Publicado em Deixe um comentário

Bolsonaro: “Vivendo e aprendendo a jogar”

Não espere do jornalismo mais do que ele é e tem sido, aqui e no mundo. Isso pode levar você a conclusões precipitadas sobre o papel da imprensa. E se você lidar com a política, poderá ter dores de cabeça.

O jornalista e professor Eugênio Bucci publicou há tempos o livro “Ética e Imprensa” e na introdução afirmou: “O jornalista não age para obter resultados que não sejam o de bem informar o público; ele não tem autorização ética para perseguir outros fins que não este. Além disso, é cada vez mais chamado a pensar nas consequências do que faz…”

Será?

Em todos os tempos e lugares, o jornalista tem sido um profissional, que age para fazer, sem isenção pessoal, da notícia um instrumento de ação política. Eugênio Bucci admite isso no primeiro capítulo do livro, mas dá aos fatos que narra, todos sobre o Jornal Nacional, o caráter de exceção recriminada. Quando não são.

Na semana passada, o Jornal Nacional aproximou a imagem do presidente Jair Bolsonaro do assassinato da vereadora Mariele e do motorista dela. O presidente soltou os cachorros!

Pelo modo como as informações se organizaram, se a intenção do Jornal Nacional fosse “obter resultados que não sejam o de bem informar o público”, a confusão não teria acontecido. O fato não seria notícia, se o editor colocasse frente a frente as duas informações que recebeu. Uma dizia que Jair Bolsonaro, de viva-voz, ele próprio, teria autorizado a entrada no condomínio onde residia, de um dos assassinos da vereadora, para que ele se encontrasse com o outro, residente no mesmo condomínio e, de lá, os dois saíssem para cometer o crime. Isso faria do Jair Bolsonaro, cúmplice no assassinato.

A outra informação obtida pelo Jornal Nacional mostrava, com provas irrefutáveis, a impossibilidade de ser verdade o primeiro dado, porque Jair Bolsonaro, no mesmo dia e hora, estava em Brasília. Um editor preocupado em “bem informar o público, sem autorização ética para perseguir outros fins”, teria dado à notícia uma conotação diferente a favor do presidente, porque essa era a notícia, ou teria encerrado o caso ou, ainda, solicitado uma investigação mais profunda, para melhor calçado voltar à estrada. Nada disso ele fez e o Jornal Nacional veiculou a notícia com a sutil intenção de levantar dúvidas sobre o presidente.

Mas, a atitude não é exclusiva do sistema Globo, como muita gente quer crer, inclusive, Eugênio Bucci, com os exemplos que apresenta no livro.

Al Franken é um comediante americano, autor de um bestseller, “Mentiras e os grandes mentirosos que as contam – Uma visão imparcial e equilibrada da direita”. Vale ler. Nela estão citados, entre os grandes do jornalismo, nada menos que Washington Post, New York Times e CNN com exemplos comprovados de distorções transformadas em notícias para uso político, na relação da imprensa com as eleições americanas.

Eu elaboro estratégias de ação política, identifico oportunidades e ameaças aos projetos que me são colocados. A expectativa errada do político com relação ao papel dos jornalistas é uma ameaça aos projetos dele. Na relação da imprensa com a política, eu desconheço (pode ser ignorância), casos em que sobreviveu o interesse de bem informar à intenção de criar imagens que, verdadeiras ou falsas, construam a decisão do eleitor.

O tema é extenso. Voltarei a ele na próxima semana.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em Deixe um comentário

Entrevista do Ministro Sérgio Moro

O Ministro Sérgio Moro saiu-se muito bem na entrevista que concedeu ao Jornal das 10 da Globo News, presentes os jornalistas Heraldo Pereira, Andréia Sadi, Gerson Camarotti, Cristiana Lôbo e Merval Pereira. A primeira imagem do programa passou tensão na fisionomia do Ministro, situação que se desfez, com rapidez, já na primeira palavra dele. Ele cumprimentou todos os jornalistas, um a um, pelo nome, atitude inteligente de aproximação.

Os ensinadores de postura diriam que o Ministro esteve mal colocado na cadeira, porque encostado passando a ideia de tranquilidade. Eu já acho que a postura ajudou a descontrair o ambiente.

A chamada na internet deu ênfase ao tema que teve menor relevância em toda a entrevista, a flexibilização do porte de armas: “Moro diz que não há movimento para flexibilizar porte de armas”.

O assunto mais relevante, pela novidade que apresentou e pelas circunstâncias ocorridas no Ceará foi sobre o Sistema Prisional. Moro reafirmou a criação da Diretoria de Inteligência no âmbito prisional. Resposta concreta com perspectiva de bons resultados para a situação mais aflitiva no momento da entrevista.

Moro aproveitou as respostas a algumas questões para esclarecer os boatos que as mídias sociais e mesmo a imprensa criam vez por outra. A primeira situação surgiu quando o Ministro falou sobre o caso Cesare Battisti:

“Havia… Eu, particularmente, desejaria que ele tivesse vindo ao Brasil primeiro, para depois ser enviado para a Itália… Não porque, como foi dito por aí, por alguns, que seria um troféu… Não tinha nenhuma perspectiva disso, mas seria uma forma de o Brasil demonstrar que não seria mais um refúgio para criminosos de qualquer natureza, especialmente, por questões político-partidárias. Mas, tendo sido optado por outro caminho não teve nenhum problema quanto a isso…”. Ao longo da entrevista, houve ocorrências semelhantes, quando o Ministro aproveitou para alfinetar os boatos.

O caso Queiroz, evidentemente, entrou na pauta. Sérgio Moro deu tratamento técnico ao caso alertando que o ambiente correto para dele tratar é o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que investiga. Deu uma estocada nos ministros da Justiça que assumiam o papel de defensores de presidentes, o que levou o subconsciente dos ouvintes para o ex-ministro José Eduardo Cardozo que assumiu o papel de advogado de defesa da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para sair do caso Queiroz, uma vez que o ministro venceu a pauta, a jornalista Cristiana Lobo fez uma pergunta confusa sobre as atribuições do ministro na relação com o currículo dele.

Eraldo Pereira: “O senhor não deveria ter ido ao Ceará?” Ele, com segurança e elegância respondeu dizendo que fez o que deveria ter feito para devolver a normalidade.

Quando trataram da questão prisional, os jornalistas tentaram colocar o Ministro em saia justa com a lotação dos presídios e maus tratos. Ele, com tranquilidade levou o tema para o questão dos indultos e saiu-se muito bem.

Vale assistir!

Por Jackson Vasconcelos