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CPI para Institutos de Pesquisa?

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Os institutos de pesquisa são a bola da vez na sinuca em que está a política no Brasil. Os resultados do primeiro turno da eleição presidencial deste ano indicam o “ponto de morte” dessa bola a ponto de se falar em CPI e em investigação, porque tudo por aqui acaba numa coisa desse tipo.

A questão com os institutos de pesquisa existe há tanto tempo que o legislador criou a obrigação de registro das pesquisas eleitorais no Tribunal Eleitoral, quando  a intenção do contratante é divulgá-las. O objetivo da determinação é evitar a manipulação dos resultados. 

Adianta? 

Muita gente dirá que não, mas é impossível saber se sim ou se não, pois o registro é só uma obrigação burocrática, onde são exigidos o questionário prévio e a amostragem. O conjunto todo onde se teria ainda o tipo de coleta, a tabulação dos resultados e outras informações de apuração, no entanto, não está sujeito à fiscalização. A relação dos institutos de pesquisa com o Tribunal Eleitoral é, portanto, tão só uma reverência à burocracia.

A intenção declarada de quem pede investigação e punição para os pesquisadores é evitar que o eleitor seja levado a votar em candidatos nos quais ele não votaria, a não ser se estimulado pelas pesquisas. Ou seja, todas as demais informações que o eleitor recebe para decidir o destino que dará ao voto estarão subordinadas à certeza de vitória daquele que ele escolher. O eleitor será um “Maria vai com as outras”, um louco que irá às urnas com damas de companhia. O mesmo conceito se aplica à decisão absurda adotada pelo Tribunal até a eleição desde ano, de não divulgar os resultados enquanto houver gente na fila de votação. Felizmente, isso me aparece, não acontecerá mais. O Estado e seus agentes subestimam a capacidade de o eleitor decide por si mesmo. 

A bem da sanidade do eleitor brasileiro a gente sabe que não é desse modo que o processo de decisão acontece e é prova disso, a discrepância entre os resultados das pesquisas e os resultados obtidos na apuração dos votos. A valer a insanidade, existirá sempre coincidência. O eleitor serve-se das pesquisas para as conversas no botequim, já que a política é assunto proibido na mesa do jantar da família. 

As pesquisas são elementos de formulação das estratégias dos candidatos e não base para a decisão do eleitor. Sejam elas feitas para conhecer a intenção de voto, sejam para descobrir como se dá o processo de decisão do eleitor. O desejo das campanhas é ter os elementos que motivam ou desencorajam o voto. Como por interesse comercial dos institutos elas são divulgadas, passaram a ser elemento de seleção usado pela imprensa para as entrevistas exclusivas com os candidatos e presença deles nos debates. 

O núcleo de decisão estratégica das campanhas não considera as pesquisas divulgadas e de uso público como fonte confiável, pois sabe que vários elementos interferem na qualidade da informação e um deles, o interesse comercial dos institutos, que define a velocidade entre a coleta das informações, a tabulação dos dados e a preparação dos relatórios. Um núcleo de decisão competente sabe também que uma avalanche de pesquisas satura os eleitores e distorce os resultados, assim como a linguagem usada pelos pesquisadores e o modo como são apresentados os questionários. Então, para os núcleos de decisão estratégica das campanhas é aconselhável que contratem pesquisas para uso próprio e como elas se constituem em instrumento de decisão de estratégias, não podem ser do conhecimento dos adversários.

Sobre o tema, o alerta que nos fez o jurista Ives Gandra Martins numa das edições do jornal da CNN chega em bom momento: “O Ministério da Justiça entrou com um pedido na Justiça para investigar os resultados que, enfim, não foram corretos, dos institutos de pesquisa. Se nós examinarmos os resultados das últimas eleições – e quando eu falo das últimas eleições, eu me refiro às eleições deste século XXI – nós vamos verificar que os institutos de pesquisa têm errado permanentemente. Eles cada vez têm mais dificuldade em prever os resultados…A impressão que se tem aqui de fora é que a tecnologia e a metodologia que os institutos estão utilizando são ultrapassados, já que os erros têm sido cada vez maiores e cada vez mais expressivos. Hoje a população brasileira tem conhecimento bem maior de política. Às vezes, eu sou interpelado por moradores de rua. Quando critico o Supremo eles concordam; quando eu elogio os ministros do Supremo, muitos  vêm me atacar, dizendo, “mas o que é isso, professor!”. Então, a impressão que eu tenho é que, à medida em que uma população de, praticamente, 2015 milhões de habitantes passa a ter uma visão muito mais profunda do que está acontecendo na política, todos tomando posições, todos tendo conhecimento, todos tendo seus celulares, acompanhando redes sociais, os institutos de pesquisa com as metodologias que usam há dezenas de anos e que funcionavam no passado, a esta altura, a meu ver, eles precisam estudar as suas técnicas, porque se os erros são cada vez maiores, em cada eleição, significa, já que os institutos são sérios, o erro não está nos institutos nem está na avaliação que fazem dos eleitores. Creio que chegou o momento nessa investigação, que eu tenho a impressão que não vai  apurar nenhuma deslealdade ou desonestidade dos institutos, de verificarmos se num pequeno universo que examinam eles podem ter o retrato de toda a Nação.”

A minha experiência como formulador de estratégias para campanhas eleitorais de muito tempo, me diz que o que o doutor Ives Gandra Martins, com elegância, diz é fato. Ele aponta um desafio para os institutos de pesquisa: a produção de dados com ínfima margem de erro, apurados a partir do que pensam mais de 140 milhões de eleitores, num país com as diversidades regionais que tem o Brasil e onde uma palavra dita no sul pode ser interpretada de maneira completamente oposta quando ouvida no norte. 

Será possível alguém saber, com antecedência e certeza bem próxima da realidade, o que fará o eleitor no dia da eleição, num universo tão amplo de culturas e costumes formado por seres humanos que se informam a cada momento, a cada segundo do dia, bombardeadas por dezenas ou centenas de formas diferentes de comunicação? E fazer isso com base em uma amostra com duas ou três mil pessoas? 

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