Num dos debates da CBN e no último da TV Globo, na campanha para o governo do Estado do Rio em 2006, o político Sérgio Cabral acusou-me de, no INSS, roubar o dinheiro dos “velhinhos” aposentados e ser demitido da Superintendência por isso. Ele citou uma CPI criada por ele em 1998. Era intenção do candidato Sérgio Cabral desestabilizar a campanha da Juíza Denise Frossard, sua adversária. Eu coordenava a campanha.
A CPI de 1998 na Alerj fora aberta e presidida pelo próprio Sérgio Cabral, Presidente da Casa, um fato inédito. O INSS é órgão federal, por isso, aquela CPI não tinha legitimidade e o Superintendente não estava, portanto, obrigado a comparecer. Mesmo assim, eu disse ao deputado Sérgio Cabral e à imprensa, que iria.
Sérgio Cabral telefonou no mesmo dia em que anunciou a CPI. Estranhei. Ele disse que a intenção era só dar satisfação aos velhinhos aposentados, porque a imprensa batia duro no INSS. Pediu, em seguida, que eu atendesse pessoalmente três colegas dele, deputados estaduais, que gostariam de tratar de “galhos fracos”. “Quem sabe eles não darão um bom testemunho a seu favor na CPI?”, arrematou.
Recebi os deputados Ari Brum, Toninho Duarte e André Luiz e uma proposta, “galho fraco”, segundo eles, que se transmitida aos fornecedores do INSS e aceita por todos, encerraria a CPI sem o meu depoimento. Reagi. Avisei a eles e depois à imprensa, que iria à CPI. Comuniquei a minha decisão à líder do PFL, meu partido, deputada Solange Amaral.
Demorou pouco para a imprensa publicar a ameaça do deputado Sérgio Cabral de me levar à força para depor. Afirmei novamente, que apesar de desobrigado, eu iria. Queria ir. Fui e lá, prestei todos os esclarecimentos que o Sérgio Cabral pediu. Só ele me questionou diante de poucos deputados. Os três indicados por ele para me visitar não foram.
Encerrei o depoimento com a notícia da visita que recebi a pedido do Sérgio Cabral e do motivo dela. Sérgio Cabral, na cadeira de Presidente da CPI ouviu impassível. Perguntei se o fato faria parte do relatório. Ele garantiu que sim. A CPI foi encerrada sem relatório.
Em 2006, ingressei com uma queixa-crime no STF contra Sérgio Cabral, pelas acusações que ele fez. Senador, ele tinha privilégio de foro. Poucos dias depois, ele foi eleito governador. Rápido, o STF encaminhou a queixa-crime para o STJ, foro privilegiado dos governadores. A Alerj suspendeu o processo.
Sérgio Cabral assumiu o governo do Rio. A Revista O Globo deu-lhe na capa o título de “O namoradinho do Rio” e alertou: “até quando vai durar a lua-de-mel da população com o governo Sérgio Cabral?”.
Durou muito. Não o tempo suficiente para encorajá-lo a continuar no governo e na política. Ele renunciou na metade do segundo mandato e perdeu direito ao foro privilegiado. A queixa-crime voltou a caminhar. O advogado dele, Regis Fischer, ligou para o meu advogado, meu filho, e propôs um acordo para encerrar o processo. Aconselhei aceitar. Meu filho resistiu. Eu avisei: “com Cabral, só vale a Justiça divina. Por aqui, ele se safa. Nem Marcello Alencar, com o poder de governador conseguiu que o MP denunciasse o cara. E a acusação naquele caso foi mais grave: de roubo.
Fizemos o acordo, por uma carta de retratação no processo, pagamento dos honorários justos e arquivamento do caso.
Acho que quebrei a cara. O Brasil mudou!
Por Jackson Vasconcelos