que se fez por aqui tinha o caráter provisório, porque a decisão de transferir a Capital da República e a fusão deveriam ser desfeitas. 

Mas, mesmo assim, a natureza garantiu outras oportunidades. Destaco a ECO-92, que poderia ter feito da cidade e do estado exemplo de locais com altos índices de saneamento básico e aplicação de sistemas modernos de conservação do ambiente. Destaco também a realização de duas Copas do Mundo, dos Jogos Pan Americanos, Olimpíadas e outras realizações com visibilidade de potencial econômico que ficaram pelo caminho e deixaram escombros de obras mal-feitas ou inacabadas. 

Fizemos péssimas escolhas na hora de votar. Conseguimos a proeza de reunir numa mesma personalidade, os ex-governadores Chagas Freitas e Amaral Peixoto. Um da Guanabara e outro do Estado do Rio. Do casamento deles nasceu Leonel Brizola, que gerou Saturnino, Marcello Alencar, César Maia, Garotinho e Eduardo Paes. Sobreviver a essa gente seria impossível, mesmo com todas as oportunidades que nos foram oferecidas pelo destino em razão do enorme presente que a natureza nos deu. 

Em 1982, os estados retomaram a autonomia administrativa. Em 1985, foi a vez das capitais e cidades consideradas de interesse para a segurança nacional. Os generais, então, começaram a deixar o poder, depois de mais de 20 anos no comando da Presidência da República. 

O Estado do Rio de Janeiro elegeu Leonel Brizola. Instalou-se o que ele mesmo denominou “Socialismo Moreno”, política que definiu o crime como última opção dos miseráveis por um prato de comida e algo para beber. Para evitar que o crime pelo prato de comida proliferase, Brizola criou escolas de tempo integral, que a vaidade dele permitiu serem chamadas de Brizolões. O modelo educacional aplicado inspirou-se no antropólogo Darcy Ribeiro. O objetivo era manter os filhos dos pobres nas escolas o dia todo para tirá-los do crime. As horas de estudo e alimentação seriam o elemento oferecido pelo Estado para concorrer com o dinheiro farto e fácil das drogas. Para substituir o tênis, a menina virgem e bonita e tudo o que o dinheiro fácil poderia comprar, o governador oferecia café da manhã, almoço, livros e uma cadeira dura numa escola. Não passou pela cabeça do “Socialismo Moreno”, que o combate direto ao crime seria mais eficaz. Nada disso. Gastou-se fortunas com a construção de escolas à beira das estradas para que o povo pudesse ver. 

Eleito governador, Leonel Brizola ganhou a prerrogativa de escolher um prefeito para a Cidade do Rio de Janeiro. Escolheu Marcello Alencar e depois Jamil Haddad. Em 1985, o povo foi chamado para escolher. Escolheu que Brizola gostaria que fosse o escolhido, Saturnino Braga e a Cidade faliu, um fato inédito na histórias das cidades brasileiras e se bobear, das cidades no mundo inteiro. 

Contou-se as mentiras de prejuízo com a transferência da Capital para Brasília e com a fusão. Depois, a mentira maior dos Brizolões sendo armas para tirar as crianças do crime e depois, tudo isso, somado, criou a mentira dos grandes eventos internacionais e dinheiro ganho com as festas no carnaval e réveillon. 

A verdade está num fato. O povo escolhe os governadores e prefeitos e eles não têm a menor noção do que fazer com o estado e com as cidades que nele estão. Sequer têm noção do potencial que há a ser explorado. Por isso, seguimos sendo o estado onde o crime encontrou um ambiente altamente favorável e se instalou nas favelas, nos palácios, em todas as brechas que encontra pelo caminho. 

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FAÇAM UM “L”

Façam o “L”. 

Jair Bolsonaro perdeu a eleição e fez silêncio. Ficou como Nero a olhar Roma pegar fogo. Ele saiu da eleição credenciado líder da oposição, por 58.206.354 eleitores. Lula obteve 60.345.999 votos, mas não atendeu ao desejo da maioria dos eleitores brasileiros, que somam, segundo o TSE, 156.454.011 pessoas. 32.200.558 eleitores não foram votar. 3.930.765 anularam o voto e 1.769.678 votaram em branco. Portanto, Lula assumirá a Presidência da República contra a vontade de 63.906.797 e com a indiferença de 32.200.7558. Em número de votos, a oposição ao governo Lula é maior do que os votos dados a ele. 

Mas, não só por isso, Lula terá dificuldade para governar, porque o partido dele é um barril de pólvora, tem ciúmes da aproximação de Lula com os aliados e sempre se teve como credor do Lula para ocupar todos os espaços no governo. 

Em janeiro de 2003, Lula e o PT assumiram a Presidência da República. Seria a primeira vez de uma série de cinco que se completa agora. Em outubro de 2003, a Revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas circulou com uma extensa matéria sobre as nomeações que o PT fez na máquina pública federal. O trabalho foi assinado por Sandra Braga e registrou uma declaração do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, um dos artífices do mensalão julgado por Joaquim Barbosa que este ano votou no Lula. Delúbio Soares afirmou à Conjuntura que arrecadou oito milhões de reais para o PT, com as contribuições compulsórias feitas por quem ocupava cargo de confiança no governo federal. Eita. Olha aí as “rachadinhas”. 

Na Seção “Carta do IBRE” da mesma edição da revista, o Editor-Chefe, Roberto Fendt, criticou a “partidarização do Estado” e levantou uma questão: “Não estaria na hora de o PT, comprometido com um Estado ativo e eficiente e com a ética política, propor a profissionalização do funcionalismo, com a redução dos cargos de confiança?” Imediatamente, Roberto Fendt perdeu o emprego. Era o PT no comando da comunicação de um veículo que eu julguei independente. 

O modelo facilitou a prática do mensalão e dos atos investigados pela operação Lava-Jato, que condenou Lula e vários aliados dele e do PT. O povo ficou enojado e, pelo voto, expurgou o modelo em 2018. Mas, autorizou a volta dele. Então, Lula, o PT e os aliados estão aí de retorno com uma experiência que não tinham antes na relação com a Justiça. 

Por que o PT e Lula, com o histórico que têm, conseguiram vencer a eleição de 2022? A resposta está numa das passagens mais interessantes na campanha de Donald Trump, na disputa pela Presidência dos Estados Unidos. O documentarista protagonizou. Ele resolveu fazer campanha para Hillary Clinton num dos redutos dos republicanos, na cova do leão Trump, Ohio. Moore fez um discurso fantástico que encerrou com a seguinte frase, plenamente adaptável ao que foi a eleição para a Presidência do Brasil. Disse ele: 

A eleição do Trump será o seu grito de dane-se…E todos se sentirão bem…por um dia, por uma semana…por um mês. E então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”.

O que virá? Como será o futuro? Estaremos ferrados? 

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Críticas panfletárias !

O paradoxo panfletário de Abranches. 

O cientista político Sérgio Abranches, publicou num dos veículos da internet, após o primeiro turno da eleição, o artigo “O paradoxo de Ziraldo e as eleições de 2022”. Leio os textos do Sérgio Abranches sempre que os alcanço e no de agora ele cita o “Presidencialismo de Coalizão, o Dilema Institucional”, que é denso, longo e está composto com informações e tabelas de dados sobre a fragmentação da representação parlamentar nos países democráticos do mundo. Vale separar um tempo para ler. Foi publicado em 1988, no calor ainda da Assembleia Nacional Constituinte, pela Revista Dados

É do “Paradoxo de Ziraldo”, que cuido neste momento, Abranches retoma a questão do presidencialismo de coalizão para compor uma análise do resultado da eleição parlamentar deste ano e o acusa de ser o produto de “uso desabusado da máquina pública, em todos os níveis, e de avalanche de recursos do orçamento secreto…”. Sérgio cita o fato como se ele fosse uma novidade no conjunto das eleições ocorridas no Brasil. Não foi. Não é e nem teve a intensidade que sempre teve. O voto do brasileiro se torna cada vez mais ideológico, distante do modelo de compra e de fraudes que marca as campanhas eleitorais no Brasil desde a primeira, ainda no Brasil Colônia. Somos o país mais longevo, acredito, do mundo em eleições. 

O voto ideológico verificou-se este ano, uma situação que Abranches aborda com a surpresa reservada aos fenômenos: “Há uma boa notícia e um consolo no resultado das eleições parlamentares de 22. A boa notícia é que a fragmentação partidária na Câmara caiu 46%, 5% voltando ao que era em 2006. No Senado, caiu 33%, aproximando-se do que era em 2010”. É a ideologia! Eu não diria, estúpido, porque Sérgio não é. 

Abranches encerra o artigo com a intenção que teve desde o início dele, o que não desmerece todo o resto, mas fragiliza o argumento. Abranches fez da boa oportunidade de um debate sobre o sistema de governo um panfleto de campanha, quando afirma, referindo-se ao resultado da eleição parlamentar deste ano: “O consolo é que a maioria controlada por partidos de centro e pelo centrão permite a formação de coalizões majoritárias, tanto para Lula, quanto para Bolsonaro. A má notícia é que, no caso de vitória de Bolsonaro, não será a governabilidade que estará ameaçada. Será a democracia. Ele vai usar a maioria para solapar de vez a estrutura institucional de freios e contrapesos da democracia constitucional brasileira”. 

O risco de se perder a democracia – o pouco que se tem dela – é zero com a eleição do Jair Bolsonaro e zero com a vitória do Lula. A narrativa criada pelos opositores e aliados do Bolsonaro não deveria servir a quem tem a maturidade política e a experiência que tem Abranches. 

Mas, retomo a discussão onde Abranches não poderia ter encerrado. Há “Presidencialismo de Coalizão”, porque há Presidencialismo híbrido, montado pela Carta Constitucional, que deu ao Congresso Nacional liberdade sem responsabilidade e representação sem respeito aos representados. Temos uym modelo de eleição que distancia o eleitor do centro de decisões políticas. Ele só tem serventia na hora do voto e nem no momento em que se afastam os eleitos por crime, o povo é ouvido. 

Noutro ponto existe o modelo de eleições coincidentes para os parlamentos e executivos. Isso sim, uma doideira, que uma nova Constituição poderia resolver. Exige-se demais dos eleitores, quando eles são obrigados a decidir, de modo direto, no mesmo momento, quem estará na presidência da república e nos governos estaduais e no Congresso Nacional e Assembleias, assim como acontece no tempo de eleição dos vereadores e dos prefeitos. Nossa índole presidencialista ou monárquica, se preferirem assim compreender um povo que tem “Rei do Futebol”, o “Rei do Bacalhau”, “A Rainha do Império Serrano”, nos leva a dar preferência ao “Rei”, representado aqui pelo Poder Executivo. 

E tem mais: qual o problema de se ter um presidente sem maioria no Congresso? Não seria uma reverência ao sistema de pesos e contrapesos, que Abranches defende? Vejam a França, país onde o parlamentarismo admite um presidente forte. Lá, há pouco tempo, o povo escolheu o presidente, mas, logo depois, colocou sobre ele um parlamento que pode mantê-lo nas rédeas. Vejam a Itália, onde agorinha, o Parlamento enquadrou Berlusconi ao efetivar uma aliança entre o partido de Meloni e a esquerda. 

Com todo respeito, digo que Sérgio Abranches é melhor produtor de textos sobre ciência política do que de panfletos de campanha. 

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Ciro Gomes. Triste fim.

TRISTE FIM. 

Hoje, na série de análise sobre a eleição presidencial deste ano, eu comento a quarta derrota do Ciro Gomes. Ele acreditava que este ano conseguiria ter uma campanha diferente das demais, por ter contratado o mago João Santana, que apresentou a Dilma ao povo brasileiro como uma estadista, “mãe do PAC”, gestora eficiente, enfim, tudo o que ela nunca foi. Mas, nem João Santana, conseguiu vencer a única fragilidade que Ciro Gomes tem na imagem. Ciro é pedante. É um erudito num pagode. 

Ciro disputou em 1998, 2002 e 2018 estacionado na faixa um pouco acima dos 10% dos votos válidos. O melhor resultado ele conseguiu em 2018, quando alcançou o percentual de 12,47%. Este ano, Ciro derreteu até chegar a 3,04% dos votos válidos, resultado que o Ceará ajudou a compor, quando lhe deu pouco mais de 6%. Lá, Ciro não contou sequer com o apoio dos irmãos. Ciro comentou que a decisão deles abriu-lhe uma ferida nas costas. 

A causa de todas as derrotas do Ciro é a mesma. Ele é erudito quando se comunica com o eleitor e soa falso quando tenta não ser pretensioso. Em todas as oportunidades em que ele se apresenta ao público, nas entrevistas, nos debates, nas ruas e até ao carregar um santo padroeiro, uma novidade que trouxe para esta eleição, Ciro é pedante. Ele fala bem e manuseia os números com uma agilidade e arrogância que impressionam. 

Ciro rebate as críticas com carteiradas: “Eu sou muito treinado. Eu sou uma pessoa muito séria. Eu conheço o povo brasileiro na intimidade. Eu conheço a História do Brasil como ninguém”, Frases que ele usa para encerrar o assunto com quem lhe pede melhores explicações. Para Ciro Gomes, se ele diz, o interlocutor tem a obrigação de acreditar e aceitar. Duvidar de Ciro Gomes é ato de ignorância.  

O Pedantismo do Ciro trouxe para o discurso político os termos “Enciclopedismo raso”, “o paradigma pedagógico” e outras composições semânticas esquisitas. Ciro não explica. Não tem paciência para explicar. Ele, simplesmente, sabe e ponto final. 

Quando fala, Ciro lembra o Major Quaresma, magnífico personagem de Lima Barreto: “Um dia era o petróleo que lera em qualquer parte, como sendo encontrado na Bahia; outra vez, era um novo exemplar de árvore de borracha que crescia no rio Pardo, em Mato Grosso; outra, era um sábio, uma notabilidade, cuja bisavó era brasileira; e quando não tinha descobertas a trazer, entrava pela corografia, contava o curso dos rios, a sua extensão navegável, os melhoramentos insignificantes de que careciam para se prestarem a um franco percurso da foz às nascentes. Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram indiferentes. Pequenas talvez…” 

E, para que ninguém, ninguém mesmo duvide da superioridade de Ciro Gomes, ele encerrou a campanha com duas declarações indiscutivelmente pedantes. A primeira, quando reconheceu a derrota: “Quero dizer a vocês que eu estou profundamente preocupado com o que estou assistindo acontecer no Brasil. Como vocês sabem eu vou inteirar 65 anos de vida e tenho 42 deles dedicados ao meu amor e à minha paixão pelo Brasil. Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora como Nação”. Ciro viu o que os mais de 100 milhões de eleitores não conseguiram ver e por isso, votaram em Bolsonaro e Lula. 

Ciro não foi diferente, quando avisou que acompanhará o PDT no apoio ao Lula: “Meus amigos. Minhas amigas, acabamos de realizar uma reunião da Executiva Nacional ampliada do PDT, quando, por unanimidade, nós tomamos uma decisão. Eu gravei esse vídeo para dizer que acompanho a decisão do meu partido, o PDT. Frente às circunstâncias é a última saída…”. E mais não disse, nem esclareceu, porque se ele disse, está dito. É suficiente! 

A campanha deste ano mostrou ao Ciro que ele não precisa de um publicitário e sim de alguém capaz de fazer com que ele seja simples no dizer, no prometer e no agir. Ciro precisa de alguém capaz de mostrar a ele que não são os livros que leu ou escreveu, nem a experiência dele com as coisas do Brasil, nem a erudição perfeita, os elementos que decidem as eleições. Elas são decididas pelos eleitores, que votam mais com o coração do que com a razão, mais com a esperança do que com o desespero. 

Na próxima semana, trarei as minhas considerações sobre o que aconteceu com o Partido Novo. Até lá. 

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CPI para Institutos de Pesquisa?

Os institutos de pesquisa são a bola da vez na sinuca em que está a política no Brasil. Os resultados do primeiro turno da eleição presidencial deste ano indicam o “ponto de morte” dessa bola a ponto de se falar em CPI e em investigação, porque tudo por aqui acaba numa coisa desse tipo.

A questão com os institutos de pesquisa existe há tanto tempo que o legislador criou a obrigação de registro das pesquisas eleitorais no Tribunal Eleitoral, quando  a intenção do contratante é divulgá-las. O objetivo da determinação é evitar a manipulação dos resultados. 

Adianta? 

Muita gente dirá que não, mas é impossível saber se sim ou se não, pois o registro é só uma obrigação burocrática, onde são exigidos o questionário prévio e a amostragem. O conjunto todo onde se teria ainda o tipo de coleta, a tabulação dos resultados e outras informações de apuração, no entanto, não está sujeito à fiscalização. A relação dos institutos de pesquisa com o Tribunal Eleitoral é, portanto, tão só uma reverência à burocracia.

A intenção declarada de quem pede investigação e punição para os pesquisadores é evitar que o eleitor seja levado a votar em candidatos nos quais ele não votaria, a não ser se estimulado pelas pesquisas. Ou seja, todas as demais informações que o eleitor recebe para decidir o destino que dará ao voto estarão subordinadas à certeza de vitória daquele que ele escolher. O eleitor será um “Maria vai com as outras”, um louco que irá às urnas com damas de companhia. O mesmo conceito se aplica à decisão absurda adotada pelo Tribunal até a eleição desde ano, de não divulgar os resultados enquanto houver gente na fila de votação. Felizmente, isso me aparece, não acontecerá mais. O Estado e seus agentes subestimam a capacidade de o eleitor decide por si mesmo. 

A bem da sanidade do eleitor brasileiro a gente sabe que não é desse modo que o processo de decisão acontece e é prova disso, a discrepância entre os resultados das pesquisas e os resultados obtidos na apuração dos votos. A valer a insanidade, existirá sempre coincidência. O eleitor serve-se das pesquisas para as conversas no botequim, já que a política é assunto proibido na mesa do jantar da família. 

As pesquisas são elementos de formulação das estratégias dos candidatos e não base para a decisão do eleitor. Sejam elas feitas para conhecer a intenção de voto, sejam para descobrir como se dá o processo de decisão do eleitor. O desejo das campanhas é ter os elementos que motivam ou desencorajam o voto. Como por interesse comercial dos institutos elas são divulgadas, passaram a ser elemento de seleção usado pela imprensa para as entrevistas exclusivas com os candidatos e presença deles nos debates. 

O núcleo de decisão estratégica das campanhas não considera as pesquisas divulgadas e de uso público como fonte confiável, pois sabe que vários elementos interferem na qualidade da informação e um deles, o interesse comercial dos institutos, que define a velocidade entre a coleta das informações, a tabulação dos dados e a preparação dos relatórios. Um núcleo de decisão competente sabe também que uma avalanche de pesquisas satura os eleitores e distorce os resultados, assim como a linguagem usada pelos pesquisadores e o modo como são apresentados os questionários. Então, para os núcleos de decisão estratégica das campanhas é aconselhável que contratem pesquisas para uso próprio e como elas se constituem em instrumento de decisão de estratégias, não podem ser do conhecimento dos adversários.

Sobre o tema, o alerta que nos fez o jurista Ives Gandra Martins numa das edições do jornal da CNN chega em bom momento: “O Ministério da Justiça entrou com um pedido na Justiça para investigar os resultados que, enfim, não foram corretos, dos institutos de pesquisa. Se nós examinarmos os resultados das últimas eleições – e quando eu falo das últimas eleições, eu me refiro às eleições deste século XXI – nós vamos verificar que os institutos de pesquisa têm errado permanentemente. Eles cada vez têm mais dificuldade em prever os resultados…A impressão que se tem aqui de fora é que a tecnologia e a metodologia que os institutos estão utilizando são ultrapassados, já que os erros têm sido cada vez maiores e cada vez mais expressivos. Hoje a população brasileira tem conhecimento bem maior de política. Às vezes, eu sou interpelado por moradores de rua. Quando critico o Supremo eles concordam; quando eu elogio os ministros do Supremo, muitos  vêm me atacar, dizendo, “mas o que é isso, professor!”. Então, a impressão que eu tenho é que, à medida em que uma população de, praticamente, 2015 milhões de habitantes passa a ter uma visão muito mais profunda do que está acontecendo na política, todos tomando posições, todos tendo conhecimento, todos tendo seus celulares, acompanhando redes sociais, os institutos de pesquisa com as metodologias que usam há dezenas de anos e que funcionavam no passado, a esta altura, a meu ver, eles precisam estudar as suas técnicas, porque se os erros são cada vez maiores, em cada eleição, significa, já que os institutos são sérios, o erro não está nos institutos nem está na avaliação que fazem dos eleitores. Creio que chegou o momento nessa investigação, que eu tenho a impressão que não vai  apurar nenhuma deslealdade ou desonestidade dos institutos, de verificarmos se num pequeno universo que examinam eles podem ter o retrato de toda a Nação.”

A minha experiência como formulador de estratégias para campanhas eleitorais de muito tempo, me diz que o que o doutor Ives Gandra Martins, com elegância, diz é fato. Ele aponta um desafio para os institutos de pesquisa: a produção de dados com ínfima margem de erro, apurados a partir do que pensam mais de 140 milhões de eleitores, num país com as diversidades regionais que tem o Brasil e onde uma palavra dita no sul pode ser interpretada de maneira completamente oposta quando ouvida no norte. 

Será possível alguém saber, com antecedência e certeza bem próxima da realidade, o que fará o eleitor no dia da eleição, num universo tão amplo de culturas e costumes formado por seres humanos que se informam a cada momento, a cada segundo do dia, bombardeadas por dezenas ou centenas de formas diferentes de comunicação? E fazer isso com base em uma amostra com duas ou três mil pessoas? 

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O ódio é péssimo conselheiro.

Você odeia? Então não decida.  

Mata-se por dinheiro ou por paixão, dizem os que investigam os crimes de homicídios. Os crimes por paixão, chamados passionais, são os crimes contraditórios – isso digo eu – porque por paixão não se mata. Por ódio sim. Então, diz-se que o amor pode transformar-se em ódio, e esse será o momento em que ele receberá o nome de paixão. Discordo. A paixão é o amor ainda não maduro e o 

ódio nenhuma relação tem com o amor, nem para servir-lhe como antônimo, porque para contraditar o amor existe o desamor. O ódio é simplesmente ódio, sem sinônimo e sem antônimo.  

Se você, meu caro e paciente leitor e você minha dileta leitora ainda não decidiram em quem votar para Presidente, não tenham esperança de decidir com base nas campanhas dos dois candidatos, porque elas não são esclarecedoras como deveriam ser e animam os eleitores a fazerem do voto uma arma a favor do ódio. 

As campanhas que vejo são movidas pelo ódio dos grupos dos dois candidatos, um contra o outro. E não há pior maneira de decidir qualquer coisa na vida do que sendo impulsionado pelo ódio, porque fica-se cego. Dizem que o amor também cega, mas quando ele produz o mal é pelo fato de ter-se transformado em ódio. Por isso, não se aconselha decisões que, por amor a uns, faz-se ódio na relação com os demais.  

Mas, se por acaso, vocês já resolveram em quem votar, verifiquem se a resolução já tomada é movida pelo ódio. Se é, eu aconselho que você reveja o critério que levou você à escolha que fez, porque ao escolher um entre os dois candidatos à Presidência da República, você estará ajudando a decidir quem ficará com a obrigação de dirigir o Estado Brasileiro com todas as imperfeições que o Estado tem. 

Somos uma nação formada por um território riquíssimo e vasto e por uma população desigual, que precisa do Estado para garantir-lhe, pelo menos, a segurança jurídica, ou seja, a relação perfeita entre a lei e a execução dela do modo como ela mesma especifica em seu documento maior, a Constituição Federal. Há quem acredite que o Estado deva assegurar muita coisa além da segurança jurídica, mas sem, pelo menos isso, nada do mais terá valor. 

O Presidente da República é, por definição constitucional, o Chefe Supremo das Forças Armadas e sob as ordens dele movimentam-se os generais, os almirantes e os brigadeiros. Ele é também chefe dos ministros, aqueles que cuidam de áreas específicas da administração pública federal, onde estão a Educação, a Saúde, a Segurança Pública e a Fazenda, porque é também do Presidente da República a competência para encaminhar o Orçamento ao Congresso Nacional e, depois de ele aprovado, torná-lo realidade. Isso quer dizer que cabe ao Presidente da República decidir o que será feito com os impostos que recolhemos à União. É, igualmente, do Presidente a decisão sobre as leis que o Congresso Nacional elabora, pois ele tem o poder de veto e no caso brasileiro, tem também o poder de fazer, por si mesmo, as leis enfiadas num monstrengo chamado de Medida Provisória que produz efeitos definitivos na vida das pessoas. Está aí, em tudo isso, localizada a segurança jurídica. 

Isso e muito mais do que está posto na Constituição Federal, lá no Artigo 84, é competência exclusiva do Presidente da República e não deveria ser entregue a alguém só pelo fato de odiarmos outro alguém. Ora, uma vez registrado o voto na urna eletrônica e cumprido o passo que o ódio aconselhou, o voto estará dado e uma vez escolhido o Presidente da República e satisfeito o ódio, o sujeito terá, pelo menos, quatro anos de oportunidades para, ele mesmo, destilar o ódio que o colocou na cadeira presidencial. E, digo pelo menos quatro anos, porque o Presidente da República toma decisões que ficam por aí a vagar e a infernizar ou felicitar as nossas vidas por muitos anos mais. Olhem a História e vejam que tenho motivos de sobra para os conselhos que dou. 

Não está difícil decidir como difícil foram as outras vezes, porque estamos entre dois candidatos que já governaram o país, um por 16 anos, de modo direto e por mais seis de modo indireto e outro por quase quatro anos. Então, já sabemos do que cada um deles é capaz ao usar as leis que o povo, por seus representantes faz, e o dinheiro que o povo, por suas obrigações com o fisco, entrega. Já sabemos de cada um os valores que defendem para uma vida em sociedade, valores que estarão presentes nas decisões que cada um tomará. Não precisamos, portanto, dos conselhos que o ódio dá. 

Valeu gente. 

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O povo gosta de briga.

Briga boa e o povo gosta. 

Criou-se uma regra para a comunicação nas campanhas eleitorais, reforçada em 2014. A norma é esculhambar o adversário, difamá-lo e denunciá-lo para os abrir espaços ao autoelogio. 

Ninguém escapa. Chega-se ao ponto de envolver pais e filhos, amigos próximos, assessores, ex-esposas, ex-maridos, vizinhos, enfim, todas as pessoas que privam de alguma relação com os candidatos. É comum ouvir-se dizer: “Ah!, eles são filhos de fulano, são pais de sicrano, nomearam beltrano…”. Um processo que eu chamo de transferência de imagem negativa para quem tem alguma positiva. 

Isso funciona? Tem funcionado pelo fato de todos os candidatos adotarem o mesmo modelo, o voto ser obrigatório e as abstenções, os votos brancos e nulos não serem considerados. Como não existe um modelo com o qual se possa comparar e as eleições acontecem, difícil é, se não impossível, contestar o que se tem. 

Quando as campanhas receberam o auxílio das redes para enfrentar a mídia tradicional, rapidinho surgiram os chamados “operadores do lado B”. Eles e elas, profissionais de comunicação na rede, ficaram com o dever de divulgar e também produzir mensagens para ferir a imagem dos adversários. E quando nada de real conseguem, então, partem para algo que a comunicação denominou de “fake news”, uma adaptação de velha mentira à linguagem das redes. 

Para evitar que as ofensas pessoais cheguem muito longe, criou-se o “direito de resposta”, mas o instrumento terminou por ser, também, elemento de estratégia eleitoral. Os candidatos que pedem direito de resposta só querem mesmo o tempo sobressalente para enfrentar os adversários. A imprensa tem horror aos direitos de resposta e a Justiça mais horror ainda, porque isso acrescenta trabalho às agendas. 

Ocorre que a política não está resumida às campanhas eleitorais. Depois dela, quem vencer terá que exercer os mandatos recebidos pelo povo e não conseguirá fazer isso se levar a ferro e fogo a história que contou sobre os adversários. O povo entende isso? Por acaso, compreende Alckmin com Lula? Maia com Freixo? Marina com Lula? Bolsonaro com Centrão, Eduardo Paes com Serra e depois com Dilma? Com Maia contra Cabral, depois com Cabral contra Maia e depois com Maia, de novo? 

O povo acha engraçado, mas normal. Aprendeu, faz tempo, que as campanhas eleitorais são grandes oportunidades de entretenimento. Para os eleitores, os programas eleitorais na TV e os debates são espetáculos de humor. 

Se o modelo funciona, faz sentido mudá-lo? Não! Se em algum momento o povo entender que isso não serve, os profissionais de campanha e candidatos darão um jeito para fazer outros modelos funcionarem. Ou seja, o modo como as campanhas acontecem está nas mãos do povo e não dos candidatos e dos profissionais que realizam a tarefa de ajudar alguém a chegar ao poder.