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LULA x JAIR

O Datafolha publicou mais uma pesquisa para a disputa pela Presidência da República. Destacam-se Lula e Jair Bolsonaro. Não sou adepto de analisar pesquisas para eleições distantes do momento em que eleitor entra no ambiente, pois elas pouco dizem sobre o que acontecerá na época da disputa para valer. Mas, em se tratando de Lula e Jair, quero a oportunidade para colocar um tema à reflexão. A democracia.

O que seria o governo do Jair Bolsonaro, um reacionário, que tem a simpatia das Forças Armadas, numa época em que tem gente do povo – e não pouca gente – a pedir que os generais voltem a cuidar da política? Vale o risco de se ter no Brasil um Hugo Chavez?

Outro exercício bom será imaginar o que seria o governo – o terceiro – do Lula, um sujeito que se acredita credor da morte da esposa e de injustiças cometidas contra ele e contra o partido dele.

Sobre Bolsonaro, podemos dizer que ele fará exatamente aquilo que se espera dele. Será um presidente reacionário que, em todas as vezes que for contrariado, correrá para os amigos de farda. Já sobre Lula, nada podemos dizer, porque dele pode-se esperar tudo. Ele pode até ser o presidente que deixará o passado no passado. Quem sabe?

Boa notícia nesse momento é que as pesquisas feitas agora de nada valem para definir a disputa. Tudo mudará quando o povo entrar em campo, pra melhor ou pior. Mas, certamente, mudará.

Quem decide eleições são campanhas. Enquanto elas não começam, cada um pode dar o palpite que quiser.

Por Jackson Vasconcelos

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Roberto e Cássio

Li  o livro “Roberto Jefferson, o homem que abalou a República”, do jornalista Cássio Bruno. Li num salto só. Expectador privilegiado, passei por quase todos os episódios citados pelo Cássio. Gostei da obra. Ela é bem escrita. Em algumas passagens detalha demais, impressão talvez só para os que, como eu, acompanharam boa parte das cenas e das histórias relatadas na época em que ocorreram. Mas, são informações consistentes e, certamente, necessárias para os menos informados.   

Cássio passeia por algumas CPIs por onde andou o ex-deputado Roberto Jefferson. Nenhuma CPI, no entanto, teve significado maior para as decisões que tiraram o mandato e prenderam o personagem de Cássio Bruno, do que a CPMI dos Correios.

Embora outra recebesse o apelido de “CPI do Fim do Mundo”, a CPMI dos Correios deu o tranco na política que empurra o processo até hoje, Lava-Jato a dentro.     

Outra qualidade da obra é a proeminência da veia de pesquisador como qualidade adicional de alguém tido por mim por muito tempo só como excepcional jornalista.

Cássio Bruno construiu uma linha histórica impecável, sem deixar passar para as letras a sua opinião a respeito do personagem, atitude difícil para os jornalistas-repórteres, principalmente nestes tempos de repórteres de forte ideologia.  

Os depoimentos e documentos mostrados no livro prestam um serviço à história do Brasil, porque não deixam dúvidas sobre o papel do ex-deputado Roberto Jefferson na política desde o momento em que nela ingressou e nos episódios mais intensos que relata. Ele não é e nunca foi herói. Esteve sempre como aproveitador das janelas que a política oferecia para a carreira política pessoal.

As denúncias dele sobre o governo do PT não foram atos de patriotismo nem de preocupação com o Brasil ou com o combate à corrupção. Muito menos, atitudes de coragem. Elas alimentaram-se numa briga pela partilha do dinheiro público, para financiar interesses privados.

Contrariado na briga pelos interesses próprios, Jefferson reagiu. Achou que não precisaria ir muito longe até que o governo cedesse. Contudo, o governo não cedeu, porque tinha propósitos de caráter idêntico. Jefferson e governo não perceberam que já estava em andamento, na sociedade, um processo de mudança, de perda e substituição das penas como acontece com as aves. Um e outro quebraram a cara.   

Cássio Bruno, para entregar aos leitores um retrato de corpo inteiro dos meios e modos adotados pela política nacional, um retrato ainda não apagado totalmente, usou como roteiro a história de um personagem que se tornou nacional.  

No livro estão expostas as feridas de um sistema que não são exclusivamente do Congresso Nacional. Estão nos partidos, que não se importam de acomodarem bandidos condenados, e na legislação penal, que, como mágica, faz uma sentença de sete anos ser dada por cumprida em apenas dois anos e pouco mais.

No capítulo final do livro, “Final Feliz”, Jefferson na saída do presídio declarou: “Está paga. Está paga. Está paga a pena”. Brota das letras algo como “Saiu barato”.

Renato Russo seria um excepcional prefaciador do livro do Cássio Bruno, para nos dar alguma esperança de, mesmo com as resistências de um sistema político completamente corrompido, acreditarmos num amanhã melhor:

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem

Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Por Jackson Vasconcelos

Foto: Alessandro Costa

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É possível um Macron brasileiro?

A VEJA na edição de 8 de novembro apresentou Guillaume Liegey ao Brasil, estrategista de campanha do Presidente da França, Emmanuel Macron. Eu já deveria ter comentado. Mas, antes tarde que nunca. Estou atrasado, porque o esforço de sobrevivência toma tempo, no mais das vezes, tempo que eu gostaria de gastar escrevendo.

VEJA deu título à uma afirmativa: “É possível um Macron brasileiro”. De fato é, mas não só pelos motivos todos que Liegey indicou na entrevista. Ele fala de uma campanha feita de casa em casa, por voluntários, lembra que fazer isso no Brasil não é fácil, pela dimensão do país e pela desigualdade social. Mas, indica a possibilidade de se criar um sistema em que se possam ouvir as pessoas, levando em conta a opinião delas na hora de fazer campanha.

Liegey caminhou um pouco mais e entrou no campo delicado no Brasil, do financiamento das campanhas e voltou aos voluntários, para se ter as pessoas físicas financiando campanhas. Depois discorreu sobre candidaturas extremistas e populistas para dizer que não há vacinas contra elas. Perguntado sobre a vacina aplicada pelo Macron, Liegey afirmou: “Macron entendeu que a oportunidade para uma visão moderada se abria e juntou um pequeno time que, até então, ninguém julgava capaz de crescer a ponto de chegar à Presidência em um ano. Usamos a tecnologia e a abordagem de porta em porta de forma eficiente”, e completou:

“Na vitória de Macron, talvez tenha sido exatamente isso que o colocou em primeiro e não em segundo lugar…”.

Corri a entrevista completa, que termina com o aproveitamento do espaço por Liegey, para avisar aos candidatos no Brasil que ele está disponível e com um case de sucesso no currículo. Mas, não encontrei o principal motivo da vitória do Macron: a saída de seu principal adversário do páreo. Fillion chegou a ser o favorito com uma distância grande do segundo colocado, mas decepcionou o eleitor com uma atitude que se chocou com a imagem vendida por ele.

Sobre o derretimento de Fillion, comentei num post publicado no dia 5 de fevereiro, com o título “Não me engane, eu não gosto”. https://www.aquitudoepolitica.com.br/nao-me-engane-eu-nao-gosto/
Volto, então, à manchete da entrevista da VEJA com Liegey: “É possível um Macron Brasileiro”. De fato é, porque o que não falta por aqui é político parecido com Fillion, que pode ser desmascarado a qualquer momento.

Por Jackson Vasconcelos

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“Eleições na era da mentira”

Eleições são resultados de campanhas, que deveriam ter liberdade de expressão. No Brasil, não têm, porque a Justiça Eleitoral, invenção nacional, castra a liberdade dos candidatos com base numa legislação confusa e paranóica, interpretada com absoluta casualidade pelos juízes.

A revista Época comentou sobre mentiras e eleições, o estudo “Eleições 2018 – Perspectivas da comunicação organizacional”, do professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Paulo Nassar e do Diretor-Geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Hamilton dos Santos. Em pauta a disputa entre mídias digitais e imprensa tradicional frente às notícias falsas, “fakes news”, algo que se deseja vender como novo, como modismo do século XXI.

Mas, desde sempre há mentiras nas campanhas, nas eleições na imprensa. Mentiras que produzem votos e resultados. A causa disso? É simples. O ser humano. Somos, por natureza, amantes da mentira, das fantasias, dos causos.

Façamos uma visita à obra de Lira Neto sobre Getúlio. São três volumes. Neles há, de sobra, exemplos de mentiras, campanhas e imprensa nisso tudo. Busquemos dois casos situados no terceiro volume. Um sobre Getúlio e outro sobre a famosa história do candidato Eduardo Gomes, o Brigadeiro, que deu nome ao doce. Eleições presidenciais de 1945. Em termos literais:

“O nível do debate político despencou alguns degraus quando os partidários de Eduardo Gomes começaram a protestar contra o lançamento da candidatura de Getúlio Vargas à Constituinte. Os jornais do Rio de Janeiro chegaram a anunciar, em manchete, que o ex-presidente seria chamado a depor, como réu, no Tribunal de Nuremberg – o conselho internacional então recém-criado pelas potências aliadas para julgar os nazifascistas denunciados como criminosos de guerra. Quando o porta-voz da representação britânica contradisse a informação em Londres, o desmentido foi publicado em notinhas tímidas nas páginas internas: “Não foi denunciado o ex-presidente Vargas”, corrigiu-se A Manhã, em notícia de apenas sete linhas”.

Eduardo Gomes e os marmiteiros.

“Para se contrapor à artilharia, Hugo Borghi, aliado de Getúlio, voltou à cena, dessa vez para criar um factóide que entraria para os anais do folclore político nacional. Em discurso realizado no elegante Teatro Municipal do Rio de Janeiro, falando para uma seleta platéia de encasacados, Eduardo Gomes afirmara que, para se eleger presidente da República, não precisaria contar com os votos “desta malta de desocupados que andam por aí”, referindo-se aos getulistas de todos os matizes. Borghi consultou os verbetes do Novo dicionário da língua portuguesas do filólogo Cândido Figueiredo e constatou que o termo “malta” era sinônimo de Reunião de gente de baixa condição. Súcia. Caterva. Reunião de trabalhadores, que se transportam juntamente, de um para outro lugar, em procura de trabalhos agrícolas”. Borghi, que era dono de várias emissoras de rádio, passou a propagar nos seus microfones a versão de que o brigadeiro teria dito não precisar do voto dos “marmiteiros” – ou seja, dos operários e trabalhadores”.

“Mar-mi-tei-ros? Mas o que é isso?”, estranhou Eduardo Gomes quando um jornalista lhe telefonou para saber se confirmava o teor da declaração. “Quem pode crer em semelhante tolice?”, se perguntou Eduardo Gomes.

Carlos Lacerda, que sabia como ninguém o poder de uma potoca bem contada, procurou Eduardo Gomes para convencê-lo a tentar minar o boato ainda no nascedouro:

Brigadeiro, o senhor tem que fazer um novo discurso, hoje, desmentindo essa história. Mas, veja bem, tem que ser hoje!”.

– Procure o Prado Kelly, converse com ele. Encaminhou, Eduardo Gomes o assunto para um dos seus coordenadores de campanha, o jurista Eduardo Prado Kelly.

Alertado, Prado Kelly, respondeu:

– Mas, Carlos, isso não tem nenhuma importância. O povo não vai acreditar nisso…Imagine!

Carlos Lacerda retrucou:

– Kelly, você não sabe o que é o poder do rádio; o que é o poder da comunicação!

Não convencido, Carlos Lacerda foi ao articulador da campanha, José Américo de Almeida, que respondeu:

– Realmente, isso é grave. Mas já está marcado outro comício no largo da Carioca, daqui a alguns dias. Lá eu respondo isso. Lá, eu acabo com isso de uma vez por todas.

Carlos Lacerda ponderou:

– Dr. José Américo, daqui a alguns dias o Brasil inteiro estará convencido de que essa história é verdadeira.

Uma excepcional história para mostrar que essa coisa de mentiras, campanhas e eleições não é nova. A novidade é a substituição do boato no pé do ouvido pelo boato no dedo de teclar.

No caso do Eduardo Gomes, não deu outra. Poucas horas após os alertas não correspondidos de Carlos Lacerda, “marmiteiro” virou bordão nacional e deu origem a um personagem de charges políticas, o Zé Marmiteiro, do cartunista José Nelo Lorenzon.  Até marchinha de carnaval surgiu com a história do marmiteiro. E as chances do Eduardo Gomes foram par ao vinagre.

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Parlamento Voto Zero

Gilmar Mendes e Luiz Roberto Barroso, ministros do Supremo Tribunal Federal enfrentaram-se no plenário do Tribunal desta quinta-feira, 26. O teor do embate não foram teses jurídicas nem conteúdos de processos. Os ministros fizeram acusações mútuas, ferinas, audaciosas, irônicas, coisa comum aos parlamentos e nunca aos tribunais.

Tomei conhecimento do acontecido ao assistir o Jornal das Dez da Globonews, onde Lobo, Camarote e Lo Prete, assumem posição também parlamentar, de oposição ao governo, ao Presidente da República e aos políticos da situação.

Minha conclusão: essa gente que diz detestar a política e os parlamentos, na verdade, tem dor de cotovelo e usa a visibilidade para cumprir o papel que cabe melhor aos políticos de profissão.

Abaixo, a discussão entre os dois ministros:


Por Jackson Vasconcelos

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Que Raios de Eleição é Essa?

SINOPSE:

Collor e Dilma deveriam ser motivos suficientes para reprovar de vez o marketing eleitoral como instrumento para vencer eleições. O consultor de campanhas eleitorais Jackson Vasconcelos expõe de forma bem-humorada o enredo de algumas importantes campanhas e demonstra que a estratégia é elemento imprescindível para a composição dos resultados eleitorais. O autor critica e desmistifica o papel do marketing em campanha eleitoral. Este livro é uma ferramenta muito útil para os profissionais que atuam direta ou indiretamente com eleições e política. Entretanto, este livro é imprescindível para o eleitor que deseja se informar melhor sobre as práticas nas campanhas eleitorais, para que, desta forma, consiga identificar o candidato que realmente mereça seu voto.

DADOS

Editora: Livros Ilimitados
Título: QUE RAIOS DE ELEIÇAO E ESSA?: COMO SAO AS ESTRATEGIAS NA POLITICA E OS BASTIDORES DE CAMPANHAS ELEITORAIS
ISBN: 9788563194732
Páginas: 178
Ano de edição: 2017

VENDA

Livraria da Travessa

Livraria Saraiva

Livraria Cultura

 

 

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“Não há regra na eleição americana”

“Não há regra na eleição americana”, traduziu Camila Zarur, das palavras que ouviu do correspondente da revista “The New Yorker”, Ryan Lizza. A entrevista está na página 2 do O Globo de quarta-feira, 18 de outubro.

Ryan faz considerações sobre a campanha e eleição de Donald Trump. Ele mostra que resultado inesperado derrubou um velho costume, uma regra, das eleições americanas. Daí, a manchete.

Diz ele: “Em geral, o que acontecia era que candidatos como Trump nunca iam muito longe. Eles podiam até ganhar força e conquistar o coração de uma parte do partido durante as primárias. Mas, em algum ponto, não aguentavam a pressão e sumiam”.

Pode ser, mas, a eleição do Trump, se derrubou uma antiga regra as campanhas eleitorais americanas, confirmou uma antiga norma essencial para estabelecer a estratégia, que vale para qualquer eleição em qualquer lugar do mundo: nunca subestime ou superestime os adversários.

A íntegra da entrevista com Ryan está AQUI. No meu canal do youtube, e abaixo, compartilho vídeos sobre o tema.

Por Jackson Vasconcelos

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Rousseau deu o toque!

Quero ficar no campo da comunicação política, mas gastemos um pedacinho de tempo com a filosofia, com a ciência política, para fazer um paralelo com o tema que desejo enfrentar. Jean Jacques Rousseau escreveu o Contrato Social. Para ele, as vontades individuais, os desejos de cada indivíduo, se somam e estão sintetizados numa “vontade geral”. Essa “vontade geral” subordina as vontades individuais. O conceito de “vontade geral” é soberano e, por isso, pode invadir a liberdade de cada um de nós. A “vontade geral” desconhece a vontade individual, das minorias, por exemplo. Hayek discordou. Chamou a Vontade Geral de fraude intelectual.

A comunicação política pode se servir do conceito de “vontade geral”. Quando um candidato busca o voto, ele precisa encontrar um ponto no discurso, que sintetize o desejo de todos os eleitores. Não é exercício fácil. Imagine o trabalho que é convencer, por exemplo, 20, 30, 50, 100 mil eleitores, que vivem vidas diferentes, enfrentam problemas semelhantes, mas nunca iguais.

E quando se está diante de milhões de eleitores? O que pensa cada um? Qual a vontade de cada um? Que discurso cada um está disposto a ouvir e “comprar”?

Por Jackson Vasconcelos

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Senado 1 x 0 Supremo

O Plenário do Supremo Tribunal Federal informou ao distinto público que ele, Supremo, está obrigado a cumprir a Constituição. Nossa! Para chegar a esta brilhante conclusão, os 11 ministros gastaram horas com a leitura de votos e queimaram, certamente, uma fortuna, com papel, conta de luz, funcionários e outros apetrechos.

Na pauta, a decisão de uma das turmas do mesmo Supremo, que afastou o Senador Aécio Neves do mandato e obrigou-o a ficar em casa à noite. Não há na Constituição, em nenhum canto dela, a previsão de suspensão de mandatos. Há sim, perda e esta é decidida pelo plenário do Senado. Prisão, só em flagrante de crime sem fiança e mesmo assim, o Senado será avisado no prazo de 24 horas para decidir se a prisão deve ou não persistir. Parágrafo 2° do artigo 53.

Dizer que proibir alguém de sair de casa à noite não é uma sentença…Brincadeira!  Mas, mesmo assim, a votação da medida terminou empate: 5 votos pela competência do Supremo para cassar temporariamente mandatos e prender e 5 votos contra. No empate, a Presidente do Supremo, Ministra Cármen Lúcia desempata.

Ela, então, começou a votar. Voto de Ministro do Supremo nunca é sim ou não, pode ou não pode. É longo, cheio de fraseados e citações, com vocábulos complicados. Cármen Lúcia é mineira e o voto dela estava cheio de mineirices. Uma hora ela seguia na direção do relator, Ministro Fachin, que defende que o Supremo pode tudo, por isso, chama Supremo, assim como Deus. Quando chegou pertinho do voto do Ministro Fachin, Cármen Lúcia fez meia volta, assim meio acanhada, e foi na direção dos Ministros que entendem que Supremo ou Suprema é só a Constituição. Cármen foi, voltou, foi, novamente, e pimpa, declarou o voto na Constituição.

O Ministro Fachin percebeu que Cármen quis votar assim meio escondida. Então, pediu esclarecimentos sobre o voto dela. Algo como: “Presidente, não entendi muito bem. A senhora é contra ou a favor do meu voto?”. Cármen, ainda encabulada, reafirmou a submissão à Constituição.

Antes da sessão, a imprensa levantou uma questão: O Senado pode se insubordinar contra uma decisão do Supremo? Os jornalistas forçaram a barra.

Só posso considerar uma insubordinação o fato de não atender à ordem de alguém ou de alguma instituição à qual estou subordinado. O Senado está subordinado ao Supremo? É isso? A Constituição responde quando diz que só o Senado pode processar e julgar os Ministros do Supremo, Artigo 52 II. Então, não há relação de subordinação. Mas, diz também que cabe ao Supremo processar e julgar os Senadores. Parágrafo Único do Artigo 101. Jogo empatado.

O desempate favorece o Senado, quando a Constituição diz que cabe ao Senado aprovar por maioria absoluta a indicação dos Ministros do Supremo pelo Presidente da República. Senadores que nomeiam, processam e julgam Ministros do Supremo, por óbvio não estão subordinados aos Ministros.

Contudo, não precisaríamos caminhar tanto para chegar à conclusão que o Supremo, por 6 a 5, chegou com dificuldade. Por burrice ou má intenção. O artigo 2° da Constituição diz de forma curta, direta e grossa: “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Os 11 capas-pretas poderiam ter gasto a longa sessão da semana para cassar a liminar concedida pelo Ministro Fux, que é um deles, que mantém incólume o auxílio-moradia para juízes, decisão que custa ao contribuinte brasileiro, R$ 1 bilhão por ano. Mas, pra economizar nosso dinheiro, os capas-preta não têm tempo.

Por Jackson Vasconcelos