
Autor Jackson Vasconcelos – 16 de maio de 2025
Desde o prefácio, assinado pelo Fernando Luiz Abrucio. Do início ao fim, o livro “Voto a Voto. Os cinco principais motivos que levaram Bolsonaro a perder (por pouco) a reeleição” é um libelo contra Jair Bolsonaro. Uma obra que dissimula a verdadeira intenção de seus autores.
Eu tomei conhecimento do livro, no podcast “Club in Exame Invest”, quando um dos autores, Maurício Moura, foi entrevistado. Do podcast eu até gostei. Mauricio falou sobre política e mercado. Do livro, que é bem elaborado e bem organizado, eu não gostei, pois ele promete o que não entrega. Diz ser uma análise isenta, quando não é, apesar de os autores, Maria Carolina Trevisan e Maurício Moura afirmarem, “este livro também não representa nenhum lado envolvido na disputa. Em tempos de polarização eleitoral, tentamos compartilhar da melhor forma possível a nossa leitura sobre os acontecimentos de 2022. Nosso critério foi apostar na observação de dados e de fatos e evitar embarcar em interpretações político-partidárias”.
Durante a leitura, encontrei Jair Bolsonaro qualificado como “o incumbente” (o caído) e reli várias vezes o mantra: “Único candidato à reeleição presidencial que perdeu o pleito”, um jeito de dizer que Jair Bolsonaro é ruim quando comparado com Fernando Henrique, Lula e Dilma. Com relação a Fernando Henrique, até pode ser. No mais…
Numa das passagens, Maria Carolina e Maurício Moura reforçam o conceito com uma declaração do cientista político Carlos Melo, do Insper: “Foi quase um milagre Bolsonaro ter perdido a reeleição”. Ora, milagre é intervenção divina em favor do ser humano. Ou seja: “Graças a Deus ele perdeu” é exatamente o que Carlos Melo quis dizer.
Os autores atribuem a derrota de Bolsonaro à maneira como ele encarou a pandemia, a economia e ao jeito deseducado e preconceituoso como ele trata as mulheres e os pobres. No entanto, Luiz Henrique Mandetta, o Ministro da Saúde saudado pelos autores por ter contestado Bolsonaro na pandemia, perdeu eleição para o senado, na disputa contra uma mulher, Teresa Cristina, que tinha sido Ministra da Agricultura de Bolsonaro. Há também, no quesito pandemia, a eleição do General Pazuello para a Câmara dos Deputados, na posição de segundo mais votado no Estado do Rio de Janeiro. O General é duramente criticado no livro por ter-se alinhado com Bolsonaro, enquanto Ministro da Saúde.
Também eu não gostei nada, nada, do modo como Jair Bolsonaro, na Presidência da República, lidou com a pandemia. Ele e Donald Trump entraram em pânico, pois vinham com a certeza de que o bom resultado obtido pela economia dos dois países, antes da pandemia, lhes garantiria a reeleição. Perderam a aposta. A política é assim.
Contudo, Donald Trump voltou à Presidência por decisão do povo americano. Jamais saberemos se o mesmo ocorreria com Jair Bolsonaro, pois por aqui o povo não poderá opinar.
O livro é rico em comparações entre os resultados eleitorais ocorridos nas eleições no Brasil, em diversos países da América Latina e Europa, com destaque para as eleições na Espanha. Há também um conjunto de dados consolidados em gráficos e reservou-se um lugar para considerações sobre Donald Trump. Tudo isso, porém com o objetivo de reforçar a imagem negativa de Jair Bolsonaro.
Ocorre que os dados oferecidos mostram que, embora Jair Bolsonaro não tenha sido eleito novamente em 2022, ele manteve-se vencedor nos estados onde conquistou vitórias em 2018. Aqui e ali com menos votos, mas na dianteira. Nas capitais, a situação aconteceu quase do mesmo modo. Jair Bolsonaro venceu em 21 capitais em 2018 e em 17 na eleição seguinte. E tem mais: 11 ex-ministros de Jair Bolsonaro foram eleitos, exclusivamente por ele, pois nenhum deles tinha expressão política. Se considerarmos Sérgio Moro na mesma conta, teremos 12 ex-ministros eleitos.
Os autores do livro reconhecem o fato no capítulo nove, que tem como título “Bolsonaro perdeu para onde vai o bolsonarismo?”, Maria Carolina e Maurício Moura dobram-se ao reconhecimento da força política e liderança de Jair Bolsonaro, mas pontuam fatos que desabonam o bolsonarismo. Assumem posição e chamam a favor disso, o depoimento do professor de Ciência Política Marcos Nobre. Diz ele: “Para mim, o ponto mais importante na derrota do Bolsonaro é justamente a fidelidade dele ao projeto autoritário. É também o que o torna mais perigoso, porque foi alguém que não abriu mão em nenhum momento do seu projeto…Se a gente considerar isso, vamos considerar todas as outras consequências desse fidelidade ao projeto autoritário, que é a misoginia, o ataque às populações indígenas, às pessoas negras, ao meio ambiente, qualquer regulação civilizada da vida social, consequência desse projeto autoritário. Isso fez com que a rejeição dele aumentasse muito”.
Para ser confiável, um trabalho que pretende apontar as causas de derrota de um candidato deve considerar as causas da vitória de seu adversário. Maria Carolina e Maurício Moura ficaram nos devendo isso e mais: o que fez com que 58.206.354 pessoas votassem no Bolsonaro, mesmo diante das fragilidades que os autores e seus convidados apontam no livro?