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A estratégia é convencer e não agradar

Qual a primeira providência para realizar uma campanha eleitoral? Muitos responderão com rapidez: fazer pesquisas! 

Apesar de não dispensá-las e só conseguir realizar bem o meu trabalho orientado por elas, eu recuso a resposta. O discurso vem antes, porque ele é a peça que justifica a candidatura, dá sentido às pesquisas e faz a mágica do convencimento, objetivo essencial de uma campanha. 

O candidato que não convence perde e, para convencer, ele discursa, conversa, escreve, decide, se comunica. Enfim, ele submete o discurso à avaliação dos eleitores e dos adversários.  

Mas, há quem diga que o candidato pode, por disciplina e com bom treinamento, expor o que não pensa, para, tão somente, agradar aos eleitores. É verdade e isso tem sido comum. 

Contudo, a opção por esse roteiro abriga fortes emoções. Eu diria, as mais fortes emoções que uma campanha eleitoral seja capaz de produzir. O alerta para isso vem da psicologia, que classificou os atos espontâneos do cérebro como “atos falhos”. Um candidato que ande a distribuir um discurso que trai o próprio subconsciente só para agradar aos eleitores, corre o risco permanente de, a qualquer momento, deixar escapulir o que está guardado no “fundo da alma”. E aí, ninguém mais segura, “a máscara caiu”. 

Quando isso acontece, muita gente, com certeza, lamenta não ter escolhido o roteiro mais difícil, contudo, menos arriscado, de usar as pesquisas para saber em que tom e modo, o candidato deveria levar o que pensa para a campanha com o dever de convencer e não de agradar.  

O “ato falho” é, portanto, uma contribuição da psicologia às campanhas eleitorais. É um elemento da estratégia dos adversários de candidatos que, já se sabe, falam, usam roupas, gestos e  agendas só para agradar aos eleitores e não para convencê-los. Afinal, convencer dá mais trabalho do que agradar.

Quem pretenda ser candidato, teste o discurso que já está presente na consciência, não para ver se ele se encaixa no que quer o eleitor, ato de agradar, mas para entender como ele deve ser comunicado ao eleitor para convencê-lo. 

Outra orientação para os candidatos é que conheçam muito bem os seus adversários, para saber se o que eles pregam ou fazem está, de fato na história deles, porque, se não estiver, com certeza, também não estará no subconsciente. Aí, será só o trabalho de provocá-los quando eles estiverem em alto grau de exposição. 

A história das campanhas tem muita coisa pra contar, de anteontem e de ontem. Em 1945, o major-brigadeiro Eduardo Gomes, uma figura masculina bela, tão bela que fez com que as mulheres das classes média e alta brasileiras vendessem doces (que receberam o nome de brigadeiro) para ajudá-lo na campanha. 

Eduardo Gomes por estilo e imagem era considerado o candidato das elites. Contra ele estava Getúlio Vargas, “o pai dos pobres”, representado pela candidatura do General Eurico Gaspar Dutra. Pois bem, no dia 19 de novembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o brigadeiro Eduardo Gomes referiu-se os eleitores do Getúlio Vargas como uma “malta de desocupados que apóia o ditador”, referindo-se a um bando. 

O getulista Hugo Borghi correu aos dicionários para encontrar um outro significado para “malta”, que lhe servisse. Encontrou o sinônimo de “grupo de operários que percorrem as linhas férreas levando suas marmitas, marmiteiros”. Borghi foi às rádios e aos jornais com o discurso pronto: “O brigadeiro Eduardo Gomes disse que não precisa dos votos dos marmiteiros, dos pobres, daqueles que lutam pela vida, porque já tem o apoio dos ricos e grã-finos”. O fogo alastrou-se, porque o discurso do Brigadeiro, embora não fosse literalmente contra os pobres, carregou a imagem de um homem que, na verdade, tinha esse sentimento. 

De anteontem, temos ainda o famoso discurso do presidente Fernando Collor de Mello, com a convocação para que o povo fosse para as ruas apoiá-lo. Em cada frase do discurso, disponível na internet, se percebe a mágoa e o ódio de uma pessoa, que já não conhecia esconder a arrogância. 

De ontem, temos o exemplo do Ciro Gomes, que dispensa o cansaço com a lembrança. A imagem do machista fechou o circuito com o subconsciente dele e à tona veio o “ato falho”, sobre a razão da esposa Patrícia Pillar na campanha.  

Os resultados de tudo isso e muito mais, a história tem em registro. 

Hoje, as mídias digitais e o poder de comunicação das imagens em vídeo são campos férteis para o exercício de “atos falhos”. Todo cuidado é pouco! 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Jackson Vasconcelos é autor do livro “Que Raios de Eleição é essa?”. Disponível para venda AQUI.

Por Jackson Vasconcelos

https://www.travessa.com.br/que-raios-de-eleicao-e-essa-como-sao-as-estrategias-na-politica-e-os-bastidores-de-campanhas-eleitorais/artigo/05857989-929b-45ff-b5ad-e8bff6970129
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Eleição é uma lavoura

“Eleição é uma lavoura”. A lição é do ex-prefeito César Maia e eu a aproveitei em um dos capítulos do livro que escrevi sobre a utilidade que tem a estratégia nas campanhas eleitorais, “Que raios de eleição é essa?”.Escrevi o livro e publiquei pela “Livros Ilimitados” no meio do ano de 2017. O título respondeu a minha dúvida sobre o que seria a eleição de 2018, porque eu percebia, desde as campanhas de 2016, para as prefeituras e câmaras municipais, que algo bem estranho estava para acontecer. E aconteceu. 

As situações inusitadas, depois que ocorrem, autorizam todo tipo de avaliação e teorias sobre as suas causas. Por isso, muita gente atribuiu a vitória do presidente Jair Bolsonaro e da turma de deputados, senadores e governadores que ele carregou para o poder, ao sucesso do trabalho deles nas mídias digitais. Sim, mas não foi só isso, afinal, “Eleição é como lavoura. Os meios de comunicação irrigam, mas só o contato direto semeia”, diz o mago Maia. 

A campanha do presidente Jair Bolsonaro durou quatro anos e não 45 dias. Grande parte dela aconteceu nas ruas e toda ela nas redes, em conexão direta entre umas e outras. As ruas e as redes criavam os fatos, todos estridentes, que alimentaram os eleitores. E, o presidente ainda contou com a ajuda dos adversários. No correr da campanha, os adversários do Jair Bolsonaro perderam as agendas próprias e passaram a funcionar como instrumentos de percussão da música radical do candidato que queriam combater. E quem perde a agenda, perde a eleição. Não tenham dúvida. O resultado da estratégia correta de 2018 governa o Brasil e poderá continuar governando após o primeiro mandato se a oposição não resolver criar uma agenda própria. 

Estamos em ano de eleição municipal e, permitam-me dizer, com o risco até de parecer arrogante; Rede sem rua e sem o discurso adequado é risco de derrota. Sem estratégia, pior ainda. E não tem dinheiro no mundo que resolva isso. 

O exemplo mais recente chegou para nós há pouco, ainda com o calor do forno, vindo dos Estados Unidos. Por lá acontecem as prévias do Partido Democrata para a escolha do candidato que enfrentará o presidente Donald Trump, que está em campanha pela reeleição. Na semana passada aconteceu a Super Terça, dia em que a maioria dos estados americanos realiza, ao mesmo tempo, as eleições primárias. No mundo todo houve expectativa positiva com o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, porque ele vinha despejando uma fortuna na TV, em valores muito acima do usado pelos adversários principais dele, Joe Binden e Bernie Sanders. Binden e Sanders usaram a TV, as mídias digitais e não dispensaram o corpo a corpo e as viagens cansativas de uma ponta a outra dos Estados Unidos. O ex-prefeito Bloomberg jogou todas as fichas na TV, numa campanha de comunicação até bem feita. O resultado das estratégias de Bloomberg, Sanders e Binden está posto. Bloomberg só venceu no território não incorporado, Samoa Americana. E aí eu completo a lição do mago César Maia: “Aperte a mão e ganhe o coração”.

Provavelmente, Joe Binden enfrentará o presidente Donald Trump e para chegar até aqui ele contou com a ajuda do adversário, que lhe deu de presente um ato de perseguição e de acirramento com os democratas. Uma situação que só não custou o mandato do presidente Trump, porque, abriu-se o processo de impeachment no último ano do mandato do presidente, estando ele bem avaliado e já em campanha pela reeleição. Os senadores Republicanos preservaram Trump,  porque seria uma estupidez entregar aos Democratas um fenomenal argumento de campanha num ano de eleição. Tudo em nome da estratégia.  

As primárias nos Estados Unidos quase me matam de inveja. Penso sempre, como deve ser bom estar filiado a um partido que ouve você na escolha dos candidatos que apresentará aos eleitores! Como é bom para os eleitores uma campanha de um ano inteiro de contato com os candidatos, num processo que facilita a avaliação e a escolha. Como é maravilhoso fazer parte de um país onde as campanhas eleitorais são a festa da democracia e nunca, nunca mesmo, atos censurados e repugnantes.

Por aqui, ao que parece, nem os candidatos gostam muito de campanhas. Por isso, quando eleitos e empossados no Congresso Nacional fazem leis que castram a criatividade, reduzem o prazo para a avaliação dos candidatos pelos eleitores e matam a festa e a beleza das campanhas. Mas, um dia isso foi diferente e pasmem, aconteceu quando a ditadura ainda andava por aqui.  

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos