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Ficou mesmo com os políticos

O jornal O Globo, em manchete, na primeira página, dá a notícia: “Começa a campanha eleitoral mais curta e indefinida”. Fake News! A campanha deste ano nem é a mais curta, nem a mais indefinida. Ela, simplesmente, não existirá, porque tudo que pode identificar uma campanha eleitoral está proibido fazer. E quem deixar de fazer, mesmo assim, correrá o risco de apanhar da Justiça Eleitoral, porque os juízes desse tipo de Corte podem tudo. Para eles, a lei que existe é a lei feita por eles mesmos no momento dos fatos.

Portanto, também não é uma campanha indefinida. Poder-se-ia dizer que se trata de uma eleição indefinida. Também não é.

Afinal, já se sabe, por experiência, que boa parte dos eleitores não encontrará os candidatos que gostaria, por isso, não votará. Isso está definido.

Os loucos raivosos irão às urnas e votarão. Sempre votaram e este ano o candidato deles disputa a Presidência da República com chances de vencer. Isso está definido desde o primeiro momento em que andaram a falar de eleição para presidente.

Andaram a dizer que teríamos gente nova no pedaço. Gente de fora da política para, “oxigenar” o ambiente. Isso não houve e o ambiente continua com o ar viciado.

Luciano Huck, Joaquim Barbosa e outras invenções ficaram no campo das invenções. No Brasil todo, teremos novamente os políticos.

Afinal, para isso, eles fizeram a legislação eleitoral. Bicho de fora não entra. Mulher, só se escapar do controle ou quiser se vender.

Elas, mas espertas do que nós, machos, já decidiram que não participarão desse baile de fantasia. Isso está definido desde os primeiros passos dos escândalos de corrupção. Mulher não gosta disso. 80% delas estão dispostas a anular o voto, dizem as pesquisas.

Será mesmo assim no dia da eleição. Se não 80%, menos um pouco, mas algo grandioso será.  E não adiantou os machos que comandam os partidos e a política sofrerem a tentação de comprá-las com 30% do dinheiro e do tempo de TV das campanhas. Elas sabem onde isso começa e onde isso termina. Vê-se, por aí, que elas não estão à venda. Querem algo mais que dinheiro e tempo de TV: querem a verdade e querem o fim da corrupção e da violência, produtos não encontrados no mercado do voto e da opinião sincera.

Hoje começou a campanha na lei. Nas ruas e nas consciências melhores, nem pensar.

Eles, políticos, pariram Mateus, então, que dele cuidem.

Por Jackson Vasconcelos

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Alianças ou conchavos?

Geraldo Alckmin fez acordo com o que chamam de Centrão, um amontoado de partidos políticos, para ter mais tempo de propaganda política na TV. Aqui no Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Paes fez o mesmo.

Geraldo Alckmin tem defendido o acordo, que a população olha com desconfiança, com o argumento de governar. Minha dúvida é: Geraldo Alckmin e Paes ganharam tempo para campanha, isso é fato, mas conquistaram condições melhores para governar?  

A experiência me diz que não. Certamente, os que firmaram aliança com Alckmin e Eduardo Paes, não colocaram na pauta as melhores condições para governar. Pediram cargos e acesso rápido, fácil e opacos às verbas públicas para fazer política partidária.

Artigo do O Globo (13/08). Clique para ampliar.

Isso coloca uma camisa de força no destino do Alckmin e do Eduardo Paes. Se, no governo, atenderem os aliados, reforçarão a crise econômica, companheira sinistra do governo federal e do governo do estado. Se não atenderem, criarão uma crise política, do tipo que levou os presidentes a dois impeachments e o governador atual do Estado do Rio de Janeiro à posição de refém de uma quadrilha que destruiu as esperanças da população de ter um governo para chamar de seu.

Pego carona no artigo, que Fernando Gabeira publicou no O Globo, “Eleger ou Derrubar” Ele abriu o artigo com “Em plena campanha, não sei se estamos realmente escolhendo um presidente ou cavando uma crise para que ele se afunde, como afundaram seus antecessores”.

Encerrou, reafirmando, “Precisamos escolher alguém para eleger, e não para derrubar no ano seguinte”. A história recente do Brasil com a democracia dá sentido à preocupação do Fernando Gabeira: Elegemos quatro presidentes e mandamos dois embora, antes do prazo. Os que foram demitidos, foram por perderam apoio das “alianças”, que construíram com o Congresso Nacional.

Houaiss dá à palavra aliança o significado de pacto ou tratado entre indivíduos, partidos, povos ou governos para determinada finalidade. O Dicionário da Política de Bobbio, Matteucci e Pasquino, é obra que Collor, quando presidente, carregava pra fazer figuração, para passar a imagem de intelectual. O dicionário dá às alianças o significado de acordos entre nações e classifica-as em secretas e abertas, gerais ou limitadas.

No primeiro caso, o problema das alianças firmadas por Alckmin a nível nacional e por Paes no Estado do Rio de Janeiro, é a finalidade. Para que finalidade uniram-se os que estão com Alckmin e com Paes? Como a finalidade não pode vir à tona, entramos, então, na classificação que Bobbio, Matteucci e Pasquino, dá para as alianças. As firmadas por Alckmin e Paes são secretas, protegidas por segredos que virão à tona quando a população outro caminho não terá, a não ser dar o desprezo ou apoiar impeachments e intervenções.

Por Jackson Vasconcelos

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Eta debatizinho ruim

Ontem, houve o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República. O objetivo de um debate todos acreditam que seja ajudar o eleitor a decidir. O da Band, certamente, não conseguiu, a começar pela abertura.

Ricardo Boechat, moderador, informou que Lula também foi convidado, mas não compareceu impedido pela Justiça. Nada menos esclarecedor para o eleitor, porque Lula, legalmente, não pode ser candidato.

Os leitores do jornal METRO abriram o debate com uma pergunta, para a qual gostariam de ter uma resposta objetiva: “Se eleito, que primeira medida tomará para estimular a contratação de trabalhadores, como essa medida será implementada, a partir de quando e de onde virão os recursos para implementá-la”.

Álvaro Dias foi o primeiro a responder. Discorreu sobre o currículo pessoal. Nada mais adequado para o tema: emprego. Ele vestia azul, cor de fundo do ambiente, situação que deu ao candidato a imagem de um personagem em 3D. Lembrava Coringa, o vilão de Gotham City.

Em seguida, o Cabo Daciolo. “Glória! Glória a Deus!” disse ele para falar dos currículos de vida pública dos adversários. Já que o assunto era o desemprego…., nada melhor. Ele encerrou prometendo… “Eu vou te dar trabalho para honra e glória do Senhor Jesus”.

Depois das respostas, antes de avançar, Ricardo Boechat lembrou aos que faltavam responder, que os leitores do METRO pediram respostas objetivas. Adiantou pouco.

Foi um debate morno, como definiu a Folha de São Paulo. Em homenagem ao Cabo Daciolo e às relações dele com Jesus, lembro do que disse o Mestre sobre ser morno, frio ou quente, na carta à Igreja de Laodicéia (Apocalipse 3: 15 e 16): “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”.

Seria o destino ideal para o debate de ontem.

Alckmin teve melhor desempenho. Jair Bolsonaro estava treinado para as perguntas, mas não para a imagem e, por isso, passou todo o tempo entediado, meio de saco-cheio com aquilo ali. Amarraram o cara de tal forma que ele perdeu o prazer. Marina Silva repetiu o figurino do debate de 2014. As falas também. O aborto foi o tema escolhido para ela, isso também, como ladainha.

Bem, ninguém ganhou e todos perderam. O eleitor, bem mais.

Um fato, contudo, precisa ser anotado como elemento de análise estratégica. Antes do boom das mídias sociais, os debates na TV tinham importância pelas manchetes dos jornais e telejornais do dia seguinte. E a imagem do candidato era o argumento único da qualidade do desempenho. Nesse quesito é sempre bom lembrar o case Kennedy versus Nixon, que cito no meu livro, “Que Raios de Eleição é Essa?”.

Na primeira eleição presidencial, a edição do debate da Globo, deu vantagens ao Collor na disputa com Lula.

As mídias sociais mudaram o rumo da prosa. Agora, as imagens ficam. O que é dito também. E as manchetes dos jornais e telejornais são notícias velhas.

Na íntegra:

Por Jackson Vasconcelos

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Que raios de eleitor é esse?

O eleitor brasileiro não é soberano. Nunca é. Para exercer alguma soberania, sobra ao eleitor a decisão de contrariar a lei que torna obrigatório o voto. Ele pode não comparecer às zonas eleitorais, mas será multado pela atitude rebelde. Decidir sobre o destino dos impostos que paga, é uma atitude impossível.

Poder-se-ia dizer que há soberania na escolha do voto. Não há, porque aos partidos e exclusivamente a ele cabe o prerrogativa de apresentar candidatos ao voto. Fica com o eleitor o direito de votar nulo ou branco, mas esses votos não contam na contabilidade do resultado. Só são válidos os votos que nomeiam candidatos.

Chamar um sistema assim de democracia é forçar a barra no conceito.

Por que não dar ao eleitor, pelo menos, o direito de não comparecer à zona eleitoral, sem multa, para que ele dê ao tempo próprio o uso que julgue ser melhor? Por que não acabar com a obrigação do voto?

Os que são eleitos já fazem do dinheiro que sou obrigado a entregar ao Estado o que bem entendem. Fazem as leis que lhes interessam. Decidem o destino da vida do povo do modo como querem, então, que dêem ao eleitor pelo menos o prazer de não participar desse jogo, o prazer de não serem os escravos que abençoam a escravidão.

Por Jackson Vasconcelos

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Desastre global

O canal GloboNews noticiou, ao vivo, por vários dias, um desastre do tipo dos aéreos que para ocorrerem somam vários erros. Ele aconteceu nos estúdios do canal.

Sob o título de Central das Eleições 2018, o sistema Globo reuniu a nata da casa de entrevistadores para ouvir os candidatos à Presidência da República. Participaram da roda de perguntadores, Miriam Leitão, no papel de moderadora interventora. Ela abriu, cada etapa da série com a declaração:

“Boa noite. A GloboNews está entrevistando esta semana, os candidatos e pré-candidatos à Presidência da República mais bem colocados na última pesquisa IBOPE de intenção de votos e que estão aptos a participar presencialmente dessas entrevistas. Luiz Inácio Lula da Silva, pré candidato do PT, aparece em primeiro lugar nas pesquisas, mas o ex-presidente não pode comparecer à entrevista por determinação da Justiça. Ele está preso em Curitiba condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro…”

A declaração era dispensável, já que a premissa seria de ouvir os que estão “aptos a participar presencialmente”. A introdução depreciou, previamente, os candidatos que foram ouvidos em seguida.

Da banca de examinadores participaram, além da Miriam Leitão, Gerson Camarotti, Roberto D’Àvila, Mario Sergio Conti, Valdo Cruz, Andréia Sadi, Merval Pereira, Fernando Gabeira e Cristiana Lôbo, time da primeira linha do Sistema Globo. Na cadeira vermelha, destinada para os entrevistados, sentaram Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Alvaro Dias e Jair Bolsonaro, que deu ao desastre ares de espetáculo circense.

Entrevista após entrevista, os examinadores foram deixando a marca da mais esplêndida demonstração de desinteresse pelos assuntos que, de fato, dizem respeito à vida dos eleitores. Numa atitude que a gente já conhece de ver os julgamentos no STF, os entrevistadores disputaram o estrelismo todo o tempo, com pegadinhas, ataques diretos e indiretos, com atos de cinismo.

Os candidatos se defenderam como puderam. Para que o trágico fosse também cômico, Jair Bolsonaro encerrou a série. O sujeito pintou e bordou com as perguntas dos craques da Globo. Ele deu olé do tipo dos olés do Mané Garrincha, que fingia ir para um lado para sair pelo outro, sempre do mesmo modo, mas, mesmo assim, surpreendendo o adversário. Sobrou espaço até para a cadeira vermelha, que D’Àvila usou para provocar Bolsonaro, que usou a provocação a favor dele:

– Estar sentado numa cadeira vermelha não incomoda o senhor? Jair Bolsonaro tirou do bolso interno do paletó duas canetas, uma azul e outra vermelha, para dizer:

– Vermelho é uma das cores do Exército Brasileiro (chupa Roberto!).

Não houve sobreviventes…

Por Jackson Vasconcelos

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Que raios de eleição é essa?

Estamos esperando a eleição. A eleição de uma campanha que não houve, e nem haverá, e ainda assim é financiada com o dinheiro do povo. Desperdício! Uma campanha de candidatos que foram sem terem sido, de propostas que ninguém entendeu ou quis entender.

O que sairá disso em outubro? Duvido muito que alguém, mesmo os melhores institutos de pesquisas ou mais apreciados cientistas políticos consiga dizer. Mas, em termos de estratégia escolhida, certamente, dará o resultado esperado, porque quem tem mandato, dificilmente, perderá o que tem.

O Congresso Nacional criou as condições para evitar que gente nova chegue por lá e impedir que a democracia por aqui seja plena. Afinal, a democracia amedronta quem não gosta do povo, a não ser quando ele paga a conta.

Por Jackson Vasconcelos

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“Ato falho”, outro perigo

O cara entrou na sala onde estavam reunidas as mulheres que seriam candidatas pela Rede, partido ao qual está filiada a candidata à presidência, Marina Silva, e pediu: “A Rede precisa de cada candidata mulher para garantir as vagas dos homens que serão eleitos. Por isso, peço que nenhuma de vocês desista”.

Veio a tempestade, que a imprensa noticiou. O Globo de sábado abriu a notícia com o anúncio: “Mulheres se desfiliam da Rede após denunciarem machismo”.

É fácil imaginar as consequências negativas e os problemas causados à candidatura da Marina Silva.

O cara chama-se Nilson Gonçalves e ocupa a prestigiosa função de porta-voz do partido que, nos demais, é equivalente à presidência ou secretaria-geral.

“Ato falho”, só Freud explica. Tentarei ser simples. O fenômeno ocorre quando o que está no inconsciente do indivíduo transforma-se em ato contrário ao desejo do consciente. É um fenômeno muito percebido nos políticos, porque eles vivem vidas superficiais e defendem posições nas quais não acreditam, com o objetivo de livrar do perigo as imagens próprias. Comportamento bem confortável antes desses tempos de visibilidade completa e autoestima e autoconfiança dos eleitores e eleitoras.

Portanto, quem queira permanecer na carreira política deve se convencer, definitivamente, de uma coisa:

“Não dá mais para usar as palavras para esconder os pensamentos”, como sempre disse minha amiga Denise Frossard.

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Nos rastros da Globo

Pra que lado vai a Globo? Essa pergunta é comum a todas as campanhas eleitorais no Rio de Janeiro. Embora o sistema queira passar a imagem de imparcial, fácil, fácil, a gente descobre que não é, por causa dos rastros.

Na campanha para o governo do Rio de Janeiro, a Globo está com o candidato Eduardo Paes. Comecemos pelos rastros deixados na edição de ontem, 25 de julho: A página 3 do jornal é utilizada, normalmente, para o noticiário nacional. Mas, como a matéria trabalhada tem o desejo de prestigiar o candidato da casa, o editor escolheu colocá-la exatamente ali e com uma manchete que não deixa dúvidas:

“O Centrão de Paes: Com mais partidos, ex-prefeito deve ter metade do tempo de TV, adversários tentam alianças”. Já venceu!

Como isso pode ser sofisticado demais para leitores ruins, o jornal reafirma a notícia na ordem em que coloca as fotos. Primeiro, Eduardo Paes, depois, Romário, em seguida Garotinho e último, Indio.  Nenhuma pesquisa feita até aqui dá ao Eduardo Paes o primeiro lugar. Em algumas ele aparece depois do Romário, primeiro lugar em todas, e em outras, após o Garotinho.

Matéria do O Globo, do dia 5/7

Mas, isso pode ter sido um mero acaso, alguma falta de malícia. Será mesmo? Façamos uma viagem no tempo para visitar outra edição do jornal, agora do dia 5 do mesmo mês. Lá está o Eduardo Paes numa foto bem tirada, num gesto positivo e abaixo da seguinte manchete:

“MDB vira obstáculo para Paes ampliar coligação eleitoral – PDT e PV resistem em dividir palanque com emedebistas no Rio”.

Ora, todo mundo sabe o quanto Eduardo Paes precisa fugir da lembrança de ter sido do MDB, que abriga até hoje Sérgio Cabral e outros presos por corrupção. O Globo, então, deixa claro que MDB não é com ele.

Matéria do O Globo do dia 4/7

É implicância? Vamos à edição do dia anterior, 04 de julho. Lá está Eduardo Paes numa composição de fotos que passa a imagem de ser o primeiro na lista de candidatos ao governo do estado. É a foto em que o leitor primeiro coloca o olhar.

Matéria do O Globo do dia 3/7

Não basta? Bastaria, mas tem mais. No dia anterior está lá, novamente, ele, Eduardo Paes, o candidato do sistema Globo. Novamente, foto simpática, e, onde? Em Maricá, cidade que ele desqualificou numa conversa com Lula, sem saber que estava sendo gravado. Objetivo da matéria? Dar ao Eduardo Paes a oportunidade de dizer que lamenta o que fez, pede desculpas e foi perdoado pela população local. Em boa linguagem de campanha, O Globo tomou a dianteira para fazer de uma ameaça ao projeto de Paes, uma oportunidade de vencer a eleição.

Existe mais? Claro que sim. A edição de 29 de junho, escancarou:

“TCM conclui que Paes não deixou déficit para Crivella”.

Matéria do O Globo do dia 29/6. Clique para ampliar.

Mais direto, impossível. Neste ponto, eu entro em outro rastro, muito visível: não há uma referência negativa ao Crivella em todas as edições do jornal O Globo, que não seja usada numa comparação com o “sucesso” do governo Paes. Tem mais. Nessa matéria, um exercício jornalístico óbvio seria o questionamento: Se Paes deixou dinheiro em caixa, porque cancelou os empenhos? Eduardo Paes cancelou os empenhos porque não existia dinheiro em caixa para assumir os compromissos feitos por ele para a Olimpíada do Rio.

Se depois disso tudo, restar dúvida ainda, fique você à vontade, continue a viagem ou vá aos telejornais da Globo no Rio, você encontrará outras tantas pistas que comprovam que o sistema Globo aposta suas fichas na eleição do candidato Eduardo Paes.

Para quem traça estratégias para eleições é fundamental saber ler corretamente os passos da imprensa. Fica aqui a minha contribuição aos colegas de profissão.

Por Jackson Vasconcelos

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Minha profissão acabou

São quatro da manhã. Terça-feira. Às três, bateu a insônia, uma velha companheira, que andava meio sumida. Nunca deixou saudades. Mas, quando chega parece acender a paixão pelo silêncio e escuridão. Como é bom ouvir o silêncio!

Vivo os tempos tensos de mais uma campanha eleitoral,  uma rotina à qual eu já deveria estar acostumado. Não estou. Eu me envolvo nesse troço até à medula. Nunca consegui, neste campo, fazer o meu trabalho, receber por ele e tocar a vida, independente do resultado.

Culpo-me por isso. Não enriqueci, como outros conseguiram enriquecer, mas paguei as minhas contas, que hoje somam alguns remédios. Nada grave. Só esses de controlar pressão e evitar a diabetes. Há também um comprimidos para aumentar a imunidade. Teve um tempo que ela baixou. Meu Deus, me deu trabalho.

Este ano, em especial, eu não deveria estar preocupado, porque a campanha não merece o nome. A anterior também não mereceu.

Faz tempo que os deputados federais e senadores colocaram na cabeça que melhor é ter mandatos sem ter campanhas. Natural, porque campanhas eleitorais com festas, discursos, palanques, jingles, lembram democracias e o Brasil não gosta muito disso. Está mais afeiçoado às ditaduras e não poderia perder a chance de inovar, de criar mais um tipo: a ditadura dos partidos políticos. Melhor dizendo: dos donos dos partidos políticos. Sim, porque é isso o que temos por aqui, uma ditadura dos caciques que comandam os partidos. Eles escolhem os candidatos que vão disputar, são os donos dos tempos de TV e rádio e, de uns tempos pra cá, donos também do único dinheiro que se pode gastar com campanhas.

Já tivemos a ditadura do Getúlio, tivemos as dos generais, estamos sob a batuta da dos juízes e, que mal faz, somar esta a dos donos dos partidos?

É assim que pensam os legisladores, deputados e senadores. Chegamos onde eles sempre sonharam chegar: eleições sem campanhas, para extrair de vez o povo do processo. Pra eles, povo é bicho chato, que incomoda, que cobra, que tá ficando de saco cheio e irritado de só pagar a conta das festas sem participar dos banquetes.

Com certa melancolia, percebo que a minha profissão acabou. Sinto-me um fabricante de galochas e ceroulas, coisas que ninguém usa mais.

Mas, vamos à derradeira. Depois dela, quem sabe, possa interessar a alguém pagar algum dinheiro para ouvir as histórias que as campanhas criaram por aí. Já comecei a andar nesta trilha com “Que raios de eleição é essa?”

Vamos em frente. Vou assistir o amanhecer.

Por Jackson Vasconcelos