Publicado em

Campanhas sem liberdade de expressão

Sou livre para me expressar como quiser e externar com liberdade tudo o que passa pela minha cabeça. É isso que se entende por livre manifestação do pensamento e no que consiste o debate sobre liberdade de expressão, um assunto que explodiu durante a semana passada, por causa do Flow Podcast. 

O sentido da liberdade é: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”, como foi dito pelo apóstolo Paulo à Igreja de Corinto, sobre alguns costumes dos crentes situados ali. Ou seja, uma pessoa pode manifestar livremente o pensamento, mas como isso produz um ato, esse ato gera consequências. 

Monark pensou o que quis e disse o que pensou. Provocou forte reação negativa no público, que pressionou os patrocinadores do programa e eles retiraram-se. Monark e seu sócio pagaram o preço. Se com a pena completa ou não, isso é relevante para a tese de que a liberdade tem consequências, para o bem e para o mal.  

Ora, a liberdade com limites não é liberdade, mas a liberdade sem consequência, essa sim, reprime a liberdade do outro. Nesse ponto entra no debate um conceito de impunidade. A manifestação do pensamento que se materializa em atos que prejudicam terceiros, deve ser punida, não reprimida. 

Quando alguém é impedido de manifestar livremente o pensamento, temos um ato de censura, que na modernidade recebeu um título adicional: cancelamento. Ou seja, a partir do momento que a manifestação do pensamento de uma pessoa, materializada em atos ou não, prejudica outra pessoa, esse alguém que prejudica perde o direito à livre manifestação. 

A ninguém deve ser negado o direito de manifestar livremente o pensamento, nem por precaução. Uma sociedade democrática é aquela que pune a manifestação de alguém que cause prejuízo a outro alguém, mas não a reprime, a menos que ela possa ser materializada numa atitude de violência física. “Bons vizinhos dependem de boas cercas”, disse Margareth Thatcher. 

Dito isso, ingresso nas campanhas eleitorais, porque nelas quase toda forma de manifestação do pensamento está proibida e a que é liberada, depende da interpretação dos juízes. A censura, monstro abominável, vive muito bem abrigado nas campanhas eleitorais. 

A manifestação livre do pensamento deveria ser a essência da comunicação nas campanhas eleitorais, porque nesse ambiente ela tem o objetivo adicional de esclarecer – de colocar às  claras todas as coisas, para que os eleitores possam decidir com as informações que precisam. Para decisões corretas, informações corretas. 

O modelo das campanhas eleitorais no Brasil reprime a manifestação do pensamento dos candidatos até mesmo nos debates promovidos pelos canais tradicionais de comunicação. Também desestimulam a participação dos eleitores no processo, pela proibição do uso de material criativo de campanha. Perseguir o adversário é mais fácil do que conquistar eleitores, numa situação em que a eleição é decidida pela rejeição ao outro e não pelo acolhimento. 

O resultado está aí, com eleitores encurralados entre o ódio de um candidato e o ódio do outro, numa situação de absurda polarização, porque promover o ódio e o rancor é mais fácil do que convencer o eleitor sobre o melhor caminho a tomar. 

Boa semana para todos.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Um bandido? Um estúpido? Um vulnerável?

É cedo ainda para você decidir, assim de pronto, a quem você dará o voto para presidir o Brasil, governar o estado onde você mora ou representá-lo na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. 

Contudo, mesmo que você já tenha escolhido, sugiro que reavalie a escolha que fez a partir dos conceitos que eu encontrei num livrinho muito legal, que eu qualifiquei pelo diminutivo só por ter poucas páginas. O conteúdo dele, se consumido devagar, com a imaginação solta, caberia numa enciclopédia. 

Carlo Cipolla, historiador da economia italiana e professor, como quase sempre são os historiadores, escreveu “As leis fundamentais da estupidez humana”, uma obra que pode nos ajudar a definir o voto e para isso, proponho que você faça um desenho desses que se usava na alfabetização de crianças, onde, de um lado da folha se terá os rostos dos candidatos e do outro as qualificações. Com uma linha, você poderá unir a personalidade ao rosto e decidir. 

Carlo Cipolla classifica os seres humanos em quatro categorias, que ele diz, básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido. E ilustra, na relação entre dois personagens, Tom e Dick. 

  1. Se Tom empreende uma ação para obter uma vantagem e produz uma vantagem também para Dick, Tom é uma pessoa inteligente. 
  2. Se Tom faz algo que lhe dá vantagem e provoca uma perda para Dick, Tom é um bandido.
  3. Se Tom ao agir, perder alguma coisa, mas produzir ganhos para Dick, Tom será alguém vulnerável. 
  4. Se Tom age e ao agir provoca perdas para Dick e para ele mesmo, aí teremos o Tom estúpido. 

De pronto, logo que li a classificação de Cipolla, percebi que no Brasil, há eleitores vulneráveis, aqueles que garantem vantagens aos eleitos e uma perda enorme para si mesmos. Isso, quando votam e quando não votam, porque por aqui o “não voto” é jogado fora e valoriza a decisão do eleitor que preferiu votar. Temos, aqui, mais um exemplo de estupidez. 

Liste, sugiro, os candidatos que você conhece, mesmo que você já tenha tomado a sua decisão. Do outro lado, coloque a classificação oferecida pelo Carlo Cipolla e como acontecia nas aulas de alfabetização de crianças, com uma linha ou traço, um personagem e personalidade. Pode ser um exercício interessante. 

Quem serão os candidatos estúpidos? Os bandidos? Os vulneráveis? Os inteligentes? Feitas as relações, faça a sua escolha. E se você, porventura, ficar na dúvida entre os candidatos estúpidos e bandidos, consulte a quinta lei de Carlo Cipolla:

“Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa, por isso, uma pessoa estúpida é mais perigosa do que um bandido”. 

Encerro com um complemento. Quando você escolhe um estúpido só para ter vantagem para você mesmo, você estará, segundo Cipolla, agindo como bandido. E se você escolher um bandido, para dar vantagem a ele sem levar vantagem alguma, agirá como um estúpido. Eu ainda acredito na inteligência. 

Boa semana para todos. E por falar em boa semana, não custa dizer que os estúpidos farão da semana uma perda pra si e para os outros e os inteligentes, um benefício para si e para todos os demais. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

O réu, o juiz e o magistrado da eleição

A Justiça é o ponto de encontro das candidaturas do Lula e do Sérgio Moro. Um lá esteve como réu e o outro como o juiz que o condenou. O STF anulou os processos, por entender que o juiz julgou o que não poderia ter julgado. 

O caso todo voltou à estaca zero e o contribuinte ficou com a conta do desperdício, que soma horas de audiências, papeladas, operações de busca e apreensão, prisões, custo dos presos, despesas operacionais, atrasos em outros processos e, quem sabe, até os honorários dos advogados de defesa, que podem ter sido pagos com dinheiro destinado aos partidos.  

O réu, em campanha para a Presidência da República, alega que a anulação dos processos é uma absolvição e a prescrição decorrente de todo o tempo perdido, também. Ele se diz injustiçado, porque nada de concreto conseguiu o juiz contra ele, “a prova irrefutável, o batom na cueca”, como definiu Igor, apresentador do podcast Flow, quando entrevistou o juiz, o candidato Sérgio Moro. 

O juiz da causa, igualmente em campanha e adversário do réu, diz que não é bem assim e afirma: “O Lula não foi absolvido. Ninguém diz que ele é inocente. Na verdade, o que a gente está vendo é a anulação da condenação por corrupção, por motivos formais” e diz mais: “É aquela velha história, se você é rico e poderoso, a Justiça não chega pra você”. 

Ora, embora a preferência da Justiça pelas sentenças de condenação contra gente pobre e sem poder seja um fato percebido ou imaginado com justos motivos pelo povo, isso passa a ser um problema a mais para a sociedade, quando o fato é reconhecido por um ex-juiz criminal, com relação ao STF. Sim, porque foi da Suprema Corte a decisão de anular os processos contra Lula. 

Como primeira providência, numa atitude de respeito ao dinheiro do contribuinte, os agentes do Estado deveriam ser chamados ao pagamento dos prejuízos causados pela anulação dos processos. Quem errou ao julgar o réu ou quem anulou as sentenças. Numa democracia, os agentes do Estado devem satisfação ao povo e não estão livres para tomar decisões erradas e, depois, ligar o “dane-se” e cobrar a conta do povo.  

Lula e Moro são candidatos à Presidência da República e um magistrado do STF, no papel de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, presidirá e fiscalizará o pleito. Se a discussão entre Lula e Moro não for esclarecida pelos agentes do Estado que criaram o imbróglio, o povo brasileiro irá às urnas em outubro com o risco de eleger um presidente que cometeu crimes graves e não foi punido e, portanto, sem autoridade moral para conduzir os negócios da nação ou eleger um agente público que, por descuido ou incúria, lhe causou um enorme prejuízo. Isso não é bom. 

Aí eu volto à cantilena, para perguntar: Que raios de Estado é esse? Qual a qualidade dos seus agentes e até quando o contribuinte brasileiro pagará a conta salgada da ineficiência e dos abusos contra ele? 

Semana após semana, mesmo sabendo do perigo de ser considerado um chato, insisto que precisamos rever o modo como trabalham os agentes do Estado Brasileiro na sua relação com a sociedade. Se somos uma democracia de fato, aqui só o povo é soberano para cobrar a conta com o direito de decidir esclarecido. 

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

“Só o político pode salvar o economista”

Se você, nos últimos dias, ouviu Ciro Gomes, quando ele definiu o slogan “Rebeldia da Esperança” e leu ou ouviu as homenagens ao Leonel Brizola, quando o calendário marcou os 100 anos do nascimento dele, entenderá a importância desse artigo. 

A frase que eu uso como título forma a capa de um livro do economista Antônio Delfim Netto. A frase, a foto e o conteúdo compõem um conjunto criativo de comunicação para uma campanha eleitoral. Delfim Netto apresentava-se como candidato à Assembleia Nacional Constituinte e iniciava uma nova fase na vida, como representante do povo. Ele foi eleito cinco vezes deputado federal por São Paulo e perdeu na sexta tentativa, em 2006. 

O título de partida do livro sintetiza a causa da conversão à política de um economista, naquele tempo tachado pejorativamente de tecnocrata, Czar da Economia. A foto dele e o nome do Delfim somam-se ao título para passar a ideia de metamorfose de um ser tido como intelectual esnobe para um humilde político. 

O conteúdo, uma coletânea de textos da participação do autor em eventos e entrevistas, comprova que a conversão dele não parou na identidade, mas atingiu a personalidade por completo. De interventor rígido no mercado privado, criador de estatais e co-autor do AI-5, Antônio Delfim Netto se tornou um liberal. Certamente, ele cumpriu com invejável disciplina o conselho dado por Jesus Cristo a Nicodemos: “Para alcançar a vida eterna, é necessário vos nascer novamente”. 

E nasceu! Então, o título do livro merece um adendo para ficar desse modo: “Só o político pode salvar o economista… e um liberal salvar um político”. E eu argumento com algumas passagens. Vamos a elas: 

Faz parte do livro, uma entrevista que Delfim Netto concedeu ao jornalista Ancelmo Góes, publicada no Jornal do Brasil, no dia 27 de julho de 1986, tempo em que o Brasil era governado por Sarney, o cara que inventou o Plano Cruzado, se deu bem e ao desinventar se deu mal. Coisa típica de Estado interventor. Na entrevista, Delfim Netto critica o plano, comenta com ironia o empréstimo compulsório criado pelo governo para tomar o dinheiro dos consumidores de gasolina e, com fina ironia, deu uma aula, onde mostrou que os governos, quando se apropriam de 100 unidades monetárias do contribuinte fazem com que elas, rapidamente, se transformem em 65 ou menos. “Os governos tomam o povo como um conjunto de imbecis que precisam deles para não fazerem besteira com o próprio dinheiro”. 

Adiante, Delfim expôs as propostas que pretendia defender ao ser eleito: “Vou defender coisas antiquadas. Primeiro, a propriedade privada, não como direito natural, mas como a única forma que o ser humano encontrou para definir seus espaços de liberdade. Em segundo lugar, a economia de mercado. A sociedade centralizada é incorrigível, uma droga do princípio ao fim. Em terceiro, a redução do tamanho do Estado. Ele hoje é um razoável produtor de aço, mas um péssimo produtor de segurança. Produz alumínio com eficiência, mas produz mal saúde e educação”. Uau! Tão atual como o dia de hoje. 

O livrinho é muito bom. No penúltimo capítulo, reproduz um texto do autor publicado pela revista IstoÉ em fevereiro de 1977, ano em que Delfim foi Embaixador na França. Lembro-me que para lá ele foi com o desejo de ficar distante do Presidente Geisel, que tinha mais simpatia pela ironia sisuda do Mário Henrique Simonsen, do que pelo jeito expansivo do Delfim. 

O artigo, que tem o título sugestivo de “Liberdade e Democracia”, de onde eu retiro uma pequena passagem: “A experiência histórica mostra que toda centralização do poder econômico nas mãos do Estado acaba no exercício discricionário do poder… Quando o Estado detém o monopólio dos empregos; quando o Estado detém em suas mãos o poder de empregar ou desempregar e manter desempregado; quando o Estado detém em suas mãos o poder de selecionar à vontade e sem controle quem recebe e quem não recebe benesses financiadas com os recursos da sociedade; então não é possível pensar-se nem em igualdade nem em liberdade”. 

Com olho nesta lição do Professor Antônio Delfim Netto, ouvi atentamente Ciro Gomes e li as homenagens ao Brizola, de quem sente saudades dele. Ciro é a reencarnação do caudilho. O Rio de Janeiro, cidade e estado, carregam até hoje as marcas de um político que não foi salvo por um liberal. 

Boa semana para todos.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

A liberdade, substantivo feminino

O desejo de ser livre está presente na natureza do ser humano, no seu DNA desde a criação. Algo que nem Deus desrespeita. Ele acalma as tempestades, mas para levar Jonas a Nínive, precisou fazê-lo meditar no estômago de uma baleia até ser convencido, e para fazer de Saulo de Tarso, um apóstolo, precisou que ele criasse consciência da tirania dos romanos no apedrejamento de Estevão e caísse cego do cavalo no caminho para Damasco. 

Existem, contudo, os que querem ser mais do que Deus e por isso exigem a liberdade só pra si. A toma dos outros, porque a liberdade de todos tolhe o seu desejo de submeter os outros à sua vontade. Eis o sentido da tirania. O fato não seria um problema se o Estado não oferecesse aos autoritários os instrumentos de ação, porque eles ficariam só na vontade doentia de submeter os outros aos seus desejos, aos seus “instintos mais primitivos”. 

A História do Brasil, da derrubada da monarquia ao golpe de 64, tem exemplos de sobra de intervenção das forças armadas no processo político para ocupar o poder e de uso das polícias e de outros agentes públicos, para intimidar, prender e matar os recalcitrantes, aqueles que contrariam os tiranos. 

Então, no exercício da liberdade para escolher quem governa o Estado e quem o representa na elaboração das leis e dos orçamentos e quem, em nome dele exerce funções nos três poderes da república e fiscaliza o uso dos instrumentos de coerção que tem o Estado,  o povo precisa ter a garantia de que, no tempo certo e do modo certo, poderá substituí-los. A alternância no governo entrega o Estado ao seu legítimo dono, o povo. 

O voto é, portanto, um instrumento de garantia. Sabe-se, contudo, que os ditadores chegam ao poder pelos golpes, mas também pelo voto e nesta situação demoram bem mais para sair, porque o voto camufla a opressão com as vestimentas da legitimidade. Não precisamos viajar às eleições dos nazistas na Alemanha para confirmar o fato. Aqui mesmo, temos o exemplo de Vargas.  

Portanto, é algo indispensável, o ato de votar para escolher quem governará o Estado e o manterá como ente submisso à vontade do povo. Logo, para que a liberdade de toda uma Nação seja preservada e a democracia seja útil, o ato de conscientizar o povo para o valor da liberdade é essencial. 

Quem fará isso com mais propriedade? 

Na espécie humana, o gênero feminino entende melhor o conceito de direito, de liberdade e vida, pois, as mulheres, para conquistarem direitos semelhantes aos dos homens e terem liberdade, lutaram bem mais ao longo da história e ainda pelejam bastante. A melhor compreensão do valor da vida humana é delas por natureza, pois somente elas são capazes de gerá-la. 

Por suas qualidades, as mulheres tomam a iniciativa da luta pela liberdade e pela vida em todos os lugares do mundo, onde há tirania e opressão. 

Somos um povo que tem demonstrado medo de perder a democracia, principalmente, por sabê-la ainda não muito sólida. Então, deveríamos ter as mulheres mais presentes na política e no trabalho de conscientizar a nação sobre o valor que tem o voto como instrumento de prevenção e combate à tirania do Estado. 

Por onde elas deveriam entrar neste ambiente? Pelos partidos políticos. Eles, no entanto, entregues ao poder masculino, parecem não perceber isso ou não querer isso. É bom que queiram e é bom que percebam logo, porque está muito chato e perigoso ver a única porta de ingresso pelo voto no Estado Brasileiro fechada para quem, na espécie humana, conhece mais os estragos causados pela falta de liberdade.

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.
Foto: Tela ‘A liberdade guiando o povo’, de Eugène Delacroix (1789-1863)

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Será Jair? Será Luiz? Será Sérgio? Será Ciro?

O ano começou e, na velocidade com que os dias correm, logo chegará a hora de os eleitores avisarem à Justiça Eleitoral quem governará o Brasil. Ela, corajosa, assumiu por decisão de seus pares, a obrigação isolada de conhecer os resultados antes de todos e divulgar o nome do eleito. 

Dizem por aí que quem não quiser Jair Bolsonaro terá Lula ou Sérgio Moro. Assim como, quem não queira Lula, terá Bolsonaro, Moro ou Ciro.  

O jogo parece terminar aí por estratégia de comunicação dos candidatos. A estratégia de escolha por eliminação. 

Ora, se os candidatos têm uma estratégia para convencer os eleitores, os eleitores deveriam ter a deles para convencer os candidatos de que esse argumento não lhes é suficiente. Afinal há um país a ser governado no interesse de quem paga a conta. 

Quando se escolhe alguém para prestar um serviço, faz-se isso num processo de exclusão? Um advogado, por exemplo? Um dentista, um médico, um contador? Quando alguém delibera viver a vida com outro alguém, faz isso só para excluir as alternativas? Algo do tipo, não quero isso, então fico com aquilo? 

Se para outras decisões na vida, a simples exclusão de alternativas não é o melhor processo, por que adotá-lo na escolha de um presidente para o país? 

A pessoa escolhida terá o poder, antecipadamente conferido pelo povo, de atormentar ou facilitar a vida dele. Então, escolher um candidato pelo simples fato de ele prometer atormentar menos, não quer dizer que ele facilitará a vida de quem só quer ter a liberdade de cuidar de si, de seus negócios, de suas famílias. 

A primeira coisa inteligente a fazer quando se tem que escolher é conhecer todas as alternativas e analisá-las com cuidado. Avaliá-las corretamente com base nos desejos e expectativas que se tem para a escolha. 

Nenhum candidato a presidente, por mais experiência ou leitura que tenha, sabe o que o povo precisa obter de quem, por sua ordem e risco, governará o Brasil. Então, que ouça, que examine, que crie laços de confiança e conforto. 

Nós, brasileiros, conhecemos muito bem o resultado das escolhas por exclusão, por raiva e vingança. Já aprendemos que há vida e dia seguinte após o dia do troco. 

Como já sabemos de sobra, não vale o papo furado de um mandato de quatro ou de oito anos, porque os presidentes tomam decisões que podem durar mais tempo do que o tempo deles no governo. 

E tem mais: a abstenção, os votos nulo e branco, serão a estratégia da exclusão absoluta. Mas, esteja certo de que ninguém, rigorosamente, ninguém além de você mesmo sairá feliz do processo, porque esse tipo de voto – o “não voto”, vale zero na contagem. E como vale zero, o presidente será eleito sem que você tenha sido, pelo menos, considerado. 

A estratégia define os atributos positivos e negativos dos candidatos, mas como instrumento que desenha o futuro, porque as decisões estratégicas produzem resultados adiante e não no momento em que são definidas. 

Feliz 2022.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Papai Noel

Papai Noel entregou presentes e não precisou ele mesmo fazê-los. Alguém os fez por ele. Mas, para tê-los e entregá-los, ele os adquiriu de algum modo. Por compra ou doação. Nunca por roubo, porque diz a lenda que Papai Noel não rouba. 

Quem, então, fez os presentes que Papai Noel entregou? Alguém que paga impostos, que pode ter tomado três doses da vacina ou nenhuma. 

Certamente, alguém que trabalha e que quando não trabalha não ganha. 

Alguém que não conseguiria fazer o que faz com dois meses de férias por ano e mais recessos. 

É alguém que sabe o custo do que compra e o preço pelo qual deve vender o que produz, porque ao fazer as contas não poderá contar com a caridade ou o milagre operado pelo vizinho. 

Alguém que contrata quem pode pagar, porque se assim não for quem o ajuda não o ajudará mais. É alguém que sabe que Papai Noel pode escolher quem lhe dará os presentes que entregará. 

Papai Noel pechincha e para não pechinchar, o presente que busca será raro, mas não raro a ponto de o dinheiro que tem não possa pagar. 

Papai Noel adquire de dia e entrega à noite. Então, trabalha o tempo todo. Tem gente que aposta que Papai Noel trabalha poucos dias no ano. Mas, assim não é embora lhe pareça ser. 

Neste caso, Pirandello erra. Ora, se Papai Noel trabalhasse apenas um dia, uma semana ou um mês por ano, não teria como adquirir o que recebe para entregar. Concorda? 

Então, afirmo: Papai Noel entende a razão de o Estado existir e não para substituí-lo ou para concorrer com ele. 

Publicado em

A demagogia é ponto de encontro entre o réu e o juiz

Ano de 2003. Posse do Presidente Lula. Ele criou e anunciou o Programa Fome Zero, o publicitário Duda Mendonça criou a campanha e a Associação Brasileira de Agências de Publicidade pagou a conta do lançamento. O programa seria sustentado por doações feitas pelo número 0800 707 2003. Não preciso tomar o tempo de vocês para explicar o que aconteceu com o Programa, com Duda Mendonça e com as empresas de publicidade envolvidas com o governo. 

Quando ouvi o jingle de lançamento do programa, vi logo que alguma coisa não batia bem entre a letra e a ideologia do PT. O jingle serviria bem, muito bem mesmo, como um hino liberal. Transcrevo para argumentar, mas vocês podem encontrar a peça no youtube. Se quiserem, eis o endereço: https://youtu.be/I0vphplWlX8 

“Todo mundo tem direito de plantar; todo mundo tem direito de colher. Todo mundo tem direito de ganhar, pra todo mundo comer. Todo mundo tem direito de ensinar; todo mundo tem direito de aprender. Todo mundo tem direito a trabalhar, pra todo mundo ter direito de comer…”.

Os liberais entendem que é obrigação do Estado garantir os direitos que a sociedade conquistou e ela mesma estabeleceu nas leis que autoriza e chancela. E tais direitos estão acompanhados por deveres de cidadania.  

Os demagogos não. Para eles os direitos são concessões que o Estado faz por ser caridoso. Não deveres para todos. Para alguns, sim. Para os demais, privilégios e prerrogativas. Por isso, a campanha do Fome Zero baseou-se em doações, apesar do jingle que diz que o trabalho, o ensinar e aprender, o plantar e colher, resolvem a fome. 

A demagogia é uma estratégia de comunicação. Aristóteles, em sua obra “A Política”, define como adulação para conquistar o poder. E nenhuma outra necessidade humana é tão propícia para a demagogia como é a fome. Por isso, o Fome Zero do Lula ganhou corpo novo discurso do seu algoz, Sérgio Moro. Chama-se “Força-tarefa nacional para erradicação da pobreza”. Ele diz que será algo parecido com a operação Lava-Jato. Será criada uma Agência para erradicação da pobreza e farão parte dessa agência, “Os melhores entre os melhores da administração pública”. Dito por ele, pessoas que, certamente, serão escolhidas por ele e como são os melhores entre os melhores, serão gente que não é pobre. 

Moro se diz um liberal. Na JP News ele afirmou ser. Fez isso assim meio se defendendo, mas fez. Disse ele: “Na economia eu sou bastante claro…sou um liberal”. Bem, como ele é um liberal, poderia adotar o que ensina o jingle do Fome Zero. 

O melhor programa de erradicação da pobreza é a redução do Estado, para que seja possível reduzir os impostos, diminuir a burocracia e deixar que o povo trabalhe e se prepare da melhor forma para encontrar os melhores trabalhos. Com o Estado pagando auxílio-moradia para juízes que têm casa própria e cedendo dinheiro para os partidos pagarem salários para os seus candidatos, teremos pobreza por um bom tempo.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Rodrigo Pacheco e o “mínimo necessário”

Por mais que eu queira evitar o Estado Brasileiro como tema, menos consigo, estimulado por discursos vazios sobre o assunto, pronunciados por gente que é importante na política brasileira e poderá ser mais relevante ainda no futuro. 

Na quinta-feira (9/12), foi a vez do Senador Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado Federal e candidato a Presidente da República por vontade do PSD. Ele fez a abertura do Seminário “Para onde vai o Brasil”, promovido pelo Correio Braziliense. O Seminário ocupou mais de quatro horas do meu tempo, para ouvir considerações de técnicos e políticos sobre o que tem sido o ano e o que poderá ser o próximo. Evidentemente, sentiu-se o calor da campanha presidencial. 

O discurso do Senador Rodrigo Pacheco foi frio, confuso nos conceitos e mineiro demais ao citar os funcionários públicos no contexto em que citou a necessidade de uma reforma administrativa: “Que possa fazer com que o Estado, sem demonizar os funcionários públicos, tenha o tamanho do Estado necessário…”.

Depois disso, o Senador caminhou a trilha de considerações sobre o Estado Brasileiro que, segundo ele, não pode ser o Estado mínimo defendido por alguns, porque sendo mínimo, ele seria egoísta. 

“No Brasil de tantos déficits de inclusão, de educação, de todas as ordens”, disse, literalmente, o Senador, “Seria pensar que o Estado não participasse, por exemplo, de programas sociais para matar a fome, e a fome imediata das pessoas. Isso seria muito egoísta. Precisamos de um Estado necessário para fazer políticas públicas eficientes, priorizando as atividades fins, bem mais do que as atividades meio”. 

O Senador falou 20 minutos e antes de encerrar, pediu: “É fundamental não deixar de ter otimismo e entusiasmo com o Brasil e ter esperança”.  Sim, eu tenho e sou otimista. Mas, afinal, o que é um Estado necessário? Eu entendo, sem ser egoísta, que é o Estado mínimo, para se ter, por exemplo, o mínimo suficiente de funções e estruturas para garantir à população os serviços pelos quais ela paga regiamente. 

Outro exemplo de Estado mínimo necessário seria um Estado onde não se teria, por exemplo, três senadores para cada estado da federação e cada um com dois suplentes. Não bastariam dois por estado e suplentes seriam os que tiveram votos e não foram eleitos? Um bom começo, não?

Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

Publicado em

Marqueteiros e ilusionistas

Você é um bom profissional de marketing, de comunicação ou ilusionista?  Se for, estará pronto para o momento, porque está aberta a temporada de caça aos profissionais de campanha. 

A personalidade do candidato que bater à sua porta ou receber de você um convite, dirá que expertise você precisa ter para atendê-lo. Os ilusionistas são os profissionais mais bem pagos deste mercado, e são disputadíssimos. Afinal, numa campanha eleitoral nem tudo que é, pode parecer ser, sob pena de se perder o jogo. 

Há um tipo de candidato que precisa de alguém bom de marketing, para fazer com que o discurso dele (peça essencial numa campanha) caminhe com o gestual, a indumentária, a postura no palco dos debates e da imprensa. Esse candidato tem a necessidade de se converter numa boa embalagem para aquilo que será utilizado no processo de convencer o eleitor. 

O marketing numa eleição não é instrumento de venda, mas de convencimento do eleitor do valor de uma marca ou de um candidato. A embalagem acelera o processo. 

A pirâmide de Brand Dynamics é uma ferramenta para avaliação de uma marca e perseguição de um valor para ela. O relacionamento é o fundamento. Na base, está o fraco relacionamento e no vértice, o forte relacionamento. O desenrolar é feito com os conceitos de presença, relevância, desempenho, vantagem e vínculo. Adaptei à política, os conceitos da pirâmide para usá-la nos projetos de marketing eleitoral:  

  1. Relacionamento: É a relação do candidato com o eleitor.
  2. Presença. O que sei sobre o candidato?
  3. Relevância: O que o candidato me oferece? 
  4. Desempenho: O candidato entrega o que me promete? 
  5. Vantagem: O candidato me oferece algo mais que os demais? 
  6. Vínculo: Estou plenamente identificado com ele. 

Para conseguir escalar esta pirâmide é preciso tempo de convivência do candidato com o eleitor. Aqueles que conseguem mais tempo de exposição positiva levam vantagem. Os que correm o risco de exposição negativa, devem, de bom juízo, manter-se escondidos o maior tempo possível, porque a pirâmide pode ser invertida com os conceitos negativos.

A turma de comunicação é fundamental numa campanha e tem candidato que precisa mais dela do que de gente do marketing. São candidatos capazes de compor e organizar boas propostas, mas intérpretes ruins. Então, alguém precisa ajudá-los nos arranjos, para dar às peças de comunicação: melodia, harmonia, ritmo e cor, também. Neste último quesito, a turma do marketing entra em campo. O processo acontece como se o candidato estivesse ditando um livro para um escriba e o livro precisasse de ilustrações e uma boa capa. O escriba está na comunicação, o pessoal de marketing no resto. 

Chegamos agora aos ilusionistas. Estes são profissionais que cobram caro e merecem o que cobram, porque são comunicadores, marqueteiros e mágicos. Sem a mágica, o jogo deles perde a graça. Assim como os mágicos não servem para entreter quem conhece seus truques. 

Os ilusionistas gastaram tempo e dinheiro para aprender o dom de iludir o cérebro humano. E isso vale muito, gente. Os ilusionistas sabem como chamar a atenção dos eleitores para atos e fatos que tenham o propósito único de esconder outros fatos e atos que, não escondidos, comprometem o resultado do jogo. Os eleitores são levados a ver o que, na verdade, não estão vendo, porque o que estão a ver ou não existe ou existe de outra forma. 

As miragens são campo fora do jogo dos ilusionistas, porque elas podem ser reveladas, quando quem as vê se aproxima delas. Elas são fenômenos da física óptica criados pela diferença de velocidade que a luz adquire em ambientes de propagação diversos. Quando você, no deserto, vê um oásis e se aproxima dele, descobre que, na verdade, a velocidade diferente da luz criou na sua retina uma imagem duplicada e como há sede em você e você sabe que a água funciona como espelho, você acreditou que ali existia água. O bom ilusionista opera tendo o eleitor perto ou o eleitor longe, porque cria ficção. 

Deixei pro final a arte do estrategista, que numa campanha tem o papel de ler corretamente que tipos de candidatos se tem, onde eles são frágeis e fortes e como as forças deles podem ser transformadas em fraquezas ou as fraquezas em fortaleza. Os profissionais de marketing de comunicação e até os ilusionistas definem o candidato. O estrategista define os adversários para saber como eles poderão ser vencidos. 

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos