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Complicada relação com a imprensa

Trabalho com as estratégias que cuidam das imagens dos meus clientes políticos e vejo na relação deles com a imprensa um obstáculo enorme a ultrapassar: o preconceito.

Para se ter ideia de como é difícil e complicada a relação do político com a imprensa, sugiro o editorial da Folha de São Paulo, “Haddad de saída”, que reproduzo após os meus curtíssimos comentários.

O autor se contorce no texto, quando faz constrangidos elogios às boas realizações do prefeito, para, com mais conforto e exalando satisfação, trabalhar a conjunção adversativa, “mas”.

Quem ler o texto sem as amarras dos preconceitos do autor verá que não foi pouco ou sequer só suficiente, o que fez Fernando Haddad para devolver “certa humanidade a uma metrópole que vinha se tornando cada vez mais hostil aos cidadãos”. Quem conhece as agruras e dimensões dos problemas urbanos de São Paulo, sabe que não deve ser sido tarefa descomplicada cumprir o papel. Rasgar a cidade com 400 km de ciclovias e abrir 100 mil vagas novas nas creches da prefeitura é trabalho de fôlego.

Deixo com vocês, leitoras e leitores, as conclusões.

Folha de São Paulo:

Fernando Haddad (PT) encerra seu mandato na Prefeitura de São Paulo tendo como marcas mais visíveis as diversas intervenções no campo da mobilidade urbana.

Os 400 km de ciclovias, os 423 km de faixas de ônibus e a redução da velocidade máxima em cerca de 220 vias são iniciativas que já parecem devidamente incorporadas ao cotidiano da capital.

Integram, por assim dizer, uma agenda civilizacional que Haddad encampou, a despeito da resistência de parcelas razoáveis da população. Em conjunto, as medidas priorizam o transporte coletivo e devolvem certa humanidade a uma metrópole que vinha se tornando cada vez mais hostil aos cidadãos.

A essa preocupação com a retomada dos espaços públicos se opõe, quase em contradição, o desmazelo com a zeladoria. Não surpreende que entre as principais reclamações recebidas pela ouvidoria estejam os serviços de jardinagem, tapa-buracos e limpeza.

Com menos visibilidade e maior relevância em termos administrativos, o papel na renegociação da dívida paulistana com a União e a implantação bem-sucedida da controladoria municipal são duas realizações que Haddad, com razão, faz questão de destacar.

No primeiro caso, o saldo devedor da cidade caiu de R$ 76 bilhões para menos de R$ 30 bilhões. No segundo, o órgão de combate à corrupção ajudou a recuperar mais de R$ 600 milhões desviados.

Apesar desses importantes legados, Haddad ficou longe de cumprir seu plano de metas. Com base nos critérios da prefeitura, concluiu 54,5% das 123 propostas.

Dos 20 CEUs prometidos, por exemplo, somente 1 foi entregue (14 estão em construção); das 43 novas unidades básicas de saúde (UBS), a população recebeu 12 e aguarda o fim das obras em outras 15; abriram-se 100 mil vagas de educação infantil, não 150 mil; ergueram-se 45 creches (e 53 estão em andamento), não 243.

Mesmo na mobilidade alguns objetivos ficaram pelo caminho: construíram-se 42 km de corredores de ônibus, e não 150 km -um deficit que não pode ser suprido pelo superavit de faixas, pois estas constituem antes um paliativo de baixo custo do que uma solução.

Reconheça-se que Haddad enfrentou conjuntura especialmente adversa. Os protestos de junho de 2013 custaram popularidade ao prefeito e receitas à prefeitura, que precisou bancar o congelamento das tarifas de ônibus. Mais decisiva, a crise econômica gestada pelo governo Dilma Rousseff (PT) impediu a execução de repasses federais.

Além disso, o descalabro ético do PT contaminou a candidatura de Haddad, circunstância que ajuda a explicar seu fiasco eleitoral -obteve apenas 16,7% dos votos.

São algumas explicações, sem dúvida, mas elas se debilitam diante das necessidades da maior metrópole brasileira. Em termos de eficiência do serviço público e de atenção à periferia, a população decerto esperava muito mais.

Passados quatro anos, Fernando Haddad não deixa de ser considerado um político sério; nestes tempos de Lava Jato, não é pouco para um homem público, mas não bastou para São Paulo.

Por Jackson Vasconcelos

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Macri, Bombonera ou Casa Rosada?

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No futebol não tem conversa. A torcida decide quem é o técnico e faz isso embalado pela emoção pura, sem racionalidade. O cara pode acertar tudo, como fez Abel nos meses finais de 2012, quando carregou o Fluminense no colo até à Taça de Campeão Brasileiro, mas será mandado embora na esquina mais próxima, se errar um tiquinho que seja, como aconteceu com o mesmo Abel, logo adiante no meses iniciais de 2013, no Campeonato Estadual.

Macri é presidente da Argentina, eleito depois dos governos do sombrio casal Kirchner. Antes, de ser presidente do país, Macri foi Presidente do Boca Juniors, um time de futebol argentino reconhecido entre os melhores do mundo. Certamente, o Macri, presidente do Boca Juniors, fazia o que fazem outros muitos presidentes de clubes de futebol na relação deles com os técnicos. Nem 100 vitórias consecutivas ou mesmo a conquista do melhor campeonato nacional tiram o técnico da linha de tiro, quando três ou quatro derrotas consecutivas sacrificam a torcida.

Ontem, Macri, presidente da Argentina, demitiu o Ministro da Fazenda e Finanças, Afonso Pat-Gay, que, apesar das vitórias importantes dele na Economia Argentina, destroçada pelo casal Kirchner, não conseguiu ainda – mas, conseguiria logo, – derrubar a inflação.

Por Jackson Vasconcelos

 

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Irresponsabilidade como contrapartida

A Lei de Responsabilidade Fiscal foi a contrapartida do governo FHC para renegociar as dívidas dos estados com a União. Mas, a Câmara dos Deputados, ontem, 16 anos depois, autorizou nova renegociação com contrapartida oposta: a garantia aos governadores de impunidade para os atos de irresponsabilidade fiscal.

Mas, fica a pergunta que nunca me responderam: pra que diabos servem os governos estaduais? As prefeituras tocam a saúde, a educação, o cuidado com o meio-ambiente, a conservação, o trânsito e poderiam muito bem cuidar da segurança pública e aplicar com custos bem menores, os programas e projetos do governo federal. Não seria, no momento, uma excelente contrapartida, não para a União, mas para os contribuintes, a extinção dos governos estaduais?

Imaginem que economia não teríamos nós, contribuintes, com a extinção dos cargos de governadores, vice-governadores, secretários estaduais, deputados estaduais e uma enorme parafernália de servidores públicos caros e ineficientes. Dinheiro que as prefeituras gastariam para atender melhor a população.

O Brasil precisa de uma reavaliação do pacto federativo.  

Por Jackson Vasconcelos

 

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Entre Trump e Faulhaber

folhaA política assemelha-se ao futebol em tudo, principalmente, na capacidade criativa dos operadores de campanha para justificar vitórias e derrotas.

A Folha de São Paulo, no final de semana, publicou uma entrevista com o Marcelo Faulhaber sobre a campanha do xará Crivella. Ele coordenou a campanha que venceu a eleição para a prefeitura do Rio e sai pelo lugar comum para explicar o resultado: o autoelogio e o traçado de uma receita que possa interessar a clientes potenciais, que ele identifica no Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Marina Silva.

A manchete diz: “Para marqueteiro de Crivella, vez é dos outsiders da política”. Ele enquadra o cliente no figurino, um senador com dois mandatos, duas campanhas derrotadas para o governo do estado e outras duas para a Prefeitura do Rio. E deita falação sobre o resultado da eleição em São Paulo, vencida pelo “outsider” João Dória e voa aos Estados Unidos para aproximar Rio, São e Estados Unidos, onde Trump venceu a eleição presidencial.

Para quem olha de fora, sem aprofundar o exame dos resultados, Faulhaber vende bem. Mas, a avaliação dele não resiste a uma investigação cuidadosa.

Comecemos pelo Rio de Janeiro. Marcelo Crivella pouco esforço precisou fazer para vencer a eleição, porque nós todos, do outro lado, fizemos muito para perdê-la. Crivella nada tem de outsider e sequer de sortudo, porque tem perdido mais eleições do que vencido.

O Rio de Janeiro tradicionalmente vota em candidatos com perfil de gestores e de centro. Já comentei o fato aqui com exemplos. Na eleição deste ano, pelo menos três candidatos com perfil da preferência participaram do processo e dividiram os votos dos eleitores. Nenhum dos três empolgou os eleitores dos demais o suficiente para convencê-los do voto útil. Os eleitores da Jandira Feghali e do Molon fizeram o dever de casa e empurraram Marcelo Freixo para a disputa com Crivella no segundo turno.

Entre os três candidatos com o perfil de preferência, um deles poderia ter aglutinados as demais forças pela capacidade de elevada exposição desde a pré-campanha. Acontece que Pedro Paulo, candidato da prefeitura, participou da campanha com uma pedra de uma tonelada amarrada no pescoço: a acusação de surrar a esposa, quando casado com ela e fazer isso na frente da filha.

Outro ponto a considerar na vitória do Marcelo Crivella foi a decisão de todos os adversários dele de deixarem que ele, no primeiro turno, voasse com céu de brigadeiro, porque todos gostariam de tê-lo no segundo turno. Derrotá-lo seria pule de dez!

Marcelo Crivella aceitou de bom grado o jogo. Na pré-campanha, sumiu. Durante a campanha no primeiro turno, se fez de morto. Aqui e ali, nos debates, deu suspiros.

Quando ele entrou no segundo turno, contra Marcelo Freixo, contou novamente com a ajuda do adversário, que ao radicalizar a disputa transferiu terror para os eleitores que, entre o baderneiro e o bispo, preferiu o bispo.

Essa história de outsider, portanto, é uma balela enorme. E isso aconteceu também em São Paulo. Dória foi eleito, porque o eleitor da cidade abomina o PT, que contra Dória disputou com variáveis: um PT legítimo, representado pelo Haddad, um PT pré-histórico, com Erundina e um PT genérico, encorpado com o PMDB e com um arremedo de PSDB, que se prestou ao papel de vice da Marta Suplicy, PT histórico.

Portanto, no Rio, de Faulhaber e Crivella e em São Paulo de Dória e Alckmin, a disputa se deu no campo da política e não nos hemisférios dos outsiders. Já no Estado Unidos, lá sim, venceu o outsider Trump.

Em toda a entrevista do Faulhaber há dois outsiders: Trump e ele mesmo. Trump com dinheiro suficiente para falar o que bem entender e vencer eleições.

Por fim, cabe lembrar que na eleição passada para Prefeito do Rio, Renato Pereira apareceu no papel do Faulhaber. Fez sucesso, ganhou um bom dinheiro até que foi desmascarado na eleição seguinte.

Por Jackson Vasconcelos

 

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“O Namoradinho do Rio”

Num dos debates da CBN e no último da TV Globo, na campanha para o governo do Estado do Rio em 2006, o político Sérgio Cabral acusou-me de, no INSS, roubar o dinheiro dos “velhinhos” aposentados e ser demitido da Superintendência por isso. Ele citou uma CPI criada por ele em 1998. Era intenção do candidato Sérgio Cabral desestabilizar a campanha da Juíza Denise Frossard, sua adversária. Eu coordenava a campanha.

A CPI de 1998 na Alerj fora aberta e presidida pelo próprio Sérgio Cabral, Presidente da Casa, um fato inédito. O INSS é órgão federal, por isso, aquela CPI não tinha legitimidade e o Superintendente não estava, portanto, obrigado a comparecer. Mesmo assim, eu disse ao deputado Sérgio Cabral e à imprensa, que iria.

Sérgio Cabral telefonou no mesmo dia em que anunciou a CPI. Estranhei. Ele disse que a intenção era só dar satisfação aos velhinhos aposentados, porque a imprensa batia duro no INSS. Pediu, em seguida, que eu atendesse pessoalmente três colegas dele, deputados estaduais, que gostariam de tratar de “galhos fracos”. “Quem sabe eles não darão um bom testemunho a seu favor na CPI?”, arrematou.

Recebi os deputados Ari Brum, Toninho Duarte e André Luiz e uma proposta, “galho fraco”, segundo eles, que se transmitida aos fornecedores do INSS e aceita por todos, encerraria a CPI sem o meu depoimento. Reagi. Avisei a eles e depois à imprensa, que iria à CPI. Comuniquei a minha decisão à líder do PFL, meu partido, deputada Solange Amaral.

Demorou pouco para a imprensa publicar a ameaça do deputado Sérgio Cabral de me levar à força para depor.  Afirmei novamente, que apesar de desobrigado, eu iria. Queria ir. Fui e lá, prestei todos os esclarecimentos que o Sérgio Cabral pediu. Só ele me questionou diante de poucos deputados. Os três indicados por ele para me visitar não foram.

Encerrei o depoimento com a notícia da visita que recebi a pedido do Sérgio Cabral e do motivo dela. Sérgio Cabral, na cadeira de Presidente da CPI ouviu impassível. Perguntei se o fato faria parte do relatório. Ele garantiu que sim. A CPI foi encerrada sem relatório.

Em 2006, ingressei com uma queixa-crime no STF contra Sérgio Cabral, pelas acusações que ele fez. Senador, ele tinha privilégio de foro. Poucos dias depois, ele foi eleito governador. Rápido, o STF encaminhou a queixa-crime para o STJ, foro privilegiado dos governadores. A Alerj suspendeu o processo.

Sérgio Cabral assumiu o governo do Rio. A Revista O Globo deu-lhe na capa o título de “O namoradinho do Rio” e alertou: “até quando vai durar a lua-de-mel da população com o governo Sérgio Cabral?”.

Durou muito. Não o tempo suficiente para encorajá-lo a continuar no governo e na política. Ele renunciou na metade do segundo mandato e perdeu direito ao foro privilegiado. A queixa-crime voltou a caminhar. O advogado dele, Regis Fischer, ligou para o meu advogado, meu filho, e propôs um acordo para encerrar o processo. Aconselhei aceitar. Meu filho resistiu. Eu avisei: “com Cabral, só vale a Justiça divina. Por aqui, ele se safa. Nem Marcello Alencar, com o poder de governador conseguiu que o MP denunciasse o cara. E a acusação naquele caso foi mais grave: de roubo.

Fizemos o acordo, por uma carta de retratação no processo, pagamento dos honorários justos e arquivamento do caso.

Acho que quebrei a cara. O Brasil mudou!

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Por Jackson Vasconcelos

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Nova Era no Rio de Janeiro

eleicoes_2016-rio-crivella_wilton_junior_estadao_conteudo-3Alguma coisa aconteceu aqui no Rio de Janeiro nas eleições deste ano, que me faz acreditar ser esse um bom momento para registrar um texto presente no livro “A Civilização do Espetáculo”, do escritor Mário Vargas Llosa, obra que faz uma radiografia perfeita da sociedade moderna. O texto está no capítulo “Pedra de Toque” com o título “O Véu Islâmico” e aborda a relação Estado e Igreja. Vamos a ele:

“O Estado laico não é inimigo da religião; é um Estado que, para resguardar a liberdade dos cidadãos, desviou a prática religiosa da esfera pública para o âmbito que lhe corresponde, que é o da vida privada. Porque, quando a religião e o Estado se confundem, desaparece irremediavelmente a liberdade; ao contrário, quando se mantêm separados, a religião tende, gradual e inevitavelmente, a democratizar-se, ou seja, cada igreja aprende a coexistir com outras igrejas e com outras maneiras de crer, bem como a tolerar agnósticos e ateus”.

 

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Tô de saco cheio da democracia!

Roberto Stefan Foa e Yascha Mounk utilizam no trabalho “A desconexão democrática”, dados do World Values Survey e o período entre 1995 e 2014, para demonstrar  que nos Estados Unidos, em 1995, 16% das pessoas entre o final da adolescência e o início da vida adulta consideravam a democracia um regime “ruim” ou “muito ruim”.

Em 2011, 24% dos jovens nessa faixa de idade tinham a mesma opinião. Na Europa, no mesmo período, esses percentuais variaram de 8% para 13%. A análise dos dados leva os autores a sustentar a hipótese de que poderia estar acontecendo uma “desconsolidação democrática” nos países em que as democracias há mais tempo e mais profundamente se enraizaram.

Por que será? Quando a gente olha de perto as últimas eleições no Brasil e o que ocorre nos Estados Unidos na disputa pela Presidência da República é possível encontrar a resposta: ausência de lideranças. Não há no mercado da política, políticos que entusiasmem os eleitores. E, no Brasil, não é de agora. Nos Estados Unidos o fenômeno só apareceu diante do mundo nesta eleição. Lá e cá a causa é a mesma.

Lá, o Partido Republicano criou o fenômeno ao oferecer à escolha dos eleitores o candidato Donald Trump. A presença dele no cenário levou a seleção para um campo da escolha do menos pior e não do melhor. Deana Bass, republicana e negra, assessora de relações públicas, comprova o fato, na entrevista que concedeu à enviada especial do jornal O Globo a Washington, Mariana Gonçalves. “Você votará em Donald Trump?”, perguntou a repórter. Deana respondeu: “Sou republicana, e o fato de Trump dizer coisas desagradáveis não muda isso. Esperava que ele não fosse o indicado pelo partido, mas foi. Na verdade, meu voto é contra Hillary. Conversei há pouco com um democrata que disse que votaria em qualquer um para evitar que Trump vencesse. Assim estamos neste país”.  A última pergunta da repórter foi: “Trump tem qualidades?”. Deana respondeu: “Repito, sou mais contra Hillary que pró-Trump…”.

0311-oglobochargeA charge do Chico Caruso na capa da mesma edição do O Globo aproxima a campanha no Rio de Janeiro, que elegeu Marcelo Crivella, da campanha para Presidente dos Estados Unidos. Hillary, com bottom de campanha do Marcelo Freixo corre atrás do Trump, que exibe no paletó o bottom de campanha do Marcelo Crivella.

Deana mostra que o problema lá está na escolha do Partido Republicano sobre quem o representaria nesta eleição. O problema aqui é exatamente o mesmo e há mais tempo: os partidos oferecem aos eleitores candidatos que não entusiasmam. Então, devolver aos jovens a apreço pela democracia me parece caminho fácil. Está em consertar os partidos.

Roberto Stefan Foa é pesquisador do World Values Survey e do Laboratório de Pesquisa Social Comparada da Escola Superior de Economia em São Petersburgo, Rússia. Seus textos aparecem em diversos periódicos, livros e publicações da ONU, OCDE e Banco Mundial.

Yascha Mounk é professor de teoria política do Departamento de Go- verno da Universidade Harvard e pesquisador do New America, um think tank com sede em Washington D.C. Sua tese de doutorado, so- bre o papel da responsabilidade pessoal na política contemporânea e filosofia, será publicada pela Harvard University Press. Seus ensaios aparecem na Foreign Affairs, no New York Times e no Wall Street Journal.

Por Jackson Vasconcelos

 

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Bom humor vence eleição?

marcelo-freixoHá um velho conselho que, com vírgula adicionada, ajuda argumentar. “Quem canta seus males espanta” , para dizer que a música afasta as coisas ruins. Mas, quem canta seus males, também espanta, para dizer que ninguém gosta de ter ao lado alguém que esteja permanentemente de mau humor. Só os chatos vencem os mal-humorados.  

A turma do PSOL deveria seguir o conselho popular e deixar o mau humor de lado, pelo menos no tempo das campanhas eleitorais. Eta, partidozinho de gente mal-humorada!  Gente que passa a ideia de ter raiva de tudo e de todos. Para essa gente, tempo longo na TV é veneno.  

A candidata do PSOL em Porto Alegre, Luciana Genro, chegou em quarto lugar no primeiro turno. Reclamou que lhe faltou tempo de TV. Mas, no Rio de Janeiro, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, com o mesmo tempo, foi ao segundo turno. O que houve, então?

Em Porto Alegre o mau humor da Luciana Genro não teve concorrente. No Rio, Marcelo Freixo teve Jandira Feghali e, além disso, conseguiu, por milagre, passar todo o primeiro turno sem destilar a raiva inerente ao partido.  

No segundo turno, no entanto, Marcelo Freixo, sem concorrência, abusou do mau humor, da cara fechada, da crítica chata e isso tudo com 20 minutos de exposição na TV. Deu no que deu.

E, eu não poderia terminar esse texto sem lembrar Heloísa Helena, na campanha presidencial de 2006. E, para confirmar que os mal-humorados só não perdem para os chatos. Lembro que a Heloísa Helena chegou em terceiro numa campanha com quatro candidatos. O quarto? O chatíssimo Cristóvam Buarque.  

Por Jackson Vasconcelos

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A coerência faz bem para a estratégia

eduardosuplicyEduardo Suplicy é uma figura! É exemplo de um político que não é de ocasião. Faz e defende o que acredita, sem se importar se com isso ganha ou perde votos. Essa é a estratégia dele.

Sobre ela, em outro contexto e para outro personagem, fala Dick Morris, no “Jogos do Poder”, quando se refere a Ronald Reagan. O ex-presidente abre a obra de Morris como exemplo de sucesso. O autor faz contraponto entre Bill Clinton e Reagan:

“Reagan foi o oposto de Clinton em matéria de estratégia, e a noção mesma de estratégia parecia contrária ao seu temperamento. Sua mente era clara e desanuviada. Sua conduta era guiada pelos axiomas mais simples. Enquanto Clinton se deixa fascinar por noções diferentes e se entrega a constantes reavaliações, Reagan simplesmente juntava munição que lhe permitisse defender idéias que ele já tinha”.

Eduardo Suplicy elegeu-se vereador em São Paulo – o mais votado do Brasil – depois de ser eleito três vezes senador. Perdeu a quarta tentativa, porque o PT, partido que ajudou a criar e nunca deixou, abandonou-o. Lula e Dilma não gostam do Suplicy. Só eles podem dizer a razão.

A campanha do Eduardo para a Câmara Municipal de São Paulo é um marco na formulação estratégica. No Brasil todo, os candidatos do PT fugiram da legenda como o diabo foge da cruz. Suplicy não. Fez questão de dizer-se do PT e foi mais longe: pediu votos para os correligionários concorrentes. Sim, porque o modelo de eleição proporcional adotado pelo Brasil faz adversários os candidatos de um mesmo partido.

O vídeo que compartilho aqui com vocês mostra a estratégia do Suplicy: a coerência. É algo, que os políticos modernos deveriam observar. Os eleitores começam a perceber que a coerência é elemento importante no critério de escolha. Mas, “casa de ferreiro, espeto de pau”. Marta Suplicy ficou casada com Eduardo 37 anos. Tomou outro caminho na vida pessoal e na política. Trocou de partido, substituiu o discurso. Fez-se incoerente. Candidata à prefeitura de São Paulo, com o mandato de senadora e apoio da máquina federal, chegou em 4º e ajudou São Paulo a não ter segundo turno pela primeira vez na história das eleições em dois turnos.

Eduardo Suplicy perdeu a eleição para o Senado em 2014. José Serra venceu. Contudo, Eduardo Suplicy, que poderia trocar de partido e teria todos os argumentos para tal, permaneceu PT e carrega com orgulho a estrela vermelha.

Entrevistado pela TV Estadão, depois de perder a eleição para o Senado, Suplicy cantou a música que tem tudo a ver com a carreira dele. Cantou-a novamente, agora, eleito vereador mais votado do Brasil. É do Bob Dylan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura este ano, para surpresa do mundo.

Vídeo da campanha do Suplicy para vereador: 

Letra da música do Bob Dylan:

Blowin’ In The Wind

How many roads must a man walk down
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, and how many times must cannonballs fly
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind

Yes, and how many years can a mountain exist
Before it’s washed to the seas (sea)
Yes, and how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free?
Yes, and how many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind

Yes, and how many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, and how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind

Soprando no vento

Quantas estradas um homem deve percorrer
Pra poder ser chamado de homem?
Quantos oceanos uma pomba branca deve navegar
Pra poder dormir na areia?
Sim e quantas vezes as balas de canhão devem voar
Antes de serem banidas pra sempre?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e por quantos anos uma montanha pode existir
Antes de ser lavada pelos oceanos?
Sim e por quantos anos algumas pessoas devem existir
Antes de poderem ser livres?
Sim e quantas vezes um homem pode virar a cabeça
Fingir que ele não vê
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantas vezes um homem deve olhar pra cima
Antes de conseguir ver o céu?
Sim e quantos ouvidos um homem deve ter
Pra poder conseguir ouvir as pessoas chorarem?
Sim e quantas mortes serão necessárias até ele saber
Que pessoas demais morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Por Jackson Vasconcelos

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E o eleitor?

O primeiro debate no segundo turno das eleições para prefeito de Belo Horizonte foi uma aula do que não se deve, de forma nenhuma, fazer numa campanha: esquecer o eleitor. Disputam a eleição, João Leite, pelo PSDB e Alexandre Kalil pelo PHS. João Leite foi jogador de futebol e o maior tempo da profissão, ele jogou no Atlético Mineiro. Alexandre Kalil foi presidente do mesmo clube durante seis anos, dois mandatos.

No debate, eles partiram para as agressões pessoais e quase chegaram às vias de fato, à pancadaria. O vídeo está aqui copiado, para você mesmo analisar.

Uma campanha eleitoral tem como objetivo fundamental oferecer aos eleitores as informações e dados, que os ajudem a decidir o voto. Os candidatos e a imprensa têm o papel de fornecer e organizar as informações. Portanto, numa campanha para fazer sentido tudo isso, os candidatos, nas entrevistas, programas de TV e debates devem falar, conversar com os eleitores. No debate publicado aqui, dois caras brigam entre si e se insultam o tempo todo. Um erro.

No entanto, aos 48m56 no vídeo, Kalil mostrou que a ficha caiu. Ele usou os 40 segundos finais dos 90 segundos que teve para responder com um pedido de desculpas ao eleitor pela qualidade do debate, mas alfinetou o adversário, ao final: “Eu quero acabar nesses 43 segundos, pedindo desculpas pra você, tá? Pedindo desculpas pelo o que tá acontecendo aqui hoje. Eu, pessoalmente, estou envergonhado. Eu não vim aqui pra isso. Eu não achei que nós íamos chegar a esse ponto. Então, da minha parte, eu quero adiantar a todos vocês as minhas desculpas…”

Sobre o debate, comentei também no meu facebook:

Por Jackson Vasconcelos