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“Ato falho”, outro perigo

O cara entrou na sala onde estavam reunidas as mulheres que seriam candidatas pela Rede, partido ao qual está filiada a candidata à presidência, Marina Silva, e pediu: “A Rede precisa de cada candidata mulher para garantir as vagas dos homens que serão eleitos. Por isso, peço que nenhuma de vocês, desista”. 

Veio a tempestade, que a imprensa noticiou. O Globo de sábado abriu a notícia com o anúncio: “Mulheres se desfiliaram da Rede após denunciarem machismo”. 

É fácil imaginar as consequências negativas e os problemas causados à candidatura da Marina Silva. 

O cara chama-se Nilson Gonçalves e ocupa a prestigiosa função de porta-voz do partido que, nos demais, é equivalente à presidência ou secretaria-geral. 

“Ato falho”, só Freud explica. Tentarei ser simples. O fenômeno ocorre quando o que está no inconsciente do indivíduo transforma-se em ato contrário ao desejo do consciente. É um fenômeno muito percebido nos políticos, porque eles vivem vidas superficiais e defendem posições nas quais não acreditam, com o objetivo de livrar do perigo as imagens próprias. Comportamento bem confortável antes desses tempos de visibilidade completa e autoestima e autoconfiança dos eleitores e eleitoras. 

Portanto, quem queira permanecer na carreira política deve se convencer, definitivamente, de uma coisa: “Não dá mais para usar as palavras para esconder os pensamentos”, como sempre disse minha amiga Denise Frossard. 

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A superficialidade no lugar da informação. 

Nicolas Sarkozy – Nicolas Paul Stéphane Sarkozy de Nagy-Bocsa – foi presidente da França entre 2007 e 2012 e também príncipe de Andorra. Divorciou-se antes de ser eleito e casou-se com Carla Bruni, uma belíssima mulher, modelo, cantora, compositora e atriz italiana. 

Um dos primeiros compromissos de Nicolas Sarkozy fora da França foi uma viagem aos Estados Unidos. A CBS, rede americana, quis ouví-lo antes da viagem.  Ele abriu a entrevista com comentários sobre a admiração dele pelos Estados Unidos. Filho de imigrantes húngaros, ele elogiou o temperamento acolhedor do povo americano e citou exemplos: “Nos Estados Unidos você pode ter um nome como Schwarzenegger e ser governador da Califórnia. Pode se chamar Madeleine Albright e ser secretária de Estado. Ou ainda, ser chamado Colin Powell, Condoleezza Rice e assim por diante.” Sarkozy falou ainda alguns minutos.

O jornalista da CBS ficou impaciente. Quando a assessoria do presidente autorizou as perguntas, a primeira foi sobre o relacionamento dele com a modelo, esposa dele. Sarkozy fechou o semblante e respondeu: “Se eu tivesse alguma coisa para falar sobre Cecília certamente não o faria aqui, durante esta entrevista.” Em seguida, bateu com elegância: “Eu não tenho mais tempo. Há muito trabalho a fazer, é uma imensa programação”, e encerrou a entrevista. Sobrou para a assessoria de imprensa que autorizou a entrevista. 

Brigitte Mácron, esposa do Presidente da França, Emmanuel Macron, quando surgiu no cenário político chamou a atenção pela diferença de idade entre ela e o presidente: 23 anos. Emmanuel Macron, na primeira entrevista ao “Le Parisien” como presidente da França irritou-se com o tema: “Se eu fosse 20 anos mais velho que a minha mulher, ninguém pensaria por um segundo que eu não poderia ser um marido desinteressado. É por ela ter 20 anos mais do que eu que as pessoas dizem que a relação entre nós não é sustentável”. 

As esposas dos presidentes daqui, da França e de todos os lugares, sempre foram e são alvo da imprensa, mas nunca com um papel relevante na vida dos países ou dos maridos, mas com uma função útil para as fofocas, disse-me-disse e discriminação por quem mais critica esse tipo de comportamento: a imprensa. 

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A “Rainha das loucas, dos lazarentos e dos moleques do internato”. (CB)

“Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu o fruto e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi”. (Gênesis 3:12 e 13). Eis aí a prova de que o ser humano é dado, desde a sua criação, a transferir para os outros a responsabilidade pelos próprios atos. Por que seria diferente agora, quando há uma luta política no Brasil entre os que têm Bolsonaro como líder e os que têm Lula nesse papel? 

Em Brasília, no dia 8 de janeiro, um grupo de pessoas enlouquecidas invadiu prédios públicos e saiu para quebrar o que encontrou pela frente. Tomando-se o ato como consequência do resultado da eleição presidencial, considerou-se natural que o Presidente do Tribunal Eleitoral assumisse o controle da situação, tirasse do posto o governador do Distrito Federal, prendesse o Secretário de Segurança comandado por ele e prendesse uma multidão. Contudo, para não fugir à cultura iniciada no Jardim do Éden, era preciso transferir a responsabilidade dos atos para alguém além dos baderneiros. Encontraram a internet. 

Em Blumenau, um assassino invadiu uma creche e, com um machado, matou crianças. O cara foi preso, mas alguém acima dele deve ter agido para fazer com que ele agisse do modo como agiu, algo bem parecido com o que aconteceu antes em outros lugares. Quem poderia ter estimulado os loucos? A internet. 

Junte-se os fatos a outros relevantes na política, um deles, a eleição em 2018, de um candidato sem partido, sem dinheiro e, à primeira vista, sem chance de vencer. Quem poderia ser apontado como responsável pela eleição do cara? A internet. 

Então, minha gente, acabemos com essa tal de internet ou, se não conseguirmos acabar, que criemos um modo de ela não fazer tanto estrago. Nasceu o tal Projeto de Lei que vem para instituir a “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”. Louvável, não? Algo que nem Deus, mesmo perfeito como é, imaginou, pois ele poderia ter evitado o “pecado original” com uma atitude simples: tirar a árvore que produziu o fruto proibido e fazer isso antes que o primeiro casal fosse desobediente. Mas, para isso, Deus teria refeito o ser humano, a criação mais complexa e imperfeita criada por ele. Deus precisaria ter retirado do ser humano o livre arbítrio, para passar Ele, Ele mesmo a ser o condutor de uma humanidade de marionetes. Como Deus pode tudo, quem sabe Ele não poderia nos dar uma mãozinha agora e passar a conduzir os seres humanos para tirar das costas dos agentes do Estado um peso enorme que eles são obrigados a carregar? 

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Nós quem? 

O Senador Randolfe Rodrigues explodiu em cólera na sessão do Senado Federal, logo após o canal CNN veicular imagens da invasão do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, onde o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, homem de confiança do Presidente Lula, aparece entre os baderneiros. Disse o Senador Randolfe, referindo-se ao PT e aos adversários de Jair Bolsonaro: “Nós somos as vítimas do 8 de janeiro. Por isso, naquele dia, prendemos mais de mil e é por isso que nós temos, sequencialmente, feito as operações conduzidas pelo STF e pela Polícia Federal”. Nas palavras do Senador, o STF e a Polícia Federal estão à serviço dele e dos partidos do governo. 

Junte-se isso à resposta dada, em Nova York, pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, a um eleitor do Jair Bolsonaro e se tem o quadro de uma campanha onde o Supremo Tribunal Federal e a oposição a Jair Bolsonaro caminharam juntos. Disse o Ministro: “Perdeu mané, não amole”. Ou seja, “nós vencemos e vocês perderam”. 

Tenha o “Perdeu Mané”, esse sentido ou não, se somos, de verdade, uma democracia, toda vez que é encerrada uma campanha e divulgados os resultados, feita a diplomação e empossados os eleitos, o jogo está jogado. Os vencedores governam e os derrotados assumem o papel de opositores ao governo, pois deste modo, todos os eleitores estarão representados, tanto os que votaram nos vencedores, como os que escolheram os que perderam. 

Uma democracia estará em risco e poderá desaparecer quando a cidadania dos eleitores que votaram nos candidatos que perderam for anulada à espera de uma nova eleição, que, por falta de oposição, repetirá, com certeza, o resultado da eleição anterior. É desse jeito que muitas tiranias se instalam. 

Portanto, a campanha de 2022 está encerrada, gostemos ou não do modo como ela ocorreu. A partir do resultado é preciso que a oposição exerça com liberdade o papel que lhe cabe, principalmente, no Congresso Nacional, sem que um dos lados tome para si a caneta do Poder Judiciário como deseja ou já faz, o Senador Randolfe Rodrigues. Se as palavras dele não forem só força retórica, a oposição corre o sério risco de não sobreviver e com ela desaparecerá também a democracia. 

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Estou confuso. 

Não sou versado em leis e interpretações jurídicas e essa dificuldade impõe-me uma limitação intelectual, que eu poderia resolver com mais estudos. Eu tenho tentado, mas o tempo que me sobra após a luta diária pelo ganha-pão e pelos impostos que sou obrigado a pagar não me auxilia. 

Entendo, contudo, que o significado de “Segurança Jurídica” esteja atrelado ao conceito de coerência, para que eu, cidadão fraco no conhecimento da Ciência Jurídica, possa compreender o sentido das decisões dos juízes e das leis. 

Ontem, uma confusão tomou conta da minha cabeça, quando o STF decidiu tornar réus 100 pessoas denunciadas pela PGR pelos atos de 8 de janeiro. Ou seja, o STF chamou para ele processos que envolvem pessoas sem prerrogativa de foro especial. Então, o Tribunal age fora da competência dele e ao atuar desse modo abre uma janela para a nulidade dos atos, como aconteceu com os processos que condenaram o Presidente Lula. 

No caso do Presidente, o STF, provocado em grau de recurso pelos advogados da defesa, entendeu que os processos deveriam ser anulados, pois o juiz que os examinou e com base neles tomou a decisão de condenar Lula agiu fora da sua esfera de competência. OK. Então, sou levado a acreditar que ao agir fora de sua competência para julgar com prerrogativa de foro especial réus que não o têm, o STF corre o risco de ver anulada a decisão que tomou ontem. 

Portanto, alguém versado na ciência das leis e eu, evidentemente, não sou um deles, pode pedir a nulidade da decisão do STF no caso das cem pessoas consideradas réus? Por exemplo, os advogados delas? Pode. Mas, quem decidirá se o STF é a última instância da Justiça Brasileira? 

Preso às coerências, sinto-me colocado diante de uma nova situação: a prerrogativa de foro especial não é mais para as pessoas, mas para o tipo de crime. Sim, então isso deveria estar preestabelecido na Constituição. Ou não?  Eu acredito que sim, mas a minha compreensão pode ser fruto da minha ignorância jurídica. 

E tem um outro ponto com o qual me deparo, ignorante como sou. Dizem que as decisões das Cortes Supremas criam normas. Portanto, a decisão de ontem pode ser transformada numa norma, ou seja, todas as vezes que a Procuradoria Geral da República tiver conhecimento de invasão de prédios públicos e baderna, poderá acionar diretamente o Supremo Tribunal, que estará autorizado a agir como agiu com relação ao que houve no dia 8 de janeiro. 

Neste ponto peço socorro a Frédéric Bastiat, a quem já pedi em outros momentos, ao consultar o livro “ A Lei” . Agora vou a uma outra obra dele: “O que se vê e o que não se vê”. Nela Bastiat menciona a economia, mas mostra que o princípio defendido por ele vale para qualquer área de atuação do ser humano. O que quero está logo na introdução: “Um ato, um hábito, uma instituição, uma lei, dão nascimento não apenas a um efeito, mas a uma série de efeitos. Destes efeitos, apenas o primeiro é imediato; ele se manifesta simultaneamente com sua causa – é o que se vê. Os outros se desdobram em sucessão – eles são o que não se vê: é bom para nós se eles forem previstos”. 

Encerro aqui, ainda cheio de dúvidas sobre como devo definir o que ouço todos os dias ser chamado de Segurança Jurídica. 

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Para mim, seria uma escolha fácil. 

A China e os Estados Unidos são duas potências econômicas mundiais, por dados concretos e percepção. O Brasil está longe, bem longe, de atingir a posição dos dois países e se deseja alcançá-la poderá escolher os caminhos que eles trilharam, que são opostos. 

Os Estados Unidos tornaram-se uma potência econômica sem dispensarem a democracia. O país passou por uma guerra civil, quando os americanos divergiram com relação à escravidão a ponto de dividirem o país em dois lados e divididos, matarem-se se uns aos outros, cada lado em defesa da própria opinião. Houve Lincoln. 

Já na China…

Para se ter ideia da diferença que há entre ser operário numa fábrica chinesa e em uma americana, a Netflix oferece o documentário “Indústria Americana”, Oscar  de 2020, trabalho do casal Obama. Não darei spoiler. Deixo a seu cargo o julgamento. Cito, exclusivamente, a favor do meu argumento, que no documentário, uma operária negra, diante das arbitrariedades dos chefes chineses, defende a criação de um sindicato. Pobre mulher! 

Por tudo que conheço e tenho lido ao longo da vida sobre como a China e os Estados Unidos chegaram ao pódio das potências econômicas mundiais, eu não tenho dificuldade alguma para escolher o caminho a seguir. Numa crise econômica? Eu passaria longe, muito longe, do “Grande Salto Adiante”, de Mao Tse Tung, um projeto que desconfio ainda pode ser comprado pelo PT. A ignorância é um perigo!

E teria ainda menos dificuldade para escolher, sendo Presidente do Brasil depois de ter sido operário numa fábrica em São Paulo com liberdade para criar um partido político para chamar de meu. Francamente, o que seria do Lula na política chinesa? Nos Estados Unidos ele até poderia, certamente, chegar onde chegou no Brasil. Já na China…Lá a fila da sucessão é longa e não é decidida pelo povo. 

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Quantos presidentes vale um prefeito? 

Está com os prefeitos e vereadores a responsabilidade direta pela qualidade de vida das pessoas que usam as calçadas, as ruas, os transportes, se submetem à maneira como o trânsito funciona, apelam pelo primeiro atendimento médico, precisam da garantia da ordem urbana e da têm necessidade absoluta, absurda, de acesso à educação, uma dificuldade nacional. 

O primeiro contato da criança com a educação, nas escolas e creches, está no ambiente dos prefeitos e vereadores e isso é relevante para a maioria da população brasileira, que não pode arcar sozinha com os custos de educar os filhos. 

O cuidado com a primeira infância e com a relação das crianças com as escolas  é indispensável para um país onde a educação, principalmente, a pública, deseduca. Se, de fato, desejamos mesmo dar uma grande virada no jogo da educação, deveríamos começar por onde ela começa, nas decisões dos prefeitos e dos vereadores.  

A pobreza hereditária é outro problema que o Brasil precisa resolver se quiser, de verdade, diminuir a desigualdade social. Vejo presente um discurso recorrente de redução das desigualdades, mas com uma miopia que dificulta identificar o papel da educação no processo. Por isso, parte-se para a caridade e exploração política da miséria, mas não para as medidas concretas de eliminação do problema, que depende da reversão das expectativas de permanência na pobreza dos filhos dos pobres. 

A educação é a solução para a desigualdade, porque abre janelas de oportunidades para melhor ocupação e renda, num processo que se torna mais fácil se começar bem e o começo é com os prefeitos e vereadores. 

Quando se joga no tabuleiro o conceito de oportunidades, não há como fugir da mobilidade como tema essencial. O emprego e a profissionalização são um peso imenso sobre as costas de quem depende do transporte público e o pobre depende. Neste campo, novamente, as prefeituras têm função relevante. 

A ordem urbana que, no ponto mais importante, implica na decisão sobre onde e como se pode construir e morar, é outro item na pauta de competência dos municípios e isso tem tudo a ver com a qualidade do ambiente, violência e crime. Já se sabe disso com sobra. 

Além disso tudo, administração municipal é o melhor espaço para se aprender sobre os orçamentos públicos, sobre a qualidade dos gastos, e para se iniciar uma vida política. 

Todas essas situações definem as eleições municipais como altamente relevantes para o povo brasileiro. Eu diria, mais relevantes do que as eleições para presidente e, estupidamente, mais do que a escolha de governadores. O que pode um presidente fazer, por exemplo, para se ter eficácia na educação na primeira infância ou qualidade na mobilidade?  

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Flávio Dino x Ramagem. 

Antes de mais nada, estou feliz com a energia renovada do Quintino. Eu gosto desse cara e do trabalho que ele tem feito a favor do Rio. 

A Maré não está para peixe. No dia 28, o Senador e Ministro da Justiça, Flávio Dino, governador do Maranhão durante oito anos, compareceu à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, para uma audiência acalorada, como são as audiências entre Ministros e oposição. Os representantes do governo bajulam e os da oposição batem duro. Como o decoro parlamentar é do tempo das cavernas, as agressões são deselegantes, como se viu quando os ministros do Presidente Bolsonaro compareceram lá. 

O deputado Ramagem, da oposição, destacou-se pela elegância sem perder a verve. Ele agradeceu a presença do ministro, e o arguiu com um preâmbulo necessário, que passou pelo tempo das Unidades de Polícia Pacificadora, UPPs e pelo aparato policial utilizado pelo governo da época para entrar no Complexo da Maré, um conjunto de 16 favelas. O deputado Ramagem questionou: “Se a sua visita, Ministro, teve um objetivo pacificador, vamos crer, na ordem, no amparo da lei, o senhor conseguiu a extinção do tráfico ali? Quando será? O senhor conseguiu tratar do cumprimento de centenas de mandados de prisão judiciais em aberto na localidade? Lá se concentra o maior poderio bélico ilegal nas mãos dos criminosos. O senhor conseguiu a entrega pacífica desses armamentos?” 

O Ministro saiu pela tangente, debochado e deselegante: “Eu vi um deputado. Acho que esse senhor aqui…Amagem…Ramagem”, enquanto atrás dele o ex-deputado Wadih Damous tentava ajudar, mas o Ministro continuou: “Amagem”, olhou para o lado e foi corrigido pelo Presidente da Comissão…”Ramagem…” e completou…”Eu não entendi se o senhor está perguntando ou afirmando. Eu posso afirmar ao senhor que eu fui convidado por algumas entidades…” e seguiu em frente sem responder, passando a ideia de que essa história de tráfico, armamentos ilegais e coisas tais é papo de preconceito. 

A gente sabe que não é. 

As comunidades no Rio de Janeiro têm leis próprias impostas por criminosos, porque eles possuem armas e as polícias e a Justiça já estão vencidas por antecipação. É uma situação grave a ponto de ter desmoralizado as UPPs, as Forças Armadas e todos os governos do estado e federal. A ponto também de deixarem fora da gestão do Prefeito do Rio, uma parte considerável do território carioca. 

A situação só não é pior, porque a “banda boa” das comunidades está em maioria e por si mesma tem se virado como pode. Há trabalhadores, há empreendedores, uma economia pujante…existe gente do bem sacrificada pela presença do crime armado. O nível de organização das pessoas de bem produz dados sobre a vida nas comunidades. No Complexo da Maré existe a “Redes da Maré”, que publica, periodicamente, um boletim sobre segurança pública. Ele está na sétima edição: “Direito à Segurança Pública na Maré 2022”. Eis alguns dados (2022): Vamos lá: 

  1. 27 operações policiais ocorreram nas 17 favelas.  
  2. 08 confrontos entre grupos armados. 
  3. 39 mortes causadas por armas de fogo
  4. 283 violações de direitos
  5. 15 dias de atividades suspensas nas escolas
  6. 19 dias sem atividades de saúde. 
  7. Das 27 mortes em operações policiais ocorridas nas 16 favelas da Maré, 24 tiveram indícios de execução e em nenhuma delas foi identificada perícia dentro dos parâmetros normativos. 
  8. O ano de 2022 apresentou o maior número de mortes em operações policiais dos últimos três anos, com aumento de 145% em comparação ao ano anterior. 

O Boletim tem 24 páginas de informações e dados e acredite-se ou não nos números, a situação identificada pela própria comunidade mostra que o deputado Alexandre Ramagem sabe o que diz quando se refere ao Complexo da Maré, enquanto o Ministro da Justiça tenta passar a imagem de que nada, rigorosamente nada, nas informações do Boletim é verdade e que as reclamações do deputado são rabugices preconceituosas.   

Deixo o julgamento com vocês.  

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QUANDO O POVO VAI ÀS RUAS. 

“Isso é definitivamente um golpe. Israel está no caminho de se tornar uma ditadura” (Yuval Harari). Já ouvimos isso, com referência ao Brasil, tantas vezes que, se não tomarmos cuidado, seremos levados a acreditar que o risco, de fato, existe. 

Em Israel, a frase do autor do best seller Sapiens, está motivada pelo desejo do Primeiro-Ministro – um quase eterno primeiro-ministro – Benjamin Netanyahu de ter mais poder em Israel, sufocando a Suprema Corte. Netanyahu ocupa a função pela sexta vez, o que mostra que tanto lá como cá o papo de renovação política é um engodo. Para quem nasceu em Israel em 1996 e completará este ano, 27 anos de idade, não há política por lá sem Netanyahu. 

O povo de Israel rejeita a proposta de Netanyahu de transferir os poderes da Suprema Corte para o Parlamento e foi para as ruas. O Primeiro-Ministro recuou. Então, por lá o povo ainda manda e diz a doutrina que quando o povo manda no pedaço se tem uma democracia e é-se levado a acreditar que um dos fundamentos da democracia em Israel é o equilíbrio entre os poderes. 

Bem, eu desconfio que por lá o povo acredita que Netanyahu queira livrar a própria pele, por estar sendo acusado de corrupção e outras coisas mais. Sendo isso, o povo confia que a Suprema Corte, quando chegar o momento, tendo os poderes que a lei lhe confere, julgará os atos de Netanyahu e fará isso com Justiça, para evitar o sentimento de impunidade. Sendo isso – eu estando certo – posso, sem precisar esticar mais, deixar com os meus leitores o exercício de fazer um paralelo com a política no Brasil, onde, também, o povo andou a perambular pelas ruas durante um bom tempo, indignado com a candidatura autorizada do Lula. 

Deixando isso com vocês, compartilho um impulso que tive ao olhar os movimentos políticos em Israel. Fui direto para as minhas estantes e recuperei um livro que li em 2019, que deixo aqui como sugestão: Golda, de Elinor Burkett. A autora, em 2010, levou o Oscar de Melhor Documentário com a história de outra mulher, tão fantástica quanto Golda Meir, a cantora zimbabuense Prudence Mabhena, um exemplo de superação. 

Por vezes torno-me um chato ao insistir que sou apaixonado pela política. Sou sim, pois vejo nela as mãos de Deus, com uma capacidade intensa de construir uma boa estrada por onde a humanidade pode caminhar, às vezes contornando os obstáculos, às vezes passando por cima deles com menor velocidade. Em Golda encontrei uma atuação política intensa e uma lição: sem a política Golda Meir não teria instalado os judeus na Palestina. 

O livro contém, no meio da história de vida da “arrojada vovó com dedos manchados de nicotina, roupas largas e sapatos ortopédicos, que liderava um dos menores países do mundo…”, uma seleção dos discursos com que Golda moveu Israel e empurrou o mundo na direção dos interesses do seu povo. Separei um deles, que cabe bem para o momento em que muita gente vê a democracia em risco: 

“Muitas vezes me perguntei como é que passamos todos aqueles anos sem esmorecer. Talvez a resistência física e emocional seja mais uma questão de hábito e, apesar de tudo o que nos faltava, não perdíamos nenhuma oportunidade para testar-nos em tempos de crise. Sempre podíamos ir um pouquinho além de onde tínhamos ido ontem, daquilo que nos parecia ser o limite absoluto da nossa resistência. Não me lembro de ter-me sentido cansada, então acho que me acostumei à fadiga. Como todos os demais, eu era impelida pela ansiedade a angústia de saber que nenhum dia (ou noite, no caso) era suficientemente longo para tudo o que tinha de ser feito”. 

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UM MODELO CRUEL. 

Agir na política sem estar no poder torna-se um exercício apropriado aos faladores, gente que discursa, fala, fala, fala e nada faz além de falar. Mas, para estar no poder no Brasil precisa-se dos partidos e eles não estão disponíveis para todas as pessoas. Para filiar-se a qualquer um deles, o cidadão pode ir aos espaços na internet, preencher corretamente as fichas de filiação e deixar rolar. E para-se por aí, pois aos filiados não é dado opinar e participar das decisões, privilégio, exclusivamente, dos dirigentes que são escolhidos por eles próprios. 

Esse problema seria algo menor se os partidos políticos fossem, pelo menos, agentes facilitadores da decisão que os eleitores são chamados a tomar no momento das eleições. Para isso, bastaria que, sob um mesmo partido, fossem abrigados, exclusivamente, os candidatos com propostas iguais ou pensamentos semelhantes sobre as funções que, por eleição, pretendem ocupar. Não é assim. Não por aqui. Nos partidos políticos brasileiros cabem mamíferos, ovíparos, cabras, peixes, cobras, bichos que têm pena, bichos que têm pelo e vez por outra até uns monstros que ninguém consegue definir. Por isso, ao eleitor não se dá outro caminho além da seleção dos candidatos pelo perfil pessoal, na maior parte das vezes falseado por um processo de marketing e comunicação capaz de vender gato por lebre e  um idiota como gênio, 

Inexiste ignorância do eleitor com relação aos fatos que descrevo. Afinal, todos sabemos que é desse modo que os partidos atuam nas campanhas eleitorais. Mesmo assim, temos a coragem imbecial de exigir dos eleitos a aprovação de reformas na estrutura jurídica do país, para sermos mais felizes. Enganamos-nos a nós mesmos, pois nenhuma reforma nos será, verdadeiramente, útil, sem uma mudança no sistema de representação política. E o povo pode exigir isso sem constrangimento ou pedir licença, pois os partidos políticos e a representação são sustentados com o fruto do trabalho do povo. 

O modelo é cruel e desonesto, pois, como contribuinte, o cidadão paga as despesas dos partidos, mas se quiser apresentar-se a qualquer deles como candidato, precisará corresponder à lógica eleitoral dos seus dirigentes. As convenções partidárias são um engodo e o sistema de deliberação é autoritário, centralizador. O modelo é cruel, pois obriga os eleitores à escolha, no tempo das eleições, de candidatos que lhes são impostos pelos dirigentes partidários à luz dos interesses egoístas. 

Por isso, temos ido às urnas para escolher o menos pior, pois aos melhores é negado o acesso à candidatura.