Publicado em

Eleição para governador: Cartas na mesa ou embaralhadas?

Quem vencerá a eleição para governador do Rio de Janeiro? As cartas estão todas na mesa? Quem dará as cartas? Já é possível começar o jogo?  Cinco candidatos já estão postos para disputar o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Cada um com credenciais próprias. 

  1. Paulo Ganime tem as credenciais do Partido Novo, um organismo que não usa Fundo Eleitoral e trabalha com gabinetes parlamentares reduzidos. Traz para a campanha a experiência do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que dizem ser exitosa. 
  2. Rodrigo Neves chega ao páreo com os resultados obtidos na administração da Prefeitura de Niterói, de onde saiu com popularidade suficiente para eleger o sucessor no primeiro turno. Está no PDT e carrega o legado do Brizola quando foi governador do estado por dois mandatos. 
  3. Marcelo Freixo livrou-se do PSOL, credencial negativa no Rio de Janeiro e traz a chance de ser palanque do Lula. Fora isso, nada mais. 
  4. Claudio Castro é o governador e a administração dele é a credencial principal. Na política, ele adota o desenho que é adotado no estado desde Sérgio Cabral, passando pelo Eduardo Paes: ter uma aliança com todos os partidos que ele alcançar com os cargos que o governo do estado possua.
  5. Santa Cruz. Eduardo Paes é a credencial dele. 

Já é possível dizer que um deles será o governador do estado? E saber qual deles?  Ainda não, porque a campanha sequer começou e nela é onde o resultado acontece. E ainda temos a indecisão ou decisão fria por enquanto, do Eduardo Paes. Ele é um player importante. Pareceu estar com Felipe Santa Cruz, mas abraçou-se com Rodrigo Neves e fez os dois repetirem o abraço, numa sinalização da possibilidade do Felipe ser candidato ao Senado. 

E Romário? Para onde irá? Quem será credenciado por ele? 

Mário Marques, homem de marketing político, jornalista e escritor, colaborador do Diário do Rio, publicou neste espaço um artigo onde traz uma novidade possível: Ronaldo Gomlevsky, que me parece ainda sem partido e sem a decisão dele próprio. Mário apresenta o Ronaldo com a credencial da ideologia. Ronaldo representa a direita e tem o perfil do presidente da república, Jair Bolsonaro. Será isso uma aventura? 

Para responder preciso voltar a 2018. Exatamente, ao dia 8 de setembro e depois ao resultado da eleição para governador. Naquele dia, logo após a publicação de uma pesquisa para governador, onde Wilson Witzel aparecia com 1% das intenções de votos, Mário me telefonou para informar ocorrências numa pesquisa qualitativa que ele acabara de realizar. Ele percebeu uma onda a favor de uma novidade e crescente rejeição ao Eduardo Paes, cabeça da pesquisa, pelas ligações dele com Cabral e Lula e Romário, logo após, por não passar a segurança de ser um bom governante. Garotinho ainda estava no jogo com 10%. Mário me diz: “Pode dar Witzel”. Inacreditável naquele momento. 

Verdade é que o dia da eleição está longe para os parâmetros de uma campanha que, oficialmente, sequer começou. E, com certeza, a campanha presidencial terá reflexos no Rio como teve na eleição do ex-governador Marcello Alencar, com Fernando Henrique na Presidência, Sérgio Cabral com Lula e Pezão com Dilma. 

*Artigo publicado no Diário do Rio.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Sérgio Moro no Flow: Uma oportunidade e muitas ameaças

Sérgio Moro cumpriu uma verdadeira maratona no podcast Flow. Ficou lá cinco horas. É, portanto, de se esperar que ele tenha dito tudo o que gostaria de dizer sobre todos os assuntos que lhe foram apresentados. 

Moro tentou ser didático e estava descontraído. Claramente, a metamorfose quase se completou. Ele perdeu a toga e começa a ganhar o colorido de uma nova pele. Os entrevistadores, Monark e Igor, mostraram curiosidades que as pessoas não envolvidas com a política têm. Um treino e tanto para um candidato. 

Moro explicou o contrato dele com a empresa de consultoria para a qual trabalhou depois que deixou o Ministério da Justiça. Disse algo confuso, mas não comprometedor, quando falou sobre receber por um “CNPJ que não é o CNPJ do outro…”, algo assim. 

Algumas passagens mostraram que Moro, se eleito, terá dificuldades para conviver com o Congresso Nacional. Ele denunciou a existência de um pacto no Congresso contra o combate à corrupção, formado pelos “fisiológicos do Centrão, pela turma do PT e por gente do Bolsonaro”. O que sobraria, então, no Congresso? Um discurso bom para a sociedade, mas péssimo para o meio político, onde Moro terá que viver se eleito. E, na mesma linha, disse: “Ah! Ministro da Justiça! Grande porcaria!”

Em seguida, Moro apresentou uma denúncia, sem apresentar o denunciado. Ele disse: “Até tem uma história que é bacana…” e relatou que no tempo da investigação do caso Banestado, ele e um delegado receberam a visita de “um deputado do PT”, que foi pedir para aliviar a vida dos banqueiros que seriam presos. Certamente, na campanha, alguém cobrará dele o nome do cidadão. 

Moro assumiu vários compromissos e um deles será o de acabar com a reeleição para Presidente, mas o modo como disse isso, confirma a dificuldade que ele tem para conviver com a política. Disse ele: “Se o Presidente da República em começo do mandato encaminhar um projeto acabando com a reeleição, inclusive para ele, o Congresso aprova na hora. Os caras não querem você lá de novo depois”. Eis o que ele pensa da relação que o Congresso terá com ele se eleito. Complicado, não? 

Mas, deixei para o final as duas questões que julguei mais delicadas de toda a entrevista. As duas no campo jurídico. A primeira, surgiu na resposta do Moro à pergunta do Igor se ele não poderia ter condenado as pessoas sem precisar quebrar as empresas. Ele disse que as empresas, ao descobrirem o problema, deveriam ter agido. Mas, quem são as empresas? Os sócios, certamente. Sendo isso, eles foram penalizados por saberem e não denunciarem ou por não saberem? 

Eram obrigados a saber? 

Outro ponto diz respeito à condenação do Lula. Moro foi provocado pelo Igor, que fez a pergunta fundamental: “Qual a prova irrefutável?” Moro citou as nomeações que o governo fez de gente que recebeu propina para entregar aos partidos e “Aos políticos, para enriquecimento ilícito”. E disse mais: o sítio era dele, porque ele frequentava o local. Complicado, não? E a frase mais forte foi: “Claro que são percepções, são avaliações”. 

O tema combate às drogas mostrou que Sérgio Moro não consegue sustentar a tese de proibição do uso da maconha. É uma fragilidade. Ele deveria ter mais consistência no tema. O Monark deixou uma montanha de flancos abertos e Moro não soube aproveitar. 

Assistir às cinco horas de entrevista do Moro é algo que os adversários com certeza farão. Duas horas e meia foram só sobre Lava-Jato e vida pessoal. Ele até se saiu bem, mas deixou uma série de fragilidades nos argumentos de defesa de suas decisões na Lava-Jato e nas posições que assumiu com relação aos políticos. E também no campo das propostas que apresentou. 

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Os conselhos do Paulo Hartung

Erra quem diz que o mandato de um governador é de quatro anos, renovável por mais quatro se a população desejar. Vejam o caso do Estado do Rio. O governador de agora, com apenas dois anos de mandato, responde pelo pagamento de dívidas contraídas por seus antecessores. 

Pode-se dizer, então, que Sérgio Cabral, Pezão ou, quem sabe, Garotinho, Marcello Alencar, Benedita e Rosinha ainda andam por aí no governo, representados pelas dívidas que contraíram em nome dos contribuintes. Wilson Witzel também, pelos problemas que criou. Os argumentos de cada um deles e delas para o problema são variados, mas têm o ingrediente comum e cômodo da injustiça da União com o Estado. 

Se Cláudio Castro vencer o desafio de governar dando jeito na casa, seja só pelos dois anos e pouco, seja por mais quatro, o que ele conseguir fazer atravessará o tempo e assegurará vida melhor para quem, por escolha ou por origem, está no estado. Empresas e pessoas. Se ele, ao contrário, não encontrar as saídas, seu governo se juntará, em desgraças, aos demais. O tempo relativo, não absoluto, dos mandatos, diz da personalidade de um governante, que pode ser a de um estadista, de um simples governante de passagem pelo governo ou de um oportunista. 

Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, dá sentido a uma conversa desse nível, pelo que fez no seu estado, com o reconhecimento da população, que três vezes lhe deu o governo do estado. Uma quarta ele não quis. Foi Senador, deputado federal, deputado estadual e prefeito de Vitória. Parte do sucesso que ele teve nasceu da capacidade de formar um bom grupo político. 

Por enquanto não sei os motivos que levaram o ex-governador Paulo Hartung a publicar no Twitter conselhos para os cariocas e fluminenses. Pelo que está dito lá seria só para fazer referência à participação dele num encontro na Casa Firjan. Mas, sabe-se lá ? As notas são de hoje, dia em que escrevo o artigo, segunda-feira, 17 de janeiro. Disse ele: “Quando o ES cansou de ver as coisas indo de morro abaixo, a sociedade se levantou e as forças políticas acompanharam, iniciando um processo de reconstrução do Estado. Enfrentamos o crime organizado, resgatamos o equilíbrio fiscal e produzimos históricos resultados na área social”. E disse mais, com uma frase que lembra Marcelo Crivella, que anda sumido: “Só cuida das pessoas quem cuida das contas…”. É verdade. 

Os conselhos do ex-governador são bons conselhos e há mais deles, bem mais, no livro que ele publicou, “Brasil, Desafios e Propósitos”. Uma coletânea de opiniões já publicadas em vários veículos da imprensa. A política é homenageada pelo Hartung, desde a introdução, quando cita a pensadora Hannah Arendt: “O sentido da política é dado pelo fato de ela ser um meio para um fim mais elevado, sendo a determinação dessa finalidade bem diferente ao longo dos séculos”. 

Paulo Hartung está sem partido. É o que se consegue saber quando se busca por ele nas redes. Eis aí uma oportunidade para os partidos que, ainda sem candidato a presidente, queiram fazer uma boa aposta. 

Bem. Até a próxima semana, gente. 

*Artigo publicado no Diário do Rio.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

O que é uma eleição?

Eleição é escolha. O eleitor, colocado diante das informações sobre os candidatos, decide qual deles receberá o seu voto. As campanhas eleitorais têm o propósito de oferecer aos eleitores as informações para que ele decida. Colocada a questão deste modo, a primeira percepção é de ser um processo racional e ele não é. Por isso, os resultados surpreendem até mesmo os institutos de pesquisa a cada eleição. 

No Brasil, muita gente diz que a eleição de 2018 foi um fenômeno, porque os resultados surpreenderam e, para alguns, até assustaram. Para essa gente, existe uma dúvida sobre a próxima eleição: “O fenômeno se repetirá?”. Mas, o que de fato aconteceu em 2018 no Brasil? Pouca coisa de diferente do que aconteceu em outros lugares do mundo: a eleição do inesperado.

Ora, quando se quer analisar o resultado de uma eleição, necessário se faz considerar todos os seus termos e isso só é possível observando-se todas as fases de uma campanha. Em 2018, o resultado é comparável a uma ressaca no mar, que acontece quando fortes ventos entram em contato com a superfície dos oceanos e impulsionam, com força, as águas na direção da orla marítima. 

Os ventos começaram a se formar no Brasil em 2013 com a população nas ruas, descolando-se da política, que segue caindo em descrédito ao longo dos anos. Nas eleições de 2018, os ventos ganharam força e velocidade a ponto de jogar na orla, um número expressivo de candidatos inexpressivos e alguns inesperados. 

A mesma ressaca aconteceu em outros lugares do mundo, em especial nos EUA, com a eleição de Donald Trump. O jornalista francês sediado na Itália, Giuliano da Empoli, identificou o fato e escreveu “Os Engenheiros do Caos”. 

Nele, o autor mostra um descolamento da sociedade do ambiente da política, estimulando movimentos como o “Movimento 5 Estrelas”, na Itália, que deu vida a Giuseppe Conte, como Primeiro-Ministro e elegeu Boris Johnson, Trump, Jair Bolsonaro e outros tais pelo mundo afora. 

As redes sociais criaram novos profissionais de comunicação, gente com capacidade para produzir conteúdo contundente e distribuí-lo com velocidade. Os algoritmos cuidaram de aprisionar  eleitores e candidatos em tribos específicas. É uma seleção prévia. Os candidatos falam só com quem tem interesse de ouví-los e quem os ouve, é levado a odiar gente de outras tribos. 

Quem lê “Os Engenheiros do Caos”, ou outros materiais sobre campanhas eleitorais modernas, pode ser levado a acreditar que, de fato, há um fenômeno totalmente novo na comunicação política. Há novidades, sem dúvida, mas nada totalmente novo. Nova é a velocidade e a fúria com que os conteúdos chegam à orla onde estão os eleitores. 

Faz-se campanhas diferentes. Eleições não. Os eleitores permanecem decidindo as eleições com base nos critérios de sempre. Votam naqueles candidatos que melhor se identificam com eles, que falam o que eles querem ouvir. E não há racionalidade que convença! Emoção, sim. As redes carregam emoções, como fez a imprensa tradicional com exclusividade. 

O eleitor escolhe pela simpatia e rejeita pela antipatia. Na simpatia e na antipatia não estão previstas as qualidades e competência dos candidatos para fazerem o que prometem fazer. 

Será sempre assim? Será, porque assim sempre foi. Nunca foi diferente. As redes só organizam “o cadastro” para colocar cada um no seu quadrado e fazer com que gente de quadrado diferente seja combatido. Deram velocidade e efetividade à comunicação. 

A TV e o rádio perderam poder numa campanha? Não, porque, para não perderem, uniram-se às redes, que repercutem as notícias, para dar-lhes a leitura que interessa a cada tribo. O conteúdo que sai da TV e do rádio é triturado na rede, traduzido na língua de cada tribo para produzir as emoções que conquistam o voto. 

Haverá uma nova ressaca em 2022? Quem sabe? Na vida dos mares já é possível prever quando elas acontecerão pela leitura correta da altura das ondas, da meteorologia, da pressão atmosférica, das correntes marítimas e etc. Com os instrumentos corretos, entregues a bons estrategistas, é possível, sim, prever que o mar estará calmo ou turbulento, mas saber quem será levado por ele até a orla é bem difícil. 

O ser humano, ao contrário dos ventos e das ondas do mar, é sempre imprevisível.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Debate decide?

Entre todos os bons debates políticos que há como referência, o primeiro ocorrido na TV americana entre Nixon e Kennedy é o mais estudado, pelas lições no campo da imagem e conteúdo. Nixon chegou ao estúdio com uma vantagem de seis pontos percentuais na pesquisa de intenção de votos. Após o debate a diferença diminuiu aos poucos, mas com rapidez, até ser revertida a favor de Kennedy e de lhe dar a vitória. Nixon passou todo o tempo preocupado com o adversário. Kennedy falava para as câmeras como se falasse com o eleitor. 

A imagem física deu vantagens ao Kennedy. Tanto é que, após o debate, as pesquisas identificaram um fenômeno: quem ouviu pelo rádio deu vantagem a Nixon que, sem dúvida, tinha mais experiência e vigor com as palavras. Quem assistiu pela TV considerou Kennedy muito melhor. Já fiz vários comentários e análises sobre este debate. 

Os debates têm importância numa campanha, mas o resultado de uma eleição se dá pelo conjunto da obra, que começa no momento em que o candidato decide concorrer. Há os prazos legais, é verdade, mas que a política não respeita, porque os prazos legais estão no campo da racionalidade e campanha é sentimento, vontade, determinação. 

Se o candidato decidir muito tarde, terá que correr mais que os adversários; se decidir muito cedo, terá tempo para planejar com capacidade de avaliar cada passo. O aviso ao público se dá em tempo e com resultados diferentes, a depender da estratégia traçada pelo candidato. A ocasião dele ou dela compartilhar com outras pessoas o desejo de disputar será melhor aproveitada se considerada como estratégia. E, por ser uma decisão estratégica de um exame  com base nos conceitos de oportunidade e ameaça. O tempo certo de compartilhar definirá o tempo que se tem para planejar a campanha. 

A vontade de ser cria o discurso e ele, o debate, que se dá quando a mensagem do candidato, peça fundamental numa campanha, faz o adversário reagir. Sem a reação do adversário, não existe debate e o discurso segue o impulso que lhe deu o seu autor e pode passar pelo eleitor sem ser notado. Sabe-se que o eleitor notou o discurso, quando o adversário reage. Eu não considero como debate uma discussão ou troca de opiniões entre candidatos. Para mim aí se terá uma conversa, que pode ser agradável ou desagradável, para um ou para todos os candidatos. Para ser um debate a troca de opiniões e palavras deve provocar reações entre os adversários a ponto de elas serem capturadas pelos eleitores e transformadas em voto ou negação. 

O confronto com efetividade pode ser entre as imagens, ideias, opiniões, acusações, apoiamentos e, de forma mais fria, propostas. O relevante é saber que a qualidade e o teor dos debates como elemento de convicção é decisão do eleitor. Por isso, perde tempo o candidato que debate com os adversários se não compreender que eles são veículos, plataformas, simplesmente, que precisam atingir os eleitores pelas reações dos adversários. 

Para um estrategista o conceito é relevante, decisivo, quando ele prepara um candidato para um debate. Uma conversa fria, sem provocar reação dos adversários presentes e mesmo ausentes, não anima os apoiadores nem conquista novos. Ou seja, o candidato que chega aos debates com vantagem nas intenções de votos deve ficar na “retranca” e só oferecer energia ao debate se perceber que perde posições na imagem que tem com o eleitor. 

Preparar um candidato para um debate não é trabalho fácil, que se transforma numa rotina, porque cada debate é um novo jogo e pede novas estratégias. O candidato deve entrar em campo com uma meta objetiva e tendo um objetivo como meta. Digamos que esse objetivo seja se tornar mais conhecido, então, ele precisa ser contundente, ter presença forte. Mas, ser conhecido como o quê? Como um bom administrador público ou como um agente conservador, liberal? Que tema deve ser melhor aproveitado? 

Os debates relevantes para a história e estudos são os das campanhas presidenciais, mas há debates que aconteceram em outros tipos de campanha que ensinam bastante. Iniciei a prosa com um debate entre Nixon e Kennedy, nos EUA. A trajetória política de Richard Nixon tem muito a ensinar estrategistas. Ele fez uma carreira rápida até a Vice-Presidência da República. Perdeu a eleição para Kennedy, em seguida, se candidatou a governador da Califórnia, seu reduto eleitoral, e perdeu. A imprensa americana deu-lhe como morto. Se morreu, ressuscitou como Presidente da República ao vencer Hubert Horatio Humphrey.  E nessa estrada venceu outros debates. 

As campanhas presidenciais no Brasil aconteceram na TV, a partir de 1989, quando a sociedade conquistou o direito de eleger novamente os presidentes. O primeiro debate aconteceu nos estúdios da TV Bandeirantes, na abertura da campanha, no dia 7 de julho. Marília Gabriela moderou. Foi um debate rico, mas que não atendeu ao avisado pela moderadora: “Tem o objetivo de esclarecer os eleitores quanto às propostas e aos programas de governo dos candidatos”. A primeira experiência se estendeu no tempo: ficaram as frases de efeito, as provocações e as passagens mais engraçadas. 

Voamos no tempo em tecnologia, qualidade de comunicação e imagem e chegamos à eleição de 2018, quando houve uma reviravolta nos prognósticos das campanhas. A Bandeirantes saiu na frente, novamente, e, em razão da pandemia, ficou isolada na realização de debates. A tecnologia ofereceu ao eleitor a oportunidade de participar diretamente. A TV montou uma sala para pesquisa digital on-line. Novamente, prevaleceu a capacidade do candidato de, ao provocar os adversários, produzir fatos e conquistar eleitores.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

No jogo político, a imprensa tem lado

Um erro bem comum na política é enxergar a imprensa como uma arma do demônio e, nas campanhas, como instrumento de notícias imparcial. A imprensa, na política e nas campanhas, é um agente político. Vi políticos e candidatos acreditarem-se com vantagem, porque estariam protegidos pela boa relação com a imprensa. Mas, eles, em algum momento, decepcionam-se e aborrecem-se. 

A imprensa, na política e nas campanhas só tem boa relação com os fatos que conseguem audiência e se o ambiente é de polarização, como tem acontecido, ela aplica todos os seus esforços aí.  O Brasil tem um histórico bem interessante na relação da imprensa com a política: Samuel Wainer, Chateaubriand, Roberto Marinho, Lacerda, Ari de Carvalho, José Maria Rebello, que faleceu no finalzinho do ano passado, com 94 anos de idade. Ele criou o Binômio, um jornal dedicado, quase exclusivamente, a fazer oposição a Juscelino Kubitschek. 

O historiador Cláudio Bojunga, biógrafo de Juscelino, autor do livro “JK o artista do impossível”, registra: “Juscelino também era bombardeado por um jornaleco chamado O Binômio, precursor da imprensa alternativa, editado por José Maria Rabelo e Euro Arantes, cujo primeiro número saiu no dia 22 de fevereiro de 1952. O nome já era uma gozação do slogan do governador, que eles reescreveram como “sombra e água” fresca, insinuando que concordavam com Oscar Dias Correia em apresentar JK como indolente e gozador da vida(…). José Maria Rabelo diz hoje que O Binômio foi “uma brincadeira que a política levou a sério”. 

Numa das viagens de JK, governador, a Araxá, ele levou, na comitiva, o empresário de jogos e turismo, Joaquim Rolla. O Binômio produziu a manchete: “JK foi a Araxá e levou Rolla”. O secretário de Segurança Pública, Geraldo Vidigal – disse Bojunga, alegou ofensa às tradições morais do povo mineiro e mandou recolher a edição. 

No livro do Bojunga há várias outras menções ao tipo específico de relação da imprensa com a política. Mas, quem quiser ir além disso, pode usar a biografia de Samuel Wainer, “Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter” ou ao “Chatô, o Rei do Brasil”. E muitas outras obras. 

O Presidente Jair Bolsonaro não gosta da imprensa. Hillary Clinton também não. O ex-Presidente Trump, muito menos. Fernando Henrique Cardoso, nem se fala! Lula apanhou muito. Brizola odiava o Sistema Globo de Rádio, jornal e tv e era odiado por ele. Ari de Carvalho, proprietário do jornal O Dia, enquanto viveu,  pintava e bordava com os políticos que não se alinhavam com ele. 

Então, seria razoável dizer que a imprensa, no jogo político, é um agente de oposição. Mas não é bem isso. Ela é um agente político que, por conveniência dos editores e interesse comercial, ou até mesmo por espírito de vingança dos repórteres, pode ser de oposição ou de situação. 

O jornalista Maurício Dias me disse algumas vezes: “Não acredito em liberdade de imprensa, mas em liberdade de expressão e liberdades políticas. Os veículos de comunicação têm interesses políticos, econômicos e comerciais”. Esta declaração está presente também numa longa entrevista que ele concedeu ao Mercado de Notícias, disponível no Youtube.

A política e a imprensa são temas que se misturam e quem faz política precisa conhecer muito bem esta relação se quiser sobreviver com sucesso. Mas, quem faz imprensa no segmento da política também necessita, para não estimular o risco de ser usado. 

No histórico da relação da imprensa com a política existem casos – muitos casos – que mostram o quanto isso acontece. Um bom exemplo é a substituição da Ministra Dorothea Werneck pelo político Francisco Dornelles no Ministério da Indústria e Comércio no governo Fernando Henrique Cardoso. 

O presidente queria a troca, mas não tinha como justificá-la com a Ministra. Então, o jornalista Márcio Moreira Alves ajudou com uma coluna dedicada exclusivamente ao Francisco Dornelles, do título ao ponto final. 

Não se pode encerrar um artigo em que se trate da relação da imprensa com a política sem trazer um caso clássico: Watergate. Dois jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein levaram um presidente americano à lona – Richard Nixon. A história foi reproduzida num livro do qual se fez um filme, “Todos os homens do presidente”. 

É um clássico de preservação da fonte, que só se soube quem era quando o próprio informante declarou-se muitos anos depois do fato. Um clássico também de investigação realizada pela imprensa. O  informante nunca deu uma informação aos jornalistas, mas pistas, que eles perseguiram na apuração. Sobre o tema é também relevante a leitura de Garganta Profunda, outro clássico sobre a relação da imprensa com a política. 

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Tudo sobre: Pesquisas eleitorais

O que é uma pesquisa? É um dos modos de se saber o que as outras pessoas pensam sobre assuntos do interesse de quem pesquisa. Quando se está no ambiente das eleições, as pesquisas acontecem no curso das campanhas e existem para que os candidatos e suas equipes conheçam  a tendência de voto dos eleitores e também a opinião deles e delas sobre os assuntos que estarão no debate, nas discussões e nas conversas sobre os candidatos. 

Para conhecer as tendências do voto, faz-se uma pesquisa de quantidade. Para se conhecer as opiniões sobre os temas e candidatos, faz-se uma pesquisa de qualidade. No ambiente, essas pesquisas são conhecidas como qualitativas e quantitativas. 

Mas, a atividade de pesquisar não é tão simples, porque o eleitor sofre influências do clima, da opinião pública, do próprio ânimo e até da própria campanha, onde se mede a tendência do voto. A própria pesquisa pode mudar a direção da opinião. 

Contudo, o que se tem visto com bastante frequência é o erro com a realização das pesquisas, muitas vezes até sem os cuidados essenciais e fundamentais com a amostra e os questionários. Amostras e questionários mal elaborados distorcem os resultados. 

Uma atitude bem comum tem sido atribuir-se erros de avaliação aos institutos de pesquisa quando os resultados das eleições não confirmam as previsões. É preciso tomar cuidado com o comportamento, porque a pesquisa é feita com seres humanos, por definição, livres para mudar de opinião a todo instante. 

Por isso, existe outro elemento relevante: a análise dos cenários. 

Qualitativa

As qualitativas respondem ao “como?” Identificam a presença ou ausência de determinadas qualidades ou características. São pesquisas que focam no caráter subjetivo do candidato analisado. As respostas não são objetivas e permitem explicações. O objetivo não é contabilizar quantidades de eleitores por preferência, mas, sim, compreender o comportamento do eleitor. A finalidade é entender a razão das escolhas. Quanto à coleta, à amostra, na qualitativa vale a qualidade da amostra. 

Quantitativa

As quantitativas medem quantidade. No caso de eleições, a pesquisa define o número de eleitores que informam ou opinam sobre as questões levantadas pelos entrevistadores. As informações e opiniões são agrupadas com técnicas estatísticas e geram um resultado numérico. As quantitativas respondem à pergunta: “quanto”? Quantos eleitores votam em fulano ou não votam de jeito algum em fulano. 

Outro ponto relevante é a definição de quantitativa com base nas amostras. O tipo de amostra é uma das características que diferenciam uma pesquisa quantitativa da qualitativa. Na quantitativa, a quantidade define a amostra. 

Para se alcançar um resultado confiável, a pesquisa quantitativa precisa de questionários com perguntas objetivas, curtas e claras, que não permitam subjetividade, ser algo como “sim ou não?”

Meios de realizar uma pesquisa:

Quem pesquisa a tendência de voto e as opiniões dos eleitores pode usar várias formas de coleta de dados. Vários caminhos. Nas campanhas, os mais comuns são por telefone e presencial. Fala-se muito em pesquisa de profundidade, que busca entender a mudança de tendência e opinião. 

Pesquisa no campo:

Acontece quando os pesquisadores abordam os eleitores no ambiente deles, seja nas ruas, nos parques, em casa, enfim, onde eles possam ser encontrados. Muita gente acredita que seja uma atividade simples de sair às ruas e perguntar. Não é. Para que a pesquisa dê bom resultado, antes de iniciar a coleta das informações, é preciso saber como está o ambiente: faz muito calor, faz muito frio, choveu bastante ontem e etc. Na abordagem é preciso saber como abordar, entender se a pessoa respondeu com pressa, com calma, se irritada e coisas parecidas. É na leitura do cenário que a pesquisa de campo se torna melhor. O olhar, as reações faciais, tudo que possa representar a reação do pesquisado é relevante. 

Por telefone:

Também por telefone é preciso ter os cuidados com relação às ocorrências no ambiente do entrevistado para saber se houve ou está a ocorrer fatos que possam mexer com o ânimo do eleitor. No dia anterior, por exemplo, um temporal, uma decisão do governo que criou irritação ou alegria, enfim, o importante é ter segurança sobre o ambiente onde o eleitor está presente e os fatos que podem influenciar a opinião dele.  Por telefone, se perde a possibilidade de capturar as reações e saber como está o ambiente em torno do entrevistado. 

Por internet: 

É possível realizar uma pesquisa pela internet? Sim, é possível, como acontece com as pesquisas por telefone. Só é preciso ponderar o ambiente onde o conjunto de perguntas e respostas acontece. Pode haver interferência externa, como a qualidade da rede, pessoas que entram no ambiente, o interfone que toca e outras questões mais. 

Sobre: Pesquisa por profundidade

No mercado de eleições atribui-se o termo de pesquisa de profundidade o que, na verdade, não é. Chama-se de profundidade o ato de simplesmente perguntar novamente aos mesmos pesquisados, depois de algum tempo, para identificar a mudança na tendência do voto ou opinião. Os pesquisadores separam um grupo de nomes da coleta já feita e retornam com as mesmas questões. Uma enganação! Para realizar uma pesquisa de profundidade é preciso saber, antes, que tudo o que é profundo leva tempo e exige novos questionamentos. Algo um tanto socrático. Ora, quando se quer profundidade numa pesquisa, ou seja, saber com profundidade o motivo das escolhas e opiniões, necessário é gastar tempo com o eleitor, puxar dele todas as razões de suas crenças, valores, ambições para, aí sim, entender a razão do voto. 

Amostras:  A escolha correta da amostra define o resultado. 

As pesquisas são “exercícios de estatística” e a estatística é a parte da matemática que estuda os métodos para coletar, organizar e analisar dados de diferentes áreas com o objetivo de sustentar decisões. 

No campo da estatística o conceito de amostra é básico. Como nosso tema é eleição, a pesquisa sem margem de erro acontece no momento do voto, porque todo o universo de decisão foi ouvido. O resultado da eleição é a possibilidade apurada pelas pesquisas e elas trabalham com as amostras, ou seja, com o que é informado por uma pequena parte de todo o universo, que apresenta as mesmas características. No campo conceitual a gente intitula de amostra proporcional estratificada, que consiste em dividir a população em estratos – em subgrupos. 

Ora, se a amostra não é a representação do todo, do universo inteiro a ser pesquisado, teremos uma brutal distorção no resultado. 

Como seria infinitamente caro ouvir todos os eleitores, os pesquisadores fazem as pesquisas por amostragem.  

Questionários: 

Os questionários representam as dúvidas dos pesquisadores. O que eles precisam, realmente, saber. Como em qualquer situação, a maneira como a pergunta é feita e na ordem em que é formulada pode mudar a resposta, quem prepara os questionários precisa ter o cuidado de não influenciar o resultado com base na composição dos questionários. 

A formulação dos questionários e a amostragem são as atividades mais relevantes na preparação de uma pesquisa. Depois delas, a leitura. 

Perguntas e respostas. 

  1. Para que serve uma pesquisa eleitoral?

Para se medir o grau de conhecimento que o eleitor tem de quem está disputando uma eleição e em que nível de preferência ele fará as escolhas dos candidatos apresentados a ele, no momento da pesquisa. 

  1. O que quer dizer a resposta espontânea?

Ela acontece quando o eleitor é chamado a dizer o nome do candidato de sua preferência sem que lhe seja apresentado o nome dos candidatos. Como a resposta é fruto da memória não estimulada, ela indica que os candidatos citados espontaneamente são os que estão na memória do eleitor. 

  1. O que é a pesquisa induzida ? O que ela informa?

Quando o eleitor recebe do entrevistador uma lista com os prováveis candidatos e diz qual a sua preferência. Neste caso o eleitor compara os candidatos. Agora não é só a memória com relação a um candidato, mas existe comparação entre os conceitos que o eleitor acredita serem os mais indicados para quem disputa a eleição. 

  1. Por que os institutos de pesquisas separam os eleitores por sexo, religião, idade, grau de instrução e outras características?

Para criar uma amostragem da sociedade, pois seria impossível e caro demais ouvir todos os eleitores.  Então, os entrevistadores organizam os eleitores por segmentos, dando-lhes um peso. Os segmentos são escolhidos pela característica que pode decidir o voto. Faz-se isso, considerando a proporção de cada segmento no universo total. No universo total há, por exemplo, 51% de mulheres. Na amostragem se terá 50% de mulheres escolhidas aleatoriamente. Se 30% de evangélicos no universo, na amostragem se terá a mesma proporção. Um erro na amostragem distorce todo o resultado. 

  1. Por que os institutos perguntam em quem o eleitor não votaria de jeito nenhum?

Para medir a rejeição que o eleitor tem a um candidato e do mesmo modo como no caso da intenção de voto, a rejeição pode aparecer espontaneamente ou de forma induzida, quando o eleitor compara os candidatos para decidir qual rejeitará. 

  1. Uma pesquisa antecipa o resultado de uma eleição? 

Não. Uma pesquisa retrata o momento do eleitor, que por ser humano, pode mudar as escolhas que fará diante de qualquer fato que influencie as suas escolhas. 

  1. Posso dizer que os institutos não são confiáveis, quando eles erram os resultados?

Não. Para afirmar que um instituto errou, o critério é de avaliação da metodologia e não do resultado na eleição, porque o eleitor, ser humano, tem liberdade para mudar de opinião e pode ser que, no momento da pesquisa, tenha respondido influenciado por vários fatos. Até mesmo o resultado de uma pesquisa pode fazer com que o eleitor mude de opinião.

  1. Então, uma pesquisa pode influenciar o voto?

Sim, pode, se o critério de decisão do eleitor for esse. É muito difícil descobrir os critérios que os eleitores utilizam para decidir o voto. Tudo é muito subjetivo.  

  1. Qual o risco de uma pesquisa numa campanha eleitoral? 

Desanimar que está em desvantagem e criar euforia em que está em vantagem. Mas, pode acontecer que a desvantagem faça com que o candidato reorganize suas posições e ganhe estímulo para ser mais aguerrido. E pode acontecer que o candidato que esteja na frente abra a guarda, relaxe e isso criar uma vantagem para o adversário. 

Por Jackson Vasconcelos