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A entrevista do André Ceciliano ao Magnavita

O presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, deputado estadual André Ceciliano, e o Governador do Estado, Cláudio Castro, andam se estranhando. É verdade isso? Quem sabe? A entrevista que Cláudio Magnavita fez com o deputado por quase uma hora levantou ou reforçou a questão. Magnavita tem senso de oportunidade aguçado e inteligência estratégica. Por isso,  a entrevista surgiu na véspera de uma votação na Alerj onde o racha entre o governador e o presidente da Alerj ficaria evidente. 

André Ceciliano quis conceder aumento para os policiais militares e bombeiros, mas o governador Cláudio Castro não concordou e vetou o projeto. Criou-se uma disputa, que o plenário da Assembleia Legislativa resolveu a favor do Governador. Os deputados estaduais do Rio de Janeiro contrariarem o presidente da Casa numa disputa com o governador não é fato natural. Cláudio Magnavita fez o registro: “até então (chegada do André Ceciliano na Presidência da Alerj), a assembleia tinha uma sucessão de presidentes que eram quase reis”. 

Disponível no Youtube, compartilhada no site do Diário do Rio e peça importante de análise para o ano em que haverá eleição para o governo do estado, a entrevista dá informações relevantes para uma análise.

Para inserir na conversa a história pessoal de sucesso e suas credenciais, André Ceciliano abriu a entrevista com um diagnóstico pautado em 2014. Desse modo, realçou os problemas financeiros do estado e chamou para si a solução, por ter enfrentado pautas impopulares na Alerj. Ele citou, ainda, a autoria do Fundo Soberano formado com recursos dos royalties, uma novidade para um estado de governos perdulários e deu lições para quem deseje estar na política – “todo mundo pode e deve estar”, disse ele, “só precisa ter a humildade do aprendizado”, concluiu. 

Nem a entrevista nem as críticas do deputado André Ceciliano ao governador são, contudo, elementos suficientes para afirmar que ele será candidato ao Governo do Estado. A entrevista só mostrou que André Ceciliano está preparado para a disputa e as críticas avisam que ele está contrariado. Tão somente. 

Para tais fatos serem transformados numa candidatura do André Ceciliano ao Governo do Estado, outros elementos precisam entrar em cena. Por exemplo, a conveniência política do Lula de ter um candidato com o perfil do Ceciliano no estado, a ponto de estimular o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes a participar da campanha do PT. 

No contexto, não se pode descartar um fator essencial de composição na política do estado, que é a criação de novas lideranças. Quem estará à frente disso? Certamente, tanto Eduardo Paes como Cláudio Castro e André Ceciliano buscam a posição, sendo que, por enquanto, Eduardo tem a vantagem de não estar, pessoalmente, na disputa. 

Afinal de contas, a conveniência política é um elemento essencial na organização de uma estratégia eleitoral. Que ninguém a dispense se quiser ter um mínimo de sorte nas previsões.

*Artigo publicado no Diário do Rio.

Por Jackson Vasconcelos

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Marqueteiros e ilusionistas

Você é um bom profissional de marketing, de comunicação ou ilusionista?  Se for, estará pronto para o momento, porque está aberta a temporada de caça aos profissionais de campanha. 

A personalidade do candidato que bater à sua porta ou receber de você um convite, dirá que expertise você precisa ter para atendê-lo. Os ilusionistas são os profissionais mais bem pagos deste mercado, e são disputadíssimos. Afinal, numa campanha eleitoral nem tudo que é, pode parecer ser, sob pena de se perder o jogo. 

Há um tipo de candidato que precisa de alguém bom de marketing, para fazer com que o discurso dele (peça essencial numa campanha) caminhe com o gestual, a indumentária, a postura no palco dos debates e da imprensa. Esse candidato tem a necessidade de se converter numa boa embalagem para aquilo que será utilizado no processo de convencer o eleitor. 

O marketing numa eleição não é instrumento de venda, mas de convencimento do eleitor do valor de uma marca ou de um candidato. A embalagem acelera o processo. 

A pirâmide de Brand Dynamics é uma ferramenta para avaliação de uma marca e perseguição de um valor para ela. O relacionamento é o fundamento. Na base, está o fraco relacionamento e no vértice, o forte relacionamento. O desenrolar é feito com os conceitos de presença, relevância, desempenho, vantagem e vínculo. Adaptei à política, os conceitos da pirâmide para usá-la nos projetos de marketing eleitoral:  

  1. Relacionamento: É a relação do candidato com o eleitor.
  2. Presença. O que sei sobre o candidato?
  3. Relevância: O que o candidato me oferece? 
  4. Desempenho: O candidato entrega o que me promete? 
  5. Vantagem: O candidato me oferece algo mais que os demais? 
  6. Vínculo: Estou plenamente identificado com ele. 

Para conseguir escalar esta pirâmide é preciso tempo de convivência do candidato com o eleitor. Aqueles que conseguem mais tempo de exposição positiva levam vantagem. Os que correm o risco de exposição negativa, devem, de bom juízo, manter-se escondidos o maior tempo possível, porque a pirâmide pode ser invertida com os conceitos negativos.

A turma de comunicação é fundamental numa campanha e tem candidato que precisa mais dela do que de gente do marketing. São candidatos capazes de compor e organizar boas propostas, mas intérpretes ruins. Então, alguém precisa ajudá-los nos arranjos, para dar às peças de comunicação: melodia, harmonia, ritmo e cor, também. Neste último quesito, a turma do marketing entra em campo. O processo acontece como se o candidato estivesse ditando um livro para um escriba e o livro precisasse de ilustrações e uma boa capa. O escriba está na comunicação, o pessoal de marketing no resto. 

Chegamos agora aos ilusionistas. Estes são profissionais que cobram caro e merecem o que cobram, porque são comunicadores, marqueteiros e mágicos. Sem a mágica, o jogo deles perde a graça. Assim como os mágicos não servem para entreter quem conhece seus truques. 

Os ilusionistas gastaram tempo e dinheiro para aprender o dom de iludir o cérebro humano. E isso vale muito, gente. Os ilusionistas sabem como chamar a atenção dos eleitores para atos e fatos que tenham o propósito único de esconder outros fatos e atos que, não escondidos, comprometem o resultado do jogo. Os eleitores são levados a ver o que, na verdade, não estão vendo, porque o que estão a ver ou não existe ou existe de outra forma. 

As miragens são campo fora do jogo dos ilusionistas, porque elas podem ser reveladas, quando quem as vê se aproxima delas. Elas são fenômenos da física óptica criados pela diferença de velocidade que a luz adquire em ambientes de propagação diversos. Quando você, no deserto, vê um oásis e se aproxima dele, descobre que, na verdade, a velocidade diferente da luz criou na sua retina uma imagem duplicada e como há sede em você e você sabe que a água funciona como espelho, você acreditou que ali existia água. O bom ilusionista opera tendo o eleitor perto ou o eleitor longe, porque cria ficção. 

Deixei pro final a arte do estrategista, que numa campanha tem o papel de ler corretamente que tipos de candidatos se tem, onde eles são frágeis e fortes e como as forças deles podem ser transformadas em fraquezas ou as fraquezas em fortaleza. Os profissionais de marketing de comunicação e até os ilusionistas definem o candidato. O estrategista define os adversários para saber como eles poderão ser vencidos. 

Boa semana para todos. 

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos

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O discurso arrumado do Sérgio Moro

Para quem dedica seu tempo às campanhas eleitorais – meu caso – o discurso do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro foi um fato relevante. Nele vi o reflexo de uma equipe de profissionais instruídos na escola americana de formar líderes políticos. Mas, sem dúvida, pessoas ainda não totalmente prontas para o ofício ou gente que carrega um candidato difícil de treinar. Afinal de contas, não se encontra um Kennedy ou um Obama em qualquer esquina do mundo. 

Por conta dessa consideração, obrigo-me a iniciar minha leitura pela imagem do ambiente, da plateia e do orador. O ambiente teve a intenção de tirar as cores da bandeira e a própria bandeira nacional das mãos do adversário Jair Bolsonaro. Coisa bem bolada, porque o outro adversário já não poderia mais fazê-lo. Neste ponto, já se anuncia a estratégia de substituir Jair Bolsonaro na disputa com Lula. O discurso, na íntegra, mostrou o propósito. Comentarei adiante. 

A plateia estava bem posicionada e organizada de forma que os treinados puxadores de aplausos ficassem bem colocados e com conhecimento dos movimentos do maestro orador, Sérgio Moro. Embora ele não estivesse confortável com as pausas para aplauso, a plateia treinada entendia o recado. 

O orador, vestido com trajes de um dedicado servidor público ao fim de um dia cansativo de trabalho, funcionou como um robô com pilhas fracas, que fizeram com que, algumas vezes, os braços e as mãos dele não acompanhassem a voz e os olhares para os teleprompters posicionados nas laterais, se perdessem um pouco. As frases de efeito, do tipo, “nenhum cargo vale a alma”, ou “continuar como ministro seria apenas uma farsa” ou, ainda, “tenho família para cuidar”, e mais, “Há brasileiros passando fome. Isso dói em todos nós”, surgiram no texto sem a alma do orador. Deu pro gasto. 

Bem, sigamos para o texto, que buscou, como iniciei dizer, bater forte no Lula e no PT para ocupar o lugar ocupado até aqui pelo adversário Bolsonaro. E fazendo isso, cutucando alguns eleitores do Lula. Uma estratégia que confirma o que eu tenho dito à exaustão: não há terceira via. Quem quiser vencer a eleição presidencial, que ocupe um dos pólos, porque não há eleição em três turnos. 

Sérgio Moro está treinado para expulsar Bolsonaro e buscar os eleitores dele, os atuais e os aborrecidos. Para alcançar o objetivo na arrancada, ele ridicularizou o chavão que marcou os discursos do Lula na presidência: “Nunca antes na história deste país”. Sérgio Moro fez uso dele para referir-se aos saques à Petrobrás, mas criou para si algo bem parecido quando, referindo-se a si próprio declarou: “Ninguém combateu o crime organizado de forma mais vigorosa do que o Ministério da Justiça na nossa gestão”. Eita! 

A leitura do currículo pessoal não dispensou a vaidade e o voluntarismo. Os plurais foram os da “modéstia”, aqueles utilizados pelos arrogantes para uso da imagem de modestos. O “nós”, sem a identificação do outro, quer dizer “eu”. Simples assim. 

Enfim, nada de novo no discurso, nada de novo na apresentação, nada de novo que possa interessar a quem, de fato, acredite que o Estado Brasileiro precisa mudar a ponto de levar seus agentes à compreensão de que não prestam favores nem merecem cultos à própria personalidade. O Estado e seus agentes existem para garantir os direitos que a cidadania por si própria conquistou. 

Boa semana para todos. 

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João versus Amoêdo

Quando eu já tinha quase pronto o artigo da semana, onde comentava a qualidade do Senado Federal, por mim classificado como o pior da história, recebi do bom amigo, Fred Luz, uma indicação: a entrevista que João Amoêdo concedeu ao Renan Santos, do Movimento Brasil Livre, MBL. Parei para assistir e mudei o rumo da prosa. Deixei para a próxima semana as minhas considerações sobre o Senado Federal, representado hoje, na mente brasileira, pela CPI da Pandemia. 

Sobre o Senado Federal, inspirou-me um texto do ex-senador Jarbas Passarinho, falecido em 2016, “Nem Pizza, nem guilhotina”, que ele escreveu em razão da CPI do Orçamento, presidida por ele em 1994. Um primor de texto, ao qual voltarei na próxima semana. 

Sigamos, rumo à entrevista do João Amoêdo. É longa, com mais de uma hora e meia de duração, mas por conta do entrevistador. Renan Santos fala muito, questiona pouco, estica demais a conversa. Deve ter ocupado mais o tempo da audiência do que o próprio João Amoêdo. 

O Brasil precisa de um liberal na presidência, uma experiência que seria, sem dúvida, sadia, para uma nação que desde a proclamação da república sobrevive com dificuldade às atitudes e decisões de um Estado preguiçoso, desonesto, corporativista e caro. João Amoêdo é o candidato a presidente mais preparado e toca isolado no campo liberal. 

O problema que vejo no João é a dificuldade que ele tem para compreender que entre ele e a cadeira presidencial existe um evento indispensável: a campanha eleitoral. João parece não gostar disso. 

Ele está certo, por exemplo, quando diz na entrevista que é fundamental partir com o apoio integral e incontestável do partido, mas não tem a paciência necessária para construir esse caminho. A impaciência dele o fez ouvir calado as estocadas do entrevistador no governador Zema, único governador liberal e do Partido Novo. 

Dias antes da entrevista, João Amoêdo chegou a propor o Zema como candidato e até perdoou o governador por não ter efetivado um programa amplo de privatizações. João deve ter mudado de opinião, quando o governador se juntou à bancada federal do Novo para dar apoio a outro candidato à presidência e não ao João. 

Ora, gente, uma campanha eleitoral é um processo de convencimento que caminha do núcleo para fora, como acontece quando uma pedra cai na água. A comunicação de convencimento não dá saltos. Sem seus discípulos e apóstolos, Cristo teria ficado em Jerusalém. Os discípulos fizeram os apóstolos e eles o crescimento da Igreja. 

Outras questões me chamaram a atenção na entrevista. Uma, a ideia de João ser o candidato contra Lula e Bolsonaro. Não é por aí. João é o melhor candidato e até agora o único com possibilidades reais de substituir o Bolsonaro na polarização. Ciro que cuide do Lula, para substituí-lo no jogo. 

Essa turma que lida com campanhas eleitorais criou uma tal “terceira via”. Existem os terceiro, quarto, quinto ou sexto candidato. Até aqui, Lula e Bolsonaro são os candidatos a substituir. E, pensem comigo se não tenho razão: João terá mais oportunidades se enfrentar o Lula no lugar de enfrentar o Ciro, que atende a todos os vícios de um povo acostumado, por ignorar os liberais, a ser explorado pelos agentes do Estado. 

Outra e última questão, para não abusar do tempo. João elogiou a resolução e inteligência estratégica do Ciro, deixando claro que o seu projeto para o Brasil é diferente do dele. Perfeito, João! 

Contudo, se João deseja mesmo ser presidente, precisa imitar o Ciro, o Lula, o Bolsonaro em determinação e demonstração da vontade de querer ser. A imposição é improdutiva num projeto que requer a motivação de todos. Campanha é paixão. 

A entrevista do João ao Renan deveria ser revista pelo Amoêdo numa autocrítica, porque se João vencer o Amoedo na largada, teremos um liberal na Presidência da República em 23, sem dúvida. 

Encerro indicando para vocês outra entrevista do João Amoedo, no GPS Político. Também é muito bom. Gabriela comanda o programa e todas as entrevistas dela, ela abre com uma régua, onde o entrevistador tenta encontrar o seu ponto ideológico. João Amoêdo encontrou-se como conservador liberal, à esquerda estão colocados os neoliberais e à direita, a extrema direita”.  Onde estará o verdadeiro adversário do João? A régua do programa tem extrema esquerda, social democrata, liberal democrata, neoliberal, conservadores liberais e extrema direita. Façam suas apostas!

*Artigo publicado no Boletim da Liberdade.

Por Jackson Vasconcelos