Eduardo Suplicy é uma figura! É exemplo de um político que não é de ocasião. Faz e defende o que acredita, sem se importar se com isso ganha ou perde votos. Essa é a estratégia dele.
Sobre ela, em outro contexto e para outro personagem, fala Dick Morris, no “Jogos do Poder”, quando se refere a Ronald Reagan. O ex-presidente abre a obra de Morris como exemplo de sucesso. O autor faz contraponto entre Bill Clinton e Reagan:
“Reagan foi o oposto de Clinton em matéria de estratégia, e a noção mesma de estratégia parecia contrária ao seu temperamento. Sua mente era clara e desanuviada. Sua conduta era guiada pelos axiomas mais simples. Enquanto Clinton se deixa fascinar por noções diferentes e se entrega a constantes reavaliações, Reagan simplesmente juntava munição que lhe permitisse defender idéias que ele já tinha”.
Eduardo Suplicy elegeu-se vereador em São Paulo – o mais votado do Brasil – depois de ser eleito três vezes senador. Perdeu a quarta tentativa, porque o PT, partido que ajudou a criar e nunca deixou, abandonou-o. Lula e Dilma não gostam do Suplicy. Só eles podem dizer a razão.
A campanha do Eduardo para a Câmara Municipal de São Paulo é um marco na formulação estratégica. No Brasil todo, os candidatos do PT fugiram da legenda como o diabo foge da cruz. Suplicy não. Fez questão de dizer-se do PT e foi mais longe: pediu votos para os correligionários concorrentes. Sim, porque o modelo de eleição proporcional adotado pelo Brasil faz adversários os candidatos de um mesmo partido.
O vídeo que compartilho aqui com vocês mostra a estratégia do Suplicy: a coerência. É algo, que os políticos modernos deveriam observar. Os eleitores começam a perceber que a coerência é elemento importante no critério de escolha. Mas, “casa de ferreiro, espeto de pau”. Marta Suplicy ficou casada com Eduardo 37 anos. Tomou outro caminho na vida pessoal e na política. Trocou de partido, substituiu o discurso. Fez-se incoerente. Candidata à prefeitura de São Paulo, com o mandato de senadora e apoio da máquina federal, chegou em 4º e ajudou São Paulo a não ter segundo turno pela primeira vez na história das eleições em dois turnos.
Eduardo Suplicy perdeu a eleição para o Senado em 2014. José Serra venceu. Contudo, Eduardo Suplicy, que poderia trocar de partido e teria todos os argumentos para tal, permaneceu PT e carrega com orgulho a estrela vermelha.
Entrevistado pela TV Estadão, depois de perder a eleição para o Senado, Suplicy cantou a música que tem tudo a ver com a carreira dele. Cantou-a novamente, agora, eleito vereador mais votado do Brasil. É do Bob Dylan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura este ano, para surpresa do mundo.
Vídeo da campanha do Suplicy para vereador:
Letra da música do Bob Dylan:
Blowin’ In The Wind
How many roads must a man walk down
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, and how many times must cannonballs fly
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
Yes, and how many years can a mountain exist
Before it’s washed to the seas (sea)
Yes, and how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free?
Yes, and how many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
Yes, and how many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, and how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind
Soprando no vento
Quantas estradas um homem deve percorrer
Pra poder ser chamado de homem?
Quantos oceanos uma pomba branca deve navegar
Pra poder dormir na areia?
Sim e quantas vezes as balas de canhão devem voar
Antes de serem banidas pra sempre?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e por quantos anos uma montanha pode existir
Antes de ser lavada pelos oceanos?
Sim e por quantos anos algumas pessoas devem existir
Antes de poderem ser livres?
Sim e quantas vezes um homem pode virar a cabeça
Fingir que ele não vê
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e quantas vezes um homem deve olhar pra cima
Antes de conseguir ver o céu?
Sim e quantos ouvidos um homem deve ter
Pra poder conseguir ouvir as pessoas chorarem?
Sim e quantas mortes serão necessárias até ele saber
Que pessoas demais morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Por Jackson Vasconcelos