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Trump abriu a porta do inferno

GOP Presidential Candidates Debate In MilwaukeeA campanha presidencial nos Estados Unidos anda quentíssima e o calor vem de um tema que derrubou Donald Trump: as mulheres.

A corrida que tira o fôlego de Trump começou com a publicação de um vídeo gravado em 2005, de uma conversa dele com o produtor de um programa de TV. Trump faz comentários vulgares sobre as mulheres, depois de confessar que, mesmo casado, tentou ter relações sexuais com uma mulher casada, porque, “quando você é uma estrela, as mulheres deixam você fazer qualquer coisa com elas”.

Trump assume o fato, pede desculpas e deveria ter parado por aí. Boquirroto arrogante, ele foi além, para acusar o marido da adversária, Hillary, o ex-presidente Bill Clinton de abusar de mulheres. Não satisfeito, ele levou para o segundo debate três mulheres que teriam sido vítimas do Bill. Quis constranger a Hillary.

“Pau que dá em Chico, dá em Francisco”. A reação às acusações do Trump foram imediatas. Várias mulheres assediadas por ele apareceram para dar depoimento sobre as taras do candidato. Na mesma esteira, financiadores da campanha dele pediram devolução do dinheiro e gente do partido dele saiu da campanha. Um desastre, que deverá definir a eleição.

Mas, como “seguro morreu de velho”, os Democratas não aceitaram a conversa de campanha fácil. Todos entraram em campo para vencer, até mesmo o Presidente Barack Obama, com bastante vontade.

A arrogância é péssima companheira numa campanha eleitoral.

Por Jackson Vasconcelos

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Caiu na Rede, mas não é peixe. É ornitorrinco.

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Foi um fiasco a participação da Rede Sustentabilidade nas eleições municipais. Elegeu os prefeitos de Brejões, Livramento de Nossa Senhora e Seabra, na Bahia. Também o de Cabo Frio, no Rio de Janeiro e Lençóis Paulistas, em São Paulo. Ficou nisso.

Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro apresentou-se com Ricardo Young e Alessandro Molon, um não alcançou 1% dos votos. O outro só conseguiu isso.

Mas, a expectativa dos formadores de opinião, comentaristas e palpiteiros, era de um desempenho melhor, porque Marina Silva criou, lidera a Rede Sustentabilidade e obteve bons resultados nas eleições presidenciais que disputou. O que houve?

Os sinais ruins apareceram na campanha de 2014. Marina Silva não conseguiu criar a Rede Sustentabilidade. Fez-se candidata à Vice-Presidente de Eduardo Campos, do PSB. Antes de ser exposta como candidata à Presidência, posição que assumiu porque morreu Eduardo Campos, Marina Silva tinha rejeição de menos de 20%. Encerrou a campanha com 31% e abriu o ano das campanhas municipais com 46%. Uma brutalidade estatística, que só o derretimento de uma imagem explica.

Marina Silva tem errado o suficiente na estratégia ou na falta dela. Assim que assumiu o papel de candidata à Presidência, substituindo Eduardo Campos, ela substituiu o coordenador financeiro da campanha. Provocou uma crise interna na aliança, que sustentava a campanha e passou a imagem de saber de fatos desabonadores de um grupo do qual ela fazia parte há bastante tempo.

Adiante, resolveu revidar os ataques que recebeu dos principais adversários, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Igualou-se a eles.

Fora isso, Marina Silva é prolixa, confusa e tanto mais expõe a imagem, mas cansa os espectadores. E nada é mais confuso do que um partido político ter o nome de Rede Sustentabilidade. Algo assim, não tem vocação para ser grande. E não suficiente o fato do nome ser ruim, a Rede Sustentabilidade tem estrutura também confusa. Não tem presidente, tem porta-voz.

E como é difícil definir a linha ideológica da Rede Sustentabilidade. Quem consegue? O que ela prega? O que defende? Se os partidos pertencessem ao reino animal, a Rede Sustentabilidade seria, sem dúvida, um mamífero que põe ovos. Um ornitorrinco!

Por Jackson Vasconcelos

 

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Mulheres decidem eleições

apresentacao1Donald Trump marcou o segundo debate na disputa pela Presidência dos Estados Unidos com grosserias a Hillary Clinton. Ameaçou-a com investigação que a levaria à prisão e colocou na plateia, como convidadas dele, três mulheres de denunciaram à imprensa e não à polícia ou à Justiça, o marido da Hillary por assédio e violência sexual. As três não terem ido à polícia ou à justiça é sinal de exploração política da denúncia. Fato confirmado e reafirmado, quando as três compareceram ao debate só para afrontar Hillary.  

Em debate mais equilibrado, Trump se esquiva de escândalo e ataca Hillary – Folha de São Paulo

Bill Clinton estava na plateia acompanhado da filha, situação que tornou mais agressiva a grosseria do Donald Trump e das amigas de ocasião. A vida de Trump como candidato já não andava fácil. Piorou bastante.

Fez parecido o deputado federal Pedro Paulo, quando sujeitou a ex-esposa à humilhação, numa entrevista coletiva, durante a campanha para a Prefeitura do Rio. Não precisava. O resultado da eleição mostrou que também não adiantou.

‘Quem não exagera numa discussão?’, diz Pedro Paulo sobre briga com ex – G1

Aécio Neves chegou perto nos debates da campanha presidencial. Colocou o dedo no rosto da candidata Luciana Genro e tratou com ironia a adversária Dilma Rousseff. Chegou ao ponto de chamá-la de “leviana”, termo que o povo nordestino utiliza com sentido grave.

Ciro Gomes agrediu Patrícia Pillar com a história de que ela, esposa dele, tinha um papel definido na campanha: “Dormir com ele”.

Cenas de machismo explícito – Observatório da Imprensa

Pedro Paulo e Aécio ficaram no caminho. Trump também ficará.

Por Jackson Vasconcelos

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Bill Clinton alia-se a Pedro Paulo

billpauloO primeiro turno da campanha para Prefeito do Rio foi monotemática, por isso, produziu um resultado inesperado: Marcelo Crivella, representante do fundamentalismo religioso, contra Marcelo Freixo, representante da anarquia e terrorismo urbano. Coisa de doido, doutor.

A violência contra a mulher foi o monotema da campanha, porque o candidato do PMDB foi acusado pela ex-mulher de surrá-la.

Nos Estados Unidos corre a campanha para Presidente. Disputam Hillary Clinton, pelos Democratas, e Donald Trump, pelo Partido Republicano. O monotema da campanha no Rio se tornou tema por lá. Um vídeo de 2005, do Trump com palavras grosseiras contra as mulheres apareceu. Ele não conversou. Convidou para o debate com a Hillary três mulheres que denunciaram à imprensa o marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, por abusos sexuais.

Os movimentos nas campanhas de lá e de cá serão coincidência? Podem ser. Mas, mesmo para as coincidências existe explicação. A política no mundo todo perdeu a capacidade de ler o pulso da população e acredita que o povo goste mais das acusações mútuas do que os exemplos pessoais de vida política. Perdeu o senso sobre o papel da política na construção de um mundo melhor.

A Globo News, no programa “Sem Fronteiras” tratou um tema que tem linha direta com a relação da população com a política. O repórter Tonico Pereira abriu o programa “As abstenções de voto no mundo: qual o futuro da democracia representativa?” com o número de pessoas que não foram votar: 25 milhões de brasileiros, “Isso equivale à população da Austrália”, disse Tonico.

Em seguida, entra Silio Boccanera, que está em Londres: “Aqui na Europa, a tradição de comparecimento às urnas cede lugar à uma abstenção crescente, sobretudo, entre jovens”. Depois, entra Jorge Pontual, de Nova York: “A descrença nas propostas dos partidos majoritários ameaça bagunçar ainda mais a já apertada corrida à Casa Branca. Que recado os eleitores do mundo todo estão tentando dar aos políticos? Será que a democracia representativa entrou em crise?”

img-20161004-wa0005Tonico Pereira volta à cena para dizer: “Milhões de brasileiros renunciaram a esse poder (democracia representativa) no primeiro turno das eleições municipais. Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mais de 40% dos eleitores não foram votar, votaram em branco ou anularam o voto. Uma interpretação é que os eleitores deram um recado aos políticos pelos maus feitos revelados recentemente”.

Não tenho meios para medir nem dados para comprovar o meu sentimento, que contraria o do programa e de muita gente que anda a analisar o resultado das urnas no mundo todo. De nenhum comentarista recebi dados para contestar a minha interpretação, então fico bastante à vontade para afirmar: a decisão dos eleitores aqui e no mundo todo nada tem com satisfação ou insatisfação com a política, mas com a dificuldade de encontrar um, pelo menos um, que mereça o voto por uma história de vida ou imagem que garantam o cumprimento dos compromissos que os candidatos assumem nas campanhas.

Mas, há, na matéria da Globo News outro erro de avaliação. Tonico Pereira, quando comentou a abstenção no Brasil traçou um paralelo com a Colômbia: “As altas taxas de abstenção não são uma exclusividade do Brasil. Na Colômbia, por exemplo, 60% dos eleitores não foram votar no referendo, que decidiu o futuro de uma guerra, que se estende por mais de 50 anos”. Será que a abstenção na Colômbia foi um recado da indiferença ou do medo de votar numa situação que envolve terroristas?

Por Jackson Vasconcelos

 

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No meio do caminho teve um feriado

Nelson Motta confirma, oito anos depois, que a decisão do Sérgio Cabral Filho de decretar feriado na véspera da eleição para eleger Eduardo Paes deu certo. O fato está de passagem no artigo  “Na era da pós-verdade” publicado pelo Nelson no Caderno Eleições 2016, da edição do jornal O Globo de segunda-feira (10/10):

“Em 2008, fiz campanha para Fernando Gabeira, até  pedi votos na televisão. Heroica e milagrosamente, ele foi ao segundo turno e, certo da vitória, fui viajar com minhas filhas. Não votamos no segundo turno, e Eduardo Paes ganhou por 50 mil votos” – (Para ampliar, clique na imagem).

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Mas, para dar certo, a estratégia aplicada pelo governador Sérgio Cabral Filho precisou de uma mãozinha do candidato que ele derrotou. O último programa de TV do Fernando Gabeira, nos momentos finais da campanha, apresentou uma pesquisa que garantia a vitória dele. Deu no que deu.

Com certeza, ao apresentar o resultado da pesquisa no último programa, a equipe do Fernando Gabeira pensou conquistar o voto dos eleitores “oportunistas”, gente que não quer perder o voto e, por isso, escolhe o vencedor. Uma classificação da turma do marketing eleitoral, que não provou ser verdade.

Na mesma edição de O Globo, pouco abaixo do artigo de Nelson Motta, o repórter Marlen Couto encaixou sobre o tema, o texto: “Folga de Alto Risco – Feriado no meio do caminho para as urnas”. Reproduzo aqui, pelo valor que tem ele como elemento de estudo para a formulação de estratégias para as campanhas:

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Por Jackson Vasconcelos

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Seja diferente e melhor que o adversário

Imagine você num shopping com o desejo de comprar uma camisa, que você viu numa propaganda na TV. Você roda, roda, roda, e não encontra. Se precisa muito mesmo de uma camisa, você comprará outra, já que a que você queria você não encontrou. Mas, se você tem camisas suficientes e só gostaria de ter a que você foi comprar, você sairá do shopping sem comprar.

É assim uma campanha eleitoral. Muita gente olha os candidatos na TV, nas ruas, no material que recebe. Olha, mas não percebe, porque todos os candidatos são iguais, fazem propostas iguais, criticam uns aos outros do mesmo modo. Como você não está a procura de um candidato qualquer, você, simplesmente, não “compra”, não vota.

Eis a resposta para o percentual de abstenção, e de votos brancos e nulos, enorme nas capitais. Nenhum candidato fez diferença.  No Rio de Janeiro mais de 40%, em Belo Horizonte também e, em São Paulo, quase isso. E foi assim Brasil afora. Porque ninguém encontrou um candidato em quem pudesse votar. Por quê?

Primeiro que todos eles têm a mesma proposta. Como eles fazem a mesma pesquisa e a pesquisa manda falarem a mesma coisa pra todo mundo, todo mundo falou igual. Aí pensamos assim “Ah, já que todo mundo propõe a mesma coisa, tanto faz votar em um quanto no outro. Vou lá e voto. Mas chegamos à conclusão, quando você olha para trás, que nenhum desses caras cumpre aquilo que fala, porque eles não têm convicção. Daí eu fico na minha e voto em ninguém”.

A maneira de mudar isso, para tornar a democracia brasileira mais ativa, mais participante, é o político ser político todas as horas do dia, como um sapateiro, como um médico, como um dentista. Mas não conseguem ser. Passada a campanha, os políticos somem.

Daqui a pouco você vai ver um monte de facebook que ninguém mexe, um monte de twitter que ninguém atualiza, sites que ficam esquecidos. Você não verá mais o sujeito que você apertou a mão passando na sua rua. Passou a campanha, os candidatos, eleitos ou não, voltam para o planeta deles e só daqui a dois anos retornam. Por isso que é cada vez mais difícil escolher um candidato.

Se os políticos mudarem esse procedimento e passarem a ser políticos todo o tempo da vida deles, eu, na próxima eleição, e você, vamos ter muita facilidade de escolher um candidato e votar. Eu tive o meu candidato nessa eleição e votei nele, você pode ter tido ou não, a verdade é que quase 50% da população das capitais não encontrou ninguém em quem votar.  

Por Jackson Vasconcelos

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Escrúpulo versus estratégia

O tempo longo do Eduardo Paes na Prefeitura do Rio encerra-se daqui a pouco. Em janeiro. Foram dois mandatos consecutivos. Um conquistado numa disputa dura, apertada, no segundo turno com o Fernando Gabeira em 2008. O outro, num passeio contra Marcelo Freixo, em 2012. Eduardo Paes venceu com mais de 60% dos votos no primeiro turno.

Não se sabe ainda a quem Eduardo Paes entregará o bastão. É desejo dele até as entranhas, que seja ao deputado federal Pedro Paulo, seu principal coadjuvante, uma espécie de ajudante de ordens.

Na verdade, Eduardo Paes quer um terceiro mandato. Será a segurança dele para alçar vôos mais altos. Na política, a vida é cíclica. Aquilo que você vê hoje, viu ontem. Eduardo Paes busca no Pedro Paulo a lealdade ou a subserviência que César Maia não conseguiu do Luiz Paulo Conde.

Eleito Prefeito do Rio em 1996, Conde recebeu a missão de eleger César Maia governador do estado. César perdeu. Não gostou do resultado e foi tomar do Conde, de volta, a prefeitura. Só conseguiu na marra e no voto, porque Conde esperneou muito e saiu candidato à reeleição.

Mas, saber quem será o sucessor do Eduardo Paes é coisa para mais adiante. Quero tratar aqui e agora do processo que fez dele candidato na primeira eleição, pelas lições de estratégia de posicionamento.

Eduardo Paes quis ser o sucessor do César Maia com apoio do próprio. Não conseguiu. Então, abandonou o partido do padrinho à busca de outro, José Serra, no PSDB. Eduardo chegou a ser Secretário-Geral Nacional do Partido, com Serra na Presidência. Esteve no front do partido no processo de desconstrução do PT na CPMI dos Correios, que investigava o Mensalão. Fez um bom papel, mas isso também não deu, porque o PSDB não tem expressão eleitoral no Rio suficiente para eleger o Prefeito da Cidade.

Eduardo Paes achou melhor buscar outro padrinho. Deixou o PSDB, o Serra e, já na eleição para o governo do estado em 2006, mesmo sendo candidato do partido, deu uma mão forte ao Sérgio Cabral Filho, que venceu a Denise Frossard no segundo turno. Logo depois da vitória do Sérgio Cabral Filho, Eduardo Paes assinou a ficha de filiação ao PMDB. O novo padrinho garantiu a ele a vaga de candidato à Prefeitura do Rio.

Mas, Sérgio Cabral Filho, mesmo no auge da popularidade, sem o político Jorge Picciani, é ninguém. E Jorge não gostou da história de Eduardo Paes ser candidato a Prefeito do Rio sem um tête-à-tête exclusivo. Picciani não foi ouvido, então, deu um soco na mesa e avisou ao distinto público que o PMDB iria com Alessandro Molon do PT em 2008.

Eduardo Paes tremeu e mostrou que sentiu o golpe: “um soco no estômago”. Para ser candidato, ele deveria deixar a Secretaria de Esportes que ocupava no governo Cabral. Diante da decisão do Picciani, ele permaneceu. Mas, alguma coisa mudou no meio do caminho e no dia seguinte ao prazo final para deixar a Secretaria, Eduardo foi declarado candidato, o Diário Oficial saiu com data retroativa e ele se fez candidato. Picciani deve ter concordado.

Eduardo Paes registrou a candidatura, chegou ao segundo turno contra Fernando Gabeira e, para vencer, precisaria resolver outra pendência: Lula. Eduardo Paes na CPMI dos Correios acusou o filho do ex-presidente de pertencer a uma quadrilha. Precisou ajoelhar e pedir desculpas publicamente a dona Marisa, esposa do Lula.

No final, venceu por um pequeno punhado de votos. Seguiu a regra traçada por um político antigo, o Coronel do Exército Jarbas Passarinho, quando chamado pelo Presidente Costa e Silva a opinar sobre o Ato Institucional No. 5, aquele que fechou o Congresso Nacional, autorizou a tortura e prisão dos opositores: “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”.

Por Jackson Vasconcelos

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A farsa não é a melhor estratégia

Quatro presidentes da república e dois impeachments, deveria ser uma situação suficiente para reprovar, de vez, o marketing eleitoral como instrumento para vencer eleições. Diferente do marketing político, que tem a função de indicar o melhor modo como um candidato deve apresentar ao eleitor o que pensa, o que é e o que defende, e, usar tudo isso no confronto com o que o adversário pensa, defende e é, o marketing eleitoral faz truques, para transformar o candidato num personagem que pensa, é e defende exatamente o que o eleitor gostaria de ter, mesmo que isso tudo seja radicalmente diferente da realidade.

O marketing eleitoral é o marketing do vale-tudo para vencer. A composição da estratégia, neste caso, considera e usa, sem medidas, os instrumentos para desconstrução da imagem dos adversários, ainda que isso represente inventar, mentir, camuflar. Os meios não importam diante do valor absoluto da finalidade: vencer. A baixaria é, também, ferramenta da estratégia. Como aconteceu nas campanhas de Collor e Dilma.

Para o marketing político, o candidato e o discurso dele são como são. Coloca-se sobre eles uma embalagem, que não distorce o conteúdo.

As pesquisas têm, portanto, valor e intenção diferentes para cada caso. Para o marketing político, a pesquisa indica a embalagem para o conteúdo que o candidato defende. Algo do tipo, “de que modo devo dizer ou defender o que penso, para fazer com que o eleitor compreenda e compre…”. Para o marketing eleitoral, as pesquisas constroem o discurso, embalagem e conteúdo. Indicam para o candidato o que ele deve pensar e como ele deve ser para agradar o eleitor. Os dois tipos de pesquisa e de marketing conseguem bons resultados, o problema é o que fazer com eles após a campanha, que é, na verdade, uma disputa entre imagens.

Neste ponto, entro com o teste dos espelhos. Coloque-se diante de um, distante o suficiente para que você se veja sem as rubras e manchas que tem na face e aos poucos vá se aproximando.

À medida que você se aproxima, você vê, aos poucos, as rugas, as manchas. Então, pare. Maquei-se. Esconda tudo o que você não está gostando de ver. Use um bom marqueteiro. Mas, a política exige que você continue a se aproximar do espelho e sob o calor da realidade. A maquiagem derrete e o eleitor se decepciona com o que vê.

O marketing eleitoral faz milagres na imagem – personagem e discurso. E sempre cobrou muito caro para fazer o serviço. Ele entrega ao eleitor o candidato dos sonhos dele. Incha a bolsa do profissional que fez o serviço e larga o candidato à própria sorte.

Collor era o caçador de marajás, o político austero e corajoso suficiente para eliminar a corrupção. Uma imagem maquiada. Deu no que deu. Dilma Rousseff idem.

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O candidato e a imprensa

Um candidato preparado para conversar com a imprensa deve saber, antes de tudo, como a imprensa age. Muitas vezes os jornalistas querem saber o que não importa para o eleitor e deixam de lado as melhores informações que decidirão o voto.

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Mariana Sanches e Flávio Freire, do jornal O Globo, entrevistaram a Senadora Marta Suplicy, candidata à prefeitura de São Paulo, para o caderno Eleições 2016. A entrevista está publicada na edição de sexta, nove de setembro.

A Senadora respondeu 17 perguntas, só uma sobre assuntos diretamente relacionados com a administração de São Paulo. Marta foi questionada sobre a estranha relação partidária na composição da chapa, sobre a razão da saída dela do PT, sobre o risco de ser traída pelo candidato a vice, legalização do aborto, importância do marido na campanha e casamento gay. O eleitor de São Paulo terminou a leitura da entrevista sem saber o que pretende a Senadora fazer se for eleita Prefeita de São Paulo.

Ora, não seria papel dos entrevistadores, num caderno sobre eleições, oferecer aos eleitores de São Paulo, se leitores do jornal, conhecimento sobre o que pretendem os candidatos se eleitos?

Mas, essa tem sido o tônica da imprensa, nas eleições – saber tudo o que pensam os candidatos sobre todos os temas polêmicos – exceto sobre o que eles pretendem fazer depois de eleitos, seja para as câmaras municipais, seja para a Presidência da República, passando por todo o resto.

Por Jackson Vasconcelos

 

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Tempo é fundamental para a estratégia correta

alx_rio-pedro-paulo-20151112-001_originalEm 2008, a senhora Alexandra Marcondes procurou a delegacia e denunciou agressões físicas e morais que sofreu do marido, deputado federal Pedro Paulo. A delegacia anotou a ocorrência, encaminhou Alexandra ao exame de corpo delito e deixou o caso em banho-maria. O tempo passou.

Na entrada de 2015, o Prefeito do Rio, Eduardo Paes anunciou publicamente a candidatura do deputado Pedro Paulo à sucessão dele. Pule de dez, em razão do sistema de financiamento de campanha, que fragiliza os adversários da prefeitura e das Olimpíadas, que dariam à prefeitura, ao prefeito e ao candidato dele, visibilidade positiva.

Mas, um espírito de porco da oposição deu de presente aos eleitores o boletim de ocorrência registrado em 2015. A campanha do Pedro Paulo entrou num inferno astral. O candidato e todos os aliados dele entraram em pânico, ficaram diante das câmeras e dos holofotes, totalmente, desconsertados.

O melhor a fazer ali seria retirar a candidatura do agressor. Mas, como a decisão estava fora da pauta do prefeito, a turma resolveu encarar. Trouxeram a mulher agredida para a cena. Sem dó nem piedade. Ela ficou exposta, humilhada, mas conservando o papel de madalena arrependida por ter denunciado o ex-marido, pai de uma filha dela.

O mundo político apostou todas as fichas na desistência dos aliados, na renúncia do denunciado ou na incapacidade de todos reverterem a situação.

Mas, era cedo demais para a medida. Os adversários deram tempo para que o agressor, pela exposição absurda, com o peso da máquina e do poder, seguisse o caminho de tornar a denúncia uma coisa natural numa campanha eleitoral, convencer a agredida a desfazer o problema e, com base no depoimento dele, obter do aliado Poder Judiciário a sentença de inocência.

Estamos nos 30 dias finais de campanha. Os Jogos Olímpicos aconteceram. A imprensa comprou o sucesso, que tinha desconjurado. O caso Pedro Paulo e Alexandra distancia-se do processo e o candidato começa a mostrar que tem fôlego para vencer a barreira, o enorme peso que tinha nos pés.

Ainda é cedo para falar do resultado, mas, verdade é que os adversários do Pedro Paulo fizeram a favor dele um serviço que nem o melhor estrategista conseguiria cumprir: denunciaram cedo demais.

Se a denúncia viesse nestes 30 dias finais, Pedro Paulo que, pela força da máquina, com certeza, estaria no primeiro ou segundo lugar das pesquisas, despencaria de lá para os últimos lugares, como aconteceu algumas vezes na história das campanhas. Quem não se lembra do caso Ciro Gomes? Que, aliás, é um dos aliados do Pedro Paulo.

Por Jackson Vasconcelos