É cada dia mais evidente a obrigação do político de reafirmar a identidade do discurso pela ação efetiva. Sem isso, nenhum projeto político sobreviverá muito tempo
Autor: Raphael Lima
Marketing no tamanho certo
Em 1992, César Maia foi eleito prefeito do Rio de Janeiro pelo PMDB, numa eleição surpreendente. Começou a campanha com todas as apostas contra ele, foi ao segundo turno com a candidata do PT, Benedita da Silva, e venceu com um resultado apertadíssimo.
Durante o mandato, ele trocou o PMDB pelo PFL. Foi quando o conheci pessoalmente. Ele fez um mandato com duas fases. A primeira, quando transformou o Rio num canteiro de obras. Tumultuou tanto a vida dos cariocas, que começou a circular pela cidade, no vidro dos carros, um adesivo: “Eu odeio o César Maia”. Há quem diga que o próprio, numa jogada de marketing, impulsionou a campanha, numa preparação para a fase seguinte, na linha de explodir o ódio, para depois, explorar a paixão. Sendo isso ou não, a verdade é que a população andava pelas medidas com os problemas no trânsito e nas calçadas criado pelas obras.
Naquele tempo, estavam proibidas as reeleições. César Maia, então, no auge da primeira fase do governo, tempo do ódio, tirou da cartola um candidato à própria sucessão, o arquiteto Luiz Paulo Conde, Secretário de Urbanismo, personagem sem expressão política, na terceira idade, com 62 anos, postura física ruim, voz embolada, que indicava a necessidade do apoio de um bom fonoaudiólogo e andar pesado. Ele era a imagem que jamais alguém colocaria numa campanha para a Prefeitura, principalmente, diante de um adversário jovem, com 33 anos, físico de galã, sujeito bem alinhado, vestindo roupas caras, voz bem colocada, com boa história na política e capacidade de articular alianças e fazer um discurso arrumado. Esse era o Sérgio Cabral Filho, candidato apresentado pelo PMDB.
No PFL, partido do César Maia, o nome do Luiz Paulo Conde, quando surgiu, criou confusão. Ninguém aceitava. Pelos cantos, ouvia-se ranger de dentes e lamúrias. Nos jornais, gente do partido já declarava apoio ao Sérgio Cabral Filho e dizia que o César Maia, de tanto mexer com números, estatísticas e pesquisas, ficara maluco.
Entramos na segunda fase da administração Maia, quando saíram os tapumes e apareceram as obras. Um boom de sucesso! No mesmo momento, começou a campanha eleitoral com César Maia na TV e o bordão: “César é Conde; Conde é César”. Falam até hoje que o Conde venceu a eleição, porque colou a imagem na do César e a dos dois nas obras. Isso pode ser verdade, mas com certeza, não é a única. O marketing deu o ar da presença. Se a figura do Conde era estranha para os adultos, tinha tudo para ser um sucesso com as crianças, se fosse aproximada da imagem do bom velhinho.
Vi a experiência de perto, antes de ela acontecer no mundo real. Aconteceu numa visita que fiz, naquele tempo, ao publicitário Macedo Miranda Filho, que faleceu muito novo. Eu entrava no estúdio dele em Laranjeiras, quando ouvi uma música cantada por um grupo de crianças: “Vou realizar meu sonho de criança, eu vejo no voto a grande esperança de ter um amigo que possa dar vida à minha imaginação, que possa me dar de presente a cidade, que entendo no coração. Eu quero um amigo do peito, em quem eu possa confiar, que seja um grande prefeito pro Rio. O seu voto meu sonho vai realizar. Conde é o amigo do peito, no Conde eu posso confiar. Conde será o prefeito do Rio, o seu voto agora o meu sonho vai realizar”.
Fiquei impressionado, confesso. Macedo conseguiu colocar a imagem do Luiz Paulo Conde no ambiente correto, onde ela seria agradável e faria todo o sentido. É verdade, que criança não vota, mas sensibiliza e consegue arrancar dos pais as decisões mais impressionantes!
Em pouco tempo, no PFL só dava Luiz Paulo Conde e com aquela velha conversa: “eu sabia”. Teve gente dizendo que nunca falou com a imprensa sobre a preferência que tinha pelo Sérgio Cabral Filho. “Isso é coisa do Moreira Franco”, diziam alguns, aproveitando a fama do moço de plantar na imprensa notinhas para tumultuar o ambiente dos adversários.
Conde venceu Sérgio Cabral Filho no segundo turno, com 62% dos votos. Sérgio não passou dos 38%.
Por Jackson Vasconcelos
Cassius Clay Júnior: É simples, “não passe recibo”
Em 1974, Muhammad Ali-Haj, “o maior” pugilista de todos os tempos derrotou George Foreman e reconquistou o cinturão de campeão mundial de boxe na categoria dos pesos pesados. Numa entrevista, alguns dias depois, ele deixou uma frase que foi a minha primeira aula de estratégia para as campanhas eleitorais: “não deixe o adversário perceber o golpe que doe mais, porque é ali o lugar em que ele baterá sempre e cada vez com mais força.” Que se pode traduzir para: “não passe recibo, se quiser vencer.”
Eu estava com 11 anos de idade quando soube que ele conquistou o título de campeão do mundo. Não vi a luta, porque os tempos eram de tecnologia fraca e de pulso forte dos pais, que censuravam o boxe.
Mas, desde o momento em que foi possível acompanhar as lutas, estive atento. Em 1971, vi Muhammad Ali-Haj ser derrotado pelo Joe Frazier. Torci por ele de ficar com a garganta doendo. Fui recompensado pela vitória sobre George Foreman, uma luta que vale rever, desde a entrada apoteótica do Muhammad Ali-Ha no ringue. A tecnologia hoje permite (como o mundo mudou!): https://youtu.be/YJphXRp0sRI
De todas as lições que Muhammad Ali-Haj deu ao mundo, a melhor veio com a decisão dele de não se alistar para a Guerra do Vietnã: “Os chamados negros vão combater a milhares de quilômetros dos Estados Unidos, para lançar bombas e balas sobre pessoas inocentes que nunca nos incomodaram…”, é a lógica maluca das guerras. E, Muhammad Ali-Haj, deixou clarou que não participaria desse lógica maluca…”Mas eu digo frontalmente: não, eu não.” Foi condenado a 3 anos de suspensão da licença para lutar. Durante esse período ganhou dinheiro como ator num dos musicais de Broadway, Buck White, mas inspirou as ondas de protesto contra a guerra do Vietnã.
Muhammad Ali-Haj, um bailarino que dedicou a vida ao boxe, mostrou que o esporte, mesmo aquele que carrega a imagem da violência, pode ser um culto à beleza e que a imagem forte de um atleta de um esporte considerado violento consegue dar lições de não violência ao mundo.
Por Jackson Vasconcelos
Dornelles e a pena de morte!
Um caso de estupro coletivo ocorrido no Rio com cenas divulgadas na internet fez o tema retornar ao debate. Muitas mulheres foram para as ruas em passeatas e para a internet. Os colunistas dos jornais e comentaristas de TV atiçaram os comentários. Os políticos disputaram uma corrida de obstáculos para tirar proveito do fato, com discursos e sugestões de solução.
O governador do Rio, Francisco Dornelles, propôs a pena de morte. Ato melhor do que do seu colega de partido, Paulo Maluf, que orientou os estupradores do mundo todo: “estuprem, mas não matem”. Regra que os autores e atores do estupro coletivo ocorrido no Rio, cumpriram fielmente.
Mas, à medida que o tempo passa o estupro coletivo divulgado na internet segue o caminho de outros e cai no esquecimento, que faz com que a cada minuto uma mulher seja agredida no Brasil e denuncie. Mas, há as que não denunciam e, certamente, o número das agressões suportadas em silêncio são maiores.
Os casos levados às delegacias mostram que 55% das agressões contra mulheres foram na própria residência e 62% delas tiveram os maridos como agressores. É o caso que houve com a esposa do deputado federal Pedro Paulo, que somou às agressões físicas a decisão de humilhar a vítima com o pedido, sofridamente atendido, para que ela, numa entrevista coletiva, assumisse ter apanhado uma só vez, razão para perdoar o agressor.
Apesar do fato, o cara de pau permanece candidato a prefeito do Rio, com as bençãos de cada membro do PMDB e dos partidos aliados que o apoiam. É há no grupo de apoiadores, curiosamente, homens e mulheres e os dois governadores do Rio, aquele que por enquanto trabalha como tal e aquele que trata da saúde.
Como eleições no Brasil ainda são compradas a peso de obras e dinheiro vivo, o Pedro Paulo até tem chances de ser prefeito do Rio, para gáudio de todos os seus apoiadores, inclusive, do próprio Francisco Dornelles, que propõe pena de morte para quem estupra, mas o mandato de prefeito do Rio para aqueles que batem, mas não estupram.
De todas as situações tipificadas no Código Penal como crimes, as mais cruéis e covardes, são contra crianças e mulheres, atos de absoluta covardia. É a ação do mais forte contra alguém mais fraco e, em muitos casos, indefeso.
Um homem agredir uma mulher com violência física ou verbal, humilhação e estupro, é um ato de covardia. Um adulto agredir uma criança, da forma que for, é também um ato de covardia. E todas as pessoas que pela ação direta ou omissão curvam-se aos covardes, também o são.
De todas as formas de violência, o estupro é o mais covarde, o mais hediondo. Contudo, ele corre solto e as estatísticas não melhoram, porque prevalece a impunidade e ela tem tudo a ver com as falhas no sistema de investigação, julgamento e punição. No Rio, só 6% dos casos denunciados se transformaram em processos e desses não se sabem quantos chegaram a ser julgados e terminaram em punição efetiva e exemplar.
Retorno, então, ao caso do deputado Pedro Paulo, que mofou na delegacia por anos e, mesmo depois de denunciado ao público, continua a navegar em águas calmas, agora no Supremo Tribunal Federal, que, certamente, não teve tempo para cuidar do processo, porque os ministros andavam mais interessados com a tabela do aumento dos próprios salários.
O Brasil é caso de causar pena. Infelizmente.
Encerro com uma sugestão aos eleitores. Não podemos impedir pelo voto o risco de o deputado Pedro Paulo ser eleito prefeito do Rio, mas podemos sim mostrar a nossa indignação com o fato de ele ser deputado federal e candidato a prefeito. Um bom caminho será não votar nos candidatos do partido dele e dos partidos que compõem a aliança que pretendem elegê-lo. Já seria uma contribuição é tanto.
Por Jackson Vasconcelos
Será que pisei no calo do Presidente Temer?
Será que pisei no calo do Presidente Temer? Eu ficaria feliz se tivesse visibilidade e importância para tanto. Não tenho.
A dúvida apareceu com as reações agressivas ao comentário que fiz no facebook sobre a palavra do Presidente, quando ele se diz preparado para governar o Brasil, porque sabe lidar com bandidos e promete que, toda vez que cometer algum erro, “consertá-lo-a”.
Mas, eu conheço como são as operações dos políticos na internet, em especial, no facebook, por isso, afirmo: as reações nada têm com a minha importância pessoal. Estão ligadas ao fato de o personagem que representa o presidente nas mídias sociais ter sido “marcado” no post que publiquei.
Existem, atendendo os políticos e campanhas, empresas no segmento da comunicação por internet, que “compram” ou “alugam” páginas de gente que tem número expressivo de leitores. Elas se apropriam do login e senha das páginas e ficam atentas aos comentários a favor e contra os políticos que as contratam. Diante de comentários como o que fiz, as empresas, imediatamente, analisam o perfil do comentarista, para saber se ele tem um número razoável de leitores e ouvintes. Se tiver, eles ativam respostas através das páginas que compraram ou alugaram e sentam o sarrafo, com o propósito de passar para o público em geral a ideia de o político criticado ter um grupo enorme de apoiadores naturais, da própria sociedade e de fora do mundo político.
Quando os posts são de elogio, eles ativam apoios e aplausos. Tudo falso. Por causa dessas empresas, e dos procedimentos delas, a comunicação política na internet está insalubre.
As agressões verbais que recebi me indicaram que o Presidente Temer tem um serviço desse contratado. Então, daqui por diante, não “copiá-lo-ei” quando criticá-lo. Os agressores sumirão, estejam certo.
Por Jackson Vasconcelos
Não deixe o adversário perceber o golpe que dói mais, porque é ali o lugar em que ele baterá sempre e cada vez com mais força
Não deixe o adversário perceber o golpe que dói mais, porque é ali o lugar em que ele baterá sempre e cada vez com mais força
O discurso é de estadista
O discurso é de estadista, mesmo que o orador não seja um. Durante 22 horas, dia e noite, madrugada adentro, os senadores, um a um, explicaram o voto deles no processo de impeachment da senhora Dilma Rousseff. Eles tiveram mais charme que os deputados, que de cima de um palanque improvisado, proferiram, com o mesmo propósito, o voto em nome dos filhos, do marido que seria preso no dia seguinte, da família, da cidadezinha de qualquer lugar. Não me lembro se alguém mandou um abraço para os cachorros, gatos ou algum hamster de estimação. É possível, porque, em algum momento sai de frente da tela.
Entre um cochilo e outro, consegui ter paciência para ouvir quase todos os senadores, mas poderia ter ido dormir de vez, depois de ouvir Fernando Collor de Mello, às 23 horas. Uma resposta sútil, mas firme e dura, à turma do PT, que grita hoje contra um golpe imaginário, quando, em 1992, impulsionou com força, velocidade e muito ódio, o impeachment contra ele.
Disse o Senador:
“Em 1992, em processo análogo, bastaram menos de quatro meses entre a apresentação da denúncia e o último julgamento. No atual processo já se foram mais de oito meses e mais seis meses até o julgamento final. O rito é o mesmo, mas o ritmo e o rigor não!
Basta lembrar que entre a chegada ao Senado da autorização da Câmara até o meu afastamento provisório transcorreram 48 horas. Hoje, estamos há 23 dias somente na fase inicial nesta Casa. O parecer da Comissão Especial, que hoje discutimos possui 128 páginas. O mesmo parecer de 1992, elaborado a toque de caixa, continha meia página, com apenas 2 parágrafos. O tempo é outro. Em 1992, fui instado a renunciar na suposição que as acusações contra mim fossem verdadeiras. Mesmo sem a garantia de ampla defesa pelo Congresso, em todas as fases, me utilizei de advogados particulares. Dois anos depois fui absolvido de todas as acusações no STF.
Portanto, dito pela mais alta Corte do País, não houve crime. Mesmo assim, perdi o mandato, sem qualquer tipo de reparação. Pelo contrário…”.
Mais diante, Fernando Collor fala sobre o crime de responsabilidade da senhora Dilma Rousseff:
“O maior crime de responsabilidade está na irresponsabilidade pelo desleixo com a política, na irresponsabilidade pela deterioração econômica do país, na irresponsabilidade pelos sucessivos e acachapantes déficits fiscais e orçamentários, na irresponsabilidade pelo aparelhamento desenfreado do Estado, que o torna inchado, arrogante e ineficaz, na irresponsabilidade pela ação ou omissão perante obstruções da Justiça.
É crime de responsabilidade, a mera irresponsabilidade com o país, seja por incompetência, negligência ou má-fé(…). No governo Dilma Rousseff, a autossuficiência pairava sobre a razão…”.
E há muito mais. Quinze minutos inteiros de um agradável e inteligente discurso. Pra quem queira conhecer a obra toda, ela está publicada no Youtube, no endereço, http://bit.ly/1Tb5XIT.
Sugiro a você assistir. Sei que o Michel Miguel Elias Temer Lulia não será grande coisa na Presidência, mas, seguramente, será melhor, muito melhor, do que foi o PT no comando do país.
Por Jackson Vasconcelos
The Three Stooges
Semana quente essa, por causa do deputado federal Waldir Maranhão. Ele, na cadeira de Presidente da Câmara, resolveu anular a sessão plenária que autorizou a instauração do processo de impeachment da Presidente Dilma, 22 dias depois de realizada e com o processo já no Senado Federal, com relatório aprovado pela Comissão Especial. Decisão insana, mas que deixou lições para quem lida com a política, principalmente, no campo da comunicação.
A primeira lição diz que o político deve, antes de ouvir os amigos, os conselheiros de plantão ou assessores, deve ouvir os eleitores. Waldir Maranhão escolheu ouvir dois aliados e com eles formou um trio trágico no início, cômico no final: o Juiz Flávio Dino, hoje Governador do Maranhão e o advogado José Eduardo Cardozo, Advogado Geral da União. Malandros demais, Flávio Dino e José Eduardo, mesmo sabendo que a decisão do deputado Waldir poderia não ter efeito legal, usaram o cara num plano exótico: plantar na história futura do Brasil, a sessão plenária da Câmara como uma fraude.
Não conseguiram, porque assim que a decisão chegou ao distinto público, provocou confusão, até pousar na mesa no Presidente do Senado. Ele, imediatamente, deu tratos à bola, racionalizou o processo e isso acalmou o povo. No final da linha, a mensagem aterrorizante virou piada nacional.
Entramos, então, na segunda lição. A comunicação não é o que a fonte diz, decide ou escreve, mas aquilo que o destinatário compreende.
Por Jackson Vasconcelos
O Candidato e o Monstro
A elaboração de estratégia aplicada às campanhas eleitorais e gerência dos mandatos conquistados, é a minha praia desde 1982, por vocação e formação profissional. O eixo que movimenta todo esse trabalho é a comunicação, por uma razão meramente aritmética: o candidato que convence o maior número de eleitores vence a eleição e, se exerce bem o mandato, comunicando corretamente o fato, fatalmente será reeleito ou terá assegurado o projeto político.
A comunicação é o eixo, a imagem do candidato e do gestor, a energia que mantém o eixo em movimento e, portanto, toda a engrenagem. A imprensa é um dos veículos da comunicação, instrumento de esclarecimento e convencimento do eleitor. Mas, como trabalhar com ela. Conhecendo como ela funciona e colocando-a a disposição do projeto.
O político, o cidadão, estão autorizados a defender ou não a qualidade da imprensa. Para o candidato e o elaborador da estratégia para a campanha ou para a gestão dos mandatos, isso é irrelevante. Só importa saber como a imprensa funciona, as manhas dela e como conviver com isso de modo que ela possa ajudar a formar a opinião do eleitor.
Por exemplo, a essência do jornalista é a notícia em primeira mão e hoje em dia e cada vez mais, ele trabalha as matérias com base das informações que recebe das fontes, sem averiguar ou confirmar com documentos. Por isso que a investigação, na imprensa, virou especialização. O repórter que verifica e visita documentos para confirmar as informações fornecidas por suas fontes tem título específico: “investigativo”.
Então, o candidato deve tentar o credenciamento como fonte e referência nos temas que defende em sua campanha. Desse modo, ele conseguirá aproveitar o espaço da imprensa para divulgação da mensagem.
Outra característica a imprensa é a ausência da imparcialidade. Os profissionais da imprensa podem até chegar bem perto de serem pouco parciais, mas imparciais nunca, porque a imparcialidade contraria a natureza humana. Então, o candidato deve trabalhar para cativar a imprensa, sem bajulá-la, porque a bajulação nesse ambiente, uma hora qualquer, volta-se contra o bajulador.
A relação do candidato com a imprensa é mero rito de passagem, para chegar ao eleitor, estação final de desembarque das ideias e propostas. Ela não se dá no campo do Código Penal, que impõe ao acusador a obrigação da prova. Numa campanha eleitoral, o ônus da prova é e sempre será o acusado. Cabe a ele provar que as acusações que recebe são injustas ou interessadas. Para isso, ele precisa estar sempre pronto com documentos e argumentos sobre as questões que ele, antes de iniciar a campanha, perceba serem delicadas.
As conversas de um candidato com jornalistas, sendo para entrevistas ou mero bate-papo, devem ser compreendidas também com o conceito de esteira de transmissão, de veículo de comunicação. Na verdade, a conversa é com o eleitor, intermediada pelo jornalista.
Por fim, saber a diferença entre uma entrevista e um debate é fundamental. Nas campanhas majoritárias, presidente, governador e prefeito das capitais e grandes centros, os telejornais estabeleceram a rotina de entrevistas com os candidatos. A experiência tem demonstrado que as entrevistas, na verdade, são debates. Como exercício, faz bem visitar os vídeos das entrevistas que os candidatos a presidente e governador deram para a TV Globo nas eleições de 2010 e 2014.
Encerro o texto com uma frase do Millor Fernandes: “O jornalismo é oposição, o resto é secos e molhados”.
Por Jackson Vasconcelos
Ministros? Pra quê tê-los?
Faz tempo que os governos não vendem gato por lebre. Vejam o caso dos ministros? A gente olha o organograma do governo e as notícias e lá estão o Ministro da Saúde, o Ministro da Educação, o Ministro da Justiça e todos os demais. Então, a primeira impressão nossa é que eles desempenhem as funções designadas nos títulos. Nada disso. Ministros no Brasil têm a função de permitir que os presidentes da república transformem todo tipo de lixo em projetos e consigam aprová-los no Congresso Nacional.
O modelo é replicado nos estados e nas cidades, com os secretários estaduais e municipais. O PT só inovou um pouco, tanto aos ministérios o papel adicional de proteger os companheiros que são procurados pela Justiça. Assim foi no governo do Lula, quando ele deu status de Ministério ao Banco Central para evitar que o Presidente do Banco, Henrique Meirelles fosse processado. O mesmo acontece no momento, com a decisão da Presidente Dilma de nomear o mesmo Lula Ministro Chefe da Casa Civil, pro cara não ser preso.
No Brasil fala-se muito em reforma política, mas as propostas são sempre para facilitar a vida dos políticos que não gostam do povo e de governos sérios. Uma medida boa seria impedir que os senadores, deputados e vereadores pudessem ser nomeados ministros ou secretários sem perderem o mandato. Outra providência eficaz seria acabar com essa coisa chamada foro privilegiado para ministros e secretários. E, por que não, também para presidentes e todo o resto?
Sobre o tema, em 19 de janeiro de 2005, no Correio Braziliense, a então deputada federal Denise Frossard publicou o artigo “Afinal para que servem os ministros?” Reproduzo, por atual e interessante
Afinal, para que servem os ministros?
Volta à pauta a reforma ministerial, apesar de estar o governo ainda no segundo ano de seu mandato e o presidente já haver trocado os ministros da Defesa, dos Transportes, da Educação, do Trabalho, da Previdência, do Planejamento, das Comunicações, da Ciência e Tecnologia, de Políticas para as Mulheres e da Assistência Social, que passou a ser do Desenvolvimento Social, para incorporar o combate à fome.
Não seria, portanto, o caso de se perguntar para que servem, efetivamente, os cargos de ministro de Estado? Reza a Constituição que aos ministros compete, na qualidade de auxiliares diretos do presidente, exercer a orientação, coordenação e supervisão dos Órgãos e entidades da administração pública federal nas áreas de suas competências.
O histórico demonstra, no entanto, que os cargos de ministro têm servido, na verdade, aos presidentes, nas situações em que os seus governos perdem sentido ou encontram dificuldades no seu relacionamento com o Congresso ou, ainda, quando precisam tirar a atenção de assuntos que os incomodam. Tudo para desventura da população brasileira, porque do processo está excluído o princípio da eficiência exigido para o exercício de toda e qualquer função pública.
Para acomodar as composições políticas com o seu partido, com os seus amigos, com os derrotados do seu partido e com os adversários de conveniência, o atual presidente construiu uma estrutura administrativa com 24 ministros titulares de ministérios, além de um elenco considerável de outros auxiliares com cargos equivalentes aos de ministros de Estado. Com status de ministro pelas razões que todos conhecemos, existe ainda o plenipotenciário Presidente do Banco Central.
Mas a decisão de criar e recriar ministérios e nomear e exonerar titulares sem preocupação com a eficiência não é privilégio do presidente atual. O Brasil já contou com ministros e ministros de todo tipo.
Tivemos, por exemplo, um para cuidar do Bem-Estar Social e outros em caráter extraordinário para Assuntos de Irrigação; para Assuntos de Integração Latino-Americana; para Assuntos da Reforma Institucional; para assuntos ligados ao esporte e um específico para cuidar da criança. Houve o da Desburocratização e um outro para tratar da Reforma do Estado.
Os Ministérios do Trabalho e Previdência Social já estiveram juntos, assim como juntos já estiveram os da Indústria, Comércio e Turismo; o da Educação e Desporto e o da Previdência e Assistência Social.
O pior é que esse comportamento da estrutura federal se repete nas esferas estaduais e municipais. Por isso, as reformas ministeriais são ponto de começo para quem queira saber por que no Brasil se paga tanto imposto sem contrapartida equivalente e por que os presidentes sempre acham os seus mandatos curtos demais.
Denise Frossard – Deputada Federal pelo PPS-RJ, Juíza de Direito Aposentada.